OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


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terça-feira, 8 de março de 2022

DESISTINDO DO RELACIONAMENTO CONSIGO MESMO

"Iluminado ou não, no nível da sua identidade com a forma você não está completo. Você á a metade do todo. E isso é percebido como a atração homem-mulher, o movimento em direção à polaridade oposta de energia, não importa qual seja o seu nível de consciência. Mas, nesse estado de conexão interior, você percebe essa atração em algum lugar sob a superfície ou na periferia da sua vida. 

Isso não significa que você não se relaciona profundamente com outras pessoas ou com o seu parceiro. Na verdade, você só consegue se relacionar se tiver consciência do Ser. Partindo do Ser, você é capaz de enxergar além do véu da forma. No Ser, homem e mulher são uma unidade. A sua forma pode continuar a ter algumas necessidades, mas o Ser não tem nenhuma. Já está completo e inteiro. Se essas necessidades forem preenchidas, será ótimo, mas não faz diferença para o seu estado interior mais profundo. 

Portanto, caso a necessidade de uma polaridade masculina ou feminina não seja preenchida, é perfeitamente possível para uma pessoa iluminada perceber que falta alguma coisa no nível externo e, ao mesmo tempo, sentir-se totalmente completa e satisfeita no nível interno.

Se você não consegue ficar à vontade consigo mesmo, vai procurar um relacionamento para encobrir o seu desconforto. Só que esse desconforto vai reaparecer de alguma outra forma no relacionamento, e você, provavelmente, atribuirá a responsabilidade ao seu parceiro.

TUDO O QUE você precisa fazer é aceitar esse momento plenamente. Você estará então à vontade no aqui e agora e à vontade consigo mesmo.

Mas será que você precisa ter um relacionamento com você mesmo? Por que não ser apenas você? Quando se relaciona com você mesmo, já se dividiu em dois: 'eu' e 'eu mesmo', sujeito e objeto. Essa dualidade criada pela mente é a raiz de toda uma complexidade desnecessária, de todos os problemas e conflitos em sua vida. 

No estado de iluminação, você é você mesmo - 'você' e 'você mesmo' se fundem em um só. Você não se julga, não sente pena de si, não se orgulha de si, não se ama, não se odeia, etc. A divisão provocada pela consciência está curada; sua maldição, removida. Não existe um 'você mesmo' que seja preciso proteger, defender ou alimentar. 

Quando você está iluminado, não tem mais um relacionamento consigo mesmo. Uma vez que tenha aberto mão disso, todos os seus outros relacionamentos serão de amor."

(Eckhart Tolle - Praticando o Poder do Agora - GMT Editores Ltda., 2016 - p. 94/95)


quinta-feira, 3 de março de 2022

O NÃO EU COMO O COGNOSCÍVEL

"O Eu cuja 'natureza é conhecimento' encontra espelhado dentro de si um vasto número de formas, e aprende por experiência que não pode conhecer e agir e manifestar a vontade através delas. Estas formas, ele descobre, não são passíveis de controle como é a forma da qual ele primeiro se torna consciente, e que ele (erroneamente, e ainda assim necessariamente) aprende a identificar-se consigo mesmo. Ele sabe, e elas não pensam; ele manifesta a vontade, e elas não mostram nenhum desejo; ele energiza, e não há nelas nenhum movimento responsivo. Ele não pode dizer a partir delas: 'Eu sei', 'Eu ajo', Eu quero'; e reconhece-as longamente como outros eus, em formas minerais, vegetais, animais, humanas e super-humanas, e generaliza tudo isto sob um termo abrangente, o Não Eu, aquilo no qual como um Eu separado, não é, não sabe, mas age, e manifesta a vontade. Ele responde assim, durante muito tempo, à pergunta: 

'O que é o Não Eu?

Em tudo o que eu não conheço, não quero e não ajo.'

E embora verdadeiramente, em análises sucessivas, ele venha a descobrir que os seus veículos, um após outro, salvo de fato, a mais sutil película que faz dele um Eu - são parte do Não Eu, são objetos do Conhecimento, são o Cognoscível, não o Conhecedor, para todos os fins práticos a sua resposta é correta. De fato, ele nunca poderá conhecer, como separado de si mesmo, esta película mais sutil que faz dele um Eu separado, uma vez que a sua presença é necessária a essa separação, e conhecê-lo como o Não Eu seria fundir-se no todo." 

(Annie Besant - O Poder do Pensamento - Ed. Teosófica, Brasília, 2021 - p. 17/18)
Imagem; Pinterest.


terça-feira, 1 de março de 2022

O EU¹ COMO O CONHECEDOR

"Ao estudarmos a natureza do homem, separamos os veículo que ele utiliza: o Eu vivo do envoltório com o qual está revestido. O Eu é um, por mais variadas que sejam as formas da sua manifestação, quando trabalha através de, por meio dos diferentes tipos de matéria. É certamente verdade que existe apenas Um Eu no sentido mais completo das palavras: assim como raios irradiam do sol os vários 'Eus', que são os verdadeiros Homens, que são apenas raios do Eu Supremo, e cada Eu pode sussurrar: 'Eu sou Ele'. Mas para o nosso presente propósito, tomando um único raio, podemos afirmar também quanto à sua separação, à sua própria unidade inerente, ainda que esteja oculta pelas suas formas. A consciência é uma unidade, e as divisões que fazemos nela ou são para fins de estudo, ou são ilusões, devido à limitação do nosso poder perceptivo pelos órgãos através dos quais ela trabalha nos mundos inferiores. O fato das manifestações do Eu procederem diferenciadamente a partir dos seus três aspectos de conhecer, querer e energizar - dos quais surgem vários pensamentos, desejos e ações - não nos deve cegar quanto ao outro fato de que não há divisão de substância; o Eu todo conhece, o Eu todo quer, o Eu todo age. Nem as funções estão totalmente separadas; pois quando ele sabe, também age e quer; quando age, também sabe e quer; quando quer, também age e sabe. Uma função é predominante, e por vezes a tal ponto que veda totalmente as outras; mas mesmo na concentração mais intensa do conhecer - a mais separada das três - há sempre uma energização latente e uma vontade latente, que é tão discernível quanto presente através de uma análise cuidadosa. 

Nós temos chamado a estes três 'os três aspectos do Eu'; uma explicação um pouco mais profunda nos ajuda a compreender. Quando o Eu está tranquilo, então é manifestado o aspecto do Conhecimento, capaz de assumir a semelhança de qualquer objeto apresentado. Quando o Eu está concentrado, com a intenção de mudar de estado, aparece então o aspecto da Vontade. Quando o Eu, em presença de qualquer objeto, põe energia para contatar com esse objeto, então revela o aspecto da Ação. Ver-se-á assim que estes três não são divisões separadas do Eu, não são três coisas unidas em uma ou compostas, mas que existe um Todo indivisível, que se manifesta de três maneiras. 

Não é fácil clarificar a concepção fundamental do Eu mais além do que através da sua mera designação. O Eu é aquela consciência, sentimento, Um sempre existente, que em cada um de nós se conhece como existente. Nenhum homem pode jamais pensar em si próprio como não existente, ou formular-se a si próprio como não existente, ou formular-se a si próprio em consciência como 'Eu não sou'. Como Bhagavam Das expressou: 'O Eu é a primeira base indispensável da vida. ...  Nas palavras de Vachaspati-Mishra, no seu Comentário² (o Bhamati) sobre a Shariraka-Bhashya, de Shankaracharya: 'Ninguém duvida 'Sou Eu?' ou 'Não sou Eu?'. 'A Autoafirmação "Eu sou' 'vem antes de tudo, está acima e além de qualquer argumento. Nenhuma prova pode fazer isso; mais ainda, nenhuma contraprova pode enfraquecer isso. Tanto a prova como a contraprova se encontraram no 'Eu sou', o Sentimento de mera Existência não analisável, do qual nada pode ser afirmado, exceto o aumento e a diminuição. 'Eu sou mais' é a expressão do Prazer; 'Eu sou menos' é a expressão da Dor. 

