OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


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quinta-feira, 13 de junho de 2019

O HOMEM PERFEITO

"Quando um homem é perfeito, ele vê a perfeição nos outros. Quando vê a imperfeição, é sua própria mente que ele projeta. Como pode ver a imperfeição a não ser que ele próprio a tenha dentro de si? É por isso que o jnani não se preocupa com perfeição; é algo que não existe para ele. Assim que se torna livre, não vê o bem nem o mal. Quem vê o bem ou o mal? Quem os têm em si mesmo. Quem vê o corpo? Quem pensa que é o corpo. No momento em que se livra da ideia de que é o corpo, você não mais vê esse mundo, que desaparece para sempre. O jnani procura livrar-se dos laços que o prendem à matéria, pela força da convicção intelectual. Percorre o caminho negativo - neti, neti - 'isto não, isto não.'"

*Jnani - é aquele que atingiu a liberação enquanto vivo, aqui e agora. (Ramana Maharshi)

(Swami Vivekananda - O que é Religião - Lótus do Saber Editora, Rio de Janeiro, 2004 - p. 145)


segunda-feira, 9 de abril de 2018

A CRÍTICA (PARTE FINAL)

"(...) Nós também devemos desenvolver a faculdade crítica; mas para criticar-nos a nós mesmos, e não aos outros.  

Toda questão tem sempre dois lados, geralmente mais do que dois. Kritein significa julgar; por conseguinte, a crítica será inútil, e só poderá fazer mal, se não for absolutamente serena e judiciosa. Não é um ataque selvagem ao oponente, mas um pesar plácido, sem preconceitos, de razões pró e contra determinada opinião ou curso de ação. Podemos decidir de um jeito, mas precisamos reconhecer que outro homem, de intelecto igual, pode dar ênfase a outro aspecto da questão e, por conseguinte, decidir de maneira totalmente diversa. E, todavia, ao decidir dessa feição, ele pode ser tão bom, tão justo e tão honesto quanto nós.

Entretanto, poucos o reconhecem; poucos protestantes cabeçudos acreditam realmente que os católicos sejam homens bons; poucos radicais convictos e apaixonados acreditam realmente que um velho fidalgo Tory possa ser tão bom e tão sincero quanto eles, e tenta honestamente fazer o que julga ser sua obrigação!

Quando um homem toma uma decisão diferente da nossa, não precisamos fingir concordar com ele, mas precisamos creditar-lhe boas intenções. Uma das piores características da vida moderna é a sua ansiosa presteza para acreditar no mal - o seu hábito de procurar, deliberadamente, a pior interpretação concebível que se pode dar ao que quer que seja. E essa atitude é péssima quando adotada em relação aos que nos ajudaram, a quem devemos agradecimentos pelos conhecimentos ou inspiração recebidos. Lembremo-nos das palavras do Mestre: 'A ingratidão não é um dos nossos vícios.' É sempre um erro entregar-nos loucamente à crítica aos que sabem mais do que nós; é mais correto esperar e repensar o assunto, esperar e ver o que o futuro nos trará. Apliquemos a prova do tempo e do resultado: 'Pelos frutos os conhecereis.' Tomemos por regra pensar o melhor de cada homem; façamos o nosso trabalho e deixemos os outros em liberdade para fazerem o seu."

(C. W. Leadbeater - A Vida Interior - Ed. Pensamento, São Paulo, 1999 - p. 97/98)


quarta-feira, 14 de março de 2018

COM SABEDORIA E DISCERNIMENTO, RESGATE SUA LIBERDADE

"Resgate sua liberdade. Você consegue cumprir as decisões que toma? Se não consegue, está preso ao karma. Mas se tem conseguido fazer o que se propõe a fazer, guiado pelo discernimento - e não pelas influências do karma passado ou presente -, então isto é liberdade. Julgue tudo de acordo com o ponto de vista do discernimento e da sabedoria. Não permita que suas ações sejam governadas pelo hábitos nem pela obediência cega aos costumes sociais ou ao que as outras pessoas pensam. Seja livre.

De vez em quando você vê uma pessoa livre - alguém que não vive a vida dos outros, que é livre porque suas ações só são influenciadas pela sabedoria. Esta é a marca da grandeza de Mahatma Gandhi. Quando ele foi à Inglaterra e visitou o casal real, não se vestiu formalmente como era o costume. Foi recebido pelos reis usando uma simples tanga de pano e um xale, como se usava nas aldeias indianas. Ele desfruta de grande liberdade porque vive seus ideais e não está preso aos costumes da sociedade.

Sempre que você fizer alguma coisa, pergunte a si mesmo se é só por causa do que os outros podem pensar de você ou se é porque está seguindo a sabedoria e o discernimento. Este é o critério que uso para agir. Mesmo como americanos nascidos livres vocês não conhecem a verdadeira liberdade. Muitos acham que fazer o que querem é a liberdade - mas a verdadeira liberdade está em fazer o que se deve fazer no momento em que aquilo deve ser feito. Do contrário você é um escravo. Seja influenciado apenas pela sabedoria. Se não conseguir isso, permanecerá escravo por séculos de encarnações.

Agora, seguir a verdade não quer dizer que você precia atacar os outros com suas convicções. Compartilhe a verdade somente quando for pedida ou bem-vinda. Do contrário, aprenda a ficar em silêncio, mantenha suas opiniões para si mesmo. Mas quando achar que deve falar, fale. Enfrente o mundo inteiro, se necessário. Galileu afirmou que a Terra gira em torno do Sol e foi crucificado por isto. Posteriormente se descobriu que ele estava certo. Mas nunca faça nada só por orgulho; isto o fará cair."

