OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


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sábado, 14 de abril de 2018

APEGO

"Apego é um fator mental que percebe um objeto, considera-o bonito ou agradável, deseja obtê-lo, tocá-lo e possui-lo e não quer se separar dele. O apego funciona de duas maneiras interligadas: desejando obter um objeto atraente que ainda não possui e desejando nunca se separar dele depois de possui-lo. A relação de um casal pode ilustrar esses dois tipos de apego. No começo, os dois parceiros desejam estar juntos - esse é o primeito tipo de apego. Depois, surge o desejo de nunca se separarem um do outro - que é o segundo tipo de apego. O apego também pode surgir em relação a objetos materiais. Sob a influência dessa delusão, nossa mente fica absorta no objeto de desejo do mesmo modo que o óleo fica impregnado num tecido. Assim como é muito difícil separar o óleo do tecido que ele manchou, também é difícil separar a mente do objeto de apego no qual ela ficou absorta.

É por causa do nosso apego que continuamos a vagar no samsara, passando por infinito sofrimento. O pré-requisito para alcançar a libertação ou a plena iluminação ou mesmo para receber uma ordenação como monge ou monja é a mente de renúncia. O apego aos prazeres passageiros deste mundo impede o surgimento dessa mente.

Desde tempos sem-início, temos sido incapazes de nos libertar da prisão do samsara. Apego é o que nos mantém presos nesse cárcere. Se tivermos o desejo sincero de praticar Darma, devemos renunciar ao samsara como um todo, e só poderemos fazer isso reduzindo nosso apego deludido.

Tendo reconhecido nosso apego, haverá duas maneiras de abendoná-lo. Essa delusão pode ser superada temporariamente meditando-se na repugnância e impureza do objeto de desejo e, depois, considerando-se as inúmeras falhas da delusão em si. Se praticarmos continuamente desse modo, com certeza poderemos reduzir nosso apego. (...)

Tal método é apenas um antídoto temporário ao nosso apego. Se quisermos removê-lo por completo, teremos de destruir a causa subjacente do apego e também de todas as outras delusões: o autoagarramento. Só seremos capazes de eliminar definitivamente o autoagarramento se meditarmos na vacuidade (shunyata, em sânscrito). Para alcançar a libertação total do sofrimento, precisamos desenvolver não apenas uma realização da vacuidade, mas também da renúncia, do tranquilo permanecer e da visão superior. (...)"

(Geshe Kelsang Gyatso - Contemplações Significativas - Ed. Tharpa Brasil, São Paulo, 2009 - p. 163/164)


sexta-feira, 13 de abril de 2018

ENQUANTO POSSUIRMOS, JAMAIS AMAREMOS

"Conhecemos o amor como sensação, não é? Quando dizemos que amamos, conhecemos o ciúme, o medo, a ansiedade. Quando você diz que ama alguém, tudo isso está implícito: a inveja, o desejo de possuir, de ser dono, de dominar, o medo da perda e assim por diante. Tudo isso, nós chamamos de amor. E não conhecemos o amor sem medo, inveja, possessão; simplesmente verbalizamos esse estado de amor que existe sem medo, o chamamos de impessoal, puro, divino ou sabe lá Deus o que mais. O fato, no entanto, é que somos ciumentos, dominadores, possessivos. Só conheceremos esse estado de amor quando o ciúme, a inveja, a possessividade, a dominação tiverem um fim, e enquanto possuirmos, jamais amaremos...

Em que momento você pensa na pessoa amada? Você pensa nela quando ela parte, quando está distante, quando deixou você... Então, você sente falta da pessoa a quem diz amar só quando está perturbado, sofrendo. Ou seja, enquanto você possui essa pessoa, não tem de pensar nela, porque na posse não há perturbação...

O pensamento surge quando estamos perturbados - e estamos propensos a ficar perturbados enquanto nosso pensamento for aquilo que chamamos de amor. Certamente, o amor não é uma coisa da mente; e, como as coisas da mente encheram nossos corações, não temos amor. As coisas da mente são o ciúme, a inveja, a ambição, o desejo de ser alguém, conseguir sucesso. Essas coisas da mente enchem o coração, e então dizemos estar amando. Mas como podemos amar quando há todos esses elementos confusos dentro da gente? Se há fumaça, como pode haver uma chama pura?"

(Krishnamurti - O Livro da Vida - Ed. Planeta do Brasil Ltda., São Paulo, 2016 - p. 125)


quarta-feira, 28 de março de 2018

ENTUSIASMO: A CHAVE PARA O SUCESSO (1ª PARTE)

"A maioria das pessoas fracassa mais por falta de entusiasmo que de habilidade. O sucesso chegou a muitos que possuiam uma inteligência limitada, mas um entusiasmo maior que a média. 'Nada grande jamais foi alcançado sem entusiasmo', afirmou Emerson.

Entusiasmo significa, literalmente, 'fogo interior'. A maioria já viu esse fogo quando uma pessoa tímida e reservada se deixa levar por um assunto que lhe interesse de maneira vital.

O interesse pode ser cultivado. A maioria das coisas podem ser interessantes se lhes dermos uma chance. Porém o interesse deve vir de nossa própria iniciativa. É quando nossas mentes estão abertas que despertamos para o prazer e a vivacidade da vida positiva.

O inimigo mortal do entusiasmo é a inação. Somos desinteressados porque sentimos e pensamos timidamente à respeito das coisas. O interesse surge juntamente com uma resposta positiva da vida.

A monotonia deve-se ao fato de usarmos apenas uma pequena parte de nossas possibilidades. 'Comparado com o que deveríamos ser, somos apenas semialertas. Fazemos uso de uma pequena parte de nossos vastos recursos mentais', afirmou o médico William James.

Uma pessoa ativa em relação à vida gera sua própria forma motriz. Assumir uma tarefa com resolução positiva é 'curtir' o trabalho.

Dizem que Thomas Edison, no dia do seu casamento, desculpou-se e foi cuidar de um trabalho que precisava de sua atenção. Várias horas depois foi encontrado tão completamente absorto na sua experiência que havia se esquecido de que tinha se casado naquele dia.

Após despertar nossa atenção, temos que superar o desejo de mudar de uma coisa para outra. A pessoa que, como uma borboleta, vive mudando de um interesse para o outro, jamais encontra real satisfação em coisa alguma. O fato de que ela rapidamente se cansa das coisas é uma marca de sua imaturidade. O dia de uma pessoa assim é geralmente cheio de terefas não terminadas. Butler disse que o hábito intelectual mais importante é o hábito de cuidar exclusivamente daquilo que se tem em mãos. (...)"

