OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


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sexta-feira, 18 de agosto de 2017

O MUNDO DO EGO (1ª PARTE)

"Quando a consciência se liberta dos três corpos em que estava aprisionada, reintegra-se naturalmente ao Ser que realmente é. 

Assim é que temos de restituir ao Ego a consciência; mais ainda, tratar de reconhecer sem sombra de dúvida que somos o Ego, uma Alma divina que estava em exílio. Temos de transferir a consciência para o mundo a que pertence, entrar no mundo que é realmente nosso; então nos reconheceremos como sendo o divino Ser interno, em unidade com o divino de todas as coisas. Daí em diante, já não poderemos mais questionar se somos o Eu Superior ou o eu inferior, nem haverá a exaustiva luta entre os dois polos opostos de nossa natureza, pois já não haverá dois - a consciência aprisionada e exilada se restituiu à consciência original de que se desviou, e novamente o homem é uno; é o divino Ser interno que se vale conscientemente dos três corpos como de seus instrumentos, sem estar subordinado a eles.

Não busquemos reintegrar a consciência ao Ego tão somente em pensamento; não concordemos por mera intelectualidade que somos o Ego. Temos de fazê-lo em realidade: ser o Ego e viver em seu próprio mundo. (...)"

(J. J. Van Der Leeuw - Deuses no Exílio - Ed. Teosófica, Brasília, 2013 - p. 35)


domingo, 23 de julho de 2017

TREINANDO A MENTE (1ª PARTE)

"Há tantas formas de apresentar a meditação, e devo ter ensinado isso milhares de vezes, mas a cada vez é diferente, de um modo direto e sempre novo.

Felizmente vivemos numa época em que pelo mundo todo muita gente se familiariza com a meditação. Tem sido cada vez mais aceita como uma prática que atravessa as barreiras culturais e religiosas e se eleva acima delas, permitindo àquele que a busca estabelecer um contato direto com a verdade do seu ser. É uma prática que a um tempo transcende o dogma e é a essência das religiões.

Via de regra desperdiçamos nossas vidas distraídos do nosso eu verdadeiro, numa atividade sem fim; a meditação é o caminho para trazer-nos de volta a nós mesmos, onde podemos realmente experimentar e provar nosso ser completo, além de todos os padrões habituais. Nossas vidas são vividas em intensa e ansiosa luta, num turbilhão de velocidade e agressão, competindo, apegando-nos possuindo e conquistando, sobrecarregando-nos sempre de atividades irrelevantes e de preocupações. A meditação é o exato oposto disso. Meditar é interromper por completo o modo como 'normalmente' operamos, em benefício de um estado isento de cuidados e tensões em que inexiste competição, desejo de posse ou apego a qualquer coisa, sem a luta intensa e ansiosa, sem fome de adquirir. Um estado desprovido de ambição onde não cabe nem o aceitar nem o rejeitar, nem a esperança nem o medo, um estado em que lentamente começamos a libertar-nos das emoções e dos conceitos que nos aprisionaram, até chegarmos a um espaço de simplicidade natural.

Os mestres da meditação budista sabem o quão flexível e maleável é a mente. Se a treinamos, tudo é possível. Na verdade, já somos perfeitamente treinados pelo samsara e para ele, treinados para ficar ciumentos, treinados para o apego, treinados para ser ansiosos e tristes e desesperados e ávidos, treinados para reagir com raiva ao que quer que nos provoque. Somos treinados, de fato, até o ponto dessas emoções negativas surgirem de modo espontâneo, sem que tentemos produzi-las. Assim, tudo é uma questão de treino e do poder do hábito. Dedique a mente à confusão e logo veremos - se formos honestos - que ela se tornará uma mestra sinistra na confusão, competente no seu vício, sutil e perversamente dócil em sua escravidão. Dedique a mente na meditação à tarefa de libertá-la da ilusão e veremos que com tempo, paciência, disciplina e o treinamento adequado, ela começará a desembaraçar-se e conhecer sua bem-aventurança e claridade essenciais. (...)"

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 87/88


quinta-feira, 8 de junho de 2017

A COMUNHÃO DOS SANTOS (PARTE FINAL)

"(...) Temos de aprender a nos doar em serviço, em todos os lugares e de todas as maneiras possíveis. À medida que assim fizermos, encontraremos o Senhor em cada forma, a cada momento, e sua presença estará refletida em nós em cada ângulo.

Além de honrar todos os santos - 'Não fazemos distinção entre profetas', disse o Profeta Maomé - é bom reconhecermos e compreendermos o valor do santo viver, isto é, uma vida de pureza e de serviço altruísta, especialmente nestes dias quanto a pressão do mundo é tão insistente e se lança sobre nós de tantas direções, que a beleza do outro mundo desaparece na obscuridade.

Não precisamos orar tanto para os santos no sentido de lhes suplicar favores, quanto a pensar em suas maravilhosas qualidades, para pôr seu exemplo perante nós e buscar sua inspiração. Na medida em que pensarmos neles, sua bênção certamente estará conosco.

O homem, segundo o conceito oriental, é, em seu ser interior, uma pequenina estrela que nasce e se põe muitas vezes na vida terrena, mas eventualmente - sua claridade aumentada a um poder mais elevado, e livre do apego a uma personalidade humana restrita - assume o lugar a ele alocado nos céus. Essas estrelas constituem a glória de nosso céu espiritual. Segundo a ordem de sua claridade, elas iluminam os degraus que levam ao altar de Deus."