(Paramahansa Yogananda - Jornada para a Autorrealização - Self-Realization Fellowship - p. 234/235)


quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

PARADOXOS

"Reconhecemos todos que a proposta de Cristo e de todos os grandes Mestres e Encarnações Divinas são evidentes paradoxos.

Vejamos:

É dando que enriquecemos.

É humildando-nos que realmente crescemos.

Renunciando é que conseguimos alcançar.

Morrendo é que vivemos para a vida eterna.

Quem quer salvar sua vida perdê-la-á.

Ao dar a outra face - igualzinho a Gandhi - é que vencemos a batalha.

Tornando-nos servos do Senhor é que podemos viver a mais perfeita e irrestrita liberdade.

Voltando a ser crianças, alcançamos a plena maturidade.

Quem usa a violência sempre sairá vencido.

Para a horizontalidade da lógica - a tão incensada lógica humana - tudo isto é absurdo.

É com absurdos que Eles preferem acordar os surdos.

Que nos ajude, Senhor, a ter 'ouvidos de ouvir'."

(Hermógenes - Deus investe em você - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1995 - p. 196/197)


quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

O RIO DA VIDA (PARTE FINAL)

"(...) Temos nosso interesse na família, no trabalho, no dinheiro. Há pessoas que querem que suas famílias herdem não apenas seus bens, mas também seus interesses; um comerciante, por exemplo, quer que seu negócio seja interessante para seus sucessores. É a isso que chamamos de vida, mas essa vida, como assinala nossa metáfora, é apenas uma pequena poça ao lado do grande rio. Todos nós temos os mesmos tipos de interesses e os mesmos objetivos, mas poucas pessoas compreendem que suas vidas têm muita pouca importância. Mesmo que uma pessoa seja realmente importante durante seu período de vida, logo vai deixar de sê-lo. Perdemos esse senso de importância quando vemos que há coisas maiores, que são universais. 

Esse sentimento só surge quando, vida após vida, o sendo de 'egoidade' perde significado. Este é todo o propósito de nossas vidas - perder o senso de limitação. Então a pessoa atinge o estado de negar tudo que esteja no nível da divisibilidade. Na filosofia hindu há um caminho que leva à negação das coisas às quais somos apegados. Há uma questão de abstinência, mas não no nível físico, e sim do que acontece na mente. Isso é o que verdadeiramente significa samnyasa, porque internamente, mentalmente, a pessoa não está apegada a nada. É uma questão de existir sem apego. Isso é muito difícil, pois em relação à família, por exemplo, ou onde quer que haja afeição, a pessoa sente que deve haver apego. Mas não pode ser afetuoso apegando-se a alguém; ter afeição é deixar a pessoa livre.

Além da negação, também é importante a contemplação. Se a pessoa não contempla, não vai a lugar algum. A contemplação é necessária para perceber a vastidão do universo, sua profundidade e sacralidade. Não é o pensamento que leva à compreensão de que existe algo além de nós, algo pelo qual devemos desistir de tudo que desfrutamos.

Existe um caminho real que leva às profundezas da vida sobre a qual não sabemos muito. Através da negação e da contemplação, é possível alcançar algo que está além. Primeiro temos que negar todas as coisas que penetram em nosso cérebro. Quando todo esse tipo de pensamento termina, existe uma pura contemplação do que está além. Então, há uma nova vida."

(Radha Burnier - O rio da vida - Revista Sophia, Ano 15, nº 66 - p. 20/21)


quarta-feira, 15 de novembro de 2017

O EFEITO DA PROVAÇÃO

"Há leis morais fixas, assim como há leis físicas uniformes. Estas leis morais podem ser violadas pelo homem, dotado como é de sua individualidade e da liberdade que isso envolve. Cada violação se torna uma força moral na direção oposta àquela em que a evolução está seguindo, e é inerente ao plano moral. E pela lei de reação cada qual tem a tendência de evocar a operação da lei correta. Mas quando estas forças opositoras se acumulam e adquirem uma dimensão gigantesca, a força reacional necessariamente se torna violenta e resulta em revoluções morais e espirituais, em guerras santas, em cruzadas religiosas, e coisas assim. Expanda esta teoria, e você entenderá a necessidade do aparecimento de Avataras (encarnações divinas - NT) sobre a Terra. Quão fáceis se tornam as coisas quando os olhos da pessoa se abrem; mas quão incompreensíveis elas parecem quando a visão espiritual está fechada, ou é apenas vaga e primitiva. A Natureza, em sua infinita generosidade, providenciou para o homem, nos planos externos, símiles exatos de suas funções internas, e verdadeiramente aqueles que têm olhos para ver podem ver, e aqueles que têm ouvidos para ouvir podem ouvir. 