(J. Lloyd Woodhouse - Entusiasmo: a chave para o sucesso - Revista Sophia, Ano 7, nº 26 - p. 11)


terça-feira, 27 de março de 2018

CONTEMPLAR AS FALHAS DESTA VIDA

"Todos nós, seres humanos, desejamos ter felicidade nesta vida, mas passamos a maior parte do tempo sob o jugo do sofrimento. Para obter algum prazer ou felicidade, lutamos contra nossos inimigos e agradamos nossos parentes e amigos. Como nossos desejos não são satisfeitos, sentimos grande ansiedade e insatisfação e temos problemas. Na tentativa de satisfazer nossos desejos, passamos por grandes provações e encontramos muitas dificuldades. Sempre que somos prejudicados ou quando nossos desejos são obstruídos, revidamos o mal, envolvemo-nos em brigas e disputas e ferimo-nos uns aos outros com armas; por causa disso, imensa é a nossa dor física. Para satisfazer os desejos desta vida, também cometemos muitas ações não virtuosas por meio da nossa fala e da nossa mente. Esse precioso corpo humano plenamente dotado, tão raro de se obter, é inutilmente desperdiçado; gastamos todo o nosso tempo à procura da felicidade insignificante deste vida, expondo-nos a provações desnecessárias."

(Geshe Kelsang Gyatso - Contemplações Significativas - Ed. Tharpa Brasil, São Paulo, 2009 - p. 478)


sábado, 24 de março de 2018

COLABORADORES

"Os Mestres têm colaboradores de todos os graus e de todas as classes, a maioria deles inconscientes deste fato. Ele diz, em algum lugar, que pode facilmente varrer o magnetismo desagradável, causado por sujeira física, mas não pode fazer o mesmo com o magnetismo indesejável nas camadas mais altas da consciência. 

A vaidade espiritual, a ambição e a motivação egoísta são muito mais perigosas do que as pequeninas ambições e desejos dos homens comuns. Ele escreve: 'Autopersonalidade, vaidade e presunção abrigados nos princípios mais elevados são muito mais perigosos do que os mesmos defeitos inerentes apenas à natureza física e inferior do homem.' (C.M.) 'Há pessoas que, sem dar sinais externos de egoísmo, são intensamente egoístas em suas aspirações espirituais internas.' (C.M.) 'Amigo, tome cuidade com o orgulho e o egoísmo, duas das piores armadilhas para os pés daquele que aspira a galgar os altos caminhos do Conhecimento e da Espiritualidade.' (C.M.) Somos todos de certo modo maus juízes da natureza humana, porque vemos tão pouco do homem real. Lembro-me de C.W.L. dizendo-nos, usando a fraseologia caseira que o caracterizava, que algumas pessoas levavam todos os seus bens numa vitrina, enquanto outros dificilmente mostravam qualquer coisa. O Mestre vê o que realmente está lá. (...)"

(Clara Codd - As Escolas de Mistérios - Ed. Teosófica, Brasília, 1999 - p. 71/72)


quinta-feira, 22 de março de 2018

CLARIVIDÊNCIA

"Há muitos clarividentes sinceros mas não treinados, que transmitem mensagens e ensinamentos supostamente vindos dos Mestres de Sabedoria. Quando pela primeira vez encontrei clarividentes e médiuns, fiquei imensamente impressionada. Mas uma longa experiência ensinou-me desde então a ser extremamente cautelosa em relação a qualquer expressão psíquica ou visão. Uma sensitiva nata que eu conheci bem na África do Sul - e que, ao mesmo tempo, é dotada de considerável força de caráter e bom-senso, disse-me várias vezes ter, em sua própria experiência, descoberto que quase todas as aparições astrais são 'mentirosas'. O plano astral é o que H.P.B. chama 'o mundo da grande ilusão,' e diz que 'nenhuma flor colhida nessas regiões foi transportada para a Terra sem sua serpente enrolada em sua haste.' Ela comenta aqui as palavras de A Voz do Silêncio que chamam o plano astral de Sala do Aprendizado, e diz: 'Nela a Alma encontrará a floração da vida, mas sob cada flor, haverá uma serpente enrolada.' Somente pela compreensão dos planos espirituais mais elevados é que esses fenômenos podem ser corretamente entendidos e avaliados.

Isso requer treinamento longo e estrito, bem como uma iniciação que capacite quem vê a ver corretamente. Depende especialmente da pureza desinteressada do sensitivo. O Mestre escreve: 'Muitas das comunicações espirituais subjetivas - em sua maioria quando os sensitivos têm a mente pura - são reais; mas é bastante difícil para o médium não iniciado fixar em sua mente os quadros corretos daquilo que vê e ouve.' (C.M.) Mais uma vez ele escreve: 'Há aqueles que são voluntariamente cegos, e outros que o são involuntariamente. Os médiuns pertencem à primeira classe e os sensitivos, à segunda. A menos que iniciados e treinados regularmente - no que concerne à compreensão espiritual das coisas e supostas revelações feitas ao homem em todos os tempos desde Sócrates, passando por Swedenborg... nenhum vidente ou clarividente autodidata viu ou ouviu de maneira completamente correta.' (M.C.)

Facilmente se pode ver a razão disso. Consciente ou inconscientemente - estamos criando e espalhando incontáveis 'formas-pensamento.' Povoamos nossa corrente no espaço, como disse o Mestre, com criações de nosso pensamento, num mundo de memórias, esperanças, satisfação de desejos. É com este mundo, e através da janela colorida de sua condição psíquica, que o vidente não adestrado entra em contato. A mais leve satisfação do desejo aí toma forma. Tal 'forma-pensamento' pode ser animada por um espírito da natureza que não tenha senso moral ou sentimento de certo ou errado como nós temos, e assim aparece como anjo de luz, dizendo-nos exatamente o que desejamos ouvir. C.W.L. sempre nos advertiu que tomássemos cuidado com qualquer visão que nos bajulasse. (...)"