(N. Sri Ram - o Interesse Humano - Ed. Teosófica, Brasília, 2015 - p. 61/62)

segunda-feira, 5 de junho de 2017

TODOS OS VIVOS NASCEM E MORREM - MAS A VIDA É IMORTAL

"Imperecível é o espírito da profundeza,
Como o seio profundo da maternidade.
Céus e terra radicam o seio da mãe.
São a origem de todos os vivos,
Que espontaneamente brotam da Vida.

EXPLICAÇÃO: Lao-Tse, na sua vidência cósmica, enxerga o Universo como um abismo de ilimitadas potencialidades, de cuja essência Infinita brotam sem cessar as existências finitas. Todos os seres vivos individuais surgem sempre de novo da Vida Universal, quando nascem; e regressam a esse mar imenso de Vida, quando deixam de ser indivíduos vivos - assim como as ondas do oceano nascem do seio das águas imensas e recaem a esse mesmo seio. O vivo nasce quanto emerge da Vida, e morre quando mergulha novamente nessa Vida. A Vida é sem princípio nem fim, mas os vivos têm princípio e fim.

A célebre questão sobre 'a origem da Vida', tão discutida pelos cientistas, é uma questão absurda porque a Vida não tem origem, nem terá fim; somente os vivos têm princípio e têm fim. Começar a existir como vivo é nascer e o morrer nada têm que ver com a Vida. A inexatidão da terminologia é causa de estéreis controvérsias.

A Vida é.

Os vivos existem e des-existem."

(Lao-Tse - Tao Te King, O Livro Que Revela Deus - Tradução e Notas de Huberto Rohden - Fundação Alvorada para o Livro Educacional, Terceira Edição Ilustrada - p. 36/37)


domingo, 4 de junho de 2017

O MALTRATO DOS ASPIRANTES (PARTE FINAL)

"(...) Os traidores e obstrutores, por outro lado, geram grandes adversidades para si mesmos que podem assumir duas formas particulares, entre outras. Uma é de atrair a atenção e tornarem-se instrumentos dos poderes das trevas, que procuram esmagar toda centelha de espiritualidade em cada ser humano. A outra adversidade consiste em obstruções em sua própria busca da verdade, da luz e do Instrutor. Em vez de ser claro, seu caminho é escuro e difícil. Isto pode ter sido causado não só pela ação direta de um caráter adverso, mas pela negligência, pela indiferença a um aspirante, por ter falhado em levar em consideração seriamente suas questões, seu apelo por ajuda e, em geral, deixar de ver a importância das mudanças interiores que estão ocorrendo no buscador. Este 'pecado de omissão' também gera adversidades, tais como o malogro em encontrar um auxiliar imediato e amigos mais avançados, e obstáculos domésticos, entre outros. 

Os ocultistas deveriam, com sabedoria e tato, estar à procura e ajudar toda a pessoa que encontram que está buscando a luz, mesmo que pareça que ela tenha começado mal. Pois é o fato de estar procurando que é de suprema importância.

Apesar deste conselho aplicar-se à vida oculta em particular, ele consiste na verdade no simples ato de ser amável em todas as ocasiões, mesmo quando a amabilidade tiver que ser firme. No entanto, estes fatos bastante simples e óbvios são muito negligenciados, e seria bom chamar a atenção dos teosofistas, especialmente dos principiantes, para eles. A verdade, infelizmente, é que muitas pessoas são afastadas da Senda, talvez por toda uma encarnação, pela intromissão de parte daqueles que deveriam saber como se portar corretamente."

(Geoffrey Hodson - A Suprema Realização através da Yoga - Ed. Teosófica, Brasília, 2001 - p. 158/159


quarta-feira, 24 de maio de 2017

A RENOVAÇÃO DA SOCIEDADE

"Viajamos à lua, descobrimos evidência de água em Marte, escalamos o Monte Everest e, no fundo dos oceanos, descobrimos formas de vida desconhecidas. Mas há uma outra busca que é a aventura última do ser humano. As questões que caracterizam essa busca transcendem o mundo físico, podem confundir a ciência moderna e não podem ser respondidas por meio de medições físicas, câmaras sofisticadas ou qualquer tecnologia moderna.

O professor Kurt Dressler definiu essa procura como 'a busca fundamental do ser humano por sua essência e o fim de nossa enigmática existência num mundo multifacetado'. Ela pode nos levar à religião, à filosofia ou à ciência. Mas no fim é também uma busca de nossa natureza mais profunda, refletida cada vez mais em nossa espiritualidade emergente. 

O que é uma sociedade? Falando simplesmente, é uma comunidade, um grupo de pessoas. Quando consideramos a sociedade humana podemos reduzi-la da complexidade de muitas instituições e elementos culturais aos seus alicereces essenciais, isto é, aos 6,8 bilhões de pessoas no planeta. O filósofo J. Krishnamurti descreveu a sociedade fundamentalmente como relacionamento: 'Os seres humanos em todo o mundo tentaram criar uma sociedade justa, exterior. Mas a sociedade é nosso relacionamento mútuo.'

