OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


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quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

OBSTINAÇÃO, ORGULHO E MEDO

Resultado de imagem para OBSTINAÇÃO, ORGULHO E MEDO"Em nossa abordagem do desenvolvimento pessoal, descobrimos diversas vezes que a tríade básica que compõe o mal é o orgulho, a obstinação e o medo, sempre relacionados entre si. Todas as outras manifestações do mal afloram dessa tríade. Ademais, cada uma dessas três atitudes é uma consequência da resistência e gera mais resistência, ou seja, o mal.

A obstinação diz, 'Oponho-me a qualquer outro modo exceto ao meu'. E esse 'meu modo' é por vezes contrário à vida, contrário a Deus. A obstinação opõe-se à verdade, ao amor e à união - mesmo que pareça querer essas coisas. Quando ocorre um recrudescimento da obstinação, os aspectos divinos não podem se manifestar.

O orgulho é a resistência à unidade entre as entidades. Ele se separa dos outros e se eleva - resistindo, assim, à verdade e ao amor, ambos manifestações criativas da vida. O orgulho é o oposto da humildade, não da humilhação. A pessoa que se opõe à humildade será humilhada porque a resistência sempre tem de chegar por fim a um ponto culminante. A recusa quanto a se expor à verdade e admitir algo se deve ao orgulho. Este causa a resistência tanto quanto é resultado dela.

De um modo semelhante, a resistência gera o medo e o medo gera a resistência. O estado de tensão da resistência e a diminuição do ritmo do movimento energético toldam a visão e o objetivo da experiência. A vida é percebida como algo ameaçador. Quanto mais resistência, mais medo - e vice-versa. A resistência à verdade advém do medo de que a verdade possa ser nociva, e, por sua vez, a resistência à verdade gera esse medo. O ocultamento torna-se cada vez mais difícil e a exposição cada vez mais ameaçadora.

O medo da verdade - portanto, a resistência - nega a qualidade benigna do universo, nega a verdade do eu, com todos os seus pensamentos, sentimentos e intenções. Essa negação de si mesmo, enraizada na resistência, é, e cria, o mal.

Quando vocês querem evitar seus sentimentos, seus pensamentos e suas intenções ocultas, vocês criam a resistência. De uma ou de outra forma, essa resistência sempre está ligada ao seguinte pensamento: 'Não quero ser ferido' - quer esse ferimento seja real ou imaginário. A resistência pode se ligar à obstinação, que diz: 'Eu não devo ser ferido'; ao orgulho, que diz: 'Nunca admitirei que possa ser ferido'; ao medo, que diz: 'Se eu for ferido, provavelmente morrerei.' A resistência expressa a falta de confiança no universo. Na verdade, a mágoa deve passar, pois, tanto quanto o mal, não se trata de um estado definitivo. Quanto mais se vive o sofrimento em sua completa intensidade, mais rápido esse sofrimento volve ao seu estado original - energia fluida, movente, que cria a alegria e a bênção.

Não importa se a resistência advém da pertinácia, do orgulho ou do medo, da ignorância ou da negação do que é. A resistência obstrui Deus, o fluxo vital. Ela cria muralhas que os separam da verdade e do amor - de sua unidade interior.

Uma pessoa na senda da evolução, que busque e tateie encarnação atrás de encarnação - realizando sua tarefa, acha-se num estado interior de conflito, como vocês sabem. Num ser humano como vocês, uma grande parte já está livre e desenvolvida; mas há também em vocês desarmonia, cegueira, má vontade, resistência e mal."

(Eva Pierrakos, Donovan Thesenga - Entrega ao Deus Interior - Ed. Cultrix, São Paulo, 2010 - p. 178/179)

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

O CONFLITO E A CRISE

Resultado de imagem para O CONFLITO E A CRISE espiritual"O ser humano que se acha num estado de liberdade interior parcial - a verdade, o amor e a luz, por um lado; a teimosia, o orgulho e o medo, por outro - terá de encontrar a saída para esse conflito. Uma parte da personalidade opõe-se à verdade de que esses sentimentos e atitudes negativas lá estão, e assim procede desistindo dessas coisas, ao passo que a outra parte se esforça por desenvolver-se e se purificar. Esse estado dualista deve acarretar a crise. Permitam-me enfatizar que essa crise é inevitável. Quando dois movimentos opostos, duas formas de tensão existem numa pessoa, é mister que se chegue a um momento decisivo, que se manifesta na forma de uma crise na vida da pessoa. Um movimento diz: 'Sim, quero admitir o que é o mal; quero enfrentar a mim mesmo e deixar de lado o fingimento, que não é senão mentira. Quero desenvolver-me e dar o melhor de mim para que eu possa contribuir com a vida, assim como espero receber coisas dela. Quero renunciar às posturas infantis e de enganação, a partir das quais tento me agarrar ansiosa e ressentidamente à vida, enquanto me recuso a dar-lhe algo exceto minhas exigências e frustrações. Quero dar um basta em tudo isso e suportar com confiança os reveses da vida. Quero amar a Deus aceitando a vida como ela é.'

O outro lado insiste em dizer: 'Não. Quero que as coisas sejam do meu jeito. Quero até mesmo me desenvolver, ser decente e honesto, mas sem ter de pagar o preço de encarar, revelar ou admitir algo que me incrimine demasiadamente.' A crise resultante deve pôr abaixo a estrutura interior deficiente.

Quando a orientação destrutiva é consideravelmente mais fraca do que a construtiva, a crise é um tanto menor, pois as deficiências podem ser extirpadas sem que se prejudique toda a organização psíquica. Pelas mesmas razões, se o movimento para o desenvolvimento e a verdade é consideravelmente mais fraco do que o movimento de estagnação, de resistência e de energia negativa, a crise maior pode uma vez mais ser evitada por algum período; é possível que a personalidade permaneça estagnada por muito tempo. Entretanto, quando o movimento para o bem é forte o bastante, e ainda assim a resistência continua a bloquear o movimento da personalidade como um todo - tornando-se confusa, sem horizontes e presa de atitudes falsas e destrutivas - alguma coisa deve ceder."