(Clara Codd - As Escolas de Mistérios - Ed. Teosófica, Brasília, 1999 - p. 85/87)


sábado, 17 de março de 2018

AS EMOÇÕES NÃO LEVAM A LUGAR NENHUM

"Guiado por suas emoções ou por seu intelecto, você é conduzido ao desespero porque isso não leva a lugar nenhum. Mas você entende que o amor não é prazer, o amor não é desejo.

Você sabe o que é prazer? Quando observa algo ou quando tem um feeling, pensar sobre esse feeling, insistir nele lhe dá prazer, e esse prazer você quer e o repete diversas vezes. Um homem ambicioso, seja muito ou pouco, sente prazer. Quando um homem busca poder, status, prestígio em nome do país, em nome de uma ideia, isso lhe dá prazer. Ele não tem nenhum amor, e por isso cria a maldade no mundo. Ele produz a guerra dentro e fora de si.

Portanto, temos de entender as emoções, o sentimento, o entusiasmo, o feeling de ser bom. Temos de entender que tudo isso não tem nada a ver com a verdadeira afeição, com a compaixão. Todo sentimento e todas as emoções têm a ver com o pensamento, por isso conduzem ao prazer e ao sofrimento. O amor não tem sofrimento, mágoa, porque não é o resultado do prazer ou do desejo."

(Krishnamurti - O Livro da Vida - Ed. Planeta do Brasil Ltda., São Paulo, 2016 - p. 156)


segunda-feira, 12 de março de 2018

O CAMINHO DO MEIO (PARTE FINAL)

"(...) A yoga não diz que devemos nos tornar indiferentes aos objetos. Eles continuam a existir, os sentidos estão vivos, a mente percebe, mas não se move. Viajar sem mover-se é uma parte importante do aprendizado, porque o movimento origina-se no eu. Podemos nos colocar na posição de outro sem sairmos do lugar. Talvez precisemos meditar sobre isso e aprender a conhecer a natureza do movimento. O caminho do meio conduz a uma ordem superior que torna possível viver de maneira diferente. Também é chamado de senda do fio da navalha, porque o fio é tão afiado que precisamos aprender a andar por ele; depois fica fácil.

A escritura cristã diz 'apertado é o portão, estreito o caminho'. Esse é o caminho que devemos trilhar. Parece difícil quando visto pela personalidade, mas a austeridade chega por si mesma quando começamos a trilhar a senda. Vem naturalmente e não como algo que foi aprendido e exercitado. Muitos de nós somos autoindulgentes: vemos algo belo e logo o queremos. Podemos ter uma vida na qual não haja austeridade nem autoindulgência? Queremos comer ou ter algo que não é bom para nós. Certamente temos que cuidar do corpo, mantê-lo limpo e útil, mas não é bom dar-lhe demasiada atenção como fazem muitas pessoas.

Chegamos ao equilíbrio através da vigilância. A memória pode fazer muitos males aos seres humanos. Como a mente pode ficar tranquila? Ver que a mente trabalha apenas quando necessário é tornar-se cônscio e saber. O Mestre escreveu numa carta a Sinnett: 'Lembre que as expectativas ansiosas não são apenas sérias, mas perigosas. Todo movimento e vibração do coração desperta paixões. Quem busca o conhecimento não deve ser indulgente com as afeições'.

Às vezes as pessoas dizem que desejam chegar a tal ou qual estágio na vida espiritual, mas o querer nada tem a ver com isso. É melhor não desejar com muita paixão, muito seriamente aquilo que queremos atingir. O próprio desejo pode impedir essa possibilidade. Consideremos por nós mesmos qual é o caminho do meio, não por uma visão sectária ou budista, mas claramente de acordo com nosso julgamento atual. Uma coisa que o dificulta é a pressão que sofremos da sociedade, de nossas famílias e de nossos amigos. Pensam que devemos nos comportar como eles. Será que poderemos nos livrar interiormente, não ficarmos amarrados à religião ou às circunstâncias sociais em que nos encontramos?"

(Radha Burnier - O caminho do meio - TheoSophia, Ano 99, Janeiro/Fevereiro/Março de 2010 - Pub. da Sociedade Teosófica do Brasil - p. 10)


terça-feira, 6 de março de 2018

O EGO NO CAMINHO ESPIRITUAL (1ª PARTE)

"É para acabar com a grotesca tirania do ego que nós seguimos o caminho espiritual, mas os recursos do ego são quase infinitos e a cada estágio ele pode sabotar e perverter nosso desejo de nos libertarmos dele. A verdade é simples, e os ensinamentos são extremamente claros; mas vi muitas e muitas vezes, com grande tristeza, que tão logo eles começam a nos mobilizar, o ego tenta complicá-los porque sabe que está sendo ameaçado de maneira direta. 

Quando estamos no início e ficamos fascinados com o caminho espiritual e suas possibilidades, o ego pode até nos encorajar, dizendo: 'Isso é realmente maravilhoso. É disso que você precisa! Esses ensinamentos fazem um grande sentido!'

E aí, quando dizemos que queremos experimentar a prática da meditação, ou fazer um retiro, o ego cantarolará: 'Belíssima ideia! Vou com você. Podemos ambos aprender alguma coisa'. Durante toda a lua-de-mel do nosso desenvolvimento espiritual, o ego ficará insistindo: 'Isso é maravilhoso - é tão fantástico, tão inspirador...'

Mas logo que entramos no que chamo de 'pia de cozinha', fase do caminho espiritual em que os ensinamentos começam a tocar-nos profundamente, confontamo-nos inevitavelmente com a verdade do nosso ser. À medida que o ego é revelado, seus pontos sensíveis tocados, todos os tipos de problemas começam a surgir. É como se um espelho fosse colocado à nossa frente e não pudéssemos olhar em outra direção. O espelho é absolutamente claro, mas há nele um rosto feio e ameaçador, nosso próprio rosto, olhando fixamente para nós. Começamos a nos rebelar porque odiamos o que vemos; podemos atacar com raiva e quebrar o espelho, mas isso só faria criar centenas de rostos feios idênticos, todos ainda olhando para nós.

Nesse momento começamos a sentir raiva e a nos queixar amargamente; e onde está nosso ego? Fielmente postado ao nosso lado, ele nos encoraja: 'Tem toda razão, isso é ultrajante e intolerável. Não engula isso!' Enquanto o ouvimos fascinados, o ego segue evocando toda sorte de dúvidas e emoções loucas, jogando lenha na fogueira: 'Não vê que esse não é um ensinamento certo para você? Já lhe disse isso há muito tempo! Não vê que ele não é o seu mestre? Afinal de contas, você é um homem ocidental, bastante inteligente, moderno e sofisticado, e essas coisas exóticas tipo zen, sufismo, meditação, budismo tibetano, pertencem a culturas estrangeiras, orientais. Que interesse pode ter para você uma filosofia que surgiu no Himalaia há mil anos atrás?' (...)"

