OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


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terça-feira, 25 de janeiro de 2022

O PODER DA PLENA ATENÇÃO

"Como resultado de inovações tecnológicas, o homem moderno desfruta de muitos confortos. No entanto, faltam-lhe paz e harmonia. Há muito estresse e tensão, ganância e luxúria, ódio e crueldade, e tudo isso traz ansiedade, desarmonia e sofrimento. Cada vez mais pessoas são afetadas por neuroses, psicoses e outras doenças. 

A felicidade não está em coisas externas, mas no nosso próprio eu. Todos os problemas humanos têm origem na mente. A purificação da mente leva a uma mudança radical na qualidade de vida. Isso não pode ser obtido por nenhuma ginástica intelectual, estímulos emocionais, dramas religiosos ou drogas. É difícil educar a mente de maneira a perceber o novo. É preciso muita paciência; é preciso estar vigilante e alerta. 

É urgente aprendermos a gerenciar nossa mente de maneira apropriada. A mente fica desorientada porque é constantemente atraída por muitas forças. A pessoa deve analisar suas próprias condições de maneira objetiva e desapaixonada, com o auxílio da meditação, uma ferramenta que abre o caminho para a solução dos mais complexos problemas. 

Estamos sempre buscando fora, até mesmo a nossa alegria, e não procuramos internamente. Raramente examinamos nossos próprios pensamentos, palavras e ações. Permanecemos desconhecidos por nós mesmos. Mas, por meio da auto-observação, podemos obter insights sobre a nossa própria natureza. Isso exige um esforço contínuo.  

Com a mente purificada e equilibrada, podemos perscrutar as profundezas de nós mesmos. Se a mente estiver cheia de pensamentos maus, Patañjali propões preenchê-la com pensamentos opostos. Krishnamurti afirma que devemos desenvolver a percepção constante, uma condição mental 'que considera tudo com a mais completa atenção'. Ele diz que 'a chama da atenção', calcina todas as impurezas. Buda chama isso de 'o fogo da plena atenção'. 

O Dhammapada devota um capítulo à plena atenção, que significa estar desperto, em guarda, jamais ser pego de surpresa. Se a pessoa tiver plena atenção, consegue mudar cada circunstância, palavra, pensamento e ação. A plena atenção avisa se estamos para fazer uma escolha errada. Com a mente protegida pela plena atenção, os sentidos externos não perturbam nossa tranquilidade. 

Buda disse que a única maneira de vencer as impurezas da mente é continuar examinando seu conteúdo repetidamente, para que as tendências más sejam arrancadas e apenas as boas tendências floresçam. Por meio da percepção constante, sabemos que a mente prega peças devastadoras. A plena atenção, portanto, é essencial.

A purificação deve ocorrer em toda a mente, nos níveis conscientes e inconscientes. Nosso esforço deve alcançar as profundezas da mente inconsciente. Devemos adotar uma técnica de meditação que nos leve aos níveis profundos onde estão as camadas de impurezas. Alguns métodos de meditação funcionam apenas no nível superficial; embora possam trazer paz e calma, a real purificação da mente não ocorre.

Aqueles que conquistaram o domínio sobre a mente 'consciente' e 'inconsciente' conseguem alcançar o estado 'superconsciente', o estado mais puro, que é comunhão com o Atman (Espírito universal). Tudo o que precisamos é um desejo ardente e um esforço incansável para nos transformar."        

(V. V. Chalam - O poder da plena atenção  - Revista Sophia, Ano 15, nª 70 - p. 15)
Imagem: Pinterest 


quinta-feira, 14 de outubro de 2021

A INVESTIGAÇÃO POR PRAZER - IV

"O que os homens desejam é saber como mudar a dor pelo prazer; ou, por outras palavras, encontrar por meio de que procedimento pode regular-se a consciência, com o fim de que a sensação mais agradável, seja e que se experimente. Se é possível descobrir-se isto para o esforço do pensamento humano, é pelo menos uma questão digna de se ter em conta.

Se a mente do homem permanece fixa sobre algum assunto determinado com a concentração suficiente, obtém a iluminação com relação ao mesmo, mais cedo ou mais tarde. O indivíduo em quem a iluminação final aparece, é chamado um gênio, um inventor, um inspirado. Porém, ele é unicamente a síntese de uma grande obra mental verificada em seu redor por homens desconhecidos, dos quais alguns estão separados dele por grandes distâncias; sem ele houvera carecido de material necessário para sua empresa. Do mesmo modo o poeta precisa o alimento de inumeráveis poetastros.

Ele é a essência do poder poético do seu tempo e dos tempos anteriores a ele. É impossível separar um indivíduo de qualquer espécie, dos seus congêneres. 

Portanto, se em vez de aceitar o desconhecido como incognoscível, os homens, de comum acordo, a ele dirigissem seus pensamentos, estas Portas de Ouro não permaneceriam tão inexoravelmente fechadas. Só se necessita de uma mão forte para empurrá-las e abri-las. A coragem para entrar nelas é a mesma que se necessita para penetrar no mais secreto da nossa própria natureza, sem medo nem vacilação. Na mais delicada porção, a essência, o perfume dos homens, se encontra a chave com a qual estas grandes portas se abrem. E uma vez abertas, o que é que ali se encontra? Vozes existem aqui e ali, que, no meio do grande silêncio dos séculos, a esta pergunta respondem; todos os que por elas passaram têm deixado atrás de si palavras à maneira de legados para os que são como eles. Nestas palavras podemos encontrar definidas algumas indicações referentes daquilo que se vê mais além das portas. Porém, unicamente aqueles que desejam empreender este caminho podem ser o significado oculto que por trás das palavras se escondem. Os sábios, ou melhor, os comentadores, leem os livros sagrados de diferentes nações, os de poesia e de filosofia, devido a encumeadas inteligências e neles unicamente encontram mero materialismo. A imaginação, glorificando as legendas da natureza, ou exagerando as possibilidades físicas do homem, lhes explica tudo quanto eles encontram na bíblia da humanidade. 

Tudo quanto existe nas palavras destes livros, existe em cada um de nós e é impossível encontrar, tanto na literatura, como em qualquer das direções em que a inteligência se lance, o que não existe no homem que estuda. Isto é, sem dúvida, um feito evidente conhecido por todos os verdadeiros estudantes. Mas tem que ser especialmente recordado, com referência a este assunto obscuro e profundo, desde o momento em que com tanta facilidade acreditam os homens que nada para os demais pode existir, ali onde encontram eles o vazio unicamente. 

Uma coisa logo percebe o homem que lê. Todos os que se adiantarem, não têm achado que as Portas de Ouro conduzam ao esquecimento. Ao contrário, logo que o limiar das mesmas se cruzou, pela primeira vez, a sensação é real. Mas pertence a uma nova ordem, a uma ordem desconhecida para nós na atualidade e que não podemos apreciar sem que, pelo menos, possuamos alguma indicação a respeito do seu caráter. Esta indicação pode indubitavelmente ser obtida por qualquer estudante que se familiarize com toda a literatura que para nós é acessível. Os livros e manuscritos místicos existem, mas permanecem inacessíveis, simplesmente porque não existe homem algum em disposição de ler a primeira página de qualquer deles, que não se convença como aqueles que têm estudado o assunto suficientemente. Deve existir uma linha contínua através destes conhecimentos; vemos nós passar da mais densa ignorância à sabedoria; é natural, unicamente, que possamos obter o conhecimento intuitivo e a inspiração. Possuímos alguns raros fragmentos destes grandes dons do homem; onde, pois, está o todo do qual devem eles constituir uma parte? Escondido atrás do sutil e, ao parecer, infranqueável véu, que o oculta de nós, como oculta toda a ciência, toda arte, todos os poderes do homem, até que este tem a coragem suficiente para rasgá-lo. Esta coragem procede  unicamente da convicção. Uma vez que um homem crê que aquilo que deseja existe, tratará de obtê-lo a todo custo. A dificuldade neste caso estriba-se na incredulidade do homem. É necessário muito tempo e grande concentração do pensamento, para se poder lançar na direção da região desconhecida da natureza do homem, com o objeto de que as portas se possam abrir e ser suas gloriosas perspectivas exploradas.