Quando observamos este 'Eu sou', descobrimos que ele se expressa de três maneiras diferentes: (a) a reflexão interna de um Não Eu, CONHECIMENTO, a raiz dos pensamentos; (b) a concentração interna, VONTADE, a raiz dos desejos; (c) o ir para o externo, ENERGIA, a raiz das ações; 'Eu Sei' ou 'Eu penso', 'Eu quero', ou 'Eu desejo', 'Eu energizo' ou 'Eu ajo'. Estas são as três afirmações do Eu indivisível, do 'Eu sou'. Todas as manifestações podem ser classificadas sob uma ou outra destas três titulações; o Eu manifesta-se em nosso mundo apenas nestas três formas; como todas as cores surgem das três primárias, assim as inúmeras manifestações do Eu surgem todas da Vontade, da Energia, do Conhecimento.

O Eu como Aquele que Quer, o Eu como Energizador, o Eu como Conhecedor - ele é o Único na Eternidade e também a raiz da individualidade no Tempo e no Espaço. É o Eu no aspecto do Pensamento, o Eu como Conhecedor, que temos de estudar." 

¹ No original em inglês: Self, que foi traduzido neste livro por Eu (Eu superior). (Nota Ed. Bras.).
² The Science of the Emotions (A Ciência das Emoções), p. 20 da edição em inglês.

(Annie Besant - O Poder do Pensamento - Ed. Teosófica, Brasília, 2021 - p. 14/17)
Imagem: Pinterest, Cachoeira de Seljalandsfoss, na Islândia.


quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

DISSOLVENDO A INCONSCIÊNCIA

"É fundamental colocar mais consciência em sua vida durante as situações comuns, quando tudo está correndo de modo relativamente tranquilo. É assim que se aumenta o poder da presença. Ele gera um campo energético de alta frequência vibracional em você e ao seu redor. Nenhuma inconsciência, nenhuma negatividade, nenhuma discórdia ou violência podem penetrar nesse campo e sobreviver, do mesmo modo que a escuridão não consegue sobreviver na presença da luz.

Quando você aprender a ser uma testemunha de seus pensamentos e emoções, o que é uma parte essencial do estado de presença, talvez se surpreenda ao perceber pela primeira vez o ruído 'estático' da inconsciência comum e ao verificar como é raro você se sentir à vontade consigo mesmo. 

No nível do pensamento, você encontrará uma significativa porção de resistência na forma de julgamentos, descontentamentos e projeções mentais distanciados do Agora. No nível emocional haverá uma tendência para o desconforto, a tensão, o enfado ou o nervosismo. Ambas são aspectos da mente em seu modo de resistência habitual.

OBSERVE AS MUITAS maneiras pelas quais o desconforto, o descontentamento e a tensão surgem dentro de você, através de julgamentos desnecessários, resistência àquilo que é e negação do Agora. Qualquer coisa inconsciente se dissolve quando a luz da consciência brilha sobre ela.

Se soubermos como dissolver a inconsciência comum, a luz da nossa presença irá brilhar intensamente e será muito mais fácil lidarmos com a inconsciência profunda. Mas no início, talvez não seja muito fácil detectar a inconsciência comum porque a consideramos uma coisa normal.  

HABITUE-SE A MONITORAR o seu estado mental e emocional através da auto-observação.
'Estou me sentindo à vontade neste momento?' é uma pergunta que você deve se fazer com frequência.
Ou pode se questionar: 'O que está acontecendo dentro de mim neste exato momento?'

Mantenha o mesmo nível de interesse pelo que vai tanto no seu interior quanto no exterior. Se você captar corretamente o interior, o exterior se encaixará no lugar. A realidade principal está no interior, a realidade externa é secundária. 

MAS NÃO RESPONDA logo a essas questões. Direciona e a sua atenção para o interior. Olhe para dentro de você. 
Que tipo de pensamentos a sua mente está produzindo?
O que sente?
Dirija a atenção para o seu corpo. Existe alguma tensão?
Quanto você perceber um certo desconforto, um ruído estático ao fundo, verifique que caminhos você está usando para evitar, resistir ou negar a vida, o Agora.

Existem muitos caminhos pelos quais resistimos, inconscientemente, ao momento presente. Com a prática, o seu poder de auto-observação, de monitorar o seu estado interior, se tornará mais aguçado." 

(Eckhart Tolle - Praticando o Poder do Agora - GMT Editores Ltda., 2016 - p. 45/47)


quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

RETA CONDUTA

"O processo oculto não depende de que sejam alcançados elevados níveis de consciência, de poderes, de visões, de sonhos. Depende quase inteiramente da conduta ao longo das horas e dias de nossas vidas e, para a reta conduta, não há substituto.

Honra e posição mundanas, dons físicos e intelectuais brilhantes, alta realização cultural - tudo isso não elevará o aspirante um passo em direção aos Mestres, a menos que seu pensamento, fala e ação diários estejam em conformidade com o ideal do Caminho.

O homem ou a mulher que mora sozinho é livre para buscar o conhecimento oculto, pois nenhuma outra pessoa é afetada. Quando, no entanto, o novo estudante é casado ou adquire outras responsabilidades, então um cuidado especial deve ser tomado para nunca permitir que o interesse em desenvolvimento o isole da família. Tampouco deve obrigar outro (o parceiro, por exemplo) a responder de maneira semelhante. Tais erros podem ter resultados adversos. Um é criar divisão entre os membros de uma família até então intimamente unidos. O outro é afastar a pessoa, que já se sente angustiada, e que está sofrendo por um assunto que lhe causou tanta dor. Em todos os casos, a atenção daqueles que são queridos e por quem são amados deve controlar todos os interesses e ações que possam criar uma divisão na vida familiar ou em outras associações. As obrigações existentes devem vir em primeiro lugar.  

Talvez seja possível estabelecer um acordo no qual, sem romper os laços estreitos, o amor e a atenção habituais possam ser mantidos, permitindo, também, que o novo aspirante possa ter tempo e oportunidade para estudar Ocultismo. Sob tais circunstâncias, é muito provável que companheiros próximos se voltem para os mesmos interesses, fortalecendo e aprofundando assim o relacionamento - uma consideração importante. Se isso for possível, também será alcançado um valioso desenvolvimento de caráter: o da capacidade de adaptação a todas as situações, particularmente às difíceis. Isso pode se incorporar ao temperamento e provar ser de imenso valor, especialmente quando, mais tarde, posições importantes forem alcançadas." 

(Geoffrey Hodson - A Vida do Iniciado - Ed. Teosófica, Brasília, 2021 - p. 57/59)


terça-feira, 25 de janeiro de 2022

O PODER DA PLENA ATENÇÃO

"Como resultado de inovações tecnológicas, o homem moderno desfruta de muitos confortos. No entanto, faltam-lhe paz e harmonia. Há muito estresse e tensão, ganância e luxúria, ódio e crueldade, e tudo isso traz ansiedade, desarmonia e sofrimento. Cada vez mais pessoas são afetadas por neuroses, psicoses e outras doenças. 

A felicidade não está em coisas externas, mas no nosso próprio eu. Todos os problemas humanos têm origem na mente. A purificação da mente leva a uma mudança radical na qualidade de vida. Isso não pode ser obtido por nenhuma ginástica intelectual, estímulos emocionais, dramas religiosos ou drogas. É difícil educar a mente de maneira a perceber o novo. É preciso muita paciência; é preciso estar vigilante e alerta. 

É urgente aprendermos a gerenciar nossa mente de maneira apropriada. A mente fica desorientada porque é constantemente atraída por muitas forças. A pessoa deve analisar suas próprias condições de maneira objetiva e desapaixonada, com o auxílio da meditação, uma ferramenta que abre o caminho para a solução dos mais complexos problemas. 