Quão intenso é o anelo de levar ajuda para a Alma sofredora, em suas horas de extrema provação e de treva acabrunhante. Mas a experiência mostra aqueles que passaram por ordálios semelhantes, e que é bom que eles não tenham, naqueles momentos, percebido a ajuda que não obstante é dada sempre, e que é bom que eles tenham sido oprimidos com um triste senso de solidão e de serem totalmente abandonados. Se fosse de outra forma, metade do efeito da prova seria perdido, e a força e conhecimento que seguem cada ordálio destes teriam de ser adquiridos através de anos de tentativas e tropeços. A Lei de Ação e Reação age em toda parte... Alguém que seja completamente devoto, isto é, alguém que em atos e pensamentos consagra todas as suas energias e todas as suas posses à Suprema Deidade, e percebe sua própria insignificância bem como a falsidade da ideia da separatividade - só para esta pessoa não se permite que os poderes das trevas se aproximem, e é protegida de todo perigo para sua Alma. A passagem no Gita em que você deve estar pensando deve ser interpretada como que ninguém que tenha o sentimento de devoção uma vez desperto em si pode falhar para sempre. Mas não há garantias para ele contra desvios temporários. Pois de certo modo todo ser vivo, desde o Anjo mais exaltado até o menor protozoário, está sob a proteção do Logos de seu sistema, e é levado através dos vários estágios e modos de existência de volta ao Seu seio, para lá desfrutar da beatitude de Moksha (libertação, extinção; equivale a Nirvana - NT) durante uma eternidade. (...)

(Annie Besant - A Doutrina do Coração - Ed. Teosófica, Brasília - p. 14/15)
Fontehttp://www.lojadharma.org.br/


segunda-feira, 16 de outubro de 2017

O PENSADOR PRECISA ENTENDER A SI MESMO (1ª PARTE)

"Certa vez me perguntaram por que meus ensinamentos são unicamente psicológicos, centrados na mente e seus afazeres, sem nenhuma teologia, ética, estética, sociologia ou ciência política. Isso acontece por uma razão muito simples. Se o pensador pode compreender a si mesmo, todos os problemas estão resolvidos. Ele é a criação e a realidade; tudo o que ele fizer será social.

A virtude não é um fim em si. Ela traz a liberdade, mas só pode existir liberdade se o pensador, que é a mente, deixar de existir. É por isso que temos que compreender os processos da mente, o ego, o eu e os desejos que criam o ego - minha propriedade, minha esposa, minhas ideias, meu Deus.

O pensador é confuso; por isso, suas ações são confusas. É também por isso que ele busca a realidade, a ordem e a paz. Por ser confuso e ignorante, ele quer o conhecimento; por estar cheio de contradições e conflitos, ele procura uma ética que o controle, guie e apoie.

Se eu, o pensador, puder compreender a mim mesmo, os problemas estarão resolvidos. Não serei antissocial; não explorarei os pobres para ser rico; não vou querer coisas e mais coisas, alimentando o conflito entre os que têm e os que não têm nada. Não pertencerei a uma casta, classe ou nacionalidade, porque não haverá separação entre os homens. Poderemos amar uns aos outros e sermos gentis.

Portanto, o que é importante não é a cosmologia a teologia ou a sociologia, mas compreender a mim mesmo: compreender o pensador. Mas será que o pensador é diferente de seus pensamentos? Se os pensamentos acabam, existe o pensador? A qualidade de pensar pode ser removida do pensador? Se ela for removida, o ego do pensador continuará a existir? (...)"

(J. Krishnamurti - O pensador precisa entender a si mesmo - Revista Sophia, Ano 2, nº 7 - p. 24)


quinta-feira, 12 de outubro de 2017

O MUNDO ASTRAL TEM MUITAS ESFERAS

"Quando acordamos de manhã, vemos que somos as mesmas pessoas que éramos antes de dormir. Igualmente, quando nós e nossos entes queridos acordamos no mundo astral, após a morte, somos exatamente os mesmos; só que, de modo geral, podemos ter uma aparência mais jovem e estar livres de doenças. 

Não nos tornamos anjos simplesmente por morrer. Se somos anjos agora, também o seremos no além. Se temos uma personalidade obscura e negativa, após a morte seremos do mesmo jeito. Assim como neste mundo existem favelas e paisagens bonitas, o mesmo acontece no outro mundo. Dependendo de como você viveu na Terra - se foi uma vida boa e pura ou má e feia - você irá para uma região melhor ou mais escura no mundo astral. Jesus falou dessas diferentes regiões: 'Na casa de meu Pai há muitas moradas'?⁷

Os planos astrais possuem várias atmosferas ou vibrações e cada alma que lá chega, proveniente da Terra, é atraída pela atmosfera que estiver em maior harmonia com sua vibração particular. Assim como os peixes vivem na água, os vermes abaixo do solo, o ser humano na superfície e os pássaros no ar, também as almas no mundo astral vivem na esfera que for mais adequada à sua vibração. Quanto mais nobre e espiritual for uma pessoa na Terra, mais elevada a esfera para a qual será atraída, e maior será sua liberdade, alegria e experiência de beleza.

Nos planetas astrais, os seres não dependem de ar ou eletricidade para existir; eles se alimentam de raios multicoloridos de luz. Há mais liberdade no mundo astral do que no mundo físico. Lá não há ossos para serem quebrados, pois não existem sólidos; tudo é feito de raios luminosos. E tudo é movido pelo poder do pensamento. Quando as almas no astral desejam fazer um jardim, basta querer, que o jardim se torna realidade, e ele aparece e permanece enquanto se quiser. Quando a alma quer que o jardim desapareça, ele se vai."

⁷ João 14:2.

(Paramahansa Yogananda - O Romance com Deus - Self-Realization Fellowship - p. 293/294)


sexta-feira, 25 de agosto de 2017

SER E ILUMINAÇÃO (PARTE FINAL)

"(...) Se for usada corretamente, a mente é um instrumento magnífico. Entretanto, quando a usamos de forma errada, ela se torna destrutiva. Para ser ainda mais preciso, não é você que usa a sua mente de forma errada. Em geral, você simplesmente não usa a mente. É ela que usa você. Essa é a doença. Você acredita que é a sua mente. Eis aí o delírio. O instrumento se apossou de você.