(Eva Pierrakos, Donovan Thesenga - Entrega ao Deus Interior - Ed. Cultrix, São Paulo, 2010 - p. 179/180)


quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

DEUS NÃO É INJUSTO

Resultado de imagem para flores de deus"Se, para achar os seus defeitos, vocês fazem metade do esforço que comumente despendem achando os defeitos dos outros, vocês verão a ligação com a lei de causa e efeito e só isso os libertará, mostrando a vocês mesmos que não existe injustiça. Só isso lhes será a prova de que não é Deus, nem o destino, tampouco uma ordem injusta no mundo em que vocês tem de sofrer as consequências das limitações das outras pessoas, mas a ignorância, o medo, o orgulho e o egoísmo de vocês que direta ou indiretamente causarão aquilo que pareceu, até aqui, entrar no caminho de vocês sem que vocês nada fizessem para tanto. Descubram esse elo oculto e verão a verdade. Então compreenderão que vocês não são vítimas das circunstâncias nem da imperfeição dos outros, mas são realmente os que criam a própria vida. As emoções são forças criativas de grande efeito, porque o inconsciente de vocês afeta o da outra pessoa. Essa verdade talvez seja a mais importante para a descoberta de como vocês provocam os acontecimentos, quer bons, quer maus, favoráveis ou desfavoráveis da vida.

Depois que vocês passam por essa experiência, podem acabar com a imagem que têm de Deus independentemente de vocês terem medo de Deus, porque acreditam que vivem num mundo de injustiça e receiam tornar-se vítima das circunstâncias sobre as quais não têm controle, ou de rejeitarem a responsabilidade e ficarem à espera de um Deus flexível que os mime, que lhes oriente a vida, tome decisões por vocês, os poupem de dificuldades que vocês mesmos criam. A compreensão de como vocês são a causa dos efeitos da vida de vocês acabará com essa imagem de Deus. Isso constitui um dos momentos decisivos da vida de vocês.

Só esse momento lhes facultará o reconhecimento de que vocês não são vítimas; de que têm poder sobre a vida; de que são livres e de que essas leis de Deus são infinitamente boas, sábias, amáveis e seguras! Elas não visam transformá-los em fantoches, mas fazer de vocês pessoas totalmente livres e independentes."

(Eva Pierrakos, Donovan Thesenga - Entrega ao Deus Interior - Ed. Cultrix, São Paulo, 2010 - p. 53/54)

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

O DESPERTAR DO ENTENDIMENTO

Resultado de imagem para O DESPERTAR DO ENTENDIMENTO"Uma vez um amigo meu, de seis anos de idade, me perguntou: 'Finge que você está cercada por mil tigres famintos. O que você faz?' Eu visualizei a situação sugerida por ele e, sem conseguir chegar a um plano de ação viável, eu disse: 'Poxa, não sei. O que você faria?'. E ele respondeu: 'Eu parava de fingir'.

De muitas maneiras, o que costumamos fazer (fingir que somos alguém, que temos algo a demonstrar, engrandecer a ideia que fazemos de nós mesmos) é semelhante a imaginar que estamos cercados por mil tigres famintos. É um estado de medo baseado numa ilusão criada por nós mesmos. Sempre que nos vemos como um agente separado - um alguém - de certa maneira entramos em competição com outros 'alguéns' e precisamos nos proteger deles. Junto com as crenças no 'eu', no 'mim' e no 'meu' vêm o medo e os desejos. É um pacote fechado. Despertar significa a recusa de se permitir ter pesadelos como esse - é a simples decisão de parar de fingir. Fora isso, nada mais é necessário. Você não tem que acrescentar coisa alguma. Basta parar de dar atenção a pensamentos e crenças que não são verdade; então, sem qualquer esforço, essa beleza que você é, sua verdadeira natureza, aparecerá em todo o seu esplendor.

Uma metáfora clássica desse tipo de situação são as nuvens cobrindo o sol. Todos sabemos que as nuvens acabam passando; todos reconhecemos que o sol apenas se esconte atrás das nuvens, e que ele permanece presente o tempo todo. Da mesma forma, nossa verdadeira natureza, embora às vezes oculta, brilha sempre.

No entanto, se nossa verdadeira natureza é tão simples, tão acessível, tão óbvia, por que é tão comum que as pessoas não consigam percebê-la? Por que as pessoas fazem tanto esforço praticando técnicas, programas e religiões, apenas para se tornarem ainda mais entrincheiradas em ideologias, chegando mesmo a guerrear em defesa de sua 'fé'?

A resposta está no investimento que elas fazem em suas crenças. Uma vez entrevistei Krishnamurti. No início de uma pergunta que começava com as palavras 'você acredita que...', ele me interrompeu e disse: 'Eu não acredito em coisa alguma.' Mas a maioria das pessoas acredita em seus próprios pensamentos. Caso elas, por um longo tempo, tenham pensado muito sobre um determinado assunto, sentem que há um investimento de longo prazo nas crenças representadas por esses pensamentos. A boa notícia é que, em primeiro lugar, não precisamos acreditar em nossos pensamentos; em segundo lugar, não perdemos nada ao abandonar esse investimento de longo prazo nas coisas em que acreditamos. Pelo contrário; sem crenças em nossos pensamentos costumeiros, passamos a pensar com mais clareza. Assim afirmou Suzuki Roshi, quando disse: 'Na mente principiante há muitas possibilidades. Na mente especialista, há poucas.'

As crenças nos aprisionam num modo fixo de percepção que filtra a realidade como uma peneira e condiciona nossa real experiência de vida. Experimentamos aquilo em que acreditamos. Se temos a crença de que o mundo é um lugar perigoso, teremos a experiência de estar cercados de perigo por todos os lados. Se acreditamos ter sido maltratados na infância, viveremos como vítimas e nos sentiremos injuriados a cada momento. Se acreditamos que algo mais é necessário para que sejamos felizes - mais dinheiro, mais sexo, mais poder, mais fama - experimentaremos a carência, independentemente das bênçãos divinas à nossa volta."