Estamos sempre buscando fora, até mesmo a nossa alegria, e não procuramos internamente. Raramente examinamos nossos próprios pensamentos, palavras e ações. Permanecemos desconhecidos por nós mesmos. Mas, por meio da auto-observação, podemos obter insights sobre a nossa própria natureza. Isso exige um esforço contínuo.  

Com a mente purificada e equilibrada, podemos perscrutar as profundezas de nós mesmos. Se a mente estiver cheia de pensamentos maus, Patañjali propões preenchê-la com pensamentos opostos. Krishnamurti afirma que devemos desenvolver a percepção constante, uma condição mental 'que considera tudo com a mais completa atenção'. Ele diz que 'a chama da atenção', calcina todas as impurezas. Buda chama isso de 'o fogo da plena atenção'. 

O Dhammapada devota um capítulo à plena atenção, que significa estar desperto, em guarda, jamais ser pego de surpresa. Se a pessoa tiver plena atenção, consegue mudar cada circunstância, palavra, pensamento e ação. A plena atenção avisa se estamos para fazer uma escolha errada. Com a mente protegida pela plena atenção, os sentidos externos não perturbam nossa tranquilidade. 

Buda disse que a única maneira de vencer as impurezas da mente é continuar examinando seu conteúdo repetidamente, para que as tendências más sejam arrancadas e apenas as boas tendências floresçam. Por meio da percepção constante, sabemos que a mente prega peças devastadoras. A plena atenção, portanto, é essencial.

A purificação deve ocorrer em toda a mente, nos níveis conscientes e inconscientes. Nosso esforço deve alcançar as profundezas da mente inconsciente. Devemos adotar uma técnica de meditação que nos leve aos níveis profundos onde estão as camadas de impurezas. Alguns métodos de meditação funcionam apenas no nível superficial; embora possam trazer paz e calma, a real purificação da mente não ocorre.

Aqueles que conquistaram o domínio sobre a mente 'consciente' e 'inconsciente' conseguem alcançar o estado 'superconsciente', o estado mais puro, que é comunhão com o Atman (Espírito universal). Tudo o que precisamos é um desejo ardente e um esforço incansável para nos transformar."        

(V. V. Chalam - O poder da plena atenção  - Revista Sophia, Ano 15, nª 70 - p. 15)
Imagem: Pinterest 


terça-feira, 11 de janeiro de 2022

VIVER COM INSPIRAÇÃO

"Há um aforismo que diz que 'conhecimento é poder'. É uma afirmação que tem um certo apelo, porque parece estar de acordo com nossa experiência diária e com nosso senso comum. Cada vez que aprendemos uma nova habilidade ou aplicamos alguma informação, influenciamos o nosso ambiente para melhor ou pior. Nesse sentido, nosso conhecimento é poder. Mas será que ele vai somente até aí?

Conhecimento é um termo flexível que pode abranger muitas coisas. Na conversação normal, o termo conhecimento pode significar uma variedade de coisas - do endereço do supermercado na vizinhança aos dados de um experimento físico, ou até a descrição do corpo astral. Embora diferente em conteúdo e qualidade, o processo de obter conhecimento é o mesmo. Os órgãos dos sentidos enviam impressões à pessoa. Segundo a ciência contemporânea, o sistema nervoso informa ao cérebro. Na tradição da Sabedoria Perene, que reconhece a primazia da consciência, o processo tem um alcance mais amplo. Em sânscrito, os jnanendriyas (órgãos do conhecimento) transferem nossas percepções para camadas sempre mais profundas de nosso ser. O que começa como uma impressão física torna-se uma sensação, depois um sentimento, e então se combina com o pensamento. A característica distintiva da informação é que, não importa qual seja o assunto, a informação não transforma. Na melhor das hipóteses, é um fenômeno mental. 

Para aqueles que estão continuamente engajados no processo de autotransformação há uma hierarquia de percepção na qual o conhecimento normal é o primeiro passo. O desabrochar da consciência move-se do conhecimento para a compreensão até a sabedoria. O conhecimento é o construtor. Ele fornece estrutura, que é uma função da mente. A compreensão dá significado às estruturas que a mente constrói e é uma função de buddhi (em sânscrito, a intuição espiritual). A sabedoria é como o espaço, que contém todas as coisas, define todas as coisas, mas não pode ser identificado por nenhuma nem por todas elas. É a natureza da realidade. Nas palavras de Krishna, 'tento penetrado este universo com um fragmento de mim mesmo, Eu permaneço'. Nós experienciamos isso como a percepção da realidade; do irreal conduz-me ao real. 

Para a maioria de nós a necessidade é mover-nos para além da tendência da mente de obter informação, para a função mais profunda da mente iluminada pela intuição espiritual. Somente essa mente reflete a amplidão, a criatividade, a compreensão, a liberdade e a compaixão que caracterizam uma vida inspirada. 

De tempos em tempos encontramos o termo 'círculo vicioso', que se refere à tendência para a ação não inteligente produzir reações indesejadas num ciclo fechado. O exemplo mais proeminente desse processo é encontrado no conceito em sânscrito chamado samsara, muitas vezes descrito como a roda de repetitivo nascimento, doença, velhice, morte e renascimento. Em nossa abordagem à compreensão aplica-se o mesmo princípio, exceto que ele poderia ser mais corretamente chamado de 'círculo virtuoso'.

Atos compassivos e amorosos evocam uma resposta da nossa natureza superior, iluminando nossos corações e mentes, que por sua vez permitem-nos agir com percepção e discernimento mais profundos. O processo autoiniciado de continuamente nos colocarmos na presença de pensamentos e emoções coloridos pelo amor é o que podemos chamar de viver inspirado - um processo que necessariamente resulta na elevação da visão sintética, da percepção global, da compreensão oniabarcante e do senso de unidade a que chamamos compreensão."

(Tim Boyd - Viver com inspiração - Revista Sophia, Ano 16, nº 73 - p. 5/6)
Imagem: Pinterest


quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

A MORTE DO MEDO

"Do que sentimos medo? É mesmo medo o que sentem os animais quando ameaçados? Ou é uma reação pós-ansiedade, receio do desconhecido ou reação a algum trauma? Existem muitas formas de manifestar o medo; poderíamos citar uma dezenas delas. A ignorância gera medo, assim como as histórias que acabaram em infortúnio. Mas uma coisa é certa: em todos os casos de medo, enquanto eles existem, decerto nada ainda ocorreu. 

A morte é um dos grandes motivos por trás do medo, como também o nosso futuro instável. Há o medo do sofrimento, da dor física, do descaso - e o medo de ser esquecido, que é uma consequência da morte. Não queremos ser esquecidos, pois quem é esquecido morre para a existência. Algumas etnias indígenas, como a dos índios xavante, evitam falar sobre quem morreu, queimam todos os bens de quem se vai, raspam a cabeça em luto e prosseguem com a vida. O legado não fica no nome, mas na continuidade pelos herdeiros, a tradição, a alma, ou o verdadeiro eu, que se transforma em um antepassado, um espírito conselheiro que se manifesta pelas forças da natureza e pelos sonhos.

Na maioria das culturas existe algum tipo de pós-vida, uma morada espiritual, paraíso, totalidade, umbral, inferno, xeol, tártaro, trevas ou castigo. Existe algum tipo de julgamento da alma ou uma consequência dos atos em vida. Mesmo entre os ateus há a crença na dissolução completa da consciência, ou seja, alguma coisa se extingue. Chamemos ou não de alma, o ser corpóreo é veículo de uma inexplicável existência consciente. As religiões, em grande parte, realizam cultos para os mortos, os antepassados, cultos sobre a transição da consciência e reverências à memória, que é uma forma de identificar a personalidade de quem partiu.

