OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


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terça-feira, 15 de junho de 2021

ABANDONAR O APEGO ÀS COISAS INANIMADAS


"O apego a posses materiais e similares é outro obstáculo que devemos abandonar em nossa busca do tranquilo permanecer. Podemos nos opor a essa atitude de aferramento treinando da maneira que se segue. Primeiro, devemos considerar que, [17] se formos apegados à nossa riqueza, fama ou reputação e gerarmos orgulho desses atributos elogiados pelos outros, as delusões de orgulho e de apego vão nos levar a renascer em reinos inferiores, onde sofreremos terríveis medos. [18] Devemos compreender que nossa mente confusa é incapaz de discriminar entre o que é benéfico e o que é prejudicial a si mesma. Por isso, ela corre descontroladamente para os objetos de apego, inconsciente do imenso tormento que, em nome deles, terá de suportar em vidas futuras. [19] Sábia é a pessoa que permanece desapegada de riqueza, fama e coisas do gênero, porque é o nosso aferramento a esses deleites que dá origem a todos os nossos medos.

[20] Outro ponto a considerar é que todas as nossas posses e tudo aquilo pelo qual lutamos nesta vida terão de ser deixados para trás quando chegar o momento de partir sozinhos e compreendendo que não vamos levar nada conosco a não ser as marcas cármicas gravadas em nossa mente, devemos abandonar o apego aos prazeres passageiros desta vida.

Uma consideração final refere-se à nossa atitude ao receber elogio. Não há motivo algum para ficarmos alegres quando as pessoas falam bem de nós ou infelizes quando nos criticam. Por quê? Porque nenhum elogio que recebemos tem poder para elevar ou aumentar nossas boas qualidades e nenhuma censura pode nos fazer cair. Ademais, [21] sempre haverá algumas pessoas que irão nos elogiar e outras que irão nos desprezar. Portanto, que prazer pode haver em ser elogiado e que desprazer pode haver em ser menosprezado?"

(Geshe Kelsang Gyatso - Contemplações Significativas - Ed. Tharpa Brasil, 2009 - p. 308)


terça-feira, 1 de junho de 2021

A BUSCA DA VERDADE - excerto 7

"7.  Havia, certa vez, um homem que procurava, no Himalaia, o Verdadeiro Caminho. Não se interessava pelos tesouros da terra nem pelas delícias do céu, apenas buscava o ensinamento que pudesse afastar todas as delusões mentais.

Os deuses, impressionados com sua seriedade e sinceridade, decidiram pôr sua mente à prova. Assim, um dos deuses se disfarçou em demônio e apareceu no Himalaia, cantando: 'Tudo muda, tudo aparece e desaparece'.

O homem ouviu com satisfação esta canção. Sentia-se tão satisfeito, como se tivesse encontrado uma fonte de água fresca para mitigar-lhe a sede, ou como um escravo inesperadamente liberto. Dizia consigo mesmo: 'Finalmente, encontrei o verdadeiro ensinamento que, por muito tempo, procurava.' Seguindo a voz, chegou junto a um horrendo demônio. Com a mente apreensiva, aproximou-se do demônio e lhe disse: 'Foi você que cantou a sagrada canção que há pouco ouvi? Se foi você, por favor, cante-a mais um pouco.' O demônio lhe respondeu: 'Sim, fui eu, mas não posso mais cantá-la até que tenha algo para comer, estou faminto.'

O homem lhe suplicou sinceramente que a cantasse mais, dizendo: 'Ela tem um significado sagrado para mim e eu o procurei durante muito tempo. Apenas ouvi uma pequena parte, por favor, deixe-me ouvir mais.' O demônio disse novamente: 'Estou muito faminto, se pudesse provar carne fresca e sangue de um homem, eu terminaria a canção.' O homem, em sua ânsia de ouvir o ensinamento, prometeu-lhe dar o seu corpo após ter ouvido o ensinamento. O demônio, então, cantou a canção completa.

Tudo muda,
Tudo aparece e desaparece,
Somente haverá perfeita tranquilidade,
Quando se transcender a vida e a morte.

Ouvindo isso, o homem, depois de escrever o poema nas rochas e árvores ao seu redor, subiu calmamente em uma árvore e se atirou aos pés do demônio, mas o demônio havia desaparecido e, em seu lugar, um radiante deus amparou incólume o corpo do homem."

(A Doutrina de Buda, Bukkyo Dendo Kyobai, Terceira edição revista, 1982, p. 303/317)  


terça-feira, 25 de maio de 2021

A BUSCA DA VERDADE - excertos 3 e 4

"3.  O mundo não tem substância própria. É apenas a vasta concordância das causas e condições que tiveram sua origem, única e exclusivamente, nas atividades da mente, estimulada pela ignorância, falsas imaginações, desejos e estultícia. Não é algo externo sobre o qual a mente tenha falsos conceitos: não tem nenhuma substância. Apareceu com os processos da própria mente, manifestando suas próprias delusões. É baseado e construído pelos desejos da mente, sem seus sofrimentos e lutas incidentais à dor causada por suas próprias cobiça, ira e estultícia. Os homens que buscam o caminho da Iluminação devem estar prontos para combater esta mente, para poderem atingir seu objetivo.

4.  Ó mente! Por que pairas incansavelmente assim sobre as cambiantes circunstâncias da vida? Por que me deixas tão confuso e inquieto? Por que me incitas a coligir tantas coisas? És como o arado que se quebra em pedaços antes de começar a arar; és como o leme que se desmantela, no momento em que te aventuravas neste mar da vida e da morte. Para que servem os muitos renascimentos se não fazemos bom uso desta vida?

Ó mente minha! Uma vez me levaste a nascer como rei, e outra, me levaste a nascer como um pária e a mendigar meu alimento. Às vezes me faz nascer em divinas mansões dos deuses e a morar na luxúria e êxtase, depois me atiras nas chamas do inferno. 