É quase como se algo nos dominasse sem termos consciência disso e passássemos a viver como se fôssemos a entidade dominadora.

A LIBERDADE COMEÇA quando você percebe que não é a entidade dominadora, o pensador. Saber disso permite observar a entidade. No momento em que você começa a observar o pensador, ativa um nível mais alto de consciência.

Começa a perceber, então, que existe uma vasta área de inteligência além do pensamento e que este é apenas um aspecto diminuto da inteligência. Percebe também que todas as coisas realmente importantes, como a beleza, o amor, a criatividade, a alegria e a paz interior, surgem de um ponto além da mente.

Você começa a acordar."

(Eckhart Tolle - Praticando o Poder do Agora - Ed. Sextante, Rio de Janeiro, 2005 - p. 15/16)


sábado, 19 de agosto de 2017

O MUNDO DO EGO (PARTE FINAL)

"(...) Se tivermos sucesso em desprender a consciência dos corpos, não haverá dificuldade em trazê-la de volta ao Ego, porque ela é realmente a consciência do Ego; e o mundo do Ego é nosso verdadeiro Lar.

Quando voltamos assim ao mundo do qual tanto tempo havíamos estado exilados, nossa primeira impressão é um predominante sentimento de júbilo e liberdade. Como quem estivesse preso por longos anos em um local onde os raios do Sol não pudessem penetrar e, ao sair livre, fosse ofuscado pela luz do exterior, assim nós, ao entrarmos em nosso próprio mundo após o longo exílio no cárcere da matéria, nos sentimos repletos da luz que nos rodeia e da libertação às limitações que nos restringiam. Aqui, nesse mundo, tudo é verdadeiramente luz e júbilo. O Ego em seu próprio mundo tem uma vida de tão incomparável bem-aventurança e graça que, mesmo que só vejamos aquele mundo uma única vez, já não voltaremos a cair vítimas do mundo de ilusão. Agora sabemos quem somos; vimos a nós mesmos em nossa divina beatitude no mundo que é nossa morada, e nenhum poder terreno será capaz de nos incitar a crer que somos os corpos. Quebrou-se o feitiço que nos fascinava, e pela primeira vez compreendemos a paz sem nenhuma luta.

É admirável quão simples se torna tudo subitamente quando entramos no mundo do Ego; e quão natural é, então, agir retamente. Nossa vida anterior se nos mostrava cheia de complicações, quase incompreensível em seus problemas. Uma vez que tenhamos nos atrevido a reconhecer o que verdadeiramente somos, cessa toda a luta, todo esforço é desnecessário; a vida se torna simples e natural, fluindo harmonicamente."

(J. J. Van Der Leeuw - Deuses no Exílio - Ed. Teosófica, Brasília, 2013 - p. 36)


terça-feira, 16 de maio de 2017

AMAR É CONHECER (1ª PARTE)

"O Oriente preocupa-se profundamento com a questão da liberdade do ser humano. Diferentemente de muitos povos modernos, os orientais não identificam a liberdade com dinheiro, compras, viagens etc. Eles se concentram em libertar-se das compulsões que surgem do interior. O homem moderno está obcecado pela ideia de se libertar de coisas externas supostamente desagradáveis, enquanto os Upanixades, os venerados textos hindus, proclamam que tanto a liberdade quanto a escravidão são interiores. A mente cria grilhões e depois imagina que eles são externos. Só quando compreende que os problemas que enfrenta são criados por ela mesma é que se torna livre.

Não há sinônimos exatos para liberdade no Oriente, mas é fácil ver o quanto os orientais pensam e falam a respeito desse assunto. Certas escolas de pensamento orientais, que têm como foco central algo que poderia ser descrito como autoentrega, têm em mente a liberdade como seu maior objetivo. Autoentrega pode significar, para algumas pessoas, uma devoção sentimental a alguma imagem, física ou criada pela mente. Mas na verdade autoentrega é abrir mão de si próprio, libertar-se dos grilhões interiores, como caminho para a realização espiritual.

Segundo o pensamento budista, a inteligência espiritual, que é inteligência da mais elevada ordem, não existe sem compaixão. Os budistas acreditam que compaixão e inteligência constituem a sabedoria. Se não há compaixão, então a inteligência não é espiritual, mas apenas intelectual; às vezes nada mais é que um tipo de esperteza. 

Annie Besant disse, numa de suas palestras, que o amor é uma forma de conhecer. Quando existe amor verdadeiro, não um apego passageiro, existe a possibilidade de se conhecer algo além do intelecto. O conhecimento está unido ao amor. (...)"