(Catherine Ingram - O despertar do entendimento - Revista Sophia, Ano 15, nº 69 - p.33)


terça-feira, 24 de setembro de 2019

DEUS NÃO É INJUSTO

"Se, para achar os seus defeitos, vocês fazem metade do esforço que comumente despendem achando os defeitos dos outros, vocês verão a ligação com a lei de causa e efeito e só isso os libertará, mostrando a vocês mesmos que não existe injustiça.  Só isso lhes será a prova de que não é Deus, nem o destino, tampouco uma ordem injusta no mundo em que vocês tem de sofrer as consequências das limitações das outras pessoas, mas a ignorância, o medo, o orgulho e o egoísmo de vocês que direta ou indiretamente causarão aquilo que pareceu, até aqui, entrar no caminho de vocês sem que vocês nada fizessem para tanto. Descubram esse elo oculto e verão a verdade. Então compreenderão que vocês não são vítimas das circunstâncias nem da imperfeição dos outros, mas são realmente os que criaram a própria vida. As emoções são forças criativas de grande efeito, porque o inconsciente de vocês afeta o da outra pessoa. Essa verdade talvez seja a mais importante para a descoberta  de como vocês provocam os acontecimentos, quer bons, quer maus, favoráveis ou desfavoráveis da vida. 

Depois que vocês passam por essa experiência, podem acabar com a imagem que têm de Deus independentemente de vocês terem medo de Deus, porque acreditam que vivem num mundo de injustiça e receiam tornar-se vítima das circunstâncias sobre as quais não têm controle, ou de rejeitarem a responsabilidade e ficarem à espera de um Deus flexível que os mime, que lhes oriente a vida, tome decisões por vocês, os poupem de dificuldades que vocês mesmos criam. A compreensão de como vocês são a causa dos efeitos da vida de vocês acabará com essas imagens de Deus. Isso constitui um dos momentos decisivos na vida de vocês. 

Só esse momento lhes facultará o reconhecimento de que vocês não são vítimas; de que têm poder sobre a vida; de que são livres e de que essas leis de Deus são infinitamente boas, sábias, amáveis e seguras! Elas não visam transformá-los em fantoches, mas fazer de vocês pessoas totalmente livres e independentes."

(Eva Pierrakos/Donovan Thesenga - Entrega ao Deus Interior - Ed. Cultrix, São Paulo, 1997 - p,54/55)


terça-feira, 10 de setembro de 2019

A EXPOSIÇÃO DO INFERIOR REVELA O SUPERIOR

"Imaginem só, meus amigos, a situação bastante penosa e difícil em que vocês se colocam quando escondem aquilo de que mais se envergonham e têm medo. É precisamente por causa dessa ocultação que vocês criam as atitudes que mais odeiam em si mesmos. Vocês as tornam infinitamente piores com os gestos que as encobrem, e depois vocês se tornam cada vez mais convencidos, nos níveis profundos da consciência, de que elas constituem o seu ser real. Esse círculo vicioso faz com que vocês fiquem mais determinados a esconder e, portanto, vocês se sentem mais isolados, mais pessimistas e destrutivos justamente por causa desses métodos de ocultação. Pois ocultar sempre implica projetar a culpa real nos outros, a recriminação, o ato de encobrir a hipocrisia e assim por diante. Por conseguinte, vocês se tornam mais convencidos de que a parte encoberta é a imagem máxima de vocês mesmos para quem não há esperança nenhuma. A verdadeira tarefa de vocês deve começar pela total exposição de vocês mesmos. Afirmei isso muitas vezes, simplesmente porque não há um oposto para esse aspecto do desenvolvimento espiritual. Todos os buscadores do desenvolvimento espiritual que evitam isso enganam-se e devem, num momento ou outro, deparar um despertar difícil e doloroso. Vocês têm de passar por esse processo; têm de expor todas as partes de vocês. Essa exposição, no entanto, também traz em sua esteira a consciência de que a pior opinião de vocês mesmo nunca se justifica, independentemente da feiura dos traços e atitudes que vocês escondem. Elas nunca se justificam porque essas partes são tão somente aspectos isolados da consciência total de que o seu eu real se encarregou. 

À medida que passam por esses estágios, vocês têm consciência do seu Eu superior, não como uma teoria nem como uma premissa filosófica, mas como simples realidade, bem aqui e agora. Vocês se sentem como a entidade real que são, que sempre foram e serão independentemente do que os aspectos isolados da consciência criam na forma de ilusão e loucura. Essa é, de fato, uma tarefa difícil e maravilhosa! Ao fazê-lo, vocês aprendem mais sobre a realidade interior de vocês e sobre todos os seus variados aspectos e níveis de consciência. Vocês passam a ver o acontecimento exterior em relação a sua paisagem interior. Esta não é mais uma analogia simbólica e 'colorida'. Ela é a dura realidade."

(Eva Pierrakos/Donovan Thesenga - Entrega ao Deus Interior - Ed. Cultrix, São Paulo, 2003 - p. 24/25)


quinta-feira, 20 de junho de 2019

POR QUE SOMOS NEGLIGENTES?

"O pensador raciocina mediante o hábito, a repetição, a cópia, produzindo ignorância e tristeza. O hábito não é uma negligência? A consciência cria ordem, mas nunca o hábito. As tendências acomodadas só produzem negligência. Por que somos negligentes? Porque pensar é doloroso, cria perturbações, oposição, pode fazer com que nossas ações sejam contrárias ao padrão estabelecido. Pensar-sentir de maneira extensiva, tornar-se conciente sem escolha, pode conduzir a profundidades desconhecidas, e a mente se rebela contra o desconhecido. Então, ela se move do conhecido para o conhecido, do hábito para o hábito, do padrão para o padrão. Tal mente jamais abandona o conhecido para descobrir o desconhecido. Entendendo a dor do pensamento, o pensador torna-se negligente mediante a cópia, ao hábito; temendo pensar, ele cria padrões de negligência. Quando o pensador está com medo, suas ações nascem do medo, e então ele encara suas ações e tenta mudá-las. O pensador tem medo de suas próprias criações, mas a ação é o agente, por isso o pensador tem medo de si mesmo. O pensador é a causa da ignorância, da tristeza. Ele pode se dividir em muitas categorias de pensamento, mas o pensamento é ainda o pensador. O pensador e seus esforços para ser, tornar-se, são a verdadeira causa do conflito e da confusão."