Ó minha tola, tola mente! Assim me conduziste por longos e diversos caminhos e sempre te fui obediente e dócil. Mas agora que ouvi os ensinamentos de Buda, não mais me perturbarás ou me causarás sofrimentos. Busquemos juntos a Iluminação, humilde e pacientemente.

Ó mente minha! Se pudesses aprender que tudo é não substancial e transitório; se pudesses aprender a não te apegares às coisas, por elas não ansiares, a não dares vazão à cobiça, ira e tolice, então, poderemos caminhar em paz. Se rompermos os grilhões dos desejos com a espada da sabedoria, se não nos abalarmos com as mutáveis circunstâncias da vida, com a vantagem ou desvantagem, com o bem ou mal, com a perda ou lucro, com o louvor ou o abuso, então, poderemos viver em paz.

Ó mente querida! Foste tu que primeiro despertaste em nós a fé; foste tu que sugeriste a nossa procura da Iluminação. Por que, facilmente, dás lugar à cobiça, ao amor pelo conforto e ao prazer novamente?

Ó minha mente! Por que saltitas para cá e para lá, sem um definido propósito? Cruzemos este bravio mar da delusão. Até aqui agi como desejaste, mas agora deves agir como eu quiser e, juntos, seguiremos o ensinamento de Buda.

Ó mente querida! Estas montanhas, estes rios e mares são inconstantes e fontes do sofrimento. Onde, neste mundo de delusão, poderemos encontrar paz? Sigamos o ensinamento de Buda e atinjamos a outra praia da Iluminação."

(A Doutrina de Buda, Bukkyo Dendo Kyobai, Terceira edição revista, 1982, p. 305/309)


quinta-feira, 1 de abril de 2021

O SIGNIFICADO DA DOR - 4a (PARTE FINAL)

"(...) Poucos têm a coragem, ainda que lentamente, de enfrentar a grande desolação que se encontra fora deles mesmos, e lá repousar, enquanto apegam-se à pessoa que representam, o 'eu' que para eles é o centro do mundo, a causa de toda a vida. Em seu anseio por um deus, eles encontram a razão da existência de um; no desejo por um corpo sensorial e um mundo para desfrutar, a causa do Universo existe para eles. Essas crenças podem estar ocultas muito abaixo da superfície e, de fato, de difícil acesso; mas a razão pela qual o ser humano se mantém em pé, está no fato de que as crenças lá se encontram. Ele é, para si mesmo, o infinito e o deus; sustenta o oceano em uma taça. Nesta ilusão ele nutre o egoísmo que torna a vida prazerosa e a dor agradável. Nesse profundo egoísmo está a causa e a fonte da existência do prazer e da dor, pois a menos que o indivíduo vacilasse entre estes dois, e incessantemente lembrasse a si mesmo, pela sensação, de que o egoísmo existe, ele o esqueceria. E, nesse fato, está toda a resposta à pergunta: 'Por que o homem cria dor para seu próprio desconforto?'

O fato estranho e misterioso permanece, até então, inexplicável; ao se iludir, o ser humano meramente interpreta a Natureza ao contrário e atribui a significação da vida às palavras de morte. Para aquele indivíduo que realmente segura o infinito dentro de si, e que o oceano realmente está na taça, é uma verdade incontestável; mas unicamente é assim, porque a taça é absolutamente inexistente. É meramente uma experiência do infinito, impermanente, sujeita a ser destroçada a qualquer instante.

É na reivindicação da realidade e da permanência dos quatro muros de sua personalidade que o ser humano comete o grande erro, mergulhando numa série prolongada de incidentes infelizes e intensificando continuamente a existência de suas formas favoritas de sensação. Prazer e dor se tornam para ele mais reais do que o grande oceano do qual ele faz parte e onde encontra seu lar; perpétua e dolorosamente bate contra esse muros, nos quais sente, e seu eu mesquinho oscila dentro de sua prisão escolhida." 

(Mabel Collins - Através dos Portais de Ouro - Ed. Teosófica, Brasília, 2019 - p. 102/104)
www.editorateosofica.com.br 


terça-feira, 23 de março de 2021

O SIGNIFICADO DA DOR - 2c

"(...) Não podemos encontrar nenhum ponto da escala do ser em que a causação da alma cesse ou possa cessar. A ostra vagarosa deve ter em si mesma aquilo que a faz escolher a vida inativa que leva; ninguém mais pode escolher por ela, mas somente a alma por detrás, o que ela se tornará. De que outra forma ela pode, de algum modo, ser ou estar onde está? Somente pela intervenção de um criador impossível, chamado por um ou outro nome.

É porque o indivíduo é tão ocioso, tão indisposto a assumir ou aceitar a responsabilidade, que ele recorre a um paliativo temporário de um criador. É de fato temporário, pois só dura durante a atividade do poder de um cérebro pessoal que encontra seu lugar entre nós.

Quando o indivíduo deixa essa vida mental para trás, ele necessariamente parte com sua lanterna mágica e as ilusões agradáveis que ele invocou através de sua própria ajuda. Esse movimento deve ser bastante desconfortável, e deve produzir uma sensação de nudez não corrompida por nenhuma outra sensação. Recusando-se a aceitar fantasmas irreais como sendo de carne, osso e poder, ele, aparentemente, também se salva dessa experiência desagradável.

O ser humano gosta de empurrar a responsabilidade não apenas de sua capacidade de pecar e da possibilidade de sua salvação, mas de sua própria vida, sua própria consciência, sobre os ombros do Criador. Ele se contenta com um pobre Criador - aquele que se satisfaz com um universo de fantoches, e diverte-se ao puxar suas cordas. Se ele é capaz de tal prazer, deve estar ainda em sua infância. Talvez seja assim, afinal de contas do Deus dentro de nós está em sua infância, e recusa-se a reconhecer seu elevado estado.