O apego a quem amamos gera sofrimento, pela dor da partida ou pelo nosso próprio ego, que não quer sofrer com a ausência. Temos medo do que virá, e, por isso, permanecemos em um sofrer alimentado pela memória e pelo inconformismo, e nos esforçamos para continuar com a verdade inevitável. Não somos educados para morrer ou conhecer a finitude, nem para lidar com o nosso próprio fim. Por isso também os sábios, os santos e as religiões nos falam da importância da alma, ou de quem realmente somos. Não somos um corpo tendo uma vida espiritual; somos um espírito tendo uma vida material - essa máxima pode mudar todo o entendimento, as possibilidades e a perspectiva da vida. 

É imprescindível buscar o significado da vida em face da consciência, das possibilidade de compreender a morte não mais como o fim, mas como uma mudança de paradigma. Os estudos sobre a consciência argumentam que a morte é apenas uma mudança de realidade eletromagnética. Pessoas que tiveram experiências de morte clínica e retornaram relatam fatos semelhantes: encontro com consciências luminosas, personalidades divinas que os questionam sobre o significado de suas vidas. Como consequência, essas pessoas mudaram completamente sua vida, procurando dar um significado mais elevado a suas relações, transformando suas perspectivas e dando fim ao medo.

De certa forma, muitos de nós já vivem no esquecimento, perdendo-se na autocomiseração, ignorando o verdadeiro eu, que não é nosso ego ou a imagem com a qual nos identificamos. Poderia-se até dizer que existe uma forma de morte em vida. Tememos coisas que são transitórias: o que temos, o que poderíamos ter ou o que podemos vir a perder. Em todas as situações, o universo de possibilidade que criamos está em nossa mente, e é em nossa mente que tudo acontece (e talvez parte do que ocorre após a existência material). (...)

A morte do medo em face da vida acontece quando o altruísmo, a benevolência e a preocupação com o próximo se evidenciam como prática contínua de nosso despertar. É claro que outros tipos de medo, como aquele que nos protege quando estamos em perigo, ou o que nos previne contra acidentes, são mais uma forma de bom senso, um tipo de firewall em nosso programa humano. Um despertar da ignorância sobre a jornada da vida, por meio da aceitação pacífica e não passiva de nossas experiências, pode realmente ser uma experiência transcendental e luminosa. Não deixaríamos todos os medos de lado ainda que fôssemos iluminados, mas o produto de nossas ações já não seria a finitude do ser, e sim o despertar do eu. 

Como mostra o Budismo, a morte é uma consequência natural que faz parte das possibilidades de libertação da consciência, o fim dos ciclos de encarnação, que requer de nós, em vida, o despertar, o entendimento, a prática das virtudes que nos liberam do apego e do sofrimento. A bondade é o manto que encobre a mente com a insensatez dos que entram no fogo para salvar a vida de um simples animal e que saem sem sequer uma queimadura, pois não é a razão que está no comando, mas a alma, governando a vontade; 'e, quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da imortalidade, então cumprir-se-á a palavra que está escrita: tragada foi a morte na vitória. Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória?' (1 Coríntios 15:54,55.)

O destemor requer de nós a vontade e a atitude de enxergar o lado de dentro antes do lado de fora, de atravessar o rio ou a rua, de falar sem receio de não ser aceito. Esse receio gera desconforto emocional, o que acontece entre os jovens dos dias de hoje, que se abrigam entre os que se sentem da mesma forma, com movimentos que neutralizam a alma com rótulos, ao invés de libertá-la. Em grande parte das vezes, vencer o medo não tem muito a ver com o entusiasmo ou coragem, mas com vencer a si mesmo. 

'E disse ao homem: eis que o temor do Senhor é a sabedoria, e apartar-se do mal é a inteligência.' (Jó 28:28.) É preciso entendimento e sabedoria; nem todo medo ou temor representa pânico, mas uma forma de respeito ou reverência, como neste trecho de poema: 'Eu respeito aquilo que temo; a grande montanha, o mar e a morte, a vida, o silêncio de Deus e minha verdadeira face longe do espelho e do jogo da sorte.'"

(Maurício de Andrade - A morte do medo - Revista Sophia, Ano 14, nº 63 - p. 8/11)


terça-feira, 4 de janeiro de 2022

A ESCALADA DA EVOLUÇÃO

"A escalada de uma montanha pode ser usada como uma metáfora para analisar a jornada da nossa alma. Existe a possibilidade de verticalidade em nossas vidas, com muitos níveis de realidade que são apreensíveis para nós apenas nos estados mais elevados de consciência. Da mesma forma, quando subimos uma montanha, a paisagem que se revela à nossa visão muda ao atingirmos os níveis mais elevados. O importante é empreender a verdadeira subida, em vez de se engajar em discussões a respeito das paisagens, conforme foram descritas por aqueles que empreenderam a escalada antes de nós.  

O pico de qualquer montanha que valha a pena ser escalada é invisível. Isso se deve às limitações do nosso aparato de percepção. Qualquer descrição do pico só pode ser compreendida no nível mental onde estamos agora. Enquanto esse nível de mente estiver ocupado com conhecimento, que inclui o desejo implícito ou explícito de controlar, a argumentação inteligente pode surgir, mas não a submissão à verdade. É necessário não apenas se livrar do conhecimento, que é sempre do passado, mas também do conhecedor, que separa a si mesmo daquilo que deve ser conhecido. Além disso, é também necessário livrar-se da necessidade de conhecer, que traz em si uma tendência inevitável para o controle e manipulação.

Porém, a base da montanha que vale a pena ser escalada é visível. É ali onde podemos encontrar muita orientação dos sábios e das escrituras, de modo que possamos fazer esforços na direção correta.

No entanto, a jornada é o empreendimento mais significativo, não o aprendizado das escrituras, nem a tentativa de vencer as discussões a respeito de como é o topo. No Bhagavad Gita, Krishna oferece um bom lembrete: o yogue busca refúgio em bhuddi (plena atenção) e adquire cada vez mais estabilidade de atenção, que não é perturbada pelo que teólogos, filósofos e cientistas disseram ou irão dizer. 

O significado da jornada não é ir a algum lugar, mas passar por uma transformação interior do corpo, mente e coração, de modo que nossas percepções se tornem cada vez mais puras e que vejamos o modo como é, não o modo como imaginamos que deveria ser. Mais do que qualquer coisa, o empreendimento dessa jornada de transformação requer de nossa parte o entendimento de que precisamos de uma transformação radical do nosso ser. Até que vejamos o que realmente somos, não poderemos apreciar a necessidade de transformação. Quando começamos a ver a nós mesmos com clareza e imparcialidade, passamos a entender a necessidade da transformação, porque vemos que nossa percepção da realidade é muitíssimo colorida pelo medo, pela autoimportância e pelas forças de recompensa e punição. Então sentimos que precisamos empreender a jornada e que ela vai requerer uma considerável quantidade de disciplina, sacrifício e trabalho duro. 

Somos naturalmente atraídos para o pico da montanha. É uma necessidade de nossa alma. Assim como a única propriedade de uma bússola é apontar para o polo norte magnético, a alma possui apenas uma propriedade: apontar para o real. Mas, do mesmo modo como a bússola pode ser confundida por fortes tempestades magnéticas em sua vizinhança, nossa alma pode ser confundida por fortes tempestades emocionais, a maior delas de medo e ambição. Assim, periodicamente voltamos nosso olhar em direção ao topo, pois é aquilo que nos atrai, aquilo é o nosso Krishna (da raiz karshati, atrair), mas precisamos nos preocupar com o próximo passo. Existem muitas armadilhas, fendas e obstáculos, e podemos cair, nos ferir ou ficar encurralados.

Não há garantias. Sábios e escrituras podem ser úteis, mas a jornada é sempre um voo do solitário para o Solitário. O melhor auxílio é o de companheiros buscadores que sejam de confiança, e daqueles que amam e apoiam não o que somos, mas aquilo que somos convocados a ser."