(Krishnamurti - O Livro da Vida - Ed. Planeta do Brasil, São Paulo, 2016 - p. 289)


segunda-feira, 23 de abril de 2018

DEVEMOS MORRER PARA TODAS AS NOSSAS EMOÇÕES

"O que entendemos por emoção? É uma sensação, uma reação, uma resposta dos sentidos? O ódio, a devoção, o sentimento de amor ou a solidariedade por outra pessoa - todos são emoções. Alguns, como o amor e a solidariedade, chamamos de positivos; já outros, como o ódio, chamamos de negativos e queremos nos livrar deles. O amor é o oposto do ódio? É uma emoção, uma sensação, um feeling que é prolongado através da memória?

...Então, o que entendemos por amor? Certamente, o amor não é memória. É muito difícil entender isso, porque para a maioria de nós o amor é, sim, memória. Quando você diz que ama o seu cônjuge, o que quer dizer com isso? Você ama aquilo que lhe dá prazer? Você ama aquilo com que se identificou e que reconhece como pertencente a você? Por favor, isso são fatos. Não estou inventando nada, por isso não fique horrorizado.

...É a imagem, o símbolo do cônjuge que amamos (ou achamos que amamos), não o próprio indivíduo. Eu absolutamente não conheço o meu cônjuge; e nunca poderei conhecer essa pessoa enquanto 'conhecer' significar 'reconhecimento'. Porque o reconhecimento é baseado na memória - a memória do prazer e do sofrimento, a memória das coisas pelas quais tenho vivido, agonizado, as coisas que possuo e às quais sou ligado. Como posso amar quando existe medo, mágoa, solidão, a sombra do desespero? Como um homem ambicioso pode amar? E somos todos muito ambiciosos, embora de forma honrosa.

Portanto, para descobrir realmente o que é o amor, precisamos morrer para o passado, para todas as emoções - o bom e o ruim. Morrer sem esforço, como morreríamos para uma coisa venenosa, porque a entendemos."

(Krishnamurti - O Livro da Vida - Ed. Planeta do Brasil Ltda., São Paulo, 2016 - p. 151


sexta-feira, 13 de abril de 2018

ENQUANTO POSSUIRMOS, JAMAIS AMAREMOS

"Conhecemos o amor como sensação, não é? Quando dizemos que amamos, conhecemos o ciúme, o medo, a ansiedade. Quando você diz que ama alguém, tudo isso está implícito: a inveja, o desejo de possuir, de ser dono, de dominar, o medo da perda e assim por diante. Tudo isso, nós chamamos de amor. E não conhecemos o amor sem medo, inveja, possessão; simplesmente verbalizamos esse estado de amor que existe sem medo, o chamamos de impessoal, puro, divino ou sabe lá Deus o que mais. O fato, no entanto, é que somos ciumentos, dominadores, possessivos. Só conheceremos esse estado de amor quando o ciúme, a inveja, a possessividade, a dominação tiverem um fim, e enquanto possuirmos, jamais amaremos...

Em que momento você pensa na pessoa amada? Você pensa nela quando ela parte, quando está distante, quando deixou você... Então, você sente falta da pessoa a quem diz amar só quando está perturbado, sofrendo. Ou seja, enquanto você possui essa pessoa, não tem de pensar nela, porque na posse não há perturbação...

O pensamento surge quando estamos perturbados - e estamos propensos a ficar perturbados enquanto nosso pensamento for aquilo que chamamos de amor. Certamente, o amor não é uma coisa da mente; e, como as coisas da mente encheram nossos corações, não temos amor. As coisas da mente são o ciúme, a inveja, a ambição, o desejo de ser alguém, conseguir sucesso. Essas coisas da mente enchem o coração, e então dizemos estar amando. Mas como podemos amar quando há todos esses elementos confusos dentro da gente? Se há fumaça, como pode haver uma chama pura?"

(Krishnamurti - O Livro da Vida - Ed. Planeta do Brasil Ltda., São Paulo, 2016 - p. 125)


sábado, 10 de março de 2018

VIAGEM PARA O CONHECIMENTO

"Um barco navegava por um mar encapelado e negro, sob violenta tempestade, em busca de um Porto desconhecido de um País Oculto, que apenas se sabe chamar-se CONHECIMENTO.

Seu casco é construído de Coragem, seu combustível chama-se Perseverança, sua bússola chama-se Decisão, seu leme chama-se Entusiasmo e seu mastro chama-se Esperança.

Seus passageiros são inúmeros, mas poucos os que permanecem firmes e enfrentam a dureza da viagem.

A corajosa tripulação, - desfalcada, faminta e arrasada -, com o barco avariado, prossegue, contudo, até que o primeiro clarão da Terra desconhecida e buscada brilhe, por fim, no horizonte.

Os que permaneceram - andrajosos, tendo perdido toda a bagagem -, exultam de alegria.
Acendem o Fogo do Reconhecimento e erguem a Prece da Gratidão. Encontraram, finalmente, o seu País.
Os que desistiram e abandonaram a luta pelo medo, incerteza, desconfiança, dúvida e preocupação de salvar a bagagem, continuam perambulando pelas orlas das praias desertas, chorando suas mágoas e lamentando que aqueles maus companheiros os tivessem deixado entregues ao abandono e ao desespero, clamando justiça aos céus."

(Maria de Lourdes Raphael - O Teosofista - Ano 69, nº 1, Janeiro-Março de 1980 - p. 33)


quarta-feira, 7 de março de 2018

O EGO NO CAMINHO ESPIRITUAL (PARTE FINAL)

"(...) À medida que o ego nos vê jubilosamente ficar mais e mais enredados em sua teia, chegará ao ponto de culpar o ensinamento e até mesmo o professor por toda a dor, solidão e dificuldades pelas quais passamos ao nos conhecer: 'Esses gurus não se importam nada com você e com o que está atravessando, e no fundo só querem explorá-lo. Usam palavras como 'compaixão' e 'devoção' para pôr você sob seus poderes'.

O ego é tão esperto que pode até distorcer os ensinamentos para atender seus propósitos; afinal, 'o diabo pode citar as escrituras para seus próprios fins'. A arma final do ego é apontar hipocritamente seu dedo para o professor e seus seguidores, dizendo: 'Ninguém por aqui parece estar à altura da verdade dos ensinamentos!' Ele posa então como o árbitro justo de toda conduta: a posição mais astuta de todas para sabotar sua fé e destruir qualquer tipo de devoção e compromisso que você possa ter em relação à mudança espiritual.