Com relação a isso um jornalista da BBC fez um resumo oportuno do século 21, escrevendo que o maior impacto desta década, que estabeleceu o tom e definiu a era, veio de 'você'. Segundo ele, a revista Time acertou quando, em 2006, transformou 'você' na personalidade do ano, colocando um espelho na capa. 'Você', escreveu o jornalista, lutou de maneira crescente contra as instituições que supostamente lhe deveriam representar ou agir em seu interesse. Você perdeu a fé nos bancos, nos políticos e nas companhias que colocaram alimento em sua mesa.' E quando você pode fazer algo a respeito na internet, comentou ele, você floresce. O maior conflito na década que passou, segundo ele, foi entre você e suas expectativas. Em outras palavras, ele vê esta década como de autointeresse, autoexpressão e conflito nos relacionamentos - nesse caso, entre o indivíduo e as instituições sociais. Poderíamos acrescentar que o autointeresse parece ser uma característica mais ou menos perene da humanidade.

Os relacionamentos assumem várias formas. Não apenas nos movemos para o exterior rumo aos outros, como a polaridade da vida também determina que, no tempo devido, devemos nos mover para o interior, através dos campos da nossa consciência, rumo à transcendente fonte da seidade, que Helena Blavatsky chamou de realidade última. Durante milênios, usando meios destrutivos, a humanidade perdeu a inocência; talvez agora se tenha tornado sofisticada demais para seu próprio benefício. Para muitos, no entanto, um relacionamento florescente com o espiritual ajuda a trazer uma perspectiva de vida mais equilibrada."

(Linda Oliveira - A renovação da sociedade - Revista Sophia, Ano 8, nº 31 - p. 30)


terça-feira, 16 de maio de 2017

AMAR É CONHECER (1ª PARTE)

"O Oriente preocupa-se profundamento com a questão da liberdade do ser humano. Diferentemente de muitos povos modernos, os orientais não identificam a liberdade com dinheiro, compras, viagens etc. Eles se concentram em libertar-se das compulsões que surgem do interior. O homem moderno está obcecado pela ideia de se libertar de coisas externas supostamente desagradáveis, enquanto os Upanixades, os venerados textos hindus, proclamam que tanto a liberdade quanto a escravidão são interiores. A mente cria grilhões e depois imagina que eles são externos. Só quando compreende que os problemas que enfrenta são criados por ela mesma é que se torna livre.

Não há sinônimos exatos para liberdade no Oriente, mas é fácil ver o quanto os orientais pensam e falam a respeito desse assunto. Certas escolas de pensamento orientais, que têm como foco central algo que poderia ser descrito como autoentrega, têm em mente a liberdade como seu maior objetivo. Autoentrega pode significar, para algumas pessoas, uma devoção sentimental a alguma imagem, física ou criada pela mente. Mas na verdade autoentrega é abrir mão de si próprio, libertar-se dos grilhões interiores, como caminho para a realização espiritual.

Segundo o pensamento budista, a inteligência espiritual, que é inteligência da mais elevada ordem, não existe sem compaixão. Os budistas acreditam que compaixão e inteligência constituem a sabedoria. Se não há compaixão, então a inteligência não é espiritual, mas apenas intelectual; às vezes nada mais é que um tipo de esperteza. 

Annie Besant disse, numa de suas palestras, que o amor é uma forma de conhecer. Quando existe amor verdadeiro, não um apego passageiro, existe a possibilidade de se conhecer algo além do intelecto. O conhecimento está unido ao amor. (...)"

(Radha Burnier - Amar é conhecer - Revista Sophia, Ano 8, nº 31 - p. 25)


segunda-feira, 15 de maio de 2017

O DESPERTAR DA ILUMINAÇÃO (PARTE FINAL)

"(...) Uma miragem é uma ilusão de ótica que depende das condições atmosféricas. A visão de uma poça d'água pode ser criada pela luz passando através das camadas de ar quente, acima da superfície aquecida de uma estrada. Outras miragens mais elaboradas podem surgir como cidades ou florestas. Mas tudo o que são é ilusão.

Nós, que estamos na jornada em busca do Graal, podemos estar vendo apenas a ilusão dos postes de sinalização no caminho para o despertar espiritual. Maya é a palavra usada para descrever a realidade da forma como é vista através da nuvem de fumaça das nossas mentes, emoções e personalidades.

Nossa vida é vista através das condições que nós criamos. Assim como um pedaço de pau parece partido quando visto parcialmente na água, por causa da refração, nossa visão da realidade é distorcida por nossos condicionamentos. Quando buscamos o Graal, estamos no nível da mente. Por isso, ele é visto como algo separado - existe o buscador e aquilo que é buscado. Aquilo que buscamos permanecerá como uma ilusão, que retrocede assim que nos aproximamos. 

Como disse Lao Tsé, 'moldamos a argila na forma de um pote, mas é o vazio interior que retém o que desejamos. Cortamos madeira para fazer uma casa, mas é o espaço interior que a torna habitável. Trabalhamos com o ser, mas o não-ser é o que usamos'.

Eckhart Tolle, no livro O Poder do Agora, diz que o Ser está em cada forma como sua essência mais íntima e indestrutível. É a nossa inabilidade para sentir essa conexão que dá origem à ilusão da separatividade. Não podemos tentar compreendê-la com a mente; só podemos 'pegá-la' quando a mente está quieta. Quando nossa atenção está totalmente no momento presente é possível sentir a conexão com o todo."