Que merece a pena fazer-se isto, aconteça o que acontecer, tudo deve conduzi-lo a crer ao que fez a triste pergunta do século corrente... É a vida digna de ser vivida? Certamente é o suficiente para incitar o homem a um novo esforço, a suspeita de que mais além da civilização, mais além da cultura mental, mais além da arte e da perfeição mecânica, existe alguma coisa de novo, outro vestíbulo que nos admite às realidades da vida." 

(Mabel Collins - Pelas Portas de Ouro - Ed. Pensamento, São Paulo - p. 19/22


terça-feira, 28 de setembro de 2021

UMA ESPIRITUALIDADE VERDADEIRA

"O Nobre caminho Óctuplo de Buda traz sugestões práticas não apenas para elevação espiritual, mas também para se viver de maneira correta, criando uma sociedade coesa e não violenta e promovendo, assim, a espiritualidade. O primeiro passo é ter uma clara percepção da sociedade materialista e egoísta de hoje, com todos os seus deméritos e saber como se dissociar dela.

O segundo passo é a correta determinação. A pessoa deve ter um modo de vida não violento, não consumista e autocontrolado, aceitando dificuldades e inconveniências, inclusive a dor física que pode ocorrer no caminho.

O terceiro passo é falar a respeito disso sem medo. Os dois primeiros passos pertencem ao indivíduo. Compartilhá-los com o próximo é comunicar a sua visão e determinação por meio da correta linguagem. Se a pessoa não fala dos males da nossa sociedade, pode ser considerada cúmplice dela.

O quarto passo é consolidar e estabilizar o esforço. Não se deve permitir que a preguiça e a negligência detenham o esforço de viver corretamente.

O quinto passo, e o mais importante, é o correto viver. Essa é a ação básica de 'pular fora' e implica uma verdadeira compreensão individual da responsabilidade universal.

Atualmente é muito difícil buscar o viver correto e sem mácula. Os ensinamentos práticos de Gandhi sobre a autossuficiência e os princípios do autogoverno de uma aldeia são as únicas respostas ao atual modo de vida consumista.

O sexto passo é a correta atenção. No mundo de hoje, a violência e a desonestidade são a norma. Sem a correta atenção, a pessoa pode cair no fosso materialista sem se dar conta.

Os passos sete e oito, a correta concentração e a correta ação, são também essenciais para um modo de vida não violento. Se o Nobre Caminho Óctuplo for posto em prática, a pessoa pode se livrar de um sistema pernicioso e levar uma vida exemplar.

Para ter uma disposição espiritual ou religiosa e chegar a uma verdadeira transformação da mente, devemos pôr em prática as seguintes sugestões: 
  • Perceber os deméritos da civilização moderna e sua violência direta, indireta, estrutural e exploradora. Isso é correta visão.
  • Estarmos determinados a permanecer dissociados desse modo de vida ganancioso e egoísta, apesar das inconveniências e dificuldades. Isso é correta determinação.
  • Reduzir as necessidades ao nível mínimo e evitar qualquer desperdício de recursos. Gandhi disse que a Mãe Terra é capaz de satisfazer as necessidades de todos, mas não consegue satisfazer a ganância de um único indivíduo. Para salvar o planeta, devemos compreender as necessidades e negar a ganância.
  • Renunciar ao moderno paradigma de abundância. Isso inclui o uso dos meios de comunicação, viagens, computadores e outros males menores sem os quais a pessoa pode não se sentir capaz de atuar no mundo moderno.
  • Inovar a tecnologia, nos meios e nos métodos apropriados de consumo sustentável, senão a Terra pode não sobreviver.
  • Promover uma mente genuinamente espiritual, que seja capaz de transformar o indivíduo e, assim, o universo. Esta é a meta última da vida humana, e não envolve seguir qualquer tradição religiosa.  
Atualmente, mesmo as pessoas que alegam ser autoridades em tradições religiosas tornaram-se mundanas e vis, maculadas por emoções negativas. A prática de uma religião se tornou ritualizada e institucionalizada, razão por que Krishnamurti consistentemente rejeitava todas as tradições. Ele não rejeitava a essência da tradição, apenas a tradição prevalecente. É necessário compreender o que é uma mente verdadeiramente religiosa e o que é a verdadeira religião, livre de dogmas e rituais, tradições e linhagens. 

Krishnamurti resumiu a totalidade do ensinamento religioso da seguinte forma: 'A religião é algo que inclui tudo. Ela não é exclusiva. A mente religiosa não tem nacionalidade, não é provinciana, não pertence a um grupo particular. Não é o resultado de dois mil anos de propaganda, não tem dogma nem crença. É uma mente que se move do fato para o fato. É uma mente que compreende a qualidade total do pensamento, não apenas o pensamento óbvio, superficial, o pensamento educado, mas também o pensamento não educado, o profundo pensamento inconsciente e seus motivos. É uma mente que investiga a totalidade de algo, quando compreende o que é falso e o nega porque é falso. Então a totalidade da negação produz uma nova qualidade na mente que é religiosa, que é revolucionária.'"

(Samdhong Rinpoche - Uma cura para o planeta - Revista Sophia, Ano 13, nº 54 - p. 36)


terça-feira, 24 de agosto de 2021

MUDANÇA REAL

"Uma mudança só é possível do conhecido para o desconhecido, não o contrário. Por favor, pense nisso junto comigo. Na mudança do conhecido para o conhecido há autoridade, uma perspectiva de vida hierárquica - 'você sabe, mas eu não sei'. Por isso, eu crio um sistema, vou atrás de um guru, sigo alguém porque ele me dá  o que eu preciso saber, uma certeza de conduta que produzirá resultado, sucesso. O sucesso é o conhecido. Eu sei o que é ser bem-sucedido. É isso o que eu quero. Então prosseguimos do conhecido para o conhecido, em que a autoridade precisa existir - a autoridade da sanção, do líder, do guru, a hierarquia, aquele que sabe e o outro que não sabe -, e aquele que sabe deve me garantir o sucesso, o sucesso em meu esforço, na mudança, para que eu seja feliz, eu tenha o que quero. Isso não é motivo para a mudança da maioria de nós? Por favor, observe seu próprio pensamento e verá os caminhos da sua própria vida e da sua própria conduta. Quando você olha para elas, isso é mudança? A mudança, a revolução, é algo do conhecido para o desconhecido, em que não há autoridade, em que pode haver um total fracasso. Mas se você está assegurado de que vai progredir, de que vai ser bem-sucedido, de que ficará feliz, terá uma vida eterna, então não há problema. Você busca o curso de ação conhecido, ou seja, você se coloca sempre no centro das coisas."

(Krishnamurti - O Livro da Vida - Ed. Planeta do Brasil Ltda., São Paulo, 2016 - p. 339)


quinta-feira, 5 de agosto de 2021

ACUSAÇÃO E CRÍTICA - V

"Desconfiamos dos outros? Temos medo da intimidade? Sentimo-nos pouco à vontade quando comunicamos nossos mais profundos pensamentos e desejos? Tememos a rejeição ou tememos ser possuídos por alguém?