(Radha Burnier - Amar é conhecer - Revista Sophia, Ano 8, nº 31 - p. 25)


domingo, 7 de maio de 2017

IMPERMANÊNCIA (1ª PARTE)

"Não há lugar na Terra onde a morte não nos possa alcançar - mesmo que voltemos a cabeça uma e outra vez perscrutando em todas as direções, como numa terra estranha e suspeita. Se houvesse algum modo de conseguir abrigo contra os golpes da morte - não sou homem de recuar diante dela... Mas é loucura pensar que se pode vencê-la... Os homem vão, vêm, trotam e dançam, e nem um pio sobre a morte. Tudo parece bem com eles. Mas aí quando ela lhes chega e às suas mulheres, filhos e amigos, pegando-os de surpresa e despreparados, que tormentas de paixão os esmagam, que gritos, que fúria, que desespero!... Para começar a tirar da morte seu grande trunfo sobre nós, adotemos o caminho contrário ao usual; vamos privar a morte da sua estranheza, vamos frequentá-la, acostumarmo-nos a ela; não tenhamos nada senão ela em mente... Não sabemos onde a morte nos espera: então vamos por ela esperar em toda parte. Praticar a morte é praticar a liberdade. Um homem que aprendeu como morrer desaprendeu a ser escravo. (Montgaigne)
Por que é tão difícil praticar a morte e praticar a liberdade? E por que temos tanto medo da morte que evitamos por completo olhar para ela? De algum modo, no fundo, sabemos que é impossível evitar encará-la para sempre. Sabemos que, nas palavras de Milarepa, 'essa coisa chamada 'cadáver' que tanto nos apavora, vive conosco aqui e agora'. Quanto mais adiamos esse encontro, quanto mais o ignoramos, maior é o medo e a insegurança que surgem para nos perseguir.

A morte é um vasto mistério, mas há duas coisas que é possível dizer a seu respeito: é absolutamente certo que morreremos um dia, e é incerto quando e onde essa hora vai chegar. Então, a única certeza que temos é essa incerteza sobre o instante da nossa morte, a que nos agarramos para adiar encará-la diretamente. Somos como crianças que fecham os olhos no jogo do esconde-esconde e pensam que assim ninguém pode vê-las. 

Por que vivemos em tal pavor da morte? Porque nosso desejo instintivo é viver e seguir vivendo, e a morte é um selvagem fim de tudo que nos é familiar. Sentimos que quanto ela vem somos lançados em alguma coisa realmente desconhecida, ou nos tornamos algo totalmente diferente. Imaginamos que estaremos perdidos e confusos, em algum lugar terrivelmente estranho. Imaginamos que será como acordar sozinhos, numa tormenta de ansiedade, num país estrangeiro, sem conhecimento da terra ou da língua, sem dinheiro, contatos, passaporte, amigos... (...)"

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 34/35)
www.palasathena.org



sexta-feira, 31 de março de 2017

COMPREENDER, COMPARTILHAR E AMAR (2ª PARTE)

"(...) O que é compartilhar? Será doar coisas de que não mais precisamos, a sobra da nossa fartura? Kahlil Gibran diz, no livro O Profeta: 'Você doa apenas um pouco quando doa de suas posses. Quando doa de si mesmo é que você verdadeiramente doa. Pois o que são suas posses senão coisas que você mantém e guarda com medo de que possa precisar delas amanhã? E o que é o medo da necessidade senão a própria necessidade?'

Não podemos dar e partilhar nossa compreensão, e não podemos compreender os outros sem primeiramente compreendermos a nós mesmos. Podemos dar conhecimento aos outros, mas não sabedoria; o autoconhecimento é algo que devemos aprender de nós mesmos. 

As revistas dão conselhos sobre como se tornar um amante melhor. É uma questão de amor ou de alguma outra coisa? Eu te amo enquanto você puder satisfazer minhas necessidades e puder me dar o que eu quero. Quando eu cansar de você procurarei um novo amor. Popularmente se pensa que ciúme é sinal de amor. Se amássemos mais o nosso parceiro, não exigiríamos direitos exclusivos, não encontraríamos dificuldades em conceder liberdade de pensamento e de ação. Usamos a palavra amor também em outras conexões, quando não é questão de amor, mas de algo mais. Esperamos que a outra pessoa satisfaça nossos desejos, e quando ela não o faz, ficamos cansados e dizemos que não mais a amamos. Pensamos também que é amor quando somos dependente um do outro.

Somos todos iguais. Todo mundo busca o amor. Queremos ser felizes e evitar o sofrimento. Mas se olho para a outra pessoa como sendo eu, então é mais fácil compreendê-la e amá-la. Quando eu me vejo no outro, então posso começar a sentir amor e compaixão. (...)'

(Pertti Spets - Compreender, compartilhar e amar - Revista Sophia, Ano 8, nº 29 - p. 19)


domingo, 19 de março de 2017

SEXO E AMOR (2ª PARTE)

"(...) Um dos empecilhos ao viver criativo é o medo e a responsabilidade, que é uma manifestação desse medo. Os indivíduos 'respeitáveis', moralmente agrilhoados, não conhecem o integral e verdadeiro significado da vida. Estão presos entre os muros de sua virtude, nada podendo exergar além deles. Sua 'moralidade de vidraças coloridas', com base em ideias e crenças religiosas, nada tem em comum com a realidade; quando se abrigam por trás dela, estão vivendo no mundo de suas próprias ilusões.

O medo resultante do desejo de estar em segurança nos leva a um ajuste ao domínio externo, impedindo o viver criativo. Viver de forma criativa é viver em liberdade e sem medo. Só pode haver estado de criação se a mente não se achar presa às redes do desejo e da satisfação do desejo. Só ao observarmos o coração e a mente com atenção poderemos descobrir os movimentos ocultos do desejo. Quanto mais atenciosos e afetuosos somos, menos o desejo domina a mente.

Só quando não há amor as sensações se tornam um problema obsessivo. As sensações se tornaram tão significativas porque valorizamos demais os sentidos. Por meio de livros, anúncios, TV, cinema e de muitas outras maneiras, estamos sempre exaltando as sensações. As pompas religiosas e políticas, a diversão, tudo nos convida a buscar estímulos em diferentes níveis do nosso ser. Ao mesmo tempo em que estimulamos a sensualidade, nós pregamos a castidade. O estranho é que essa contradição é estimulante. 