Se, de fato, a alma do ser humano está sujeita às leis do crescimento, da decadência e do renascimento de seu corpo, então não é de admirar sua cegueira. Evidentemente, isso não é assim; pois a alma do ser humano é daquela ordem da vida que origina estrutura e forma, não sendo afetada por tais coisas - daquela ordem da vida que, como a chama pura e abstrata, queima onde for acesa. Isso não é afetado ou alterado pelo tempo, e o crescimento e a decadência são de sua natureza superior. Permanece naquele lugar primitivo, que é o único trono de Deus; aquele lugar de onde emergem as formas de vida e para onde elas retornam. Esse lugar é o ponto central da existência, onde há um ponto permanente de vida, como existe no centro do coração humano. Por meio do desenvolvimento igual - primeiro pelo reconhecimento do mesmo e, então, por seu harmônico desenvolvimento sobre as muitas linhas radiantes da experiência - que o homem é finalmente habilitado a alcançar o Portal de Ouro e erguer o trinco. O processo é o reconhecimento gradual do deus em si mesmo; a meta é alcançada quanto essa divindade é conscientemente restaurada à sua justa glória." 

(Mabel Collins - Através dos Portais de Ouro - Ed. Teosófica, Brasília, 2019 - p. 92/94)


terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

O PODER DE ESCOLHER

"Uma escolha sugere uma consciência, um alto grau de consciência. Sem ela, não há escolha. A escolha começa no instante em que nos desidentificamos da mente e de seus padrões condicionados, o instante em que nos tornamos presentes.  

Até alcançar este ponto, você está inconsciente, espiritualmente falando. Significa que você foi obrigado a pensar, sentir e agir de determinadas maneiras, de acordo com o condicionamento da sua mente.

Ninguém escolhe o problema, a briga, o sofrimento. Ninguém escolhe a doença. Eles acontecem porque não existe presença suficiente para dissolver o passado, ou luz suficiente para dispersar a escuridão. Você não está aqui por inteiro. Você ainda não acordou. Nesse meio tempo, a mente condicionada está governando a sua vida. 

Do mesmo modo, se você é uma das inúmeras pessoas que têm assuntos mal resolvidos com os pais, se ainda guarda, ressentimentos por alguma coisa que eles fizeram ou deixaram de fazer, então você ainda acredita que eles tiveram uma escolha e poderiam ter agido diferentemente. Sempre parece que as pessoas fizeram uma escolha, mas isso é ilusão. Enquanto a sua mente, com os seus padrões de condicionamento, dirigir a sua vida, enquanto você for a sua mente, que escolhas você tem? Nenhuma. Você não está nem ligando. O estado identificado com a mente é altamente defeituoso. É uma forma de insanidade. 

Quase todas as pessoas estão sofrendo dessa doença em vários graus. No momento em que você perceber isso, não haverá mais ressentimento. Como você pode se ressentir com a doença de alguém? A única resposta adequada é compaixão. 

Se você é governado pela mente, embora não tenha escolha, vai sofrer as consequências da sua inconsciência e criar mais sofrimento. Você vai carregar o fardo do medo, das disputas, dos problemas e do sofrimento. Até que o sofrimento force você, no final, a sair do seu estado de insconsciência."

(Eckhart Tolle - Praticando o Poder do Agora - Ed. Sextante, Rio de Janeiro, 2016 - p.132/133)


quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

A ALMA E DEUS

"'Deus é o oceano do Espírito, e os seres humanos são como as ondas que se levantam e se quebram na superfície do oceano.

'Vistas de um barco a remo, as ondas parecem infinitamente variadas. Algumas são grandes e ameaçadoras; outras pequenas, e é fácil remar sobre elas; porém, quando a pessoa está num avião, tudo o que se vê é o oceano, não as ondas na superfície. 

'Ainda assim, a alguém que está absorto na encenação de maya - à pessoa ligada ao sucesso e receosa do fracasso; preocupada com a saúde e com medo da doença; presa à existência terrena e com medo da morte - as ondas da experiência humana parecem reais e infinitamente variadas. Ao homem do desapego, entretanto, tudo é Brahama: Tudo é Deus.

'Quanto maior a tempestade, mais elevadas as ondas do oceano. Ainda assim, quanto mais violenta a tempestade da ilusão na mente da pessoa, mais essa pessoa se exalta com relação aos outros, e mais afirma a própria independência, tanto do homem como também de Deus.

'Poderá alguém escapar de seu Criador? Todos fazemos parte de Deus, da mesma forma que as ondas fazem parte do oceano. Nossa separação de Deus não passa de simples aparência.

'Quando as pessoas afirmam sua individualidade, e, por isso, se engrandecem na vaidade e no orgulho, elas se chocam agressivamente contra outras ondas do ego, instigadas todas elas pela tempestade de ilusão. Assim como as ondas do aceano numa tormenta, elas ondulam e se encapelam em toda parte, às vezes conquistando, às vezes sendo conquistadas, num frenesi sem fim de conflitos e rivalidades.

'Numa tempestade, a superfície do oceano ignora a paz. De modo semelhante, enquanto a tormenta da ilusão ruge na mente humana, uma pessoa não sabe o que é ter paz, mas só conhece a tensão e a ansiedade.

'A paz chega quando a tempestade se aquieta, quer externamente, na natureza, quer internamente, na consciência da pessoa. Quando se amaina a tempestade de maya, as ondas do ego se amainam também. Quando o ego do devoto diminui, ele relaxa e aceita uma vez mais sua ligação com o Espírito infinito.

'Pessoas espiritualmente desenvolvidas não disputam entre si, porém mergulham na água alegremente, em feliz harmonia umas com as outras, com a natureza e com Deus."