(Christine Lowe - A miragem do Graal - Revista Sophia, Ano 2, nº 6 - p. 14)


sexta-feira, 21 de abril de 2017

O CAMINHO ESPIRITUAL

"Na obra do mestre sufi Rumi, Conversa à Mesa, há esta passagem veemente e mordaz:

O mestre disse que há uma coisa neste mundo que nunca deve ser esquecida. Se vocês esquecerem todo o resto, mas não esquecerem dela, não haverá motivo para preocupação; por outro lado, se forem atentos, dedicados e competentes em relação a tudo mais e esquecerem essa coisa, não terão feito de fato absolutamente nada. É como se um rei houvesse enviado vocês a um país para cumprirem uma tarefa especial. Vocês vão para o tal país e executam cem outras tarefas, mas se não realizaram aquela para a qual foram mandados é como se não tivessem feito nada mesmo. Desse modo, o homem veio ao mundo para uma tarefa particular, que é o seu objetivo. Se ele não a leva a cabo, nada terá realizado.

Todos os mestres espirituais da humanidade nos disseram a mesma coisa, que a finalidade da vida na terra é obter a união com a nossa natureza fundamental e iluminada. A 'tarefa' que o 'rei' nos designou, enviando-nos a esse país estranho e obscuro, consiste em realizar e encarnar o nosso verdadeiro ser. Só há um modo de fazer isso: é empreender a jornada espiritual, com todo ardor, inteligência, coragem e decisão para a transformação que pudermos reunir. Como disse a Morte para Nachiketas no Katha Upanixade:

Há o caminho da sabedoria e o caminho da ignorância. Eles são muito distantes um do outro e levam a diferentes direções... Vivendo em meio à ignorância, pensando que são sábios e instruídos, os tolos vão a esmo, daqui para lá, como cegos guiados por cegos. O que existe além da vida não brilha para os que são infantis, descuidados ou iludidos pela riqueza."

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 171/172


domingo, 9 de abril de 2017

MAESTRIA DA VIDA POR UMA DIGNIDADE SILENCIOSA

"Quem de boa vontade carrega o difícil,
Supera também o menos difícil.
Quem sempre conserva a quietude,
É senhor também da inquietude.
Por isto, o sábio carrega de boa mente
O fardo da sua jornada terrestre.
Nunca se deixa iludir
Por deslumbrantes perspectivas.
Trilha com tranquila dignidade
O seu solitário caminho.
O homem profano, porém,
Que se derrama pela vida superficial,
Dissolve com sua leviandade
A solidez da sociedade;
Destrói com sua inquietude 
A quietudo do reino,
Destrói também o seu próprio Reino.

EXPLICAÇÃO: O valor não está em atos, mas na atitude; não está no dizer ou no fazer, mas no Ser. O Ser é a fonte; o fazer e o dizer são apenas canais, cujo conteúdo não existe por si, mas graças à fonte."

(Lao-Tse - Tao Te King, O Livro Que Revela Deus - Tradução e Notas de Huberto Rohden - Fundação Alvorada para o Livro Educacional, Terceira Edição Ilustrada - p. 80/81)

sábado, 18 de março de 2017

SEXO E AMOR (1ª PARTE)

"Por que o sexo é, para a maioria de nós, uma questão cheia de conflitos? Por que se tornou um fator dominante em nossa vida? Uma das razões principais é porque não somos criativos, e não o somos porque toda a nossa cultura social e moral, assim como nossos métodos educativos, baseiam-se no desenvolvimento do intelecto.

A solução para o problema do sexo está em compreender que a criação não é efeito da atividade intelectual. Ao contrário: só pode haver criação quando o intelecto está inativo. A mente, como tal, só é capaz de repetir, de lembrar. Como, em geral, nós só experimentamos as coisas por meio do cérebro, vivemos exclusivamente de palavras e repetições mecânicas. Isso, evidentemente, não é criação. Visto que não somos criativos, o único meio de criação que nos resta é o sexo. O sexo é um desejo da mente, e o que é da mente exige satisfação, pois, do contrário, vem a frustração.

Nossos pensamentos são na maioria das vezes áridos e vazios. Emocionalmente, estamos em estado de inanição; religiosa e economicamente nos submetemos à disciplina e ao controle. Não somos verdadeiramente felizes, não temos real vitalidade; no lar, nos negócios, na igreja, na escola, não experimentamos um 'estado de ser' criador, não há um desafogo profundo em nossos pensamentos e ações. 

Como estamos presos e tolhidos por todos os lados, o sexo se torna naturalmente a única via de escape, uma experiência que temos de buscar continuamente, porque nos oferece, por um instante, aquele estado de felicidade que se manifesta na ausência do 'eu'. Não é o sexo que constitui um problema, mas o desejo de recobrar o estado de felicidade, de alcançar e conservar o prazer, seja sexual ou não.

O que na verdade buscamos é a intensa emoção do autoesquecimento. Como o 'eu' é uma fonte de sofrimento, desejamos esquecer de nós mesmos e buscamos agitação individual ou coletiva, formas um tanto grosseiras de sensação. Quando buscamos fugir do 'eu', os meios de fuga tornam-se importantes e passam a ser problemas. Enquanto não percebemos os obstáculos ao viver criador, que significa viver livre do 'eu', não compreenderemos o problema do sexo. (...)"