Todos nossos temores vêm de uma falta de confiança em nós mesmos e não nos outros. Só podemos temer nos outros o que não vencemos em nós mesmos. Se tememos o controle dos outros é porque não nos sentimos no controle de nossa própria vida. Se tememos a rejeição, é possível que tenhamos rejeitado algo muito querido em nós mesmos. Se desconfiamos dos motivos e ações dos outros, provavelmente duvidamos dos nossos. Se reprovamos a hipocrisia dos outros, talvez estejamos nos condenando por não vivermos à altura de nossos mais altos ideais e expectativas. 

Tomás Kempis, um monge e escritor místico alemão do século 15, escreveu: 'O que está em perfeita paz não desconfia de ninguém, mas o que está descontente e perturbado é sacudido por muitas suspeitas. Ele não fica tranquilo nem permite que outros se tranquilizem'.

Hoje deixe-me lembrar a mim mesmo que não é a desconfiança dos outros que devo temer, mas a desconfiança em mim mesmo.

Assim que você confiar em si mesmo aprenderá a viver.
- GOETHE

(Por Liane Cordes - O Lago da Reflexão, Meditações para o autoconhecimento - Ed. Best Seller, 3ª Edição - p. 88)


quinta-feira, 8 de julho de 2021

CONHECIMENTO ESPIRITUAL

"H.P.B. diz que o conhecimento espiritual é inatingível por métodos intelectuais comuns, tais como autoanálise. Penso que temos aqui a chave para compreender alguma coisa que Krishnamurti diz. Ele fala frequentemente da atenção aos nossos processo de pensamento e sentimento, sem escolha e sem personalização. Esta observação absolutamente impessoal do eu pessoal pelo superior é uma forma elevada de Ioga. Lentamente todo o processo da mente e das emoções são observadas e compreendidas, camada após camada, desde a consciência superficial do dia-a-dia até o nível mais profundo da 'subconsciência.' Isto não é a autoanálise comum. O motivo é inteiramente diferente. Na autoanálise comum, o eu comum está julgando o eu comum, no ponto de vista de elogio ou condenação, lucro ou perda. A autoconscientização de Krishnamurti, sinto, é a compreensão de toda a vida até que a vida, Ela mesma, seja alcançada.  

Obter esse conhecimento é a maior das realizações, diz H.P.B., maior, muito maior e mais nobre do que as assim chamadas, 'artes ocultas.' 'Poucos há que a encontram,' disse o Senhor Cristo.

Assim o primeiro passo para encontrar o verdadeiro Eu é encarar nosso corpo como não sendo nós próprios, como a casa em que vivemos temporariamente, ou as roupas que vestimos, ou, como diz o Mestre K.H. em Aos Pés do Mestre, 'o cavalo em que montamos.' Este último é a melhor expressão de todas, pois nosso corpo é uma coisa viva com uma obscura vida elemental própria separada da nossa. Suponha que só pudéssemos ir a qualquer lugar cavalgando; então cuidaríamos desse cavalo, o trataríamos e o exercitaríamos devidamente. Assim também devemos tratar nossos corpos, que são valiosos, mas não identificar nossa consciência com eles. Um efeito indesejável dessa identificação comum, tremendamente próxima, é seu efeito sobre a radiação psíquica interpenetrante que, infalivelmente, segue o pensamento e o sentimento. Pensar que somos este corpo atrai a radiação da 'aura' e concentra demasiada matéria psíquica ou astral sob a periferia da pele, causando congestão psíquica e ligeira tensão nervosa. Muita gente tem radiação suficiente. 

O 'Caminho' é sempre o mesmo, a descoberta do verdadeiro homem interior. Tudo o mais deriva daí. Viveka é, assim, discernimento inteligente e percepção espiritual, e seu corolário, Vairagya, é a consequente firmeza diante dos 'pares dos opostos.' O objetivo de Viveka é aquilo que está na prece do Rei Salomão: 'Dai, portanto, ao vosso servo um coração compreensivo.' Quando começamos a compreender a nós mesmos e aos outros, sem elogio ou reprimenda, talvez comecemos a ouvir a doce voz que tanto desejamos ouvir. Através do pensamento, da aspiração, da meditação, da determinação, lentamente o mundo divino e suas qualidades começarão a tornar-se visíveis. Mas não há metáforas que possam descrever essa visão interior. Está além da imaginação humana, pois nunca a mente humana conheceu alguma coisa semelhante, sua beleza gloriosa, certeza e verdade.

'Não sou este corpo que pertence ao mundo das trevas; não sou os desejos que o afetam; não sou os pensamentos que enchem a minha mente; não sou a própria mente. Sou a Chama Divina em meu coração, eterna, imortal, invisível. Mais radiante que o sol, mais puro que a neve, mais sutil que o éter é o Ser, o espírito dentro do meu coração.'"

(Clara Codd - As Escolas de Mistérios - Ed. Teosófica, Brasília, 1998 - p. 183/185)


terça-feira, 22 de junho de 2021

TRABALHE PELO SEU PROGRESSO COM DEUS A SEU LADO

"Se você não está realizando nada na vida, comece agora: verifique sua saúde e mude a alimentação, se for necessário: acabe com os maus hábitos alimentares. Mude seu modo de pensar - abandone os pensamentos negativos e sombrios e seja mais positivo, de modo a poder adquirir algo material quando desejar. Acima de tudo, trabalhe pelo seu progresso com Deus a seu lado. Isso é a aplicação mais importante de todo o pensamento criativo. Se apesar da sua determinação espiritual a vontade falhar, faça alguma coisa. Assim que você desejar a Deus, tudo virá tentá-lo. Você é levado a acreditar que encontrará felicidade nas diversões mundanas, mas elas o afastam da busca espiritual, destruindo a força de vontade. Quando comecei neste caminho eu nunca ia ao cinema, nem procurava outras distrações. Tinha intenções sérias com Deus - e agora, depois que O encontrei, tudo o que faço parece uma brincadeira. Ele me deu tudo, mas para mim nada é mais interessante do que a comunhão constante, em meu interior, com o Amado de meu universo.

Entrega total a Deus é o único objetivo que consigo conceber na vida. Somente através de Deus, e em Deus, é que posso ver a perfeição que buscava, e portanto é só a Ele que posso dar fidelidade total, pois tudo o mais nos decepciona. Quando você observa as pessoas com os olhos da sabedoria, todas  deixam a desejar. Só Deus satisfaz. Ele me deu muito mais do que esperei na vida. Eu me recusei a pensar, a agir e a ser como os outros. Sabia que havia algo mais na vida. Não há problema em ter coisas materiais, mas elas têm seu lugar. Pessoalmente, não preciso nem desejo essas coisas, Para mim só existe Um, o Senhor. A alegria de Sua presença está sempre comigo.

Quero que saiba que, quando falo de experiências pessoais, não o faço para vangloriar-me, mas para contar da alegria da realização; é para incentivá-lo, para que você também tente. Você só será um fracassado enquanto pensar que foi derrotado. Mas não importa quantas vezes você seja atingido pelas flechadas das circunstâncias: levante a cabeça mais uma vez! Diga para si mesmo: 'O corpo pode estar abatido, mas o espírito não será vencido!'  Esse é o caminho para o sucesso. É preciso o poder da mente, o poder de criar. Então você conhecerá a alegria da realização."

(Paramahansa Yogananda - O Romance com Deus - Self-Realization Fellowship - p. 101/102)


terça-feira, 11 de maio de 2021

EM SUA VIDA: PARTICIPAÇÃO ÍNTIMA (PARTE FINAL)

"(...) Considere cada passo como parte do processo. Quando alguém diz 'É tudo parte do processo', percebe-se um tom de resignação, como se a vida tomasse tempo e paciência, mas se você puder tolerar o aborrecimento por tempo suficiente, o processo acabará sendo eficaz. O processo que estou descrevencdo nada tem de mecânico. Ele é dinâmico, imprevisível, fascinante e em constante mutação. Ser conduzido pelo processo leva à plenitude e à felicidade definitiva. Os grandes mestres espirituais, aqueles que veem a vida pelo aspecto metafísico, frequentemente afirmam que o processo acontece por si próprio. Um conhecido guru indiano foi uma vez indagado:

- Minha evolução pessoal é algo que estou realizando ou algo que está acontecendo comigo? 