(Paramhansa Yogananda - A Essência da Autorrealização - Ed. Pensamento-Cultrix Ltda., 2012 - p. 36/37)


quinta-feira, 15 de outubro de 2020

O OBSERVADOR E O OBSERVADO (3ª PARTE)

17. No fenômeno observador-observado encontra-se a causa do sofrimento que pode ser evitado.

O sofrimento que não chegou pode ser evitado, mas, segundo Patañjali, requer uma clara compreensão do fenômeno do observador-observado. Dificilmente compreendemos que não vivemos no mundo real, mas no mundo observado. Não conhecemos os homens e as coisas que nos cercam como de fato são. O real transformou-se no observado, e desde que não conhecemos o real, consideramos o observado como o real. O fenômeno observador-observado pode ser compreendido se tivermos em mente a conhecida ilustração da filosofia hindu conhecida como sarparajju-nyaya, que significa confundir-se a corda com uma cobra. A corda é o real, a cobra, o observado. Por que não vemos a corda e porque a confundimos com uma cobra? É óbvio que o observador, quando vê a corda, de sua escala de observação, tem a impressão de que é uma cobra que está a sua frente. Ao ver a cobra ao invés da corda, naturalmente, tem medo dela. Todas as reações daquele que percebe com relação àquele objeto serão de medo. Ele não se aproximará para não ser picado pela cobra. Um sentimento de medo e ansiedade assalta-o, introduzindo na sua vida um elemento de sofrimento. Ele sofre porque não sabe como se livrar da cobra. Teme que outros membros de sua família sejam picados pela cobra. Mas, o que é estranho é que não há cobra alguma; há apenas uma corda. Na vida, ocorre algo semelhante a isso o tempo todo. Não vendo o real, sofremos com as implicações que imaginamos com relação a nosso embate com o observado. Sabe-se que o observado é a projeção do observador, e, portanto, não tem existência intrínseca. A existência do observado depende do observador. Confundir a existência dependente com a existência intrínseca é incorrer em mãyã ou ilusão. Se nossas ações são baseadas na percepção do observado e não do real, então poderemos criar para nós sofrimento e dor. No relacionamento humano, deve-se observar o fenômeno de uma corda ser confundida com uma cobra. Podemos impedir o observado de vir à existência? Caso possa acontecer, certamente, seremos capazes de ver o real, ou seja, seremos capazes de perceber as coisas como elas são. Como pode o observado ser impedido de vir à existência? Para isso precisamos compreender como o observado vem à existência. É o que Patañjali discute no próximo sutra."

(Rohit Mehta - Yoga a arte da integração - Ed. Teosófica, Brasília, 2012 - p. 94/95)


terça-feira, 13 de outubro de 2020

O OBSERVADOR E O OBSERVADO (2ª PARTE)

16. O sofrimento que ainda não chegou pode ser evitado.

Todavia, a questão é: ele é evitável? Como alguém pode dizer o que o futuro trará? E sem conhecê-lo, como podemos tomar qualquer medida para evitar o sofrimento futuro? É possível conhecer o futuro, pois de outro modo como poderíamos tratar com o futuro desconhecido? Estas são realmente questões relevantes. Se o futuro pudesse ser conhecido com absoluta precisão, então, com certeza todos os problemas poderiam ser resolvidos, pois tomaríamos as providências necessárias para enfrentar aquele futuro. A vida é tão imprevisível que falar de conhecer o futuro, sem dúvida, é incorrer em ilusões. Mas, como podemos nos preparar com antecedência para enfrentar o desconhecido? Como podemos fazer qualquer preparação contra os desafios do desconhecido? Qualquer preparação em função do conhecido, ou mesmo do conhecido modificado, não seria de proveito algum. O que é preciso, então, fazer para evitar o sofrimento que possa surgir do seio do futuro? É necessário compreender na íntegra o problema do sofrimento sem restrição do passado, presente ou futuro. O que é sofrimento e por que o homem sofre? No sutra que se segue, Patañjali aborda um ponto crucial com relação a todo o problema do sofrimento."

(Rohit Mehta - Yoga a arte da integração - Ed. Teosófica, Brasília, 2012 - p. 93/94)


quinta-feira, 1 de outubro de 2020

AS PORTAS DA PERCEPÇÃO

"Como já disse, o modo como percebemos o mundo depende inteiramente de nossa visão cármica. Os mestres usam um exemplo tradicional: seis diferentes tipos de seres se encontram na margem de um rio. O ser humano do grupo vê o rio como água, uma substância para lavar o corpo ou saciar a sede; para um animal como o peixe, o rio é seu lar; um deus o vê como o néctar que lhe traz a bênção; para o semideus é uma arma; para o fantasma faminto, pus e sangue pútrido, e o ser dos infernos vê ali lava derretida. A água é a mesma, mas ela é percebida de maneiras diferentes e até contraditórias.

Essa profusão de percepções nos mostra que todas as visões cármicas são ilusões; já que uma substância pode ser percebida de tantas maneiras diferentes, como é que algo pode ter qualquer realidade verdadeira e inerente? Ela também nos mostra como é possível que algumas pessoas sintam este mundo como o céu, e outras como o inferno.

Os ensinamentos nos dizem que há basicamente três tipo de visão: a 'visão cármica, impura' dos seres ordinários; a 'visão da experiência', que se abre aos praticantes da meditação e é o caminho ou o meio de transcendência, e a 'visão pura' dos seres realizados. Um ser realizado, ou um buda, perceberá este mundo como espontaneamente perfeito, um reino de completa e deslumbrante pureza. Uma vez que eles purificam as causas da visão cármica, veem tudo diretamente na sua sacralidade desnuda e primordial.