(J. Krishnamurti - Sexo e amor - Revista Sophia, Ano 7, nº 26 - p. 24)


sábado, 11 de março de 2017

O CAMINHO PARA O EGO⁶

"Comecemos por pensar acerca de nós mesmos e vejamos o que nos vem à mente. Resultará que cada qual, naturalmente, pensará de si tal como aparece fisicamente, como se vê no espelho, com o rosto que lhe é familiar e chamando-se pelo nome que é seu no presente. Essa é a primeira ilusão que se tem de fazer desvanecer, pois enquanto pensarmos em nós crendo que somos o corpo físico, continuaremos identificados com esse corpo; e isso é precisamente o que não devemos fazer.

Ao identificar-nos com o corpo físico ou com a sua contraparte sutil, o corpo etérico, nos escravizamos aos seus desejos e condições de existência. Por conseguinte, nosso corpo físico irá se contrapor a qualquer alteração nas circunstâncias a que está sujeito e seguirá seu próprio caminho, em vez do nosso. O resultado será debilidade, má saúde e certa indolência ou embotamento do corpo, que o incapacita de responder ao Ser interior."

Ego, Eu Superior ou Alma humana são sinônimos que se referem a Atma-Buddhi-Manas ou Alma humana reencarnante, conforme menciona Helena Petrovna Blavatsky em A Chave para a Teosofica (Ed. Teosófica, Brasília, 1991).

(J. J. Van Der Leeuw - Deuses no Exílio - Ed. Teosófica, Brasília, 2013 - p. 23)


segunda-feira, 6 de março de 2017

OS RÓTULOS E A ESSÊNCIA (1ª PARTE)

"Colocar rótulos é uma especialidade da mente. Assim que nascemos nossos pais correm ao cartório e nos colocam um rótulo: 'João da Silva'. Outros virão depois: RG, CPF, títulos acadêmicos, patente militar, cargo político. Num dos símbolos de subjugação da mulher ao homem, como sua propriedade, ela - ao casar-se - adota o rótulo dele. 

A memória depende de elementos comparativos, imagens, rótulos e definições para exercer seu trabalho, mas a consciência não. Ela é a natureza do ser, algo que não pode ser definido, medido ou pesado, apesar de o chamarmos de Deus ou de Cristo interno. Uma pessoa com amnésia perde a bagagem de memória, e com ela os dados acumulados que sustentam a noção do eu, a partir do seu nome. Se alguém lhe perguntar 'Quem é você?', ele dirá: 'Não sei', mas continuará desfrutando o ser. 

Rótulos também são conferidos pela posse de bens e pelo status social. Mas quem somos nós? Parece que quanto mais rótulos nos são acrescentados ao longo da vida mais difícil fica responder a essa questão. Até na lápide funerária os rótulos estão presentes, subtraindo à morte sua posse legítima: 'Aqui jaz Fulano de Tal'. Quem é o morto? A pessoa está ali?

Tomamos a casca pela essência, a palavra pela coisa. Definições dão segurança, mas nada acrescentam quanto à realidade das coisas, aquilo que 'é'. Ao contrário, criam dependências, obscurecem. 'Existe uma insegurança muito sutil em nosso inconsciente com relação a tudo que não nos é familiar', diz Sandra Galeotti (Em Karma e Dharma, Ed. Aquariana). (...)"

(Walter Barbosa - Os rótulos e a essência - Revista Sophia, Ano 7, nº 28 - p. 18)


domingo, 26 de fevereiro de 2017

O ESTADO ANORMAL DE SEPARATIVIDADE

"Dificilmente nos ocorre a ideia de refletirmos nos persistentes e excelsos esforços que todos temos de desenvolver para manter a ilusão de nossa personalidade separada. Durante todo o dia temos que nos afirmar, defender nossa adorada individualidade de todo ataque, cuidar que não seja ignorada, desrespeitada, ofendida ou, de qualquer forma, que lhe seja negado o reconhecimento que sentimos lhe é devido. Além disso, em tudo que almejamos para nós mesmos, procuramos vigorizar nossa personalidade separada pela aquisição dos objetos desejados.

É através da identificação de nosso verdadeiro Ser espiritual com os corpos temporários pelos quais se manifesta que nasce a ilusão de nosso eu separado. É como se a consciência do verdadeiro Ser ou Ego fosse esticada para dentro dos corpos, e lá fosse presa e torcida de tal maneira a formar uma esfera separada de consciência, centrada em volta dos corpos a que está aderida. Esse, porém, não é um estado normal, mas essencialmente anormal e não natural. Do mesmo modo, poderíamos dizer que seria normal e natural esticar uma faixa de borracha por uma de suas pontas e aderir a superfície assim formada a um objeto fixo. Entretanto, essa aderência seria anômala, pois o momento em que separássemos a borracha do objeto, a faixa de borracha recobraria seu formato natural e harmonioso. De maneira similar, só necessitamos liberar nossa consciência dos corpos aos quais a aderimos. Precisamos apenas renunciar à ilusão de separatividade, que tão ternamente acariciamos de contínuo, para que a porção de consciência que constitui a personalidade separada se reintegre automaticamente ao Eu Superior, ao nosso verdadeiro Ser.