A resposta:

- São ambas, mas se tivermos de escolher, é algo que está acontecendo com você.

Por tudo isso, o caminho espiritual não é uma coisa automática. A vida participa aqui e agora, mais pela perspectiva da formiga que pela da águia. Você deve focar em cada minuto; novos desafios aparecem constantemente e não podem ser ignorados. Assim fica bem fácil observar sua vida como uma sequência de momentos, com passos para a frente ou para trás. Muitas pessoas vivem suas vidas exatemente dessa maneira, 'vivendo um dia de cada vez', conforme diz o ditado. Essa perspectiva faria de nós todos sobreviventes. Ela estaria negando a plenitude da vida e, se você não inclui essa fator, uma participação irrestrita torna-se impossível. É claro que você aceitará uma fatia do pão de cada vez se você não souber que o pão inteiro pode ser seu.

Somos forçados a falar por metáforas porque o processo da vida é misterioso. Está acontecendo exatamente agora, esteja você enchendo seu tanque de gasolina, trocando a fralda de um bebê ou sentado na cadeira do dentista. Será que ele chega a uma conclusão gloriosa com data marcada? A mescla do visível com o invisível, do sublime com o aflitivo, é inevitável. A única conclusão viável acaba sendo 'É isso aí'. Algumas vezes 'isso' não significa nada; você não pode esperar que isso termine. Outras vezes 'isso' dá a impressão de que os céus se partiram; você só pode esperar que dure para sempre. Porém, 'isso' é como um pássaro em voo. Você nunca o agarrará. O milagre é que as maiores criações, como o cérebro humano, foram feitas para caçar o pássaro. Nós nos entrelaçamos em um bordado de experiências que fica mais compacto com o passar do tempo, em que cada fio não é nada mais que um fragmento de pensamento, desejo ou sentimento. Cada movimento vivido acrescenta outro ponto de costura e mesmo que você não consiga visualizar como será o padrão final, ajuda saber que o fio é de ouro."

(Deepak Chopra - Reinventando o Corpo, Reanimando a Alma - Ed. Rocco Ltda., Rio de Janeiro, 2010 - p. 264/265)


terça-feira, 20 de abril de 2021

REGRAS DO JOGO (PARTE FINAL)

"(...) Leis da natureza determinam como unidades de matéria se combinam quando um átomo colide com outro, em uma variedade infinita e simultânea. Nós estamos embutidos em um desenho dinâmico, livre, criativo e imprevisível. A evidência disso pode ser notada no que chamamos de jogo. Considere como um jogo de futebol acontece. Ele existe inteiramente na consciência. Seres humanos decidiram que chutar uma bola para dentro de um retângulo tem valor. Foram inventadas regras invisíveis que cada jogador mantém na cabeça. Ninguém fala a respeito dessas regras enquanto o jogo está correndo, mas as infrações são imediatamente reconhecidas e penalizadas. O campo de futebol é estritamente demarcado por linhas e limites, mas dentro desses limites os jogadores são livres para improvisar. Dois jogos nunca são iguais e também nenhum jogador tem o mesmo estilo, nível ou talento que outro. Uma vez iniciado o jogo, essa combinação de regras fixas e jogo livre determina quem será o vencedor. Um jogo de futebol tem um final aberto até o último minuto do segundo tempo, apesar de todo o rígido conjunto de regras que o regulam.

Todo jogo é uma mostra de consciência em modo criativo. O universo atua do mesmo modo. Os defensores do chamado desenho inteligente - a noção de que um Criador onisciente fez com que tudo no universo se encaixasse com perfeição - não estão errados em demonstrar reverência ante a criação. O problema maior é que o desenho inteligente não é inteligente o suficiente. Ele limita Deus a uma figura imutável quando na realidade o universo muda constantemente e é cada vez mais inventivo.

Se todo o universo é consciente, temos então uma explicação instantânea por que nada é acidental. Contudo, é difícil imaginar que uma pedra na rua seja tão consciente como você e eu. Há uma forma de contornar essa objeção, no entanto. Imagine que você vive em um sonho, mas não sabe disso. Dentro do sonho, você vê outras pessoas andando, portanto elas parecem conscientes para você. Você vê animais se comportando como se também possuíssem consciência - eles são curiosos e podem, por exemplo, ser treinados para se comportarem de forma diferente. Mas quando se trata de rochas e nuvens, são seres inanimados e por isso você acredita que não são conscientes. Mas então alguém aparece e diz: 'Tudo é consciente. É preciso que seja. Tudo o que você vê ao seu redor acontece no cérebro de uma pessoa. Essa pessoa é você. Você é o sonhador, e desde que esse sonho seja seu, ele compartilha com sua consicência.'

Existe apenas uma linha tênue entre 'eu estar sonhando' e 'eu estou em um sonho', visto que o cérebro cria ambos os estados. Por que não atravessar a linha? Em algumas culturas, não é necessário nemhum convite. Os antigos sábios da Índia comparavam a vida a um sonho porque toda experiência é subjetiva. Não existe outra forma de vivenciar o mundo a não ser subjetivamente. Se toda experiência acontece 'aqui dentro', faz pleno sentido que todas as coisas se encaixem: nós as fazemos se encaixarem. Até mesmo o acaso é um conceito criado pelo cérebro humano. Assim como os mosquitos que fervilham ao cair do dia, eles não se sentem voando a esmo, da mesma forma que os átomos de poeira interestelar. Não vemos forma ou desenho até que eles se encaixem em nossas ideias preconcebidas, mas isso não tem importância para a natureza. Vista através de um microscópio, cada célula de seu corpo se parece com um redomoinho de atividade, mas isso é só impressão. No que diz respeito à natureza, cada aspecto de seu corpo é metódico e determinado.

Você se vê então diante de uma opção. Você pode ser da opinião que diz que a ordem só existe onde os humanos dizem que sim, ou tomar a posição de que a ordem existe em todos os lugares. Seja como for, tudo o que você faz é só adotar um ponto de vista. Se metade da população mundial dissesse que Deus projetou toda a criação e a outra metade, que a criação foi um acontecimento aleatório, nem por isso o universo deixaria de ser o que é. A consciência ainda estaria fluindo através de seu corpo, cérebro, mente e de todas as criaturas vivas, ignorando os limites artificiais por nós impostos. A questão não é uma disputa entre a ciência e religião, mas se efetivamente participamos do plano cósmico ou não. Existe um aspecto voluntário e outro involuntário. Da mesma forma que em um jogo de futebol, você tem de querer jogar, e assim que começa você está todo nele."

(Deepak Chopra - Reinventando o Corpo, Reanimando a Alma - Ed. Rocco Ltda., Rio de Janeiro, 2010 - p. 253/255)


quinta-feira, 15 de abril de 2021

AS REGRAS DO JOGO (2ª PARTE)

"(...) Em cada nível, a natureza segue essas cinco diretrizes. Elas são invisíveis, existem somente na consciência. A razão pela qual você não percebia não é que seja um segredo de Deus. O plano não é abstrato. Pelo contrário - ele está em cada célula de seu corpo. Você pode se tornar consciente do plano, se quiser, e então o universo adquire uma nova face.

1. Tudo está consciente. Viver em consonância com essa verdade indica que você respeita todas as formas de vida. Você acredita que é parte de uma estrutura viva e age de forma que todas as suas ações ajudem o todo a evoluir. Você reconhece uma afinidade em cada nível de consciência, do mais baixo até o mais alto.