(Ravi Ravindra - A Escalada da Evolução - Revista Sophia, Ano 14, nº 63 - p. 5/6)


terça-feira, 21 de dezembro de 2021

CORPO E ALMA

"A história mostra que crenças ou ensinamentos mal compreendidos nos levaram a entender que somos um corpo e que o corpo tem uma Alma. Entretanto, várias tradições espirituais nos mostram que, de fato, somos uma Alma e que o corpo é seu veículo de atuação.

Além do plano físico, existem outros mundos menos densos onde a Alma atua e também se desenvolve. Mas a encarnação física é fundamental no processo evolutivo.

O apego ao corpo nos levou e nos leva a um sofrimento indizível quando chega a hora de nos separarmos dele, pois achamos que é o fim de tudo. O corpo se desintegra, seus elementos são reaproveitados pela natureza e nós continuamos nossa jornada noutro 'lugar', em outro estado de consciência. Nessa outra dimensão a consciência é expandida, e tempo e espaço são diferentes daqueles que conhecemos aqui. Quem já experimentou a sensação de quase morte diz que naquele momento passa uma espécie de filme na mente, em um breve instante, quando a pessoa revê todas as cenas de sua vida. Há então uma surpreendente compreensão de certo e errado e que tudo fica realmente registrado no HD da natureza.

Outro ensinamento que causou grandes danos à boa parte da humanidade foi o do céu e do inferno eternos. Essa crença vem sendo gradativamente revista e ampliada para algo mais compatível e coerente com a bondade divina. 

A teoria dos ciclos e o retorno periódico à manifestação, regulamentados pela lei do karma (causa e efeito), vêm se constituindo num grande lenitivo para aqueles que acreditavam que a morte é o fim.

A busca da verdade exige liberdade de pensamentos e fé nos caminhos apontados pelo coração. Confie e procure respostas para as dúvidas que sua Alma lhe apresenta. Você tem o direito de saber.

Você pode buscar.

Vamos!"

(Fernando Mansur - O Catador de Histórias - Editora Teosófica, Brasília, 2018 - p. 60)


quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

ILUMINAÇÃO INTERIOR

"A mais rica linguagem poética é evocada pelo recorrente fenômeno diário do nascimento do sol, uma maravilha da natureza equiparada em esplendor somente ao pôr do sol ao final do dia. No contexto da experiência religiosa, o nascimento do sol é usada como símbolo de iluminação espiritual; os raios do sol tipificam a luz divina vertida na consciência individual. Como o amanhecer assinala o início de um novo dia, o nascimento do sol é apropriadamente empregado para retratar a aurora de uma nova fase na vida interna do homem, uma iniciação a um modo de consciência tradicionalmente descrito na linguagem da luz. 

Mas na verdade o nascimento do sol é uma ficção poética, a transferência de movimento do espectador para o espetáculo. O sol nunca nasce ou se põe. Esses eventos, embora anotados com precisão nos almanaques, jamais ocorrem. A verdade, que quase nem se precisa dizer, é que a Terra gira, e nós com ela; mas tão completo é o nosso condicionamento ao mundo da experiência sensorial que habitualmente projetamos sobre um corpo externo o nosso próprio movimento. A Terra gira, o sol torna-se visível, e dizemos: ele nasce. A Terra gira, o sol some de nossa visão, e dizemos: ele se põe. 

Na literatura da vida espiritual, a adoção do nascimento do sol como símbolo de iluminação interior oculta a verdade de que a iniciação não é o resultado de um favor divino ou uma inspiração poética, mas é produzida por uma mudança no interior do indivíduo. Na verdade a mudança é um giro, uma verdadeira conversão para longe da vida do 'eu' e uma aproximação da vida de autodoação. Quando o aspirante é capaz de rasgar o véu do egoísmo, pode perceber a luz que jamais deixou de estar presente.

As figuras de linguagem têm sido a língua franca dos místicos de todas as eras. Conscientemente empregadas como o único meio verbal para expressar o inexpressável, eles não podiam ser mal interpretados por aqueles para quem a iluminação, o nascimento do sol interior, era um fato de experiência. Onde falta experiência, no entanto, é provável que a ignorância como único intérprete aceite o simbolismo verbal como uma afirmação de fato, perpetuando assim a ilusão que mantém o homem prisioneiro dos seus sentidos. 

Um trecho dos escritos de H. P. Blavatsky expõe vigorosamente um exemplo de nossa escravidão ao ponto de vista egocêntrico - isto é, centrado na personalidade. Ela diz: 'Se ao menos pudésseis apreender a ideia básica.' Lembrando seus discípulos da 'grande verdade axiomática da Realidade Una', acrescenta: 'Esta é a sempre existente Essência Raiz, imutável e incognoscível aos nossos sentidos físicos, mas manifesta e claramente perceptível às nossas naturezas espirituais.' Daí segue-se naturalmente que 'se Ela é onipresente, universal e eterna, Dela devemos ter emanado, e devemos, algum dia a Ela retornar'. 

Há uma consequência ulterior, da qual a ilusão do nascimento do sol pode lembrar-nos diariamente. 'Sendo assim', escreve ela, chamando a atenção mais uma vez para as implicações da grande verdade axiomática, 'então faz sentido que vida e morte, bem e mal, passado e futuro, sejam todas palavras vazias, ou na melhor das hipóteses, figuras de linguagem'. 

O nascer do sol é uma ilusão, pois a Terra gira, mas o sol não nasce. Vida e morte são ilusões, pois há apenas Existência, à qual nada pode ser acrescido, da qual nada pode ser retirado, na qual tudo eternamente é."

(Ianthe H. Hoskins - Iluminação Interior - Revista Sophia, Ano 15, nº 65 - p. 5/7)


quinta-feira, 18 de novembro de 2021

A ENTREGA A DEUS (1ª PARTE)

"A pessoa madura é consciente de que deve assumir a responsabilidade por construir a sua vida, sem sonhar e esperar que seus problemas sejam resolvidos por uma fonte externa. No entanto, um dos pilares da vida espiritual é a entrega a Deus. Será que estamos diante de mais um paradoxo da vida oculta? Esse não é o caso. As duas proposições são verdadeiras concomitantemente, pois Deus não é uma fonte externa, mas sim o âmago de nossa natureza interior. Na verdade somos uma expressão de Cristo, somos o Filho de Deus, mas a maior parte da humanidade ainda não tem consciência desta verdade profunda e eterna. 

Nosso progresso na Senda espiritual torna-se acelerado quando fazemos uma sincera entrega a Deus ou, como alguns estudiosos preferem dizer, uma entrega à nossa natureza divina. Com isso transferimos o centro de decisões de nossa vida, do ego, com suas limitações de todos os tipos, para nossa natureza superior, com seu amor, sabedoria e total comprometimento com nossa felicidade última. Com isso estaremos desativando o atual agente controlador de nossa vida, que não busca o nosso verdadeiro interesse, e entregando o controle para nosso Pai/Mãe Celestial, cujo propósito é a nossa libertação do sofrimento e Iluminação, ou seja, o nosso 'passaporte' para que, como filhos pródigos que somos, possamos retornar par a Casa do Pai.

Quando realmente nos entregamos a Deus sentimos que não estamos mais sozinhos. Passamos a ter acesso a toda a sabedoria e poder que SERÃO NECESSÁRIOS para superarmos as dificuldades e os desafios que todo aspirante enfrenta no caminho que leva à Verdade que nos liberta. Vista sob outro ângulo, a entrega a Deus acelera nosso progresso na Senda, justamente porque o objetivo da vida espiritual é alcançar a consciência da unidade com Deus. 