Muito se fala do esforço e da força necessários para alcançar a consciência espiritual; mas que consideração é dada à tensão e ao empenho necessários para manter a ilusão de separatividade? É verdade que nós nem percebemos que a mantemos; tornou-se uma segunda natureza para nós afirmar nossa personalidade à custa do que nos rodeia, para adquirir o que desejamos e conservar o que temos. E, como consequência, não nos apercebemos do gigantesco esforço necessário para essa autoafirmação e engrandecimento de nossa personalidade. No entanto, ele está lá.

Então, nos livramos, mediante um resoluto empenho da Vontade, da potente superstição que nos mantém escravizados aos mundos da matéria e nos impede de reconhecer o que verdadeiramente somos; e reconheçamos, asseguremos e mantenhamos nossa divindade. Não há orgulho nem separatividade nessa afirmação, já que a tônica desse mundo no qual entramos dessa forma, nosso verdadeiro mundo, é a unidade; e condições como vaidade e orgulho pessoal não podem existir em tal atmosfera. O orgulho é uma planta que só pode florescer nas regiões mais grosseiras dos mundos da matéria; e tudo isso necessariamente deixa de existir desde o momento em que entramos em nosso verdadeiro Lar.

Somente libertando nossa consciência da escravidão dos corpos, reconhecendo os poderes que todos temos como Ser divino ou Ego, e finalmente nos negando a envolver de novo na teia da existência material, é que poderemos alcançar aquilo a que nos propusemos - a libertação da dolorosa e esgotante luta entre o Eu Superior e o eu inferior, que envenena a vida de tantos fervorosos aspirantes; ou seja afastando o inferior da Iniciação do Ser Superior."

(J.J. Van Der Leeuw - Deuses no Exílio - Ed. Teosófica, Brasília, 2013 - p. 20/22)


sábado, 18 de fevereiro de 2017

KARMA INDIVIDUAL E KARMA COLETIVO (3ª PARTE)

"(...) Tendo considerado, de uma forma geral, a mútua interação de todos os seres humanos, e como a única forma de servir a Deus é servir o Homem — o Filho de Deus — agora iremos considerar os seis Grupos.

1. Karma Conjugal. O marido e a mulher partilham, cada qual, do Karma do outro, mas isso se dá especial­mente assim quando existe perfeita união entre marido e mulher, porque seus respectivos karmas podem mesclar-se, tanto mais se a união existiu em vidas passadas, como marido e mulher ou como amigos, e assim eles compar­tilham das alegrias e desgostos um do outro, sentindo da mesma maneira os interesses um do outro. Numa união espiritual do mais puro amor, o laço, uma vez feito, nun­ca mais é rompido, e duas almas assim ligadas serão tra­zidas de volta, vida após vida, embora não obrigatoria­mente como marido e mulher. Podem voltar como ami­gos íntimos. Essa doutrina do Karma Conjugal deu nas­cimento, na Índia e em partes da China, ao 'sutee', a autoimolação de uma fiel viúva sobre a pira funeral do ma­rido. Um triste costume, que felizmente está morrendo, porém que, não obstante, mostra uma alma de nobre elevação na mulher que o seguia e uma grande fé no en­contro após a morte. É uma pena que essa nobre quali­dade não pudesse ser transformada na paciência maior que o conhecimento do Karma deveria causar, e que a ensinaria a esperar o dia da morte, em vez de determiná-lo por si mesma. Não apenas no Oriente, mas também no Ocidente, tem acontecido com frequência que o so­brevivente perca todo o gosto pela vida, e a dor e o cora­ção despedaçado abram uma sepultura depressa demais. Quantos suicídios têm resultado de um amor perdido! O conhecimento da Lei do Karma tende a abrandar esses males e a tornar a vida mais suportável, mostrando que o dia do reencontro é mais bem determinado pelo Kar­ma, que atua pelo amor de Deus, e não por qualquer ato autossugerido, que, afinal, é egoístico. Existe grande nú­mero de pessoas cuja vida seria mais animada por um pouco de amor, e há espaço para o trabalho do enlutado. Assim é que eles podem adoçar sua perda, e mostrar que o amor por uma pessoa não obscurecia o amor pelo Se­nhor do Amor. (...)"

(Irmão Atisha - A Doutrina do Karma - Ed. Pensamento, São Paulo - p. 31


domingo, 29 de janeiro de 2017

O UNIVERSO TRANSCENDENTE E IMANENTE

"Quem admite um Deus-pessoa, um Deus individual, não pode, logicamente, admitir um Deus onipresente (ou imanente), porque qualquer realidade individualizada se acha localizada em determinado ponto do espaço; só um Deus universal é que pode ser um Deus onipresente. Vida individualizada só pode existir em determinados veículos individuais; mas a Vida Universal é uma realidade onipresente.

A Realidade ou Vida Universal, o Deus Transcendente (Divindade), é chamada na filosofia oriental o 'Brahman Imanifesto' - ao passo que a Realidade ou Vida Individual, o Deus Imanente, e apelidade de 'Brahman Manifesto' ou o Brahma, que no homem se chama 'Atman'. Esse 'Brahma' ou 'Atman' corresponde ao 'Lógos' dos filósofos gregos, termo que, através do autor do quarto Evangelho, entrou no Cristianismo Cósmico: 'No princípio era o Lógos, e o Lógos estava com Deus, e o Lógos era Deus... Nele estava a Vida, e a Vida é a Luz dos homens; a Luz brilha nas trevas, e as trevas não a prenderam... E o Lógos se fez carne e ergueu habitáculo em nós, cheio de graça e de verdade; e da sua plenitude todos nós recebemos'.²

Carl G. Jung chama a Realidade Imanifesta ou Deus Transcendente, o 'Inconsciente'. Victor E. Frankl escreveu um livro sobre o 'Deus Inconsciente' (Der Unbewusste Gott), entendendo com esta palavra o elemento divino no homem, para além da barreira do seu consciente.