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 160/161)


sábado, 3 de março de 2018

SUPERAR A PREGUIÇA DE SENTIR ATRAÇÃO POR AQUILO QUE É SEM SENTIDO OU NÃO VIRTUOSO

"Sempre que somos atraídos por divertimentos triviais e tagarelice ou ficamos completamente distraídos por espetáculos ou negócios, é sinal de que nossa mente foi vencida pela preguiça: a preguiça de sentir atração por desejos mundanos e ações não virtuosas. É insensato abandonar a alegria suprema que nasce da prática de Darma e, em vez disso, ficar feliz em criar causas de sofrimento. Por que sentir atração por prazeres triviais - como cantar, dançar etc. -, é causa de sofrimento? O motivo é que tais trivialidades entulham com inúmeros obstáculos o caminho que leva à felicidade sublime. Se desejamos felicidade duradoura, devemos praticar o Darma; e se queremos algo para abandonar, devemos desistir daquelas atividades mundanas que não levam a nada, exceto a intolerável sofrimento.

Esse conselho não significa que na vida espiritual não há lugar para momentos de descontração, como ouvir música, nem quer dizer que atividades como tratar de negócios são incompatíveis com o Darma. Como foi enfatizado ao longo do Guia de Shantideva e neste comentário, é a nossa motivação que determina a virtude ou a não virtude de uma ação. Com a motivação adequada - como, por exemplo, o desejo de beneficiar os outros -, existem muitas atividades chamadas de mundanas que podemos fazer, sem ter medo de estar perdendo nosso tempo ou criando causas de sofrimento futuro. O que está sendo enfatizado nesta seção, sobre o segundo tipo de preguiça, é que muitos dos nossos entretenimentos e ocupações da vida diária são diversões inúteis ou sem sentido. Nossa motivação para nos entregar a elas, geralmente, não é nada mais que um egoísmo mesquinho, sem contar que muitas de nossas atividades costumeiras são prejudiciais aos outros. É o nosso apego por esse tipo de conduta que constitui a preguiça, porque todo esforço canalizado nessa direção nos desvia dos propósitos mais elevados na nossa preciosa vida humana."

(Geshe Kelsang Gyatso - Contemplações Significativas - Ed. Tharpa Brasil, São Paulo, 2009 -. p. 278/279)


quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

O EMPREGO DA VONTADE EM OCULTISMO (1ª PARTE)

"Quando aplicamos tudo isso no emprego da vontade para chegar à meta da perfeição, vemos facilmente porque tão amiúde fracassamos. Determinamo-nos a alcançar o objetivo, atingir aquilo que é nosso destino espiritual. Ao fazê-lo, traçamos uma linha de conduta segundo certos princípios que consideramos essenciais. Pois bem; se apenas mantivermos a vontade focada nesse único propósito, com exclusão de tudo quanto ameace contrariá-lo, não depararemos com dificuldades nem conflitos. O que em realidade fazemos é que, quando se nos oferece ocasião de seguir a linha de conduta que nós traçamos, começamos a pensar nas vantagens e desvantagens, no agradável e no desagradável da ação particular que nos propusemos realizar. E uma vez criadas as imagens mentais ou formas-pensamento, como as chamamos, nós as fortalecemos com emoção ou desejo, de modo que se tornam obstáculos em nosso caminho quando tentamos cumprir nossa intenção original. Começa então a luta com todos os seus males adjacentes, com sofrimento próprio, fadiga dos corpos e do risco de fracassarmos no empreendimento. Tudo isso é apenas inadequado mas também dispensável.

Quando usamos a vontade como ela deve ser empregada, para abraçar um propósito e nada mais, não há dificuldade. Mas no momento em que permitirmos que a interferência ou influência de um pensamento entre em nossa consciência e requeira sua atenção, estaremos perdidos. Sem dúvida, devemos considerar as circunstâncias empregando sempre o bom senso e o julgamento deliberado, mas não devemos consentir que influências estranhas nos desviem de nossa linha de conduta.

Portanto, tratemos de realizar essa vontade em nosso interior; percebamos que ela ocupa nossa consciência tal qual uma deslumbrante luz branca; sintamos que ela é irresistível, com o poder de manter firme um propósito até atingi-lo. (...)"

(J.J. Van Der Leeuw - Deuses no Exílio - Ed. Teosófica, Brasília, 2013 - p. 48/49)
www.editorateosofica.com.br


domingo, 11 de fevereiro de 2018

FINQUE RAÍZES PROFUNDAS NO SEU EU INTERIOR

"A chave é estar em um estado de conexão permanente com o nosso corpo interior, em senti-lo em todos os momentos. Essa prática vai se intensificar rapidamente e transformar sua vida. Quanto mais consciência direcionamos para o nosso corpo interior, mais cresce a frequência vibracional, tal qual a luz que vai ficando mais forte quando giramos o botão do dimmer, aumentando o fluxo de eletricidade. Nesse nível de energia mais elevado, a negatividade deixa de nos afetar e tendemos a atrair novas circunstâncias que refletem essa alta frequência. 

Quanto mais concentramos a atenção no corpo, mais nos fixamos no Agora. Não nos perdemos no mundo exterior nem na mente. Pensamentos e emoções, medos e desejos podem até estar presentes, mas não vão mais nos dominar.

VERIFIQUE ONDE ESTÁ a sua atenção neste momento. Ou você está me ouvindo ou está lendo minhas palavras em um livro. Aqui está o foco da sua atenção. Você também está percebendo o que está ao redor, as outras pessoas, etc. Além disso, pode haver alguma atividade mental em volta do que você está ouvindo ou lendo, algum comentário mental, embora não haja necessidade de nada disso absorver toda a sua atenção. 

Verifique se você consegue estar em contato com o seu corpo interior ao mesmo tempo. Mantenha parte de sua atenção no interior. Não permita que ela se disperse. Sinta todo o seu corpo, lá no fundo, como um só campo de energia. É quase como se você estivesse ouvindo ou lendo com todo o seu corpo. Pratique nos próximos dias e semanas.