Mas seja qual for a força com que o ego tenta sabotar seu caminho espiritual, se você prossegue nele e trabalha profundamente com a prática da meditação, começará a perceber como tem sido enganado pelas promessas do ego: falsas esperanças e falsos medos. Devagar você começa a compreender que tanto a esperança quanto o medo são inimigos da sua paz de espírito; as esperanças o decepcionam, deixando-o vazio e desapontado, e os temores o paralisam na cela estreita da sua falsa identidade. Você começa a ver também como foi poderosa a influência do ego sobre sua mente, e no espaço de liberdade aberto pela meditação - em que você está momentaneamente livre da avidez - você vislumbra a estimulante amplitude da sua verdadeira natureza. Entende que o seu ego, como um artista louco e trapaceiro, enganou você durante anos com esquemas, planos e promessas que nunca foram reais e só o levaram à falência interior. Quando você percebe isso na equanimidade da meditação, sem qualquer consolação ou desejo de esconder o que descobriu, todos os planos e esquemas se revelam vazios e começam a desmoronar.

Esse não é um processo puramente destrutivo, porque junto com uma compreensão extremamente precisa e às vezes dolorosa da fraudulência e virtual criminalidade do seu ego, e do de todos os demais, cresce uma sensação de expansão interna, um conhecimento direto daquela 'ausência de ego' e interdependência de todas as coisas, dessa viva e generosa disposição de espírito que é a marca que autentica a liberdade.

Porque aprendeu pela disciplina a simplificar sua vida, reduzindo as oportunidades do ego de seduzi-lo, e porque praticou a presença mental da meditação e minimizou o poder da agressão, do apego e da negatividade de todo seu ser, a sabedoria do insight pode emergir lentamento. E na claridade reveladora desse sol aquela percepção pode mostrar a você, distinta e diretamente, os mais sutis movimentos de sua própria mente e a natureza da realidade."

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 162/163)

quinta-feira, 1 de março de 2018

CORAGEM: UMA QUALIDADE INATA DA ALMA

"Sucesso, saúde e sabedoria são atributos naturais da alma. A Identificação com pensamentos e hábitos debilitantes, bem como a falta de concentração, perseverança e coragem, são responsáveis pelas tribulações devidas à pobreza, à má saúde etc.

Você paralisa sua faculdade de buscar o sucesso com pensamentos de medo. O sucesso e a perfeição tanto da mente quanto do corpo são qualidades inerentes ao homem porque ele foi feito à imagem e semelhança de Deus. Para reivindicar esse direito de nascença, porém, devemos primeiro nos livrar da ilusão de nossas próprias limitações.

Deus possui tudo. Saiba, pois, em qualquer situação, que como filho de Deus você possui tudo que pertence ao Pai. Sinta-se sempre contente e satisfeito sabendo que tem acesso a todas as posses do Pai. Seu quinhão natural é a perfeição e a prosperidade, mas você prefere ser imperfeito e pobre. A consciência de possuir tudo deve ser um hábito de cada pessoa."

(Paramhansa Yogananda - A Sabedoria de Yogananda, Como Ter Coragem, Serenidade e Confiança - Ed. Pensamento, São Paulo, 2012 - p. 13/14)
www.editorapensamento.com.br


domingo, 25 de fevereiro de 2018

A ORDEM CÓSMICA (1ª PARTE)

"Muitas pessoas, ao verem gradualmente o corpo material se deteriorar, têm medo de que isso seja o verdadeiro fim. Mas na verdade temos nos ocupado apenas de uma pequena parcela da vida. Nossos pensamentos sobre o que se passou e o que está por vir (sofrimento e dor, talvez) fazem-nos compreender o que é preciso para ter tranquilidade e paz na esfera física. Os pensamentos podem nos tornar um pouco mais perceptivos, especialmente agora que o ser humano tem mais conhecimento à disposição.

Há surpresas por todo lado na esfera natural. Ver isso, e agir de acordo face a um mundo pleno de belezas, maravilhas e possibilidades, é incrível. Existe tanto sobre o que se pensar. As coisas do dia a dia importam muito pouco: o importante é ver além do corpo físico e crescer internamente.

No Bhagavad-Gita, Krishna assinala que está no coração de todas as coisas e que não há fim para o seu ser: 'O que quer que seja glorioso, belo e poderoso procede de um fragmento de meu esplendor.' As qualidades mencionadas por Sri Krishna existem em toda parte, tanto em forma quanto em consciência. Há uma crescente perfeição e uma infinita variedade nas formas que d'Ele emanam. Os seres humanos podem conhecer parte dessa perfeição e da ordem cósmica por meio das revelações de beleza, inteligência, amor e outras qualidades divinas.

Há pessoas que não hesitam em transformar a Terra em material para promover ganhos financeiros. Esta é uma das principais razões por que tantas espécies foram dizimadas. Esse tipo de atitude não é espiritual. Espiritual é ver a beleza em toda parte. Em toda parte, no deserto e na floresta, transparecem o esplendor e a luz do divino. Mas precisamos ter olhos para ver. (...)"

(Radha Burnier - A ordem cósmica - Revista Sophia, Ano 15, nº 67 - p. 33)


terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

A MORTE

"Depois de passar por várias espécies de vegetais, a vida manifesta-se em uma árvore preciosa como a Paineira, e, assim, transmite-nos o que plantas mais primárias não nos poderiam transmitir. Na linha da evolução humana, a vida também passa de encarnação em encarnação, liberando cada vez mais luz até que esta, no homem evoluído, se expresse através do surgimento de maior capacidade de compreender os fatos e as leis do universo.

Se os seres humanos tivessem já a visão etérica, assistiriam, por ocasião da 'morte', à grande atividade que se desencadeia naqueles corpos dos quais a vida se retira, quando todos os átomos que compõem suas células retornam à fonte de origem. Com isso, muito substância-luz é liberada no plano astral, para que, com a destruição da forma, profundas transformações possam acontecer nos níveis psíquicos. Nesse processo, dentro do possível, os apegos do indivíduo e sua ilusão sobre a imutabilidade da matéria são desfeitos. A chamada 'morte' facilita também o seu contato com novas ideias, que lhe trazem outras perspectivas, porque vêm de um estado de consciência mais elevado do que o mental pensante.