Convém, todavia, não identificar esse 'Inconsciente' com a ausência do 'Consciente', mas sim com a ilimitada plenitude do 'Consciente'. Deus, a Divindade, é o grande 'Inconsciente' do ponto de vista do nosso limitado 'Consciente' humano, individual; mas em si mesmo é esse 'Inconsciente' o 'Oniconsciente', da mesma forma que a Infinita Plenitude da Realidade é, para a nossa limitada percepção, a Infinita Vacuidade do Irreal. Quem fita em cheio o globo solar não enxerga luz, mas treva - treva por excesso de luz, porque a retina visual sucumbe ao veemente impacto da luz solar, não reagindo à ação da mesma. 'Ninguém pode ver a Deus (Divindade) e ainda viver'. Nenhum ser individualmente realizado pode ser o Ser Universalmente Real. o consciente individual não registra a presença da Divindade, cuja Plenitude lhe é Vacuidade.

O 'Ente Absoluto', que 'é', não pode ser verificado por nenhum 'Existente Relativo', que apenas 'existe', precisamente porque 'ex-siste', quer dizer 'colocado para fora', produzido como efeito. O 'Ente Absoluto' simplesmente 'é', ou 'siste', e por dizer de si mesmo 'Eu sou o que sou', eu sou o 'Ser', o 'Yahveh', palavra hebraica para 'Ser'. O que teve princípio e pode ter fim não 'é', mas apenas 'existe'; só o Eterno, o Absoluto, o Todo, o Universal, o Ser 'é', e nunca pode deixar de ser, porque a sua íntima e indestrutível essência é ser. Nós, e todas as creaturas, existimos precariamente, e poderíamos também não existir, porque como creaturas não 'somos', mas apenas 'existimos'. A Divindade, porém, 'é' com infinita necessidade e veemência, e nunca pode deixar de ser."

² O 'Brahma' seria o Lógos pré-encarnado, o Cristo Cósmico - ao passo que o 'Atman' seria o Lógos encarnado, o Cristo Telúrico, o Cristo Jesus.

(Huberto Rohden - Setas para o Infinito - Ed. Martin Claret, São Paulo, 2004 - p. 46/48)


quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

O FIM DA ILUSÃO DO TEMPO

“A chave do segredo está em acabar com a ilusão do tempo. O tempo e a mente são inseparáveis. Tire o tempo da mente e ele para, a menos que você escolha utilizá-lo.

Estar identificado com a mente é estar preso ao tempo. É a compulsão para vivermos quase exclusivamente através da memória ou da antecipação. Isso cria uma preocupação infinita com o passado e o futuro, e uma relutância em respeitar o momento presente e permitir que ele aconteça. Temos essa compulsão porque o passado nos dá uma identidade e o futuro contém a promessa de salvação e de realização. Ambos são ilusões.

Quanto mais nos concentramos no tempo, no passado e no futuro, mais perdemos o Agora, a coisa mais importante que existe.

Porque o Agora é a coisa mais importante que existe? Primeiramente porque é a única coisa. É tudo o que existe. O eterno presente é o espaço dentro do qual se desenvolve toda a nossa vida, o único fator que permanece constante.. A vida é agora. Nunca houve uma época em que a nossa vida não fosse agora, nem haverá.

Em segundo lugar, o Agora é o único ponto que pode nos conduzir para além das fronteiras limitadas da mente. É o nosso único ponto de acesso para a área atemporal e amorfa do Ser.

Você alguma vez vivenciou, realizou, pensou ou sentiu alguma coisa fora do Agora? Acha que conseguirá algum dia? É possível alguma coisa acontecer ou ser fora do Agora? A resposta é óbvia, não é mesmo?

Nada jamais aconteceu no passado, aconteceu no Agora. Nada jamais irá acontecer no futuro, acontecerá no Agora.

A essência dessas afirmações não pode ser compreendida pela mente. No momento em que captamos a essência, ocorre uma mudança na consciência, que passa a desviar o foco da mente para o Ser, do tempo para a presença. De repente, tudo parece vivo, irradia energia, emana do Ser.”

(Eckhart Tolle - Praticando o Poder do Agora - GMT Editores Ltda., Rio de Janeiro - p.28/29)


segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

SOFRER OU CRESCER (PARTE FINAL)

"As coisas mundanas não podem nos dar esse tesouro, mas a desilusão que elas provocam, sim. Isso ocorre na medida em que, 'des-iludidos', partimos ao encontro do ser, tornando o insucesso material uma alavanca para o espírito. Por meio da inteligência evolutiva, a insaciedade do ego acaba provocando sua destruição.

Enquanto não chegamos lá, porém, o sofrimento domina. Diante dele, rebelar-se ou crescer? Rebelar-se é não aceitar o sofrimento, negá-lo, buscar culpados ou substitutos, anestesiar-se com drogas e outros recursos de fuga. Quando a aceitação não acontece, a causa do sofrimento segue desconhecida, aumentando o problema. 