A busca de sensações é uma das principais atividades da mente. É apenas quando a compreendemos que o prazer, a excitação e a violência deixam de ser uma preocupação dominante. Porque não amamos, o sexo e a busca de sensações transformam-se num problema absorvente. Havendo amor, há castidade; quem se esforça para ser casto não consegue ser. A virtude vem com a liberdade e com a compreensão. 

Na juventude, temos fortes impulsos sexuais; em geral, procuramos submeter esses desejos a um certo controle e disciplina, pensando que, se não conseguirmos refreá-los, nos tornaremos irreprimivelmente lascivos. (...)"

(J. Krishnamurti - Sexo e amor - Revista Sophia, Ano 7, nº 26 - p. 24)

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

O VERDADEIRO SENTIDO DA EDUCAÇÃO (2ª PARTE)

"(...) Em educação, parece haver uma teoria segundo a qual a criança deveria ser deixada completamente livre para fazer o que quiser e aprender com as experiências. Mas não deveríamos dizer às crianças que não mergulhem em águas profundas sem saber nadar, ou que fujam de uma cobra  venenosa? Deve-se dar às crianças o benefício das experiências de outras pessoas. Se em nome da liberdade a criança fosse deixada vagando pelas ruas e aprendendo por si mesma, não desenvolveria a capacidade de se proteger e de manter sua liberdade.

Qual deve ser a principal característica da educação nos primeiros anos de vida? Obviamente, a influência que cerca um novo ser - novo para todos os propósitos práticos - deve ser estimulante e salutar. A creche, a sala de aula e o lar devem ser coloridos, não 'anêmicos' ou indefenidos. Deve-se cercar a criança com coisas que propiciem o desenvolvimento da sua inteligência, sua capacidade de afeto e tudo o que há de melhor em sua natureza. 

Não pode haver nada mais proveitoso para qualquer ser humano do que as influências da natureza, as árvores, as flores, a água corrente, etc. A criança tem um interesse natural por qualquer coisa viva, como as plantas e os animais.

Não sei se todos nós compreendemos o quanto o medo, na educação, é um fator inibidor e prejudicial. Mesmo que haja algo a ser corrigido na criança, o melhor método é explicar e convencê-la de que tal coisa é indesejável. O processo de crescimento é um processo de trazer para fora o que está dentro: suas qualidades inatas, seu gênio, seu talento. Isso só é possível numa atmosfera de liberdade. O instrutor deve se adaptar ao crescimento da criança, encarando os processos desse crescimento como prontos em que o auxílio, a instrução ou a orientação são necessários.

A criança tem uma natureza tripla: a natureza do corpo, das emoções e da mente. Ela se relaciona com tudo à sua volta nesses três níveis. Cada um desses aspectos precisa ser auxiliado para se expandir de um modo natural, sem distorção.

Nos primeiros anos de vida, talvez o crescimento e o controle do corpo requeiram mais atenção. Não é preciso dizer que a  criança deve ser alimentada apropriadamente e que o corpo não deve ser negligenciado. O domínio do corpo físico, seu perfeito ajustamento e sua utilização de maneira graciosa e naturalmente expressiva o tornarão um instrumento apropriado para ser usado espiritualmente. Deve-se ajudar a criança a atingir uma certa medida de autocontrole, a coordenar seus movimentos, a usar adequadamente suas pernas e braços e a aprender boas maneiras. (...)" 

(N. Sri Ram - O verdadeiro sentido da educação - TheoSophia, publicação da Sociedade Teosófica no Brasil, Ano 99, Janeiro/Fevereiro/Março de 2010 - p. 32/33)

domingo, 8 de janeiro de 2017

AS TRÊS FERRAMENTAS DA SABEDORIA (1ª PARTE)

"O caminho para descobrir a liberdade da sabedoria da ausência do ego, segundo os mestres, passa pelos processos de ouvir e escutar, contemplar e refletir, e meditar. Eles nos aconselham a começar pelo ouvir repetidamente os ensinamentos espirituais. Ouvindo, eles nos recordarão uma e outra vez da nossa oculta natureza de sabedoria. É como se fôssemos aquela pessoa que pedi que imaginassem sofrendo de amnésia numa cama de hospital, e alguém que nos amasse e se importasse conosco estivesse nos sussurrando no ouvido o nosso verdadeiro nome, mostrando-nos fotografias de família e de velhos amigos, tentando trazer de volta o conhecimento da nossa identidade perdida. Gradualmente, ao ouvir os ensinamentos, certas passagens e visões interiores neles contidos farão vibrar um estranho acorde em nós, lembranças da nossa verdadeira natureza começarão a voltar pouco a pouco, despertando um profundo sentimento de alguma coisa despretensiosa e misteriosamente familiar. 

Ouvir é um processo muito mais difícil do que a maioria das pessoas imagina; ouvir realmente, da maneira que os mestres se referem, é abrir mão de si mesmo, de todas as informações, conceitos, ideias e preconceitos que enchem nossas cabeças. Se você de fato ouvir os ensinamentos, aqueles conceitos que são o verdadeiro obstáculo, a única coisa que se interpõe entre nós e nossa natureza real, podem lenta mas firmemente ser eliminados. (...)"