Não desvie toda a sua atenção da mente nem do mundo exterior. Procure, por todos os meios, se concentrar naquilo que você está fazendo, mas sinta o corpo interior ao mesmo tempo, sempre que possível. Tenha as raízes fincadas dentro de você. Observe, então, como isso altera o seu estado de consciência e a qualidade do que você está fazendo. Não aceite ou rejeite simplesmente essas minhas palavras. Pratique-as."

(Eckhart Tolle - Praticando o Poder do Agora - Ed. Sextante, Rio de Janeiro, 2005 - p. 62/64


quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

AS QUALIDADES REQUERIDAS PARA SE CAMINHAR NA SENDA DO YOGA (PARTE FINAL)

"(...) Em segundo lugar, é preciso ter uma vontade firme, invariável.

Qual é a diferença entre o desejo e a vontade? É uma diferença muito notável. O desejo é a mesma energia que a vontade, mas diferem em que o desejo é sempre determinado por um objeto exterior, mesmo que seja o ardente desejo do qual vos falei; o desejo é sempre posto em atividade por um objeto. A vontade é a mesma energia determinada pelo Eu, brotando do interior e não movida pelos objetos do exterior. Por conseguinte, a vontade não muda com os desejos; é permanente, e é dirigida do interior através de todas as experiências anteriores da alma durante a série de vidas em que o homem tem existido no mundo.

É preciso encontrar esta firmeza de vontade; ela permanece oculta no Eu; é a ultima qualidade divina do Eu, e dirige todas as experiências de nossas vidas, por numerosas que tenham sido. Toda a direção imprimida no transcurso destas vidas, emana da vontade que permanece oculta em nós, é a divindade oculta que tudo dirige. Mas é preciso que esta divindade se manifeste, que não permaneça escondida, pois a vontade do homem, vontade verdadeiramente livre, é o dom mais precioso que a alma humana possui. É Deus mesmo em nós.

A vontade no homem é a vontade divina que caminha sempre unida à Vontade Suprema e que Se esforça por dominar os desejos que pululam nos mundos inferiores; são eles o reflexo de seus próprios poderes, porém se levantam contra estes, dos quais são os verdadeiros filhos.

Em terceiro lugar é preciso uma inteligência penetrante, intensa, sem a qual não existe Yoga possível. Mas como fazer brotar, como fazer crescer estes poderes da alma?

Pode-se responder a esta pergunta com três palavras; cada uma delas se refere a uma capacidade.

Pode-se estimular o desejo, pensando; pode-se desenvolver a vontade, agindo, e pode-se desenvolver a inteligência, estudando.

Eis aqui os três meios que devo precisar."

(Annie Besant - Yoga, ciência da vida espiritual - Ed. Pensamento, São Paulo - p. 31/32)

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

AS QUALIDADES REQUERIDAS PARA SE CAMINHAR NA SENDA DO YOGA (2ª PARTE)

"(...) O Logos é como uma mãe cujo filho ainda não anda: esta lhe mostra de longe um brinquedo para chamar a sua atenção, e lhe diz: 'Vem, anda, experimenta andar'. Impulsionado pelo desejo de possuir o brinquedo, o menino começa a andar. Da mesma maneira trata o Logos seus filhos, para os quais tem brinquedos de todas as espécies. 

O prazer, o gozo de viver, os elogios, o poder, todas as coisas que não são completamente satisfatórias para a alma humana, a atraem, no entanto, momentaneamente, e preenchem assim sua finalidade no mundo, a tarefa de impulsionarnos ao esforço para compreendê-los e desenvolver-nos quando os tivermos alcançado. 

Destruir num jovem todos os seus desejos é causar-lhe um mal terrível, pois estes desejos são para ele uma proteção eficaz contra muitos dos pecados do mundo. 

Para o jovem ambicioso não são, contudo, viscosos todos os caminhos neste mundo, pois que sem este desejo não pode crescer, não pode chegar a alcançar nenhum poder sobre os demais sem aprender a respeitar-se a si mesmo. Impulsionado pelo desejo, permanece muito amiúde na senda da virtude, evitando desta maneira a senda do vicio, graças a este desejo mais elevado que tem de alcançar o poder, seja político ou social. Nestas circunstâncias pouco importa o objeto; só o esforço tem valor. 

O Logos, que compreende muito bem sua função, coloca todos os objetos desejáveis ante os olhos de Seus filhos, a fim de que aprendam a andar para tornar-se homens. Os desejos pelas coisas elevadas destroem os desejos inferiores; os desejos nobres são as espadas que matam os desejos mesquinhos. 

O desejo de unir-se a Deus, de encontrar o Eu, de realizar sua divindade, é um desejo nobre e necessário. Sem este desejo ardente como uma chama, não seria possível vencer as dificuldades, os perigos, os sofrimentos desta Senda tão difícil e tão curta que conduz rapidamente ao conhecimento do Eu. (...)" 

(Annie Besant - Yoga, ciência da vida espiritual - Ed. Pensamento, São Paulo - p. 30/31)
http://www.pensamento-cultrix.com.br


segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

AS QUALIDADES REQUERIDAS PARA SE CAMINHAR NA SENDA DO YOGA (1ª PARTE)

"Existem três grandes qualidades, que é necessário possuir; a primeira é um desejo ardente; a segunda, uma vontade firme; a terceira, uma clara inteligência. Sem estas qualidades, é impossível caminhar por senda tão difícil; para poder compreendê-las, é preciso analisá-las e como podem estas qualidades evoluí em nós mesmos. 

Embora a Yoga não seja nada mais do que aplicação das leis da evolução da matéria, bem como dos poderes da inteligência; no entanto, em certo sentido, não é para ser seguida por todo o mundo; só pode sê-lo por poucas pessoas. Todo mundo pode começar, todo mundo pode tratar de aplicar em si mesmo, pouco a pouco, estas leis; porém, sem um método consciente, sem uma ininterrupta e resoluta prática, não pode converter-se num fato para qualquer homem ou mulher. Só alguns dentre nós podem verdadeiramente converter-se no que se chama um yogue. Somente aqueles que a praticam resolutamente e seguem a Yoga propriamente dita têm possibilidade de êxito nesta empresa. 

Assim, dissemos que a Yoga requer, em primeiro lugar, um desejo ardente. Sem este desejo é impossível qualquer êxito; é tão longo o caminho, as dificuldades são tão grandes que somente aquele que ardentemente deseja pode seguir por esta senda. 