Nós fortalecemos tudo aquilo a que resistimos. Aceitar não significa, porém, desistir da mudança. Ao contrário, quando olhamos a situação com receptividade, a raiz do problema - de base mental, incluindo desejos insatisfeitos - vem à tona, sugerindo uma ação harmonizadora que brota das profundezas do ser e extinguindo o problema. A razão é simples: pusemos consciência nele, expandindo a vida espiritual - às vezes até descobrindo que nunca existiu um problema. A escuridão não suporta a luz.

Eckhart Tolle nos dá uma chave ao dizer que a escuridão é passiva e a luz é ativa. Quando iluminamos um quarto escuro não é a escuridão que sai, é a luz que entra. Por isso, Blavatsky diz que o mal não tem existência própria, é apenas ausência do bem.

Somente de cada um de nós depende manter ou eliminar a realidade do sofrimento, crescendo no processo. Sofrer ou não é escolha nossa. Frequentemente, porém, dando razão a Tolle, escolhemos sofrer - como nas situações de ódio mantidas por longo tempo -, gerando o paradoxo de arruinar a vida com nosso próprio veneno."

(Walter S. Barbosa - Sofrer ou crescer - Revista Sophia, Ano 13, nº 55 - p. 06/07)


quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

A GRADUAL MUDANÇA DE ATITUDE (PARTE FINAL)

"(...) De fato, uma pessoa se torna progressivamente consciente da alma das coisas em lugar do corpo das coisas e assim ocorre gradativamente uma mudança correspondente dos valores. P. W. Martin, em Experience in Depth (Experiência em Profundidade), num relato de seu mergulho nas profundidades de seu subconsciente, diz que, uma vez atingido o Centro, tem lugar uma mudança fundamental na atitude do homem em relação aos acontecimentos externos, ao relacionamento com os outros, às suas fontes de ação e à sua perspectiva final, e que esta mudança não é nem resignação nem otimismo fácil. 'É a visão das coisas deste mundo em seu aspecto eterno, do mesmo modo que na forma que aparece externamente. O homem que tenha encontrado seu caminho para essa visão interior sabe que deve e pode acreditar no processo, desde que sua atitude seja a apropriada'. 

Jung denomina esta mudança de atitude em relação aos acontecimentos externos como a experiência do Tao, cujo espírito é corporificado na expressão de São Paulo: 'Todas as coisas trabalham juntas em benefício daqueles que amam a Deus'. Encontramos também nas palavras de Jó: 'Ainda que ele venha me matar, mesmo assim acreditarei Nele', e na bela frase de Dante no Paraíso: 'Em Sua Vontade está nossa paz'. 

O relacionamento com os outros também se altera. A maior parte do contato pessoal é por intermédio da persona ou máscara, o que significa nenhum contato. O relacionamento em profundidade é diferente. É um encontro numa 'outra dimensão espiritual', nas 'coisas que são eternas', do mesmo modo que no mundo externo. Aqui o 'ser real' de uma pessoa fala ao 'ser real' da outra."

(Clara Codd - A Técnica da Vida Espiritual - Ed. Teosófica, Brasília, 2013 - p. 70/71)
www.editorateosofica.com.br


terça-feira, 22 de novembro de 2016

A GRANDE ILUSÃO (PARTE FINAL)

"(...) Espaço, tempo e eu tornam-se todos ilusórios, aparentemente essas coisas constituem um triângulo de ilusão. Torna-se óbvio agora que, antes que possamos esperar compreender a natureza dessas ilusões, temos que buscar uma inteligência não afetada por elas, que possa, por assim dizer, abordar as extensões de nosso problema a partir de uma nova dimensão. A ciência oculta mostra-nos exatamente a existência desta possibilidade. À luz desta inteligência, que jaz incrustada em cada ser humano como um germe não desenvolvido, seu eu, como ele o conhece aqui embaixo, é apenas uma clausura de sombras, que ele busca manter e fortificar por todo meio psicológico em seu poder. Antes que possa compreender a natureza de tempo e espaço, em termos diferentes dos símbolos matemáticos, ele tem de preparar em si um estado de consciência que será capaz de captar impressões novas dos fenômenos que as constituem, e ler sua importância não afetada por modos prévios de as compreender. 

Haverá de ser um estado de consciência no qual a faculdade de cognição esteja livre da servidão do apego às suas próprias percepções prévias, livre de qualquer ímpeto de uma inércia que imperceptivelmente a transporta sobre os limites de nova percepção direta, dependendo do contato entre sujeito e objeto de momento a momento. Terá de ser uma faculdade tão sutil que não aceite conexão entre ponto e ponto, no tempo ou no espaço, que ela não consiga perceber diretamente ou verificar por si mesma.

Uma percepção tão viçosa, penetrante e iluminada só é possível a uma consciência que tenha dissipado as trevas que envolvem a prisão de suas próprias limitações. Somente quando a natureza da limitante entidade pessoal é compreendida é que a faculdade de cognição, retirada de seus embaraços, estará suficientemente refinada ou suficientemente pura para compreender até mesmo o mais longínquo aspecto dessa relação eterna entre ser e não ser, que constitui a essência da manifestação."

(N. Sri Ram - O Interesse Humano - Ed. Teosófica, Brasília, 2015 - p. 45/46)