2. Tudo se encaixa. Essa verdade abre sua mente para que veja como a totalidade da vida interage. Em vez de pensar em termos mecânicos, você vê cada ocorrência se desdobrando organicamente. Em vez de observar a vida pedaço por pedaço, você observa o quadro inteiro. Seria também natural investigar como e por que as coisas se encaixam. Haverá uma inteligência maior pensando em escala cósmica? Nesse caso, não será você, um pensamento nessa mente universal, ou parte do processo de pensar - ou ambos?

3. O esquema todo é auto-organizado. Essa é uma das verdades mais fascinantes porque sustenta que nada tem um começo ou um fim. O universo não é como a maré que sobe e desce continuamente. É como o oceano inteiro, inalando e exalando, enviando ondas que retornam à plenitude. Nenhum evento ocorre separadamente. Nós só vemos a separação porque nossa perspectiva é estreita. Através de uma lente mais poderosa, você pode ver que todos os eventos aparecem juntos.
Imagine uma formiga que aprendeu a ler. É a formiga mais inteligente do mundo, mais ainda é muito pequena, por isso ela lê um livro arrastando-se lentamente de uma palavra para a outra. O plano do livro é inteiramente linerar segundo a perspectiva da formiga, e por isso seria interessante saber que você - uma criatura muito maior - pode abordar o livro como um todo, e também pode escolher a parte que quiser, ler o fim antes do começo ou selecionar somente o que lhe interessa. Você pode fazer todas essas coisas porque é o linear é apenas um modo entre muitos na abordagem de um livro. O mesmo acontece na vida.

4. A evolução se desdobra por si mesma. Uma vez que você percebe que o pensamento linear é somente uma opção - e bastante arbitrário por sinal -, você pode considerar a evolução de uma nova maneira. Pense naquela figura de enciclopédias, ilustrando um primata encurvado se transformando em um Neandertal, depois em um homem das cavernas e finalmente no Homo sapiens, cada qual um pouco mais alto e verticalizado. Esse é um exemplo perfeito do pensamento linerar, mas ele não toma conhecimento de que a força primordial da evolução humana está no cérebro, e este não se desenvolveu segundo uma linha reta, nem mesmo que remotamente. Ele cresceu em um padrão global. Cada nova área do cérebro serviu como um acréscimo para a evolução do todo. Cada nova habilidade adquirida foi reconhecida por todo o cérebro.
Por exemplo, quando nossos ancestrais se ergueram sobre os pés pela primeira vez, foram afetados na coordenação motora, visão, equilíbrio, circulação sanguínea e muitos outros aspectos do complexo corpo mente que você reconhece como seus. O dedo polegar, usado como exemplo textual da evolução física que separa os seres humanos dos seus primatas inferiores, não teria razão de ser sem um cérebro que fosse capaz de aprender as infinitas possibilidades inerentes nessa nova habilidade de pressionar o polegar contra o indicador. Gerou-se uma resposta global pelo cérebro para desenvolver a partir dessa habilidade rudimentar tudo o que se conseguiu em termos de arte, agricultura, ferramentas, construções e armas. A evolução é uma atividade completa do universo.   

5. A liberdade é o objetivo final. Se a evolução acontece em todo lugar em um padrão global, para onde ela se dirige? Por séculos, os seres humanos acreditaram que éramos a mais alta aspiração da criação de Deus, e apesar de rebaixados por Darwin a uma espécie entre muitas, ainda assim acreditamos ocupar posição privilegiada. Mas não no topo da escada da vida. Em vez disso, somos aquela criatura que percebe a criatividade como infinita. A evolução se expande para todos os lugares, não para um ponto final. O objetivo final do universo é desdobrar-se sem limites. Para deixar claro em uma só palavra, a evolução está se tornando cada vez mais livre e o objetivo final é a liberdade total.(...)"

(Deepak Chopra - Reinventando o Corpo, Reanimando a Alma - Ed. Rocco Ltda., Rio de Janeiro, 2010 - p. 251/253)


quinta-feira, 4 de março de 2021

A AMOROSIDADE DE UM 'NÃO' (PARTE FINAL)

"(...) O ego geralmente busca a 'gratificação instantânea', enquanto a mente superior, com sabedoria e equilíbrio, leva em consideração não só os benefícios de curto prazo, mas também as consequências em longo prazo de todas as nossas ações, palavras e pensamentos. Com isso, o verdadeiro amor/sabedoria de nosso Ser Interior, ciente das futuras consequências negativas da ação proposta, como procura fazer o bem ao próximo, deverá expressar esse amor com um 'não' à solicitação que foi feita. É óbvio que o 'não' amoroso deve ser expresso sem raiva ou agressividade, mas sim de forma suave e paciente, porém firme, explicando a razão da negativa.

Essa questão é particularmente importante para os pais que, desde cedo na vida dos filhos, verificam todos os dias que os filhos seguidamente solicitam coisas ou desejam fazer algo que implica em perigo para as crianças. Como os pais amam seus filhos, obviamente precisam dizer NÃO para essas exigências. Sabemos, porém, que as crianças podem ser geniosas e insistentes na tentativa de conseguir o que desejam. Choro, manha, birra e até mesmo atos de rebeldia são empregados na tentativa de manipular os pais e fazê-los ceder. Alguns pais acabam cedendo à pressão e manipulação dos filhos. Esse é um clássico exemplo de DESAMOR AOS FILHOS. Estão ensinando a eles que tudo pode ser obtido com suficiente pressão ou manipulação. Os filhos rapidamente aprendem essa lição e crescem com esse hábito. O resultado é que, mais cedo ou mais tarde, vão entrar em conflito com as figuras de autoridade que encontrarem pela frente, sejam elas seus professores, chefes ou autoridades civis ou policiais. Vale lembrar que os principais condicionamentos e traços da personalidade são formados nos primeiros sete anos de vida da criança.

A estrutura familiar de muitos casais, em que tanto o pai como a mãe trabalham fora e têm pouco tempo à noite para dedicar aos filhos, faz com que estes sintam necessidade de atenção e procurem obtê-la dos pais por todos os meios, inclusive da rebeldia, já que acreditam que com bom comportamento e carinho não estão conseguindo a atenção que desejam. Os pais, sentindo-se culpados por não dar aos filhos a atenção que gostariam, acabam cedendo às impertinências deles, procurando reparar seus sentimentos de culpa dando demasiados presentes caros como um meio de compensá-los pelo pouco tempo que lhes dedicam. Além disso, sentem que não devem insistir na disciplina com os deveres escolares, as tarefas domésticas e o comportamento familiar e social, para não afastar mais ainda seus filhos.

O resultado desta falta de disciplina com os filhos será para eles um processo de “deseducação”. Eles não estarão preparados para interagir de forma construtiva com as pessoas na sociedade. Isso será visto bem cedo. Inicialmente na forma de um comportamento agressivo, mostrando rebeldia com toda figura de autoridade, com uma atitude de egoísmo com seus colegas de escola e amigos. As reclamações vão aparecer, mas os pais, já devidamente 'treinados' pelos filhos, vão defender seus rebentos e aceitar a versão deles. Na adolescência os desvios comportamentais provavelmente serão mais dramáticos. Os pais só vão dar conta da extensão do problema quando forem chamados pela polícia ou pelo hospital para serem notificados das ocorrências envolvendo seus filhos.

Mais tarde vão verificar que os filhos têm dificuldade de manter um emprego, pois não aceitam autoridade e não conseguem manter uma rotina de disciplina. Quem sabe se os jovens conseguirão despertar para as regras de bom convívio na sociedade quando conhecerem uma pessoa que faça seu coração “derreter”. O amor tudo pode, e um verdadeiro relacionamento amoroso pode mudar uma pessoa.