Vemos tudo à nossa volta do modo como vemos porque temos estado solidificando uma e outra vez e do mesmo modo, vida após vida, nossa experiência da realidade interna e externa, e isso levou à convicção equivocada de que aquilo que vemos é objetivamente real. De fato, quando vamos mais fundo no caminho espiritual, aprendemos como trabalhar com as nossas percepções fixas. Todos os nosso velhos conceitos do mundo, da matéria ou mesmo de nós próprios são purificados e dissolvidos, e um campo de visão e de percepção inteiramente novo, que se pode chamar de 'divino', abre-se diante de nossos olhos. (...)

Na maioria de nós, no entanto, o carma e as emoções negativas obscurecem a capacidade de ver a nossa natureza intrínseca, a natureza da realidade. Como resultado, nós nos agarramos à felicidade e ao sofrimento como coisas reais, e em nossas ações desajeitadas e ignorantes continuamos disseminando as sementes do nosso próximo nascimento. Nossas ações nos mantêm atados ao ciclo contínuo da existência mundana, à roda sem fim do nascimento e da morte. Assim, tudo depende de como vivemos agora, neste exato momento: o modo como vivemos agora pode nos custar todo nosso futuro.

Essa é a razão real e urgente pela qual precisamos nos preparar agora para nos deparar com a morte de um modo sábio, para transformar nosso futuro cármico e evitar a tragédia de cair na ilusão de novo e sempre, repetindo o doloroso ciclo de nascimento e morte. Esta vida é o único momento e lugar em que podemos nos preparar, e só podemos fazê-lo verdadeiramente pelas práticas espirituais (...)." 

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 156/158)
www.palasathena.org


quinta-feira, 17 de setembro de 2020

A NATUREZA HUMANA

A natureza humana | JORGE REIS SA"Há duas espécies de paixões mundanas que corrompem e ocultam a pureza da natureza de Buda.

A primeira é a paixão pela discriminação e discussão, pela qual os homens se confundem nos julgamentos. A segunda é a paixão pela experiência emocional, pela qual os méritos das pessoas se tornam confusos.

As ilusões do raciocínio e as ilusões da prática parecem ser a síntese de todas as falhas humanas, mas, na realidade, há outras duas em suas bases. A primeira é a ignorância, a segunda é o desejo.

As delusões de raciocínio baseiam-se na ignorância e as delusões da prática apoiam-se no desejo, assim, estes dois conjuntos formam, na realidade, apenas um conjunto, e juntos são a fonte de todo o infortúnio.

Se os homens são ignorantes, não podem raciocinar correta e seguramente. Quando se sujeitam ao desejo pela existência o sentimento de posse e o apego a tudo, inevitavelmente, os seguirão. É este constante apego a tudo agradável, visto ou ouvido, que leva os homens à delusão do hábito. Alguns cedem mesmo ao desejo pela morte do corpo.

Destas fontes primárias surgem todas as paixões mundanas da cobiça, ira, tolice, equívoco, ressentimento, ciúme, lisonja, fraude, orgulho, desprezo, embriaguez e egoísmo."

(A Doutrina de Buda - Bukkyo Dendo Kyokai, 3ª edição revista, 1982 - p. 161/163)


terça-feira, 14 de janeiro de 2020

AS CAUSAS GERADORAS DO CARMA (1ª PARTE)

"Estava, um dia, certo Brâmane sentado no alto de uma colina, em meditação, quando viu passar o rei com sua numerosa escolta de cavaleiros e soldados esplendidamente vestidos. Depois de contemplar toda esta magnificência, o Brâmane, deslumbrado curvou a cabeça e pensou: 'Quanto este príncipe é feliz e poderoso. Vive cercado de felicidade e grandeza! Quando poderei eu alcançar tanta felicidade também?'

E a tristeza da sua condição pesou-lhe fortemente no espírito.

Guardou este desejo no íntimo do coração embora nunca, em sua longa vida, se afastasse do caminho da justiça. Envelheceu e morreu. Ora, após a morte, tornou-se glorioso monarca, senhor de vastos territórios, recebendo embaixadas, dirigindo numerosos exércitos, soberano absoluto de milhares de súditos, construindo fortalezas e cidades. Entretanto este imenso império estava encerrado inteiramente nos limites da imaginação astral do Brâmane ambicioso.

Os nossos desejos, as nossas aspirações criam forma, vivem dentro de nós porque o nosso mental é o criador da ilusão. Tudo que o homem sonhou possuir na Terra, ele o possui no plano astral. O que nos prende é o desejo. A alma é atraída para qualquer objeto, e assim forma-se uma imagem mental que é reforçada pelas vibrações astrais. A tendência é a sua realização na terra. Todos os nossos pensamentos tendem a realizar-se. A ação tem como causa geradora o desejo, que é o elemento principal na formação do karma

Quando o homem trabalha, não pensa senão nos resultados práticos do seu trabalho, no lucro material que pode auferir em bens materiais, em dinheiro...

Trabalhamos com o fito de adquirir alguma coisa.

O homem cava a terra, planta, semeia, colhe para transformar todo esse esforço em metal sonante.

Ele está auxiliando inconscientemente a evolução, cooperando no plano divino; mas vai movido por pensamentos egoístas, apenas pensando na sua pessoa.

'Em torno de nós vemos todos trabalhar par alguma coisa, novidos pelo interesse e pelo desejo, impelidos pela ambição.'

Olhem para as multidões que enchem os templos. É o temor do inferno, é a ânsia de ganharem indulgência, é o desejo de salvação, é a ambição do céu. (...)

É o amor altruísta a verdadeira renúncia, o desprendimento completo das preocupações de recompensa além da morte. (...)

(E. Nicoll, A Lei da Ação e Reação (Karma), Sociedade Teosófica no Brasil, São Paulo, 3ª edição, 1960, pg. 35/37)


quinta-feira, 14 de novembro de 2019

O DESPERTAR DO ENTENDIMENTO

Resultado de imagem para O DESPERTAR DO ENTENDIMENTO"Uma vez um amigo meu, de seis anos de idade, me perguntou: 'Finge que você está cercada por mil tigres famintos. O que você faz?' Eu visualizei a situação sugerida por ele e, sem conseguir chegar a um plano de ação viável, eu disse: 'Poxa, não sei. O que você faria?'. E ele respondeu: 'Eu parava de fingir'.