A retirada da energia vital dos corpos materiais é um ritual necessário, que rege toda a vida planetária. Produz transformações em todos os reinos da Natureza, e eles, com o tempo, apresentam cada vez menor oposição à influência de novos tipos de energia que vêm para aperfeiçoá-los. A Paineira não tem medo de morrer. Só no reino humano e, em parte, no reino animal, existe esse temor. Os outros reinos não o conhecem, e restituem com naturalidade o que pertence ao reservatório geral essencial do planeta, para que essa substância vá formar novos corpos e novas formas de vida, levando consigo as experiências que já fez.

Vidas maiores emanam ordens para que vidas menores se retirem da forma, liberando substâncias que são necessárias para futuras expressões. Abrindo-nos para uma visão mais ampla, tomamos conhecimento de que os sete sistemas planetários envolvidos nesse processo, quanto mais conscientes forem da vida total, mais se movimentarão de acordo com ela, observando com exata precisão os momentos em que a restituição é necessária. O medo da morte é contrário ao ritmo cósmico e, portanto, precisa ser eliminado. Como se sabe, baseia-se no terror que sentimos pelo processo final de rompimento com o corpo físico, no horror pelo desconhecido, na dúvida quanto à imortalidade de nosso ser, na dificuldade de deixar para trás coisas e pessoas queridas, na memória subconsciente de experiências anteriores de mortes dolorosas ou difíceis. Essas causas são conhecidas pela medicina esotérica.

Entretanto, a causa principal do medo da morte reside em nosso apego à forma, e no pouco contato que temos com a alma, o núcleo imortal-reencarnante. O temor básico que o homem, bem como alguns animais, apresenta, é de não sobreviver a essa experiência tão necessária. Isso, porém, ainda é assim, devido à falta de conhecimentos com relação ao processo de desencarnar."

(Trigueirinho - A morte sem medo e sem culpa - Ed. Pensamento, São Paulo - p. 45/46)


segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

SÊ CALMO E PROCURA A VERDADE

"A calma é a essência da meditação e a antítese do medo. Não podemos relaxar e ficar em paz em nosso coração - não podemos nos abrir para o influxo do amor - quando nossa mente está perturbada e irrequieta. No âmago da tradição judeu-cristã encontramos a clara expressão do valor e necessidade da calma. Reza o Salmo 4: 'Falai com o vosso coração sobre a vossa calma e aquietai-vos'. E o Salmo 46 nos dá esta firme instrução: 'Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus'.

No Salmo 107, ouvimos: 'Então se alegram com a bonaça; e ele assim os leva ao porto desejado'. Em Isaías, aprendemos: 'Pelo arrependimento e o repouso sereis salvos; na quietude e confiança reside a vossa força. ... Até quando vos dominará a tribulação? Recuai... descansai, ficai serenos'. Eis a tradição meditativa que alimentou Jesus em sua meninice e, seguramente, ao longo de todo o seu despertar espiritual.

Em plena quietude meditativa, começamos a perceber diretamente a verdade da vida e a realizar o que Jesus nos ensinou como seu mais vigoroso imperativo em termos de meditação: 'Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará'. Obviamente, a verdade que encontramos no ato de meditar é que Deus é amor - que existe uma presença espiritual nuclear em nossa vida passível de conhecimento direto quando focalizamos o coração e nos abrimos para o influxo amoroso.

Saímos do estado de medo ao aprender a estar serenos; uma vez serenos, acabamos por conhecer a verdade; e harmonizados com a realidade profunda da vida, descobrimos a força original do amor que nos anima e nos vincula diretamente ao Inominável infinito."

(John Selby - Sete Mestres, Um Caminho - Ed. Pensamento-Cultrix Ltda., São Paulo, 2004 - p. 116/117)


sábado, 6 de janeiro de 2018

COMPREENSÃO

"PERGUNTA: A experiência demonstra que a compreensão só surge depois de cessar a argumentação e o conflito, e se manifesta uma espécie de tranquilidade ou simpatia intelectual. Isso se dá até na compreensão de problemas matemáticos ou técnicos. Entretanto, tal tranquilidade só tem sido experimentada depois de feitos todos os esforços de análise, exame ou experimentação. Significa isso que o esforço constitui uma preliminar, se não suficiente, pelo menos necessária para se obter a tranquilidade?

KRISHNAMURTI: Espero que tenhais compreendido a pergunta. O interrogante pergunta, em resumo: O esforço, o investigar, analisar, examinar, não é necessário para que haja tranquilidade da mente? Para que a mente possa compreender, não é necessário esforço? Isto é, não se necessita uma técnica, para que se tenha a capacidade de criar? Se tenho um problema, não preciso penetrar nele, pensar nele a fundo, investigá-lo, analisá-lo, preocupar-me com ele, e largá-lo depois? E então, estando a mente quieta, encontra-se a solução. Tal é o processo pelo qual passamos. Temos um problema, pensamos nele, examinamo-lo e discorremos a seu respeito. Depois, a mente, tendo-se cansado, fica quieta. Acha-se então a solução do problema, sem se saber como. Todos nós estamos familiarizados com esse processo. E o interrogante pergunta: 'Não é necessário isso, primeiramente?'

Por que passo por esse processo? Não formulemos a pergunta erradamente; o que devemos perguntar não é se esse esforço é necessário ou não, mas, sim, por que passamos por esse processo. Evidentemente, passo por esse processo porque quero achar uma solução. O que me interessa é encontrar uma solução, não é verdade? O receio de não achar a solução me leva a fazer todas essas coisas, não é assim? E depois, tendo passado pelo processo, fico exausto e digo 'não encontro a solução'. Aí, a mente se aquieta e, às vezes ou sempre, apresenta-se a solução.