Até mesmo para a vida espiritual, a disciplina é absolutamente indispensável. Só é possível meditar com a disciplina da mente, dos horários, das sequências das práticas, etc. Os budistas apresentam a disciplina (shīla) como a segunda grande virtude que precisa ser desenvolvida na vida espiritual. Na seção sobre a Auto-Observação, será apresentada uma das práticas mais efetivas para nossa mudança interior: a sistemática auto-observação ao longo do dia. Será visto que devemos observar todas as nossas reações às situações que enfrentamos na vida diária, pois essas situações são colheitas kármicas. A pessoa mimada ao longo da infância terá grande dificuldade para aceitar os 'espinhos' de suas colheitas kármicas. Podem até tentar manipular a Deus ou os Senhores do Karma, com suas óbvias frustrações. No capítulo sobre a purificação, será dito que a verdadeira purificação não é do corpo, mas sim da mente. Ela envolve dizer 'não' às exigências do ego, que não são poucas. Aprender a dizer e a ouvir 'não' é imprescindível, tanto para a vida mundana como para a espiritual."

(Raul Branco - A Essência da Vida Espiritual - Ed. Teosófica, Brasília, 2018 - p. 74/76)


terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

RELIGIÃO UNIVERSAL

"Unidade na diversidade é o plano do universo. Como homem, você está separado do animal; como seres vivos, homem, mulher, animal e vegetal, são todos um; e como existência, vocês são unos com o universo. Esta existência universal é Deus, a Unidade suprema do cosmos. Nele somos todos um. Ao mesmo tempo, no plano da manifestação, as diferenças devem sempre permanecer. 

O que nos faz criaturas com uma determinada aparência? A diferenciação. O equilíbrio perfeito seria nossa destruição. Suponha que a quantidade de calor nesta sala, cuja tendência é manter-se em difusão igual e perfeita, atinja esse ponto; o calor praticamente deixaria de existir. O que torna possível o movimento no universo? O equilíbrio perdido. A unificação da igualdade só poderá produzir-se por meio da destruição do universo, caso contrário, impossível. Além do mais, seria também perigoso. Não devemos desejar que todos pensem do mesmo modo; não haveria mais pensamentos para pensarmos. É justamente esta diferença, esta desigualdade, este desequilíbrio entre nós que constitui a verdadeira alma do nosso progresso e pensamentos. É preciso que seja sempre assim.

Então, qual é, a meu ver, o ideal de uma religião universal? Não há de ser uma filosofia universal, nem uma mitologia única, nem um mesmo ritual ecumênico, comum a todas as religiões porque sei que este mundo, esta massa intrincada de mecanismos excessivamente complexos e espantosos, deve prosseguir funcionando com todas as engrenagens. Que podemos nós fazer?

Podemos fazer com que funcionem suavemente, diminuindo a fricção, lubrificando as engrenagens, por assim dizer. Como? Reconhecendo a necessidade natural de diferenciação. Assim como por nossa própria natureza reconhecemos a unidade, também devemos aceitar a diversidade. Precisamos aprender que a verdade pode ser expressa de milhares de modos igualmente legítimos. A mesma coisa pode ser vista de cem diferentes perspectivas e ainda continuar a ser ela mesma. (...)"

(Swami Vivekananda - O Que é Religião - Lótus do Saber Editora, 2004 - p. 29/30)
http://www.lotusdosaber.com


terça-feira, 12 de janeiro de 2021

NÃO TEMAS

"(...) o medo é o grande assassino da experiência espiritual. Quando nos vemos enleados em preocupações, apreensões, ansiedades e angustias, perdemos psicologicamente nossa capacidade de sentir empatia pelos nossos semelhantes - e até por nós mesmos. Por extensão, perdemos a capacidade de nos relacionarmos amorosamente com o núcleo espiritual de nosso ser. Em outras palavras, perdemos o contato com Deus quando sentimos medo.

Há na Biblia 62 passagens em que Deus ou Jesus diz: 'Não temas'. Gênesis, o primeiro livro da Bíblia, conta-nos: 'A palavra de Deus veio a Abraão em sonhos dizendo: Não temas'. E logo à frente: 'Deus apareceu a ele e disse... Não temas, pois estou contigo'. Jesus associava a perda do medo à cura: 'Jesus aproximou-se deles e disse-lhes: 'Levantai-vos e nada receeis.'. Aos que se perturbavam ante as coisas terríveis que iriam acontecer no futuro, declarou: 'Ouvireis falar de guerras. Dir-vos-ão que a guerra é iminente. Mas não vos deixeis levar pelo medo'.

Talvez ainda mais importantes para a vossa compreensão do medo sejam suas palavras memoráveis: 'Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou. Não se perturbe nem intimide o vosso coração'.

Isso é bastante claro: não deixem que nada perturbe o seu coração. Não temam coisa nenhuma. Vivam fora do alcance das ansiedades debilitantes e das apreensões.

Mas, de que modo? Como terapeuta, descobri uma única maneira de escapar às garras do medo: enveredar pelo caminho da meditação, aprender a serenar a mente, calar os fluxos de pensamentos que geram nossas preocupações e ansiedades, abrir o coração para a realidade contrária ao medo: o amor.

A psicologia cognitiva demonstrou cientificamente, nos últimos trinta anos, que a ansiedade não é uma emoção isolada e que os maus pressentimentos não constituem estados independentes. Ao contrário, eles emergem diretamente das imagens e pensamentos negativos habituais que passam por nossa cabeça. O fato psicológico elementar é que, se não estivermos sob ameaça física imediata, só um pensamento é capaz de nos deixar ansiosos.

Obviamente, podemos trabalhar esse dado de pesquisa e remover o medo de nossa vida aprendendo a distanciar-nos de tais pensamentos, que geram reações emocionais e psicológicas de pânico. Pois é exatamente o que fazemos em nosso método de meditação. Aprendemos a estar 'tranquilos' e, em consequência, alcançamos a paz espiritual de que tantas vezes falou Jesus. (...)

Constatei. ao longo dos anos, que o tratamento psicológico da ansiedade quase sempre falha sem uma dimensão espiritual meditativa. A terapia cognitiva pode encher-nos a cabeça de pensamentos positivos que anulem os negativos; mas só quando aprendemos a calar inteiramente todos os pensamentos é que mergulhamos de fato na 'paz para além de todo entendimento', como disse o Salmista. Também aprendi que eliminar imagens e pensamentos suscitados pelo medo, a fim de receber o influxo do amor espiritual, é um ato de vontade: temos de, sempre, escolher conscientemente o amor em detrimento do medo par que isso se torne nosso novo modus operandi."

(John Selby - Sete Mestres, Um Caminho - Ed. Pensamento-Cultrix Ltda., 2004 - p. 114/115)


quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

A PALAVRA E O CAMINHO (PARTE FINAL)

"Em Aos Pés do Mestre, os mexericos são descritos como perversos. Por quê? O foco de nossa fala é um nome - o nome de uma pessoa. No ato de falar a respeito de Maria, João, Pedro, Suzana ou quem quer que seja que tragamos à nossa conversa, estamos definindo um ser e colocando-o sob influência de uma variedade de forças, e, em virtuda da potência magnética da fala, ela atrai todo tipo de influência vindas do pensamento do fofoqueiro. 

Portanto, há uma grande responsabilidade envolvida no modo como usamos a linguagem. Ela pode tornar-se uma bênção ativa no mundo à nossa volta, ou uma maldição. Embora não pensemos em nós mesmos como pessoas que possam causar malefícios a outrem, por causa da natureza casual de nosso pensamento e de nossa fala a respeito dos outros, certamente fazemos tais coisas inconscientemente. 