De muitas maneiras, o que costumamos fazer (fingir que somos alguém, que temos algo a demonstrar, engrandecer a ideia que fazemos de nós mesmos) é semelhante a imaginar que estamos cercados por mil tigres famintos. É um estado de medo baseado numa ilusão criada por nós mesmos. Sempre que nos vemos como um agente separado - um alguém - de certa maneira entramos em competição com outros 'alguéns' e precisamos nos proteger deles. Junto com as crenças no 'eu', no 'mim' e no 'meu' vêm o medo e os desejos. É um pacote fechado. Despertar significa a recusa de se permitir ter pesadelos como esse - é a simples decisão de parar de fingir. Fora isso, nada mais é necessário. Você não tem que acrescentar coisa alguma. Basta parar de dar atenção a pensamentos e crenças que não são verdade; então, sem qualquer esforço, essa beleza que você é, sua verdadeira natureza, aparecerá em todo o seu esplendor.

Uma metáfora clássica desse tipo de situação são as nuvens cobrindo o sol. Todos sabemos que as nuvens acabam passando; todos reconhecemos que o sol apenas se esconte atrás das nuvens, e que ele permanece presente o tempo todo. Da mesma forma, nossa verdadeira natureza, embora às vezes oculta, brilha sempre.

No entanto, se nossa verdadeira natureza é tão simples, tão acessível, tão óbvia, por que é tão comum que as pessoas não consigam percebê-la? Por que as pessoas fazem tanto esforço praticando técnicas, programas e religiões, apenas para se tornarem ainda mais entrincheiradas em ideologias, chegando mesmo a guerrear em defesa de sua 'fé'?

A resposta está no investimento que elas fazem em suas crenças. Uma vez entrevistei Krishnamurti. No início de uma pergunta que começava com as palavras 'você acredita que...', ele me interrompeu e disse: 'Eu não acredito em coisa alguma.' Mas a maioria das pessoas acredita em seus próprios pensamentos. Caso elas, por um longo tempo, tenham pensado muito sobre um determinado assunto, sentem que há um investimento de longo prazo nas crenças representadas por esses pensamentos. A boa notícia é que, em primeiro lugar, não precisamos acreditar em nossos pensamentos; em segundo lugar, não perdemos nada ao abandonar esse investimento de longo prazo nas coisas em que acreditamos. Pelo contrário; sem crenças em nossos pensamentos costumeiros, passamos a pensar com mais clareza. Assim afirmou Suzuki Roshi, quando disse: 'Na mente principiante há muitas possibilidades. Na mente especialista, há poucas.'

As crenças nos aprisionam num modo fixo de percepção que filtra a realidade como uma peneira e condiciona nossa real experiência de vida. Experimentamos aquilo em que acreditamos. Se temos a crença de que o mundo é um lugar perigoso, teremos a experiência de estar cercados de perigo por todos os lados. Se acreditamos ter sido maltratados na infância, viveremos como vítimas e nos sentiremos injuriados a cada momento. Se acreditamos que algo mais é necessário para que sejamos felizes - mais dinheiro, mais sexo, mais poder, mais fama - experimentaremos a carência, independentemente das bênçãos divinas à nossa volta."

(Catherine Ingram - O despertar do entendimento - Revista Sophia, Ano 15, nº 69 - p.33)


terça-feira, 12 de novembro de 2019

O QUE É A GRAÇA?

Resultado de imagem para a graça "'O que é a graça? As pessoas a confundem com o favor divino, como se Deus pudesse ser comprado ou adulado no sentido de fazer algo que de outro modo não faria.

'Certa vez, conheci um homem que colocou cem dólares no prato de coleta durante um serviço da igreja numa manhã de domingo. Depois, ele expressou desapontamento quanto ao fato de Deus não lhe ter atendido às preces que acompanharam a sua oferta. Bem, Deus já era aquela oferta! Deus observa o coração, não o prato da coleta!

'Com respeito a isso, é quase tão ruim o fato de as pessoas dizerem que, para ser salvo, você precisa 'Acreditar! Acreditar!'; será que pensam que Deus precisa se afirmar por meio da crença que essas pessoas têm nEle? Ele observa o que elas são por dentro, e não a opinião que elas têm sobre as coisas.

'Um homem que se considera ateu, de fato pode algumas vezes estar mais próximo de Deus, em virtude do seu amor com relação às outras pessoas, do que muitos que acreditam em Deus, mas cujos atos com respeito ao próximo não são caridosos. Deus, também nesse caso, observa as ações das pessoas, não as suas palavras.

'Evidentemente, é sempre bom dar dinheiro a uma causa espiritual. A pessoa cria um bom karma procedendo assim. Também é melhor acreditar em Deus do que negá-Lo, pois sem a crença você não se esforçará no sentido de O encontrar. Mas não pense que Deus possa ser subornado ou adulado no sentido de lhe conceder Sua graça. A única coisa que pode vencê-Lo é o seu amor.

'O que é, pois, a graça? É o poder de Deus, que é diferente e maior do que qualquer outro poder. Devido ao fato de Deus ser a única Realidade, dEle também é o único poder na existência. Vistos a essa luz, nossos esforços humanos são ilusórios. É o poder dEle, até mesmo quando recorremos a ele inconscientemente, que realiza todas as coisas que alcançamos na vida. E os nossos fracassos se devem à falta de harmonia da nossa parte com esse poder.