Sabemos, por experiência própria, que tudo conspira contra as mudanças necessárias na vida espiritual. As tentações vivem nos fazendo tropeçar. Os apegos dificultam nosso progresso. O ego usa de mil artimanhas para garantir a manutenção do status-quo, sendo uma das mais importantes, no mundo cristão, a crença errônea de que somos 'vis pecadores'. Essas dificuldades afetam buscadores novatos e avançados indistintamente, como indica a famosa passagem do Apóstolo Paulo:

'Eu sei que o bem não mora em mim, isto é, na minha carne. Pois o querer o bem está ao meu alcance; não, porém, o praticá-lo. Com efeito, não faço o bem que eu quero, mas pratico o mal que não quero. Ora, se eu faço o que não quero, já não sou eu que estou agindo, e sim o pecado (o ego) que habita em mim'.

Esse impasse também foi aludido por Jesus no Sermão da Montanha quando ele declarou: 'Ninguém pode servir a dois Senhores'. Temos que decidir se queremos tomar o caminho que nos levará às alturas espirituais ou permanecer nos vales sombrios deste mundo de ilusões, sofrendo sob o jugo do ego. Neste caso permaneceremos sujeitos às inesperadas virados do destino com suas amargas surpresas e desilusões. Nossas experiências são equiparadas a sonhos. Esses sonhos são de nossa criação. Como eles são a nossa percepção errônea da realidade, podemos mudá-los a qualquer momento. Temos o poder de criar o inferno e o poder de criar o céu. Por que não usar a nossa mente, nossa imaginação, nossas emoções e nossa determinação para criar o céu? Com isso passamos a perceber a paz, o amor e a alegria à nossa volta em tudo e em todos.(...)" ...continua.

(Raul Branco - A Essência da Vida Espiritual - Ed. Teosófica, Brasília, 2018 - p. 99/101)


quinta-feira, 11 de novembro de 2021

DEUS É O AMANTE POR TRÁS DE TODO AMOR

"Enquanto buscava o amor duradouro, vim a compreender que Alguém Mais cuidava de mim por intermédio de todos os amores humanos. O Divino me tem amado como mãe, pai e amigo. Procurei o único Amigo por trás de todos os amigos, aquele Amante a Quem agora vejo brilhando nas faces de todos vocês. E esse amigo nunca me abandona.

Deus está por trás de tudo. 'Honrarás teu pai e tua mãe',³ mas 'amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força'.⁴ Vocês precisam compreender como é importante cultivar a amizade divina com Ele, sem mais perda de tempo. Ao dormir, como podem ter certeza de acordar no dia seguinte? Um a um, nós deixamos esta terra. Mas não se deve lamentar nada. Ao morrer, seremos chamados a renascer aqui, iniciando outra vida a partir do ponto em que interrompemos esta. 

Vejo a vida e a morte como o subir e o descer das ondas do mar. No nascimento, uma onda levanta-se da superfície e, na morte, ela cai adormecida no seio de Deus. Realmente percebi isto. Sei que jamais morrerei, pois, quer esteja dormindo no oceano do Espírito, quer desperto em um corpo físico, estou sempre com Ele. Essa suprema felicidade não pode ser encontrada no mundo; mas não precisamos fugir para a floresta para buscá-Lo. Podemos encontrá-Lo nesta floresta da vida cotidiana, na gruta do silêncio interior.

Não importa quantos erros tenham cometido; são apenas temporários. Vocês são feitos à imagem do Espírito. O Senhor criou o filme ilusório da terra e de todos os seus prazeres com um só objetivo: que vocês não se deixassem iludir pelo jogo de maya, abandonando-o para amar só a Ele. Esta é a verdade; não pode ser diferente. Por que somos levados a sentir amor pelos membros de nossa família, somente para vê-los partir, um a um? Essas coisas acontecem para ajudar-nos a compreender que é Ele quem nos ama, por detrás de todos os entes queridos. 

A dificuldade, no filme da vida, é que todas as irrealidades parecem reais e todas as realidades parecem irreais. Todas as noites, quando dormimos, o mundo desaparece de nossa consciência, para que possamos compreender que o universo material não é real. Essa lição do sono não é dada para amedrontar-nos, e sim para que busquemos a realidade de Deus. A alma jamais poderá satisfazer-se com coisa alguma, exceto com Ele e Seu amor. O espírito de Deus é a realidade que nada mais pode igualar.⁵"

³ Mateus 19:19.
⁴ Deuteronômio 6:5.
⁵ 'Para o irreal, não há existência. Para o real, não há inexistência. Os homens de sabedoria conhecem a verdade final a respeito de ambos' (Bhagavad Gita II:16).

(Paramahansa Yogananda - A Eterna Busca do Homem - Self-Realization Fellowship - p. 179/180)


quinta-feira, 14 de outubro de 2021

A INVESTIGAÇÃO POR PRAZER - IV

"O que os homens desejam é saber como mudar a dor pelo prazer; ou, por outras palavras, encontrar por meio de que procedimento pode regular-se a consciência, com o fim de que a sensação mais agradável, seja e que se experimente. Se é possível descobrir-se isto para o esforço do pensamento humano, é pelo menos uma questão digna de se ter em conta.

Se a mente do homem permanece fixa sobre algum assunto determinado com a concentração suficiente, obtém a iluminação com relação ao mesmo, mais cedo ou mais tarde. O indivíduo em quem a iluminação final aparece, é chamado um gênio, um inventor, um inspirado. Porém, ele é unicamente a síntese de uma grande obra mental verificada em seu redor por homens desconhecidos, dos quais alguns estão separados dele por grandes distâncias; sem ele houvera carecido de material necessário para sua empresa. Do mesmo modo o poeta precisa o alimento de inumeráveis poetastros.

Ele é a essência do poder poético do seu tempo e dos tempos anteriores a ele. É impossível separar um indivíduo de qualquer espécie, dos seus congêneres. 

Portanto, se em vez de aceitar o desconhecido como incognoscível, os homens, de comum acordo, a ele dirigissem seus pensamentos, estas Portas de Ouro não permaneceriam tão inexoravelmente fechadas. Só se necessita de uma mão forte para empurrá-las e abri-las. A coragem para entrar nelas é a mesma que se necessita para penetrar no mais secreto da nossa própria natureza, sem medo nem vacilação. Na mais delicada porção, a essência, o perfume dos homens, se encontra a chave com a qual estas grandes portas se abrem. E uma vez abertas, o que é que ali se encontra? Vozes existem aqui e ali, que, no meio do grande silêncio dos séculos, a esta pergunta respondem; todos os que por elas passaram têm deixado atrás de si palavras à maneira de legados para os que são como eles. Nestas palavras podemos encontrar definidas algumas indicações referentes daquilo que se vê mais além das portas. Porém, unicamente aqueles que desejam empreender este caminho podem ser o significado oculto que por trás das palavras se escondem. Os sábios, ou melhor, os comentadores, leem os livros sagrados de diferentes nações, os de poesia e de filosofia, devido a encumeadas inteligências e neles unicamente encontram mero materialismo. A imaginação, glorificando as legendas da natureza, ou exagerando as possibilidades físicas do homem, lhes explica tudo quanto eles encontram na bíblia da humanidade. 

Tudo quanto existe nas palavras destes livros, existe em cada um de nós e é impossível encontrar, tanto na literatura, como em qualquer das direções em que a inteligência se lance, o que não existe no homem que estuda. Isto é, sem dúvida, um feito evidente conhecido por todos os verdadeiros estudantes. Mas tem que ser especialmente recordado, com referência a este assunto obscuro e profundo, desde o momento em que com tanta facilidade acreditam os homens que nada para os demais pode existir, ali onde encontram eles o vazio unicamente. 