Para algumas pessoas, parece uma desculpa apropriada dizer: 'Eu não sabia disso!' Mas, para aqueles que se comprometeram com um caminho de conscientização cada vez mais profundo, isso não é aceitável. Mesmo se formos a um tribunal, nos dirão que ignorar a lei não é desculpa. Isso é especialmente verdadeiro com as leis universais e as consequências kármicas resultantes.

A experiência que temos do karma resulta amplamente de certos hábitos mentais desenvolvidos ao longo do tempo, hábitos que, por sua natureza, se repetem. Uma mente que foi habituada a responder ao longo de uma determinada linha atrai consequências que correspondem a esse modo de pensar. Assim, a pessoa irada sente-se isolada, a desonesta é desconfiada e assim por diante. Quando percebemos isso, a desculpa da insconsciência em causar mal aos outros por meio da fala não nos cabe."

(Tim Boyd - A palavra e o caminho - Revista Sophia, Ano 18, nº 87 - p. 6/7)


terça-feira, 22 de dezembro de 2020

A PALAVRA E O CAMINHO (1ª PARTE)

"Com frequência as coisas mais profundas são encontradas naquilo que é familiar, mas muitas vezes elas são negligenciadas. Há uma atividade comum em que todos nos engajamos - falar, dar voz a nossos pensamentos e sentimentos. A maioria de nossa fala tende a ser casual, mais ou menos por hábito ou cortesia. Todos nós já ouvimos a pergunta 'Como está você?' num dia em que não estamos nos sentindo bem, e respondemos de imediato 'Bem!' - porque essa é a conduta social.

Se pensarmos um pouco mais sobre o dom divino da fala, poderíamos ser mais conscientes do modo como a usamos. A fala é um reflexo de um poder divino que está dentro de todos nós. É muito considerada nas Escrituras de inúmeros povos do mundo. Na Bíblia, as primeiras palavras do Evangelho de João afirmam que 'no princípio era o Verbo' - a fala não como nós a entendemos, mas talvez no sentido do som que trás todas as coisas à existência.

Quanto João fala da vinda do Grande Instrutor, do surgimento de um Avatar, a linguagem usada é: 'E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós.' Uma compreensão clara do poder da palavra, corretamente entendida, é algo que perpassa as religiões do mundo.

Em A Doutrina Secreta, H. P. Blavatsky escreveu sobre o som e a fala: 'Pronunciar uma palavra é evocar um pensamento, e torná-lo presente: a potência magnética da fala humana é o começo de toda manifestação no Mundo Oculto.' Blavatsky escreveu a respeito da capacidade da fala de magnetizar, de atrair para si. Isso não se relaciona apenas às práticas ocultas conscientes, mas às conversas normais em que nos engajamos de momento a momento.

Na maioria das vezes usamos a fala sem sabedoria. Segundo Blavatsky, emitir uma palavra é evocar um pensamento e torná-lo presente. Toda palavra que dizemos, seja casual ou profunda, traz um pensamento à nossa presença e à presença dos outros. Ela prossegue dizendo: 'Emitir um nome não é apenas definir um ser, mas colocá-lo sob a influência de uma ou mais potêmncias ocultas.' Assim, ao simplesmente dizermos um nome, nós nos engajamos num ato que registra a participação de 'potências' cooperativas. 

É claro que, em nossa conversação normal, não aplicamos um nível de pensamento tão profundo. Estamos apenas conversando, e para nós não é algo tão sério ou importante. Mas a verdade é que nosso discurso é sempre algo com essa profundidade. Pronunciar um nome é definir um ser e colocá-lo sob a influência de forças divinas - ou daquelas forças mais adequadas à fala irrefletida e a uma mente que não é refinada. (...)" continua...

(Tim Boyd - A palavra e o caminho - Revista Sophia, Ano 18, nº 87 - p. 5/6)


quinta-feira, 22 de outubro de 2020

O OBSERVADOR E O OBSERVADO (5ª PARTE)

"19. As manifestações dos gunas ocorrem em função do passivo ou do ativo, do tosco ou do sutil.

Isso significa que os gunas, em suas manifestações, podem ser passivos ou ativos, toscos ou sutis, em sua natureza qualitativa. As palavras sânscritas utilizadas são visesa, avisesa, linga-mãtra e alinga. Avisesa é geral, vago e amorfo e, portanto, passivo, enquanto visesa tem uma forma e um comportamento particulares e é, portanto, ativo. Analogamente, linga-mãtra é diferenciado logo, tangível e tosco, enquanto alinga é não diferenciado e, portanto, intangível e sutil. Aqui é dada uma descrição das expressões normais na atividade dos gunas, quando não houver distorção e modificação por causa dos impactos dos sentidos. Mas, quando o pensamento intervém em seu próprio funcionamento, ocorre uma distorção e, com isso, os impactos dos sentidos são modificados. É então que o real não é visto devido à sobreposição do observado. Ao discutirmos o tríplice samãdhi na primeira seção, examinamos a questão das distorções causadas pela intervenção do pensamento na atividade dos gunas. Essas distorções aparecem quando, dentro da consciência do homem, são formados centros de hábito psicológico, de vir a ser psicológico e de identidade psicológica. Através deste tripla distorção, o observado vem à existência, impedindo-nos de ver o real ou o verdadeiro. Patañjali, no próximo sutra, discute a natureza deste mesmo observador, pois, apenas ao compreendermos o fenômeno observador-observado nos habilitamos a compreender a Realidade."

(Rohit Mehta - Yoga a arte da integração - Ed. Teosófica, Brasília, 2012 - p. 95/96)


terça-feira, 20 de outubro de 2020

O OBSERVADOR E O OBSERVADO (4ª PARTE)

18. O observado vem à existência quando o impacto dos sentidos é modificado pelos gunas ou pelos três fatores condicionantes da mente por causa da busca pelo preenchimento da própria mente. 

No sutra acima, prakãsa, kriyã e sthiti referem-se a sattva, rajas e tamas - os três gunas ou os três fatores condicionantes da mente. A palavra apavarga que aparece neste sutra significa de fato preenchimento, e não libertação como é dito por muitos comentadores. A mente para seu próprio preenchimento distorce a atividade dos três gunas; é o que ocasiona uma modificação nos impactos dos sentidos. Refere-se à intervenção da mente no ato de experimentar. Quando o pensamento interfere no ato de experimentar, então esse ato fragmenta-se, levando à fragmentação da própria experiência. Quando assim acontece, somos incapazes de ver o que é; vemos apenas aquilo que foi modificado pela ação do pensamento. É óbvio que os impactos dos sentidos são possíveis devido ao funcionamento dos três gunas. Quando seu funcionamento é distorcido pela intervenção do pensamento, aqueles mesmos impactos dos sentidos são modificados. E, assim, percebemos o que a mente quer que percebamos. Neste processo, o real é colocado de lado, e o observado toma seu lugar. E isso é feito pela mente para seus próprios objetivos. Patañjali indica muito claramente neste sutra como o observado vem à existência. Ele trata ainda mais da questão dos gunas no próximo sutra."

(Rohit Mehta - Yoga a arte da integração - Ed. Teosófica, Brasília, 2012 - p. 95)


terça-feira, 6 de outubro de 2020

O PROBLEMA DA COMUNICAÇÃO

"O Bhagavad-Gitã diz, no terceiro capítulo, que o homem não pode ficar, mesmo que por um momento, sem agir. Viver é agir, e, portanto, a ação é parte da própria vida. Porém, a maioria de nossas supostas ações são meras respostas a estímulos exteriores ou interiores. Nossas ações provocadas por esses estímulos ou desafios da vida são mais de natureza de reações. Reagimos aos estímulos da vida. É o fenômeno da resposta ao desafio que conhecemos. Não conhecemos o desafio sem resposta, nem resposta sem desafio. Em nossa consciência foram construídos inúmeros centros de reação. Na verdade, nosso movimento na vida é motivado pelas tendências reativas. Patañjali, no início de seus Yoga-Sutra, define o Yoga como uma condição em que tenham cessados todas as tendências reativas. Reação significa continuidade e, assim, tais tendências são todas provenientes de centros de continuidade. O pensamento obviamente é um centro de continuidade. O movimento do pensamento é, de fato, um movimento de continuidade. Se Yoga é liberdade das tendências reativas, decerto, indica que a consciência deve ser livre do processo contínuo do pensamento.