Examinai a vós mesmos e encontrareis em vosso interior um grande número de desejos, porém que são passageiros, fugitivos; não são perduráveis; hoje desejais uma coisa, amanhã outra. Os desejos mudam continuamente no caminho do progresso normal da evolução; é preciso sentir todos estes desejos para evocar os poderes da inteligência e da alma. 

Algumas vezes se fala dos desejos como se estes fossem uma coisa má, e que é preciso não ter desejos. Isto só é verdade uma vez alcançado certo grau, porém, não é verdade no caminho onde se buscam as experiências. 

Nossos livros falam das sendas chamadas Pravritti, a senda pela qual se vai, e Nivritti, a senda pela qual se volta; e segundo a senda que alguém siga, deve ou não ter desejos. 

Mas procurar matar os desejos quando ainda não se está suficientemente desenvolvido, é um erro fatal, comum a muitas pessoas. Credes por ventura que o Logos, criador do Universo, teria enchido este mundo de objetos próprios para despertar o desejo, se quisesse que este não existisse? Se Deus não quisesse que os homens sentissem desejos, o mundo seria muito diferente do que é; na senda não se encontrariam objetos  agradáveis que vos atraem dizendo a cada instante: 'Eis-me aqui; toma-me'. (...)"

(Annie Besant - Yoga, ciência da vida espiritual - Ed. Pensamento, São Paulo - p. 30/31)
http://www.pensamento-cultrix.com.br


segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

O CAMINHO DO AMOR (3ª PARTE)

"(...) Vós, que trilhais esta vereda, que sentis o chamado do amor, que anseiam curar, ensinar e salvar, deveis fazer vossa escolha. Estais dispostos a abandonar todas as felicidades que estivestes acostumados a tomar como amor, a renunciar à felicidade do amor correspondido? Sentindo uma compaixão crescente em vosso coração, cônscios de um poder de amar que aumenta cada dia, estai prontos para desatar todo laço humano, a fim de que vosso amor terreno possa ser transmutado em amor que é divino? A cela, a cova do ermitão, a floresta, a fenda na montanha, oferecem locais para vosso retiro, onde podereis, sozinhos, subjugar os demônios do desejo e romper as cadeias que vos mantêm ligados à servidão da carne; antes, nenhum retiro é necessário, a cela ou a gruta estão em vosso íntimo, e a não ser que o tenhais achado dentro de vós, nenhum outro lugar externo vos será de utilidade. Aprendei, pois, a encontrar o lugar da paz dentro de vós; retirai-vos para o  silêncio de vosso ser e lá, perfeitamente aparelhados de mente e coração, avaliareis a natureza da tarefa que tendes em mãos. Visualizai claramente a meta que desejais, e notai os obstáculos do caminho. Estas barreiras devem ser suplantadas uma a uma. Procurai transformar, antes que destruir; não matai a luxúria, antes retirai dela o amor, e deixai-a então perecer; não matai o desejo, antes retirai dele a vontade, e então abandonai-o à morte; não matai o mau pensamento, retirai dele a essência do pensar, e então deixai-o morrer.

Assim como deveis evitar o amor humano e tornar-vos um homem à parte, do mesmo modo deveis vos apartar do homem que considerastes vós próprios. Notai que a conquista se dá pelo retiro, e não pela morte. Retirai-vos, pois, de tudo o que se vos opõe; vosso caminho para a vitória não passa pela conquista de vossos oponentes, internos ou externos, mas pela salvação de todos eles. Cada antagonista que se volta contra vós deve ser conquistado para vós; de cada poder do mal que vos fizer frente no caminho extraí o bem, e deixai o resto perecer, até que em cada forma de vida aprendais a ver o bem, e, aprendendo a ver, aprendais a amar, até que, para vós, o mal já não exista. 

À luz de vosso amor crescente, o mal não passa do bem em germe – uma fase necessária na divina alquimia. 

Assim crescereis em sabedoria, força e conhecimento, componentes do amor salvífico que aspirais irradiar sobre o mundo. O amor será vossa rainha, e vós seu cavaleiro, ela vos dará um arnês invulnerável, pois nada, no céu ou na terra, prevalece contra o poder do amor. Montado no cavalo branco da verdade, dom de tal rainha, dissipareis toda escuridão, pois nenhuma sombra pode estar onde está a luz de tal amor que é divino. A radiância celestial iluminará vossa fronte, a rosa mística desabrochará em vosso peito, a beleza divina, radiosa como a manhã, fulgurará de vossa pessoa; vos tornareis como um novo Galahad, e se vos será dada a visão do Santo Graal. (...)"

(Geoffrey Hodson - Sede Perfeitos - Canadian Theosophical Association



domingo, 28 de janeiro de 2018

O CAMINHO DO AMOR (2ª PARTE)

"(...) Assim aquele que um dia deverá ser amante, deve iniciar sendo operário e estudante. Deve embeber-se da ciência da alma, e deve obrar continuamente na aplicação daquele conhecimento; tampouco necessita ir a qualquer lugar para obter os materiais de sua pesquisa, pois a natureza ordenou que cada homem produza em si mesmo todos os elementos de que precisa. Assim ele direciona todas as suas forças e todos os seus poderes de vontade e pensamento sobre os produtos de seu próprio ser - não sobre seu próprio ser, não sobre si mesmo; senão, viajando para dentro, descreverá um círculo que se fecha sobre si mesmo, e desse modo bloqueará todo o progresso, quando deve delinear uma espiral que, volta após volta, o alça aos mundos espirituais; não seja a concentração, portanto, sobre si mesmo, mas sobre os produtos de seu ser.

Tampouco deve prestar atenção nas fraquezas de outras pessoas, pois só de si mesmo ganhará forças. Cada homem é completo, cada homem é diferente, são como facetas de uma mesma jóia, e aquilo que cada um destila de sua completude será diverso da destilação de outro. O grande Alquimista somente pode misturar a miríade de essências destiladas por miríades de homens e fazer um único e glorioso perfume. Até que este grande experimento seja completado Ele trabalhará sem cessar no laboratório universal em que Ele, o Cientista Supremo, obra de idade em idade. 