Uma coisa logo percebe o homem que lê. Todos os que se adiantarem, não têm achado que as Portas de Ouro conduzam ao esquecimento. Ao contrário, logo que o limiar das mesmas se cruzou, pela primeira vez, a sensação é real. Mas pertence a uma nova ordem, a uma ordem desconhecida para nós na atualidade e que não podemos apreciar sem que, pelo menos, possuamos alguma indicação a respeito do seu caráter. Esta indicação pode indubitavelmente ser obtida por qualquer estudante que se familiarize com toda a literatura que para nós é acessível. Os livros e manuscritos místicos existem, mas permanecem inacessíveis, simplesmente porque não existe homem algum em disposição de ler a primeira página de qualquer deles, que não se convença como aqueles que têm estudado o assunto suficientemente. Deve existir uma linha contínua através destes conhecimentos; vemos nós passar da mais densa ignorância à sabedoria; é natural, unicamente, que possamos obter o conhecimento intuitivo e a inspiração. Possuímos alguns raros fragmentos destes grandes dons do homem; onde, pois, está o todo do qual devem eles constituir uma parte? Escondido atrás do sutil e, ao parecer, infranqueável véu, que o oculta de nós, como oculta toda a ciência, toda arte, todos os poderes do homem, até que este tem a coragem suficiente para rasgá-lo. Esta coragem procede  unicamente da convicção. Uma vez que um homem crê que aquilo que deseja existe, tratará de obtê-lo a todo custo. A dificuldade neste caso estriba-se na incredulidade do homem. É necessário muito tempo e grande concentração do pensamento, para se poder lançar na direção da região desconhecida da natureza do homem, com o objeto de que as portas se possam abrir e ser suas gloriosas perspectivas exploradas.

Que merece a pena fazer-se isto, aconteça o que acontecer, tudo deve conduzi-lo a crer ao que fez a triste pergunta do século corrente... É a vida digna de ser vivida? Certamente é o suficiente para incitar o homem a um novo esforço, a suspeita de que mais além da civilização, mais além da cultura mental, mais além da arte e da perfeição mecânica, existe alguma coisa de novo, outro vestíbulo que nos admite às realidades da vida." 

(Mabel Collins - Pelas Portas de Ouro - Ed. Pensamento, São Paulo - p. 19/22


quinta-feira, 23 de setembro de 2021

COLONIZAÇÃO ECONÔMICA

"Se alguém acumula riqueza para consumir o que é desnecessário, ele retira essa riqueza daquilo que pertence a outros; portanto, nada mais é do que um ladrão. Mas, se uma pessoa é incapaz de acumular  riqueza segundo o modo moderno, ele não pode levar uma 'vida digna'. Uma pessoa assim é classificada entre aqueles que estão abaixo da linha de pobreza, que precisam de mais assistência, mais fundo de desenvolvimento e mais oportunidades de emprego. Portanto, mais empréstimos e mais know-how são necessários, segundo os termos determinados pelo Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional, a Organização Mundial de Comércio e os governos das chamadas ' nações desenvolvidas'. Assim, as nações do Terceiro Mundo estarão sempre curvadas. O sistema econômico não apenas nos priva de nossa sabedoria e discriminação; rouba-nos também nossa dignidade e autorrespeito. 

Hoje, todos os sistemas geopolíticos e socioculturais são governados por um fator único, que é a economia de mercado. Outros ideais políticos e sociais, como democracia, direitos humanos, diversidade cultural e liberdade de consciência são meras palavras, destituídas de significado, usadas de maneira ornamental e metafórica e, se necessário, como simulacro de apoio. 

O colonialismo político chegou ao fim devido ao despertar dos povos sujeitos a essa dominação durante os últimos séculos. Atualmente essa prática foi substituída pela colonização econômica, que é muito mais perigosa. A ocupação política pode ser derrubada em pouco tempo, mas serão necessárias várias décadas ou séculos para se recuperar da dominação econômica - presumindo-se que haja uma chance de reconquistar essa liberdade. 

Como as prioridades econômicas suplantaram tudo o mais, o indivíduo se tornou egoísta, violento e destituído de fundação moral e ética. O moderno estilo de vida também destruiu as inclinações espirituais da maioria das pessoas. A essência da religião tem sido ignorada; as religiões e suas instituições têm sido usadas para fortalecer a intolerância e o conflito. A maioria das pessoas pensa que espiritualidade, moralidade e ética são empecilhos ao desenvolvimento material. Muitos dizem abertamente que 'religião é veneno' em termos de progresso. Uma pequena minoria pode não concordar totalmente com isso, mas diz mansamente que não há solução senão se submeter.

Na ausência de sabedoria e coragem para se opor ao mal, a pergunta natural é: 'O que podemos fazer?' Esta é uma pergunta muito importante. Seguindo o princípio de satyagraha de Gandhi, recomendo aos indivíduos que 'pulem fora' do moderno estilo de vida materialista, com seu consumismo excessivo e imoral, e compreendam qual é a sua responsabilidade com relação ao bem-estar universal. O macrouniverso é construído de microuniversos de indivíduos; o que quer que o indivíduo faça tem relevância e produz efeitos sobre o universo. Portanto, quando um indivíduo se dissocia do mal, um microuniverso desarmonizado pode se sintonizar. Assim, o planeta em mais chances de recobrar sua harmonia com o universo."

(Samdhong Rinpoche - Uma cura para o planeta - Revista Sophia, Ano 13, nº 54 - p. 34/35)


terça-feira, 14 de setembro de 2021

LEVE DEUS A SÉRIO, NÃO A VIDA

"A vida está repleta de tragédias e comédias, um caleidoscópio de variedade infinita. Não há duas coisas iguais. A vida de cada um é singular. Cada pessoa tem um diferente tipo de rosto, de mente e de desejos. Seria monótono passar exatamente pelas mesmas experiências todos os dias; logo nos cansaríamos da vida. Se o próprio céu fosse o mesmo todos os dias, ninguém o quereria. Gostamos de variedade. A ideia estereotipada que se faz do céu está totalmente errada. Se fosse monótono, todos os santos rezariam para voltar à terra, em busca de uma pequena mudança! O céu é algo infinitamente variado, sempre agradavelmente novo, enquanto a terra costuma ser desagradavelmente nova!

Contudo, apesar das dificuldades da vida, a maioria das pessoas acostuma-se e supõe que não há outro modo de viver. Não podendo compará-la com a vida espiritual, não avaliam a dor e o tédio que existem na vida terrena.

Efetivamente, a vida não é real; é apenas um entretenimento. Assim como velhos filmes são reprisados várias vezes, basicamente os mesmos velhos incidentes ocorrem e voltam a ocorrer na vida. Embora a vida vá prosseguir eternamente, os mesmos temas retratados em filmes antigos serão representados de novo, vezes sem conta. É verdade que a história se repete. Somos todos peças de museu!

Em sua vida, aconteça o que acontecer, aceite tudo alegremente, impessoalmente, como se assistisse a um filme. A vida é divertida quando não a levamos a sério. Uma boa risada é um excelente remédio para os males humanos. Uma das melhores características do povo americano é sua capacidade de rir. Ser capaz de rir da vida é maravilhoso. Isso o meu mestre [Swami Sri Yukteswar] ensinou. No início do treinamento em seu eremitério, eu andava sempre com uma expressão solene; não sorria nunca. Um dia, o Mestre observou criticamente: 'O que é isso? Você está numa cerimônia fúnebre? Não sabe que encontrar Deus é o funeral de todas as tristezas? Então, por que está tão sombrio? Não leve esta vida muito a sério.' Ele me ensinou que é preciso estar mentalmente acima de todas as crucificações da experiência terrena, para encontrar a completa felicidade em Deus. 

Krishna ensinou: 'Sereno na ventura e na desventura, no ganho e na perda, no triunfo e no fracasso - assim deves enfrentar a batalha da vida! Desse modo, não adquirirás pecado.'³ Permanecer equânime, aconteça o que acontecer, é um dos melhores meios de vencer desejos ilusórios. Isso aprendi pelo exemplo do meu grande mestre - imutável até o fim. Cristo também demonstrou esse espírito. E o amor de Deus não lhe foi tirado; apesar de torturado. Jesus não perdeu a consciência divina. A proteção de Deus à nossa paz e alegria é a maior fortaleza possível. Durante todas as privações e sofrimentos, lembre-se das coisas boas que Deus lhe deu. Sua alma é o tempo celestial de Deus. As trevas da ignorância e das limitações mortais precisam ser expulsas desse templo. É maravilhoso estar na consciência da alma- fortalecido, robusto!