A questão, pois, não é se o processo preliminar é necessário, mas, sim, porque passo por esse processo. É óbvio que o faço porque estou à procura de uma solução. O que me interessa não é o problema, mas, sim, a maneira de me livrar dele. Não estou buscando a compreensão do problema, mas, sim, a sua solução. Certamente, há uma diferença nisso, não achais? Porque a solução está no próprio problema, e não fora dele. Passo pelo processo de investigar, analisar, dissecar, porque quero livrar-me do problema. Mas, se não fujo do problema, e procuro encará-lo, sem temor nem ansiedade, se apenas olho para o problema, que pode ser um problema matemático, político, religioso, ou outro qualquer, se o considero sem a mira numa solução, então começará o problema a descerrar-se. Eis o que acontece. Passamos pelo processo, e afinal o abandonamos, porque não encontramos saída alguma. Assim, pois, por que não começamos pelo começo, isto é, abstendo-nos de procurar uma solução para o problema, que é coisa dificílima?

Pois, quanto mais eu compreender o problema, tanto mais significação encontro nele. Para compreendê-lo, preciso considerá-lo tranquilamente, sem envolvê-lo com minhas idéias, meus sentimentos de agrado ou desagrado. O problema nos revelará então o seu significado.

Por que não é possível termos a tranquilidade da mente desde o começo? E só haverá tranquilidade quando eu não estiver à busca de uma solução, quando não tiver medo ao problema. Nossa dificuldade é esse medo que temos ao problema. Nessas condições, se perguntamos se é necessário ou não fazer-se esforço, receberemos uma resposta errada.

Consideremos a questão por maneira diferente. Todo problema requer atenção, e não distração motivada pelo temor. E não há atenção, quando estamos a procurar uma solução fora do problema, uma solução que nos convenha, que seja preferível, que nos dê satisfação ou um meio de fuga. Por outras palavras, se podemos considerar o problema sem esse propósito, é então possível compreendê-lo. A questão, portanto, não é se devo passar por esse processo de analisar, examinar, dissecar, e se é necessário isso para termos a tranquilidade. A tranquilidade se manifesta. quando não sentimos temor; mas, visto que temos medo ao problema, ao que ele nos revele, ficamos entregues aos desejos de nossos próprios impulsos, aos impulsos de nossos próprios desejos."

(Krishnamurti - A Conquista da Serenidade - Editado pela Instituição Cultural Krishnamurti, p. 14/17)

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

SIGNIFICADO DA DOR E DO SOFRIMENTO (PARTE FINAL)

"(...) O sofrimento é apenas uma palavra, ou uma coisa real? Se é uma coisa real, então a palavra não tem significação alguma. Fica, então, só o sentimento de uma dor intensa. Uma dor que está em relação com quê? Em relação com uma imagem, com uma experiência, com alguma coisa que tendes ou que não tendes. Se a tendes, vós chamais o sentimento 'prazer', se não a tendes, o chamais 'dor'. Assim, pois, a dor, o sofrimento, está em relação com alguma coisa. Essa coisa é uma mera verbalização, ou uma realidade? Não sei se estais compreendendo? Isto é, quando existe o sofrimento, ele só existe em relação com alguma coisa. Ele não pode existir sozinho, tal como o medo, que não pode existir sozinho, mas, sim, em relação com alguma coisa: um indivíduo, um incidente, um sentimento. Pois bem, agora tendes plena consciência do sofrimento. Está esse sofrimento separado de vós, sendo vós, por conseguinte, apenas o observador que percebe o sofrimento? Ou esse sofrimento é uma parte de vós mesmo? Estamos procurando compreender o que é o sofrimento, o que é a dor; procurando examiná-lo profundamente e não apenas superficialmente. 

Pois bem; quando não há observador, quem é que está sofrendo? Esse sofrimento é diferente de vós? Vós sois o sofrimento, não é verdade? Não estais separado da dor, vós sois a dor. Pois bem, que acontece agora? Tende a bondade de seguir-me: não estamos mais pondo rótulos, não estamos mais dando nomes, para nos livrarmos do sofrimento: nós somos aquela dor, aquele sentimento, aquela agonia. E agora, que sois isso, que acontece? Quando não lhe dais nome, quando não há mais temor com relação a ele, está o centro em relação com ele? Se o centro está em relação com ele, então teme-o. Vê-se, por isso, na necessidade de agir e fazer alguma coisa com relação ao sofrimento. Mas, se o centro é o sofrimento, que fazeis então? Nada há que fazer, não é verdade? Compreendei, por favor, não se trata só de ouvir. Procurai compreendê-lo e vereis. Se vós sois o sofrimento, e não o estais aceitando, não o estais rotulando, não o estais afastando de vós - se vós sois o sofrimento, que acontece? Dizeis então que sofreis? Deu-se, por certo, uma transformação extraordinária. Já não se diz 'eu sofro', porque já não há um centro para sofrer; e o centro sofre, porque nunca examinamos o que é o centro. Nós só vivemos de palavra em palavra, de reação em reação. Nunca dizemos: 'Vejamos que é essa coisa que sofre'. E essa coisa não se pode ver mediante constrangimento, mediante disciplina. Precisais olhá-la com interesse, com espontânea compreensão. Vereis então que a coisa que chamávamos sofrimento, dor, a coisa que evitávamos, e também a disciplina, vereis que tudo desaparece. Quando não tenho relação com a coisa, como existindo fora de mim, não há problema algum; mas no momento em que estabeleço uma relação com ela, considerando-a fora de mim, apresenta-se o problema. Enquanto considero o sofrimento como uma coisa externa, sofro - porque perdi meu irmão, porque perdi meu dinheiro, por causa disso ou daquilo. Estabeleço uma relação com a coisa, e tal relação é fictícia. Mas, se eu sou aquela coisa, se percebo o fato, transforma-se, então, a coisa, inteiramente, assumindo um significado diferente. Há, então, atenção plena, atenção integrada. Aquilo que se considerou por maneira completa, é compreendido e se dissolve, e não há mais temor. E, por conseguinte, a palavra sofrimento se torna inexistente." 