Vimos que o que mantém a corrente contínua do pensamento é o pensador. Uma simples mudança no processo do pensamento apenas substitui um centro reativo por outro. Somente quando o pensamento desaparece é que o próprio centro de reação é dissolvido. A ação pura exige a eliminação do pensador, do observador, ou daquele que experimenta. Quando isso acontece, há uma resposta sem um desafio, uma ação sem um estímulo. Se o amor precisa de estímulo para a ação, nesse caso não é absolutamente amor. O amor é uma resposta sem um estímulo. E, desse modo, unicamente o amor é ação pura - tudo o mais são meras reações."

(Rohit Mehta - Yoga a arte da integração - Ed. Teosófica, Brasília, 2012 - p. 199)
www.editorateosofica.com.br


terça-feira, 29 de setembro de 2020

ATRAÇÃO E REPULSÃO

 "A natureza da matéria é atração e repulsão. A estrutura atômica se mantém pelo equilíbrio dessas duas forças: o positivo e o negativo. Também no espaço infinito os satélites e planetas formam sistemas sob o comando de uma estrela, graças à atração e repulsão. Na vida da natureza esse jogo está presente, significando harmonia. Somente no reino humano o equilíbrio se desfaz. Por quê? Graças ao livre-arbítrio.

Ao mesmo tempo em que a liberdade para agir eleva o homem na escala da natureza - desenvolvendo poderes divinos dentro dele -, pesa-lhe a condição de sofrer enquanto atuar menos racionalmente que seus próprios irmãos menores, os animais. 

O Budismo refere-se ao 'caminho do meio', que é a opção do equilíbrio, a ser alcançada pelo exercício da moderação em tudo que fazemos. Por essa razão, no texto conhecido como Óctupla Senda, Buda menciona uma das principais fontes de dualidade e sofrimento: o desejo, que é movido por atração e repulsão.

Ao entrar em contato com algo que nos desagrada, o que acontece? Buscamos imediatamente o lado contrário, à semelhança do vaivém do pêndulo de um relógio. Esse impulso se alimenta do desejo (corpo emocional) e também da reatividade (corpo mental), funcionando como 'almas gêmeas' dentro de nossa própria alma. Tudo aquilo que repelimos é o oposto que não queremos ver - mas obviamente continua a existir - e segue nossos passos. Temo algo que aprender ali. 

Fruto da mente em estado de excitação, apego e temor, a reatividade não deixa margem à reflexão. Nossa incapacidade de ouvir começa por aí, especialmente se o argumento do outro contraria a 'verdade' que é simplesmente o nosso interesse. Enquanto fingimos prestar atenção ao que o outro diz, estamos arquitetando a resposta. A grande dificuldade experimentada nos relacionamentos - sob o nome de 'incompatibilidade de gênios' - tem nessa característica mental sua principal origem. 

Quanto ao desejo, sua direção obviamente é o prazer. Nosso movimentos são baseados na expectativa do prazer, seja emocional ou mental - o que acontece no corpo físico é somente um reflexo. Por trás do prazer, no entanto, há o fatalismo da dor, assim como as duas faces de uma moeda: uma não existe sem a outra.

Na questão dos vícios que envolvem atos físicos (alcoolismo, tabagismo), o oposto do prazer é visível no corpo, que reage e adoece ao longo do tempo. O reverso do prazer está ali, mas não conseguimos vê-lo. E se por acaso vemos - mantendo o vício -, naturalmente achamos que o sacrifício compensa, não percebendo a real extensão da dor pelo bloqueio na consciência. Dentro do jogo de atração e repulsão, fechamos os olhos ao sofrimento em gestação, escolhendo o prazer fatídico de agora. 

Em outros tipos de vício, ligados ao pensamento e aos sentimentos, a dificuldade de enxergar o oposto ainda é maior. Sendo ações repetitivas fora de nosso controle, os vícios geram automatismos energéticos impostos à nossa maneira de sentir e de pensar, facilitando o retorno daqueles pensamentos e sentimentos com mais força.

O vício, portanto, não é só uma questão física. Pensamentos repetidos de inveja, maledicência, luxúria e mentira são comportamentos viciosos, cujo prazer tem como oposto a angústia, falta de autoconfiança, o vazio interior e outros reflexos da ausência de amor e de comprometimento em nossa vida. Às vezes chamamos isso de 'má sorte', ignorando que a sorte - seja ela qual for - é criação exclusiva de nossa mente, e está em nossas próprias mãos." 

(Walter S. Barbosa - Atração e repulsão - Revista Sophia, Ano 14, nº 59 - p. 9)


quinta-feira, 10 de setembro de 2020

DESCANSO PARA A MENTE (PARTE FINAL)

Férias… sua mente precisa descansar | São Marcos Online"(...) Como podemos dar às nossas mentes a oportunidade de descansar e relaxar? Inúmeras atitudes podem ajudar. Você pode nutrir e relaxar seu corpo com uma dieta saudável e exercícios, especialmente yoga. Pode criar intervalos na sua rotina diária, caminhar, ouvir música e se desconectar por um tempo do mundo tecnológico. Mas o que mais pode ajudar é a prática da meditação; apenas observar seus pensamentos e repousar sua mente prestando atenção ao ir e vir da respiração. Esse tipo de meditação é simples, pode ser praticado em qualquer lugar e tem um forte impacto sobre nosso bem-estar. Logo que ficamos confortáveis com essa técnica básica, podemos observar com mais atenção os nossos pensamentos. 

A primeira coisa que você notará é a grande quantidade de pensamentos, como eles estão sempre mudando e como a mente corre atrás deles. A prática é simplesmente perceber quando a mente se desgarra e trazê-la de volta ao presente, repetidamente. Como fazer isso? Simplesmente deixando ir o pensamento que você estava seguindo. Assim que notar que ele está aí, não se prenda. Dessa forma você corta o fluxo de pensamentos, em vez de encorajá-los. 

Há uma grande sensação de alívio quando você não está mais sendo arrastado pelos pensamentos. Não importa se eles são positivos ou negativos. Se um pensamento bom aparece, você não precisa melhorá-lo ou se alegrar com ele; apenas deixe-o como está. Se um mau pensamento surge, você não precisa se preocupar com ele, nem tentar bloqueá-lo ou mudá-lo. Você pode simplesmente deixá-lo como está.

O segredo para verdadeiramente descansar a mente na meditação é abrir mão de todos os pensamentos a respeito dos pensamentos. Podemos simplesmente relaxar à medida que eles vêm e vão. Quanto mais relaxados estivermos, mais poderemos ver a qualidade desperta da mente, que não enxergávamos antes. Quando vemos isso, estamos vendo o que Buda chamou de nosso 'potencial iluminado'.

Podemos encontrar nossa felicidade e nossa paz mental exatamente como estamos neste exato momento, porque elas estão dentro de nós. Não temos que mudar nossos pensamentos, nem nos transformar em outro alguém. Não precisamos pensar que este 'eu' não é suficientemente bom ou sortudo para ser feliz. Não precisamos ser Madre Tereza, Bill Gates nem a pessoa nos anúncios da revista. Sejamos apenas felizes."

(Dzogchen Ponlop Rinpoche - Descanso para a mente - Revista Sophia, Ano 16, nº 71 - p. 29)