O amor que salva os mundos guarda apenas tênue semelhança com aquilo que os homens chamam de amor; antes é um derramar universal de poder, sabedoria e conhecimento sobre todas as formas de vida, sem distinção de idade, corpo ou alma. Não distingue entre o inseto e o homem, o animal ou o anjo, o pecador ou o santo; todos estão igualmente incluídos na glória de seu espantoso fluir. Não julga o homem ou a besta, o anjo, árvore ou flor, tampouco detém-se para avaliar as bênçãos que distribui, tal é o amor que se derrama continuamente do coração d'Aqueles que são Salvadores do mundo pelo grande poder do amor. Seu amor não procura abraçar, nem envolver; à medida que flui, impregna cada célula, cada átomo do corpo daqueles que recebem seu benefício. 

Deixai que o peregrino na senda do amor comece a imitar esta perfeita maneira de amar, que comece a tornar seu amor igual ao d'Eles; pois ele também deve aprender a irradiar uma correnteza de luz rósea, contribuindo com sua porção no amor universal; ele deve emancipar-se cada vez mais da escravidão do amor terreno às formas; jamais permitirá que uma só forma concentre seu amor, ou uma única pessoa seja o único objeto de seu amor, pois ele aspira a ser um amante universal. O amor que ele derrama é direcionado à alma, para auxiliar o desenvolvimento do Deus interno em evolução, e não à forma. Gradualmente ele deve cortar cada laço terreno, até que nenhuma pessoa no mundo possa reivindicar a posse exclusiva de seu amor. Ele deve amar a todos, e com um amor tão compassivo, tão terno, tão cheio de divina bondade, que à sua luz brilhante e poder qualquer amor humano pareça apenas escuras sombras de desejo. Mais tarde, o amor que agora sacrifica ser-lhe-á restituído em plena medida, quando os homens puderem ver nele um salvador pelo poder do amor, e, vendo, possam igualmente devolver-lhe um amor que ele ensinou a purificar. O ideal de amor, como um todo, deve ser elevado, deve se desvencilhar inteiramente dos abraços sufocantes do desejo; o peregrino deve se tornar puro, altruísta e livre, se o amor com o qual deseja salvar o mundo deve ser puro e livre. (...)" 

(Geoffrey Hodson - Sede Perfeitos - Canadian Theosophical Association



sábado, 27 de janeiro de 2018

O CAMINHO DO AMOR (1ª PARTE)

"Aquele que trilhar o caminho do amor deve descobrir aquela alquimia espiritual que transmuta o amor mais baixo no mais alto; deve conhecer a ciência sagrada pela qual as piores qualidades da alma, passando pelo crivo do pensamento, possam ser sujeitadas pelo fogo ardente da vontade, para que sua essência possa ser destilada, gota a gota, e então colocado nas mãos do experimentador o tão almejado elixir da vida. Do vil obterá o puro; do imperfeito, a perfeição; do impermanente, o eterno. Até que essa ciência seja aprendida, e tudo o que for baixo tenha sido purificado, o homem não pode ser um salvador do mundo. 

Um salvador do mundo é aquele que se emancipou de toda fraqueza humana, caminhou pela estrada do amor e, caminhando, tornou-se divino. Os que vão passar por esta estrada, a qual atravessaram aqueles cujos pés sangraram, devem aprender a ciência que eles aprenderam; deve preparar a cruz do pensamento, deve acender em si mesmos o ígneo poder da vontade e, tomando cada vício, fazê-los objeto de experimento, e então transmutá-los, um a um, na virtude oposta, pois, acima de tudo, o amor deve ser puro. 

Assim como o lixo terrestre é destruído pelo fogo, o lixo da alma deve ser incinerado pelo fogo da vontade. Todo o vício, ainda que grande, esconde um precioso perfume que ele procura, cada fraqueza se revela fonte de uma força oculta, cada erro esconde uma verdade; vício, fraqueza, erro, estes são os equipamentos com os quais o homem começa a palmilhar a estrada do amor. A fim de que sejam transformados em seus opostos, o homem deve retirar-se para o laboratório de sua alma, e lá preparar os instrumentos de seu trabalho. Os instrumentos são: pensamento e vontade; estes dois, apenas, fornecem tudo de que necessita; de sua união uma criança nascerá; a criança é o amor. Os homens a conhecem como Hórus, ou como Cristo. 

Tendo-se retirado para a reclusão dos recessos mais íntimos de sua alma, aquele que um dia será um amante da humanidade deve estocar seus recursos, deve procurar em seu eu terreno as ervas das quais extrairá as essências procuradas. Distanciado de seus desejos, ele os cortará um por um do solo de sua natureza, onde tão firme deitaram raízes. Vício, sexualismo, sensualidade, impureza, egoísmo, crueldade, mentira, indiscrição, superstição, avareza, e ilusão, tais são os nomes das plantas que ele juntará na selva de sua natureza inferior, selva cujo dever seu é transformar no mais refinado jardim da terra. Cada planta que tiver arrancado ele porá sob a minuciosa lente de seu pensamento e provará ao fogo de sua vontade inquebrantável; este fogo não deverá abrandar-se, menos ainda extinguir-se, até que raízes, folhas e flores se tenham consumido. Então, no receptáculo espiritual, o veículo de seu Eu Imortal, no qual reside a imortalidade, o líquido precioso que destilou será recolhido, gota a gota. Lá será guardado até que a secreta farmácia de sua alma seja abastecida, prateleira após prateleira, com aquelas essências vitais das quais fluirá um dia a panacéia universal. Esta panacéia é o amor. (...)" 

(Geoffrey Hodson - Sede Perfeitos - Canadian Theosophical Association)



sábado, 6 de janeiro de 2018

COMPREENSÃO

"PERGUNTA: A experiência demonstra que a compreensão só surge depois de cessar a argumentação e o conflito, e se manifesta uma espécie de tranquilidade ou simpatia intelectual. Isso se dá até na compreensão de problemas matemáticos ou técnicos. Entretanto, tal tranquilidade só tem sido experimentada depois de feitos todos os esforços de análise, exame ou experimentação. Significa isso que o esforço constitui uma preliminar, se não suficiente, pelo menos necessária para se obter a tranquilidade?