(Krishnamurti - A Conquista da Serenidade - p. 94/96)
Fontehttp://www.lojadharma.org.br/


terça-feira, 26 de dezembro de 2017

O RIO DA VIDA (1ª PARTE)

"Vários instrutores espirituais afirmaram que a vida segue na direção do sagrado, do vasto, do belo, assim como um rio segue infalivelmente até o mar. Desenvolvendo essa metáfora, Krishnamurti disse que a água pode formar um rio e também uma poça estagnada. Nós gostamos dessa estagnação, porque temos medo do rio. O rio pode levar a muitos lugares, pois segue seu caminho, enquanto a poça está protegida. A pessoa que está cercada por coisas que conhece, diretamente ou por ouvir dizer, pensa que está em terreno seguro, e assim a poça torna-se uma realidade da qual ela gosta.

Infelizmente os seres humanos se aferram a uma poça - ou a uma ilha - e, até onde podem, permanecem distantes do rio que flui. O homen não gosta de saber em que direção o rio segue. Ele olha para o universo, para os amplos céus, para as estrelas, e sabe cada vez mais a respeito deles, mas sua vida pessoal não muda. A maior parte das coisas passa pelo ser humano médio como se não existisse, ou causa apenas um tipo de interesse que tem a ver com sua própria personalidade e bem-estar.

Nossos pensamentos estão concentrados no eu. Em volta há a vastidão do rio, fluindo, movendo-se, penetrando recessos e cantos, mas não tomamos conhecimento, pois nossos pensamentos estão concentrados em um pequeno ponto - em nós mesmos. Estamos preocupados apenas com uma pequena porção da vastidão do universo que se desenrola perante nós. Nós não vemos a vida nas estrelas.

Hoje temos uma família; depois encarnamos novamente e a família pode ser formada por pessoas inteiramente diferentes. Talvez isso tenha um propósito. Talvez nos faça ter um tipo de relacionamento com pessoas que de outro modo sequer perceberíamos. Somos levados a percebê-las através do apego ou do seu oposto - o desejo de nos afastarmos delas. Assim, temos relacionamentos de certo tipo em cada vida, e à medida que giramos de vida em vida, entramos em contato com mais pessoas.(...)"

(Radha Burnier - O rio da vida - Revista Sophia, Ano 15, nº 66 - p. 20)


segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

A FUGA GERA CONFLITOS

"Por que somos ambiciosos? Por que queremos ter sucesso, ser alguém? Por que lutamos para ser superiores? Por que todo esse esforço para nos afirmarmos, diretamente ou por meio de uma ideologia ou Estado? Essa autoafirmação não é a principal causa do nosso conflito e da nossa confusão? Sem ambição, nós pereceríamos? Não podemos sobreviver fisicamente sem sermos ambiciosos?

Por que somos espertos e ambiciosos? A ambição não é um desejo de evitar o que existe? Essa esperteza não é realmente estúpida, que é o que somos? Por que temos tanto medo do que existe? Qual é o benefício de fugir, se, independentemente do que somos, seremos sempre assim? Podemos ter sucesso na fuga, mas o que somos continua ali, gerando conflito e infelicidade. Por que temos tanto medo da nossa solidão, do nosso vazio? Qualquer atividade fora do que existe está propensa a gerar tristeza e antagonismo. O conflito é a negação ou a fuga do que existe, não há outro conflito além desse. Nosso conflito se torna cada vez mais complexo e insolúvel porque não enfrentamos o que existe. Não há complexidade no que existe, apenas nas muitas fugas que buscamos."

(Krishnamurti - O Livro da Vida - Ed. Planeta do Brasil Ltda., São Paulo, 2016 - p. 271)


sábado, 9 de dezembro de 2017

RENDIÇÃO

"Quando não aceitamos o mundo tal como ele é, estamos presumindo que não se pode confiar nele e que o universo não se apresenta como deveria. Nosso ego carrega um enorme fardo de crenças sobre como as coisas teriam de ser. Mesmo que nossa crença seja positiva e profundamente espiritual, precisamos encarar o fato de que, caso ela não corresponda à realidade, estamos gerando sofrimento interior e, portanto, conflito - por nos apegarmos a uma imagem falsa.

Em seu livro Loving What Is, Byron Katie vai diretamente ao ponto: 
Se você quiser que a realidade seja diferente, que tal também ensinar um gato a latir? Poderá tentar infatigavelmente, mas no fim o gato olhará para você e dirá: 'Miau'. É inútil desejar um mundo diferente do que é... Deveríamos saber que as coisas são boas assim como elas se apresentam, pois quando as questionamos sentimos tensão e frustração. Se deixarmos de nos opor à realidade, a ação se tornará simples, fluida, amorosa e sem riscos. 
É isso: quando deixamos de nos opor à realidade e aceitamo-la, tornamo-nos amáveis e destemidos. E, quando o medo se vai, nossas ânsias desaparecem e estamos prontos a, sem esforço, abrirmo-nos para a plena participação no momento presente e eterno.

Sugiro que você explore plenamente o que significa submeter-se à realidade. Com isso, deixará de lutar contra ela. Não perca nem mais um segundo desejando que ela seja diferente. Agora mesmo, é imperativo aceitar a realidade porque você nada poderá fazer para mudar o momento presente. Essa é a compreensão espiritual da vida. O momento presente é perfeito - simplesmente, porque não pode ser de outra maneira. Ele é o que é.

A magia da lógica reside em que apenas pela entrega total ao agora adquirimos o poder de participar de seu desdobramento e influenciar positivamente os momentos que virão. Vivendo intensamente o aqui e agora, sem nenhuma resistência à realidade, tornamo-nos partícipes plenos do momento atual. E graças a essa entrega, aceitação e participação, trazemos o poder do amor e da verdade espiritual ao momento presente - todas as nossas ações se tornam naturais, em harmonia e consonância com a verdade do espírito. Nossa realidade e a realidade do mundo que nos cerca entram em sintonia.

Só quando isso acontece fazemos progresso genuíno - não por meio da manipulação da nossa mente crítica, mas da participação da nossa alma. Submetendo-nos à realidade, submetemo-nos a Deus e permitimos ao Espírito agir por intermédio de nós, impedindo assim que o ego cheio de medos determine nossos atos. Dessa maneira, aprendemos a fazer com que o elemento meditativo da mente e da alma atue no mundo."

(John Selby - Sete Mestres, Um Caminho - Ed. Pensamento-Cultrix Ltda., São Paulo, 2004 - p. 94/95