'A graça de Deus flui até nós à medida que nos tornamos cada vez mais receptivos a Ele. Ela não vem até nós do mundo exterior. Trata-se de um processo da nossa própria realidade superior, e esse processo ocorre dentro de nós. A graça é concedida quanto vivemos mais com a consciência da alma e menos concentrados no ego.'"

(Paramhansa Yogananda - A Essência da Autorrealização - Ed. Pensamento, São Paulo, 2010 - p. 109/110)


quinta-feira, 19 de setembro de 2019

A ILUSÃO É PASSAGEIRA

"O homem pode usar equivocadamente seu livre-arbítrio por algum tempo, considerando-se mortal, mas essa ilusão passageira nunca conseguirá apagar em seu íntimo a marca da imortalidade e a imagem divina da perfeição. A morte prematura de uma criança talvez não lhe haja permitido usar seu livre-arbítrio para a virtude ou para o vício. Mas a Natureza trará sua alma de volta à Terra, dando-lhe a oportunidade de usar o livre-arbítrio a fim de redimir o karma passado, que a fez morrer tão jovem, e praticar as boas ações que propiciam a libertação.

Se uma alma imortal não conseguiu, ao longo de uma existência, eliminar as ilusões que a subjugam, precisa de mais períodos de aprendizado para tomar conhecimento de sua imortalidade inata. Só então poderá retornar ao estado de consciência cósmica. As almas comuns reencarnam compelidas por seus desejos mundanos; as almas superiores, ao contrário, apenas em parte vêm à Terra para cumprir o karma, pois seu principal objetivo é atuar como filhos nobres de Deus e apontar às criaturas perdidas o caminho para a morada celeste do Pai."

(Paramhansa Yogananda - Karma e Reencarnação - Ed. Pensamento, São Paulo, 2009 - p. 16)


terça-feira, 2 de julho de 2019

COMO ENFRENTAR OS DESAFIOS KÁRMICOS

"As pessoas raramente investigam as causas ocultas daquilo que acontece em suas vidas. Não conseguem entender por que sofrem. O sofrimento estende uma grossa cortina sobre suas mentes, ocultando a origem dos males.

Só por intermédio de uma comunhão íntima e profunda com estados superiores de consciência torna-se claro que todas as deficiências, mentais ou físicas, são consequências necessárias do mau comportamento da pessoa no passado. O sábio tem lucidez interior para determinar a causa exata de cada vicissitude. Pode, pois, prescrever ações que removerão essa causa, de influência deletéria na vida da pessoa.

Quem nasceu com desvantagem em alguma área deve resistir à tentação da autopiedade. Lamentar-se é diluir a força interior de superação. Melhor seria que dissesse: 'Obstáculos não existem. Existem oportunidades.'

Não acuse ninguém, muito menos a si próprio. Queixa e acusação não apagam o que está feito, ao contrário, só reforçam sua dependência de circunstâncias cujo controle você de fato perdeu.

Busque Deus no silêncio interior. Reconcilie-se com a realidade e com o que precisa ser feito. Você pode remodelar seu karma desde que, doravante, passe a viver pela consciência da alma. Repudie os ditames do ego: eles são o fruto perene da ilusão.

Quanto mais perto você chegar de Deus, mais seguramente O conhecerá como o próprio Amor Divino: Aquele que está mais próximo, Aquele que é mais Caro."

(Paramhansa Yogananda - Karma e Reencarnação - Ed. Pensamento, São Paulo, 2012 - p. 34/35)

domingo, 22 de abril de 2018

CERQUE-SE DE PESSOAS QUE SE DEVOTAM À VIDA MAIS ELEVADA

"Mantenha-se cercado sempre por pessoas que se devotaram à vida mais elevada - aquelas que o encorajarão a avançar no caminho para a Meta. Por esse meio, vocêo pode atingir chithasudhi (pureza da mente); tanto que possa refletir-se nela a Verdade. Sathsanga (associação com santos e sábios) conduz gradualmente à retração das atividades escravizantes. Quando um pedaço de carvão frio é colocado no meio de cinzas quentes e quando o fogo é atiçado, o pedaço de carvão também se aquece. Jnana-agni, isto é, o 'fogo da sabedoria' age de forma semelhante.

Cada um é um sadhu (um santo) por que é Prema-swarupa (encarnação do Amor), Santhiswarupa (encarnação da Paz) e Amritha-swarupa (encarnação da imortalidade). No entanto, permitir que a crosta do ego se engrosse e se consolide, vale por embaciar a verdadeira natureza. Pela ação do sathsanga, isto é, pela companhia de pessoas de mente divina, pela sistemática atenção ao autocontrole e ao automelhoramento, o homem pode vencer a ilusão que o faz se identificar com o corpo e suas necessidades e apetites.

Sathsanga faz você encontrar-se com outras almas (indivíduos) de natureza sintônica, e cria o contato que se manifesta o Fogo Interior. Sathsanga significa o Sath, o Sath de que se fala quando se refere a Deus como Sath-Chith-Ananda¹. Sath é o princípio da Existência; e é a verdade básica do Universo. Alinhe com a Verdade, isto é, com o Ser (Sath) em você, com a Verdade (Sathya) sobre a qual mithya² é imposto pelas mentes que não veem a luz. Persistindo em Sath, a chama é acesa, a Luz se faz, então as sombras emigram e o Sol da Realização nasce (jnana bhaskara)."

¹ Sath-Chit-Ananda - o Ser é Verdade, Consciência e Bem-aventurança.
² Mithya - aquilo que está entre ser real e irreal, entre ser verdade e inverdade. 