KRISHNAMURTI: Espero que tenhais compreendido a pergunta. O interrogante pergunta, em resumo: O esforço, o investigar, analisar, examinar, não é necessário para que haja tranquilidade da mente? Para que a mente possa compreender, não é necessário esforço? Isto é, não se necessita uma técnica, para que se tenha a capacidade de criar? Se tenho um problema, não preciso penetrar nele, pensar nele a fundo, investigá-lo, analisá-lo, preocupar-me com ele, e largá-lo depois? E então, estando a mente quieta, encontra-se a solução. Tal é o processo pelo qual passamos. Temos um problema, pensamos nele, examinamo-lo e discorremos a seu respeito. Depois, a mente, tendo-se cansado, fica quieta. Acha-se então a solução do problema, sem se saber como. Todos nós estamos familiarizados com esse processo. E o interrogante pergunta: 'Não é necessário isso, primeiramente?'

Por que passo por esse processo? Não formulemos a pergunta erradamente; o que devemos perguntar não é se esse esforço é necessário ou não, mas, sim, por que passamos por esse processo. Evidentemente, passo por esse processo porque quero achar uma solução. O que me interessa é encontrar uma solução, não é verdade? O receio de não achar a solução me leva a fazer todas essas coisas, não é assim? E depois, tendo passado pelo processo, fico exausto e digo 'não encontro a solução'. Aí, a mente se aquieta e, às vezes ou sempre, apresenta-se a solução.

A questão, pois, não é se o processo preliminar é necessário, mas, sim, porque passo por esse processo. É óbvio que o faço porque estou à procura de uma solução. O que me interessa não é o problema, mas, sim, a maneira de me livrar dele. Não estou buscando a compreensão do problema, mas, sim, a sua solução. Certamente, há uma diferença nisso, não achais? Porque a solução está no próprio problema, e não fora dele. Passo pelo processo de investigar, analisar, dissecar, porque quero livrar-me do problema. Mas, se não fujo do problema, e procuro encará-lo, sem temor nem ansiedade, se apenas olho para o problema, que pode ser um problema matemático, político, religioso, ou outro qualquer, se o considero sem a mira numa solução, então começará o problema a descerrar-se. Eis o que acontece. Passamos pelo processo, e afinal o abandonamos, porque não encontramos saída alguma. Assim, pois, por que não começamos pelo começo, isto é, abstendo-nos de procurar uma solução para o problema, que é coisa dificílima?

Pois, quanto mais eu compreender o problema, tanto mais significação encontro nele. Para compreendê-lo, preciso considerá-lo tranquilamente, sem envolvê-lo com minhas idéias, meus sentimentos de agrado ou desagrado. O problema nos revelará então o seu significado.

Por que não é possível termos a tranquilidade da mente desde o começo? E só haverá tranquilidade quando eu não estiver à busca de uma solução, quando não tiver medo ao problema. Nossa dificuldade é esse medo que temos ao problema. Nessas condições, se perguntamos se é necessário ou não fazer-se esforço, receberemos uma resposta errada.

Consideremos a questão por maneira diferente. Todo problema requer atenção, e não distração motivada pelo temor. E não há atenção, quando estamos a procurar uma solução fora do problema, uma solução que nos convenha, que seja preferível, que nos dê satisfação ou um meio de fuga. Por outras palavras, se podemos considerar o problema sem esse propósito, é então possível compreendê-lo. A questão, portanto, não é se devo passar por esse processo de analisar, examinar, dissecar, e se é necessário isso para termos a tranquilidade. A tranquilidade se manifesta. quando não sentimos temor; mas, visto que temos medo ao problema, ao que ele nos revele, ficamos entregues aos desejos de nossos próprios impulsos, aos impulsos de nossos próprios desejos."

(Krishnamurti - A Conquista da Serenidade - Editado pela Instituição Cultural Krishnamurti, p. 14/17)

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

UM FELIZ ANO NOVO PARA TODOS

"(...) 'UM FELIZ ANO NOVO PARA TODOS! Isto parece bastante fácil de dizer, e todos esperam ser saudados deste modo. No entanto, é mais difícil saber se o desejo será cumprido, mesmo que venha de um coração sincero, e ainda no caso dos poucos. De acordo com os nossos princípios teosóficos, cada homem e mulher tem uma potencialidade magnética maior ou menor, que, quando reforçada por uma vontade sincera e especialmente intensa e inquebrantável, é a mais eficaz das alavancas mágicas colocadas pela Natureza nas mãos humanas, para o bem ou para o mal. Que nós, teosofistas, usemos então esta vontade para mandar uma saudação sincera e um voto de boa sorte no Ano Novo a cada uma das criaturas sob o Sol - inclusive os inimigos e os traidores. Devemos ter um sentimento especialmente amável e inspirado pelo perdão em relação aos nossos inimigos e perseguidores, honestos ou desonestos, para evitar que alguns de nós mandem uma saudação com maus pensamentos, subconscientemente, ao invés de uma bênção.' 

Quando devemos fazer isso?

Desde o ponto de vista esotérico, o mais indicado não é necessariamente o dia primeiro de janeiro. O dia três de janeiro, por exemplo, era nos tempos antigos dedicado a Minerva-Atenas, a deusa da sabedoria.   E existe a data especial de 4 de janeiro:  

'… É o dia 4 de janeiro que deveria ser selecionado como Ano Novo pelos teosofistas - e entre eles especialmente os esoteristas. Janeiro está sob o signo de Capricórnio, o misterioso Makara dos místicos hindus. Os 'Kumaras', afirma-se, encarnaram na humanidade sob o décimo signo do Zodíaco. Durante eras, o dia quatro de janeiro tem sido sagrado para Mercúrio-Buda, ou Thot-Hermes. Assim, tudo se combina para fazer deste dia uma celebração a ser observada pelos estudantes da Sabedoria antiga.'

Seja qual for o dia exato da nossa escolha, cada Ano Novo nasce e termina sob o signo de Capricórnio, cujo regente é Saturno. Este é o planeta do Carma. É o mestre do tempo, que constrói, mantém, destrói, e reconstrói as estruturas materiais e sutis da vida. É o Senhor dos Anéis, e o corregente da era de Aquário que agora lentamente nasce."

 'Collected Writings', TPH, H.P. Blavatsky, volume XII, TPH, p. 67. Texto intitulado '1890! On the New Year’s Morrow'.
 'Collected Writings', H.P. Blavatsky, volume XII, TPH, p. 75.
 'Collected Writings', H.P. Blavatsky, volume XII, TPH, p. 76.

(Carlos Cardoso Aveline - Sobre o Natal e o Ano Novo, Como Se Cria Uma Atmosfera Correta para o Futuro)