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 165)


sábado, 7 de janeiro de 2017

O HOMEM NOS TRÊS MUNDOS (PARTE FINAL)

"(...) A lei é a seguinte: determinadas causas trazem determinados resultados. A lei é imutável, mas o jogo dos fenômenos está sempre mudando. A causa mais poderosa entre todas as causas é a vontade e a razão humanas, que, apesar disso, são omitidas, na maior parte das vezes, quando as pessoas falam em karma. Nós somos causas, porque somos a vontade divina, unos com Deus no nosso ser essencial, embora prejudicados pela ignorância e trabalhando através da matéria grosseira, que emperra a nossa ação, até que consigamos conquistá-la e espiritualizá-la. A imutabilidade do karma não é a imutabilidade dos efeitos, mas da lei, e é isso que nos torna livres. Seríamos escravos de verdade num mundo onde tudo acontece por acaso. Nossa liberdade e segurança dependem do conhecimento que temos desse mundo regido por leis. Na Idade Média, os alquimistas de forma alguma eram livres para chegar aos resultados que desejavam, mas tinham de aceitar os resultados como quer que viessem, imprevistos e, na maioria deles, indesejados, mesmo que isso representasse os seu mais sérios prejuízos. O resultado da experiência poderia ser um produto útil, ou reduzir o experimentador a fragmentos. Roger Bacon colocou em ação causas que lhe custaram um olho e um dedo, e, em certa ocasião, essas causas atiraram-no ao chão da sua cela, desacordado. Fora daquilo que conhecemos estamos sempre em perigo, e qualquer causa que ponhamos em ação pode nos desgraçar, porque, a maioria de nós, nos mundos mental e moral, somos Rogers Bacons. Dentro do nosso conhecimento podemos ter movimentos livres e seguros, tal como os bem treinados químicos modernos. Em todos os três mundos nos quais vivemos é igualmente verdade que, quanto mais sabemos, mais podemos prever e controlar. Visto que a lei é inviolável e imutável, o conhecimento é uma condição indispensável para a liberdade. Estudemos, então, o karma, e usemos o nosso conhecimento na orientação da nossa vida. São muitas as pessoas que dizem: 'Oh! Como eu gostaria de ser boa!', e não usam a lei criar as causas que têm como resultado a bondade. É como se um químico dissesse: 'Oh! Como eu desejo ter água!', e não fosse em busca das condições que produzissem essa água tão desejada.

Devemos recordar, novamente, que cada força atua em sua linha específica, e que quando certo número de forças se intrometem num ponto específico, a força resultante é a consequência de todas elas. Em nossos dias de escola, aprendemos como se constrói um paralelograma de forças e assim descobrimos a resultante de sua composição; o mesmo se dá com o karma, quando podemos entender o conflito de forças e sua composição para obter um único resultado. Ouvimos pessoas perguntando por que um homem bom fracassa nos negócios, enquanto um mau homem obtém sucesso. Não há, entretanto, uma conexão causal entre bondade e ganho de dinheiro. Bem, poderíamos dizer: 'Sou um homem muito bom, por que não posso voar pelos ares?' A bondade não é causa para o voo, nem para trazer dinheiro. Tennyson tocou numa grande lei, em seu poema: 'Salário', quando declarou que o salário da virtude não era o 'pó', nem o repouso, nem o prazer, mas a glória de uma imortalidade ativa. 'A virtude é a sua própria recompensa', no mais alto sentido dessas palavras. Se você for autêntico, sua recompensa está no fato de a sua natureza tornar-se mais verdadeira; isso acontece, sucessivamente, com cada virtude. Os resultados kármicos só podem ser da mesma natureza das suas causas. Eles não são arbitrários, como as recompensas humanas."

(Annie Besant - Os Mistérios do Karma e a sua Superação - Ed. Pensamento, São Paulo, 2009 - p. 46/48)

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

O CAMINHO DO DESAPEGO

"Um dos mais importantes ensinamentos budistas diz respeito à impermanência. O livro Luz no Caminho (Ed. Teosófica) também faz referência à 'senda verdadeira', que a pessoa pode trilhar quando deixa para trás o apego. Isso significa desprender-se de cada pensamento, sentimento e preferência, até que a mente esteja completamente livre.

Nós nos apegamos às coisas que conhecemos; no entanto, só se pode adentrar o campo do desconhecido quando o conhecido deixar de existir. O desconhecido é, evidentemente, aquilo sobre o que não fazemos qualquer ideia. Então, nós nos aferramos a algo ou a algumas pessoas na esperança de que sejam substitutos para isso. Podem ser membros da família ou amigos com quem temos um íntimo relacionamento. Numa certa parte do nosso cérebro, sabemos que é por isso que continua a existir o luto por pessoas que não mais existem. Esse apego é uma das mais sérias doenças enfrentadas pelos seres humanos, e encarnações se passam antes que o desapego seja sequer considerado uma virtude. 

Conta-se que Krishnamurti era muito apegado a seu irmão. A doutora Annie Besant era como uma mãe para ele, mas havia também seu irmão mais novo, que devia auxiliá-lo em sua obra. O irmão morreu na Califórinia, quando Krishnamurti nem mesmo estava presente. Durante várias noites ele teve que lutar não com o fato, mas consigo mesmo. Ele saiu do luto como uma pessoa nova, pois entendera toda a questão do apego.