(Sathya Sai Baba - Sadhana, O Caminho Interior - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1993 - p. 58/59)


sábado, 14 de abril de 2018

APEGO

"Apego é um fator mental que percebe um objeto, considera-o bonito ou agradável, deseja obtê-lo, tocá-lo e possui-lo e não quer se separar dele. O apego funciona de duas maneiras interligadas: desejando obter um objeto atraente que ainda não possui e desejando nunca se separar dele depois de possui-lo. A relação de um casal pode ilustrar esses dois tipos de apego. No começo, os dois parceiros desejam estar juntos - esse é o primeito tipo de apego. Depois, surge o desejo de nunca se separarem um do outro - que é o segundo tipo de apego. O apego também pode surgir em relação a objetos materiais. Sob a influência dessa delusão, nossa mente fica absorta no objeto de desejo do mesmo modo que o óleo fica impregnado num tecido. Assim como é muito difícil separar o óleo do tecido que ele manchou, também é difícil separar a mente do objeto de apego no qual ela ficou absorta.

É por causa do nosso apego que continuamos a vagar no samsara, passando por infinito sofrimento. O pré-requisito para alcançar a libertação ou a plena iluminação ou mesmo para receber uma ordenação como monge ou monja é a mente de renúncia. O apego aos prazeres passageiros deste mundo impede o surgimento dessa mente.

Desde tempos sem-início, temos sido incapazes de nos libertar da prisão do samsara. Apego é o que nos mantém presos nesse cárcere. Se tivermos o desejo sincero de praticar Darma, devemos renunciar ao samsara como um todo, e só poderemos fazer isso reduzindo nosso apego deludido.

Tendo reconhecido nosso apego, haverá duas maneiras de abendoná-lo. Essa delusão pode ser superada temporariamente meditando-se na repugnância e impureza do objeto de desejo e, depois, considerando-se as inúmeras falhas da delusão em si. Se praticarmos continuamente desse modo, com certeza poderemos reduzir nosso apego. (...)

Tal método é apenas um antídoto temporário ao nosso apego. Se quisermos removê-lo por completo, teremos de destruir a causa subjacente do apego e também de todas as outras delusões: o autoagarramento. Só seremos capazes de eliminar definitivamente o autoagarramento se meditarmos na vacuidade (shunyata, em sânscrito). Para alcançar a libertação total do sofrimento, precisamos desenvolver não apenas uma realização da vacuidade, mas também da renúncia, do tranquilo permanecer e da visão superior. (...)"

(Geshe Kelsang Gyatso - Contemplações Significativas - Ed. Tharpa Brasil, São Paulo, 2009 - p. 163/164)


sexta-feira, 23 de março de 2018

TEXTO ZAZEN WASAN

"Desde o princípio todos os seres são Budas.

Como a água e o gelo, sem água não há gelo,

Fora de nós não há Budas

Quão próximos da verdade, todavia quão longe a buscamos.

Como alguém dentro d'água gritando 'Tenho sede'.

Como uma criança de rica linhagem

vagueando neste terra como se fosse pobre,

nós vagueamos eternamente e damos voltas aos seis mundos.

A causa de nossa dor é a ilusão do ego.

De um caminho sombrio a outro vagueamos nas trevas,

Como podemos nos livrar da roda de samsara?

A passagem para a liberdade é o Samadhi Zazen,

além da exaltação, além de nossos louvores,

o puro Mahayana.

A observação dos preceitos, o arrependimento e o doar-se,

as incontáveis boas ações e o caminho do reto viver

surgem todos de Zazen.

Assim, um verdadeiro Samadhi extingue os males;

purifica o carma, dissolvendo as obstruções.

Então, onde estão os caminhos sombriso que nos fazem extraviar?


A Terra do Lótus Puro não é distante.

Ouvir esta verdade, coração humilde e agradecido,

louvá-la e abraçá-la, praticar sua sabedoria,

traz bênçãos intermináveis, montanhas de mérito.


Mas se nos voltarmos para o interior e provarmos de nossa Verdadeira natureza,

que o Verdadeiro eu é não eu,

que o nosso próprio Eu é não eu,

vamos além do ego e das palavras astutas.

Então o portal que leva à unidade de causa e efeito é aberto.

Nem dois e nem três, em frente segue o Caminho.

Sendo a nossa forma agora a não forma,

para virmos e irmos jamais saímos de casa.

Sendo o nosso pensamento agora não pensamento,

as nossas danças e as nossas canções são a voz do Dharma.

Como é vasto o céu de ilimitado Samadhi!

Como é claro e transparente o luar da sabedoria!

O que existe fora de nós, o que nos falta?

O Nirvana está totalmente aberto aos nossos olhos.

Esta terra onde estamos é a Terra do Lótus Puri.

É este mesmo corpo, o corpo de Buda."

(Hakuin Zenji - Além do Despertar - Ed. Teosófica, Brasília, 2006 - p. 27/28)


quinta-feira, 1 de março de 2018

CORAGEM: UMA QUALIDADE INATA DA ALMA

"Sucesso, saúde e sabedoria são atributos naturais da alma. A Identificação com pensamentos e hábitos debilitantes, bem como a falta de concentração, perseverança e coragem, são responsáveis pelas tribulações devidas à pobreza, à má saúde etc.

Você paralisa sua faculdade de buscar o sucesso com pensamentos de medo. O sucesso e a perfeição tanto da mente quanto do corpo são qualidades inerentes ao homem porque ele foi feito à imagem e semelhança de Deus. Para reivindicar esse direito de nascença, porém, devemos primeiro nos livrar da ilusão de nossas próprias limitações.

Deus possui tudo. Saiba, pois, em qualquer situação, que como filho de Deus você possui tudo que pertence ao Pai. Sinta-se sempre contente e satisfeito sabendo que tem acesso a todas as posses do Pai. Seu quinhão natural é a perfeição e a prosperidade, mas você prefere ser imperfeito e pobre. A consciência de possuir tudo deve ser um hábito de cada pessoa."

(Paramhansa Yogananda - A Sabedoria de Yogananda, Como Ter Coragem, Serenidade e Confiança - Ed. Pensamento, São Paulo, 2012 - p. 13/14)
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