O fato de que Krishnamurti parecia não precisar de companhia era um dos dados desconcertantes a seu respeito. Isso pode acontecer a qualquer um de nós; no entanto, não queremos abrir mão do apego. As pessoas acham difícil aceitar a verdade da impermanência. Nada dura nesse mundo. Quando chegamos a essa conclusão - de que tudo perece -, perguntamos: haverá um 'eu' que transcende essa regra?"

(Radha Burnier - O caminho do desapego - Revista Sophia, Ano 10, nº 40 - p. 21)


segunda-feira, 3 de outubro de 2016

O INDIVÍDUO E A SOCIEDADE (PARTE FINAL)

"(...) Como descobrir a verdade, a este respeito? Agiremos partindo deste ponto. Para se achar a verdade relativa à questão, é preciso estarmos livres de tudo quanto é propaganda, o que significa estarmos habilitados a estudar o problema independentemente da opinião. A tarefa da educação se cifra, toda ela, no despertar o indivíduo. Para perceberdes tal verdade, precisais estar perfeitamente lúcidos, isto é, não deveis depender de guia algum. Quando escolheis um guia, o fazeis porque estais em confusão, e portanto, vossos guias acham-se também confusos, como estamos vendo acontecer, no mundo. Consequentemente não podeis esperar orientação ou ajuda do vosso guia. 

A mente que deseja compreender um problema deve, não só compreendê-lo de maneira completa e integral, mas também ser capaz de segui-lo velozmente, visto que o problema nunca é estático. O problema é sempre novo, seja o suscitado pela penúria, seja psicológico, ou outro qualquer. Toda crise é sempre nova; por conseguinte, para compreendê-la, deve a mente ser nova, lúcida, e ser muito veloz no acompanhá-la. Creio que quase todos nós reconhecemos a urgência de uma revolução interior, pois só ela pode operar uma transformação radical do exterior, da sociedade. Este é o problema com que eu próprio e todas as pessoas seriamente intencionadas estamos ocupados. Como produzir uma transformação fundamental, básica, na sociedade — este é o nosso problema; e esta transformação do exterior não pode efetuar-se sem a revolução interior. Uma vez que a sociedade é sempre estática, toda ação, toda reforma que se efetue sem esta revolução interior se torna igualmente estática. Nessas condições, não há esperanças, a menos que haja esta constante revolução interior, porquanto, sem ela, a ação exterior se torna maquinal, torna-se um hábito. A ação resultante das relações entre vós e outrem, entre vós e mim, é a sociedade, e essa sociedade se tornará estática, não terá qualidade vivificante alguma, enquanto não se verificar esta constante revolução interior, uma transformação psicológica criadora. Uma vez que esta constante revolução interior não existe, a sociedade se está tornando sempre estática, cristalizada e, em consequência, tem que se desagregar constantemente." 

(Krishnamurti - A Primeira e Última Liberdade - Ed. Cultrix, São Paulo - p. 32/33)

domingo, 2 de outubro de 2016

O INDIVÍDUO E A SOCIEDADE (1ª PARTE)

"Um problema se oferece à maioria de nós: se o indivíduo é simples instrumento ou fim da sociedade. Vós e eu, como indivíduos, existiremos para sermos utilizados, dirigidos, educados, controlados, ajustados a um certo padrão pela sociedade e pelo governo, ou a sociedade, o Estado, existirão para o indivíduo? O indivíduo é o fim da sociedade; ou apenas um títere, que existe para ser ensinado, explorado, massacrado como instrumento de guerra? Eis o problema que está nos desafiando. É o problema do mundo: se o indivíduo é mero instrumento da sociedade, um brinquedo à mercê de influências, pelas quais é moldado, ou se a sociedade existe para o indivíduo. 

Como esclarecer-nos a tal respeito? é um problema sério, não é? Se o indivíduo é mero instrumento da sociedade, a sociedade, nesse caso, é muito mais importante que o indivíduo. A ser verdadeira tal afirmação, o que devemos fazer, então, é abandonar a individualidade e trabalhar para a sociedade; todo nosso sistema educativo terá de ser revolucionado de alto a baixo e o indivíduo convertido num instrumento para ser usado e destruído, liquidado, eliminado. Mas se a sociedade existe para o indivíduo, a função da sociedade não é então a de obrigá-lo a ajustar-se a algum padrão e sim de dar-lhe o senso da liberdade, o impulso para a liberdade. Cumpre-nos, pois, averiguar qual das duas coisas é falsa. 

Como poderiamos investigar este problema? É um problema vital, não é? Este problema não depende de nenhuma ideologia, seja da esquerda, seja da direita; e se é dependente de qualquer ideologia, passará a ser apenas matéria de opinião. As idéias geram sempre inimizade, confusão, conflito. Se dependeis de livros da esquerda ou da direita, ou de livros sagrados, dependeis, nesse caso, da mera opinião — de Buda, de Cristo, do capitalismo, do comunismo, ou do que quer que seja. São ideias, e não a verdade. Um fato nunca pode ser negado. Uma opinião a respeito do fato pode ser negada. Se pudermos descobrir a verdade concernente a este problema, estaremos aptos a agir independentemente da opinião. Não é necessário, por conseguinte, que nos desembaracemos do que tem sido dito por outros? A opinião do esquerdista ou de outros líderes é produto do seu condicionamento, e, por conseguinte, se dependerdes, para o descobrimento de vós mesmos, daquilo que se encontra nos livros, ficareis, simplesmente, na dependência de uma opinião. Não é uma questão de conhecimento, de saber. (...)" 

(Krishnamurti - A Primeira e Última Liberdade - Ed. Cultrix, São Paulo - p. 31/32)