Nada tema. Não odiar, oferecer amor a todos, sentir o amor de Deus, ver a presença Dele em todos e ter apenas um desejo - o desejo de Sua constante presença no templo da consciência -, este é o modo de viver neste mundo. Os que tiverem outros desejos não conhecerão a verdadeira satisfação."

³ Bhagavad Gita II.38.

(Paramahansa Yogananda - A Eterna Busca do Homem - Self-Realization Fellowship - p. 126/128)


quinta-feira, 9 de setembro de 2021

QUALIDADES DO DEVOTO QUE CATIVAM A DEUS (CAPÍTULO XII)

"Aquele que está livre de ódio a todas as criaturas, é amigável e benevolente para com todos, é desprovido de possessividade e da consciência do 'eu', é equânime no sofrimento e na alegria, tudo perdoa e está sempre contente, que pratica yoga com regularidade, buscando o tempo todo conhecer o Eu e unir-se ao Espírito por meio da yoga, que é dotado de firme determinação, com a mente e o discernimento entregues a Mim, esse é Meu devoto e Me é querido. 13-14

Aquele que não perturba o mundo e que não pode ser perturbado pelo mundo, que está livre de exultação, ciúme, receio e preocupação, ele também Me é querido. 15 

Aquele que está livre de expectativas mundanas, que é puro de corpo e mente, que está sempre pronto para agir, que permanece sem se tornar preocupado ou ser afligido pelas circunstâncias, que abandonou todos os empreendimentos motivados pelo desejo e originado no ego, esse é Meu devoto e Me é querido. 16

Aquele que não sente regozijo nem aversão em relação ao que é alegre ou triste (nos aspectos fenomênicos da vida), que está livre da mágoa e dos desejos, que expulsou a consciência relativa de bem e mal, e que é atentamente devotado, esse Me é querido. 17

Aquele que é igualmente sereno diante de amigos e adversários, em face da adoração e da ofensa e diante das experiências de calor e frio, prazer e sofrimento; que renunciou ao apego, e considera iguais a censura e o elogio; que é calmo e se contenta com facilidade, não é apegado à vida doméstica e tem disposição tranquila e piedosa, esse Me é querido. 18-19

Mas aqueles que se mantêm, com amor e veneração, nesta religião (dharma) imortal, revelada até aqui, impregnados de devoção, supremamente absortos em Mim, tais devotos Me são extremamente queridos." 20

(Paramahansa Yogananda - A Yoga do Bhagavad Gita - Self-Realization Fellowship - p. 140/141)

  

terça-feira, 7 de setembro de 2021

A MORTE E A SOLIDÃO DO SER

"Costumamos considerar 'materialista' quem não acredita em Deus. Contudo, quando procuramos ir fundo na questão 'quem é Deus?', considerando-o como fonte de um universo cujos limites a ciência não consegue nem suspeitar, vemos que qualquer 'crença' a respeito sempre há de ser extremamente enganosa, ao se apoiar no intelecto.

Essas limitações são bem visíveis quando a religião, no Velho Testamento, tenta colocar Deus ao alcance do homem, dando-lhe os defeitos do próprio ser humano. 

A ciência, por sua vez, buscando simplificar as coisas com ideias como a 'acidentalidade' da Criação, tenta negar o que é incompreensível para o intelecto: a existência de um poder por trás da extraordinária inteligência e perfeição de cada coisa criada, seja uma minúscula semente com sua capacidade de gerar determinada espécie vegetal, entre as milhares existentes, seja uma estrela como o nosso Sol, cuja luz e calor fazem aquela semente brotar na Terra a 150 milhões de quilômetros de distância. 

Na perspectiva esotérica, diz-se que Deus é o 'um sem segundo', e toda a manifestação universal é um desdobramento Dele em infinitas faces. Diz-se também que o ser humano é uma pequenina semente de Deus. Assim como a semente de uma árvore a contém potencialmente - produzindo-a um dia - o destino de uma pessoa, ao longo das eras, é se tornar um ser idêntico à sua origem. Por isso, Krishnamurti afirmou: 'Tu és Deus', na pequena joia denominada Aos Pés do Mestre (Ed. Teosófica). Diz-se 'és' - e não 'serás' - porque ser no presente é só um questão de consciência. 

Sentindo-nos pequeninos, como de fato somos, neste corpo dominado por ilusões e apegos, pode parecer muito distante o ensinamento teosófico. Bem mais confortável é imaginar um Criador que vai gerando almas e corpos indefinidamente, que vivem em média setenta anos, e premiando os 'eleitos' com o paraíso eterno (ou inferno eterno, se compararmos a 'agitação' do nosso prazer com o 'não fazer nada' do céu cristão). 

Entre a ideia da Criação com uma promessa de uma eternidade sem sentido e a visão da ocidentalidade materialista, onde a morte é o fim de tudo, qual a melhor? Qual a pior?

Considerando a sabedoria infinita da Criação, algo nos diz que ela não poderia ser desperdiçada nos becos sem saída da ciência sem religião, ou na 'fé cega' da religião sem ciência. Aos que vão além, cedendo aos suaves impulsos de sua consciência intuitiva, os caminhos se abrem e indicam um propósito para tudo, como nos ensina a própria natureza, sempre buscando meios de sobrevivência. 

O anseio por eternidade é algo inerente ao ser humano. Claramente esse anseio não se origina no intelecto, pois a ideia de infinito não cabe nele. O infinito não pode ser medido, e a especialidade do intelecto é pesar e medir, integrando a mente comparativa dos seres humanos. 

O infinito de que suspeitamos mora no espírito, e o espírito é uma centelha de Deus, o 'um sem segundo'. Por essa razão, uma das lições mais árduas para nós é derivada do apego, essa necessidade de autorrealização pela posse das coisas externas, o que nos é repetidamente negado, com a perda de todas essas aquisições na experiência da morte física. 

Assim é que, ao sair deste mundo, vamos sós, sem qualquer lastro material ou afetivo, assim como entramos nele. Voltamos, porém, muitas vezes, para enfim aprender com a morte o que os mestres nos ensinaram em vida: a conquista do eterno só se realiza pela aniquilação do transitório, da dependência de qualquer coisa externa como fonte de felicidade. 

Morta a ideia da posse, morre também seu vínculo, restando apenas a solidão do ser. Não como sentimento de ilusória separatividade, mas de autossuficiência inerente ao eterno, como consciência da vida una, da totalidade do próprio ser."

(Walter Barbosa - A morte e a solidão do ser - Revista Sophia, Ano 19, nº 90 - p. 19)


quinta-feira, 8 de julho de 2021

CONHECIMENTO ESPIRITUAL

"H.P.B. diz que o conhecimento espiritual é inatingível por métodos intelectuais comuns, tais como autoanálise. Penso que temos aqui a chave para compreender alguma coisa que Krishnamurti diz. Ele fala frequentemente da atenção aos nossos processo de pensamento e sentimento, sem escolha e sem personalização. Esta observação absolutamente impessoal do eu pessoal pelo superior é uma forma elevada de Ioga. Lentamente todo o processo da mente e das emoções são observadas e compreendidas, camada após camada, desde a consciência superficial do dia-a-dia até o nível mais profundo da 'subconsciência.' Isto não é a autoanálise comum. O motivo é inteiramente diferente. Na autoanálise comum, o eu comum está julgando o eu comum, no ponto de vista de elogio ou condenação, lucro ou perda. A autoconscientização de Krishnamurti, sinto, é a compreensão de toda a vida até que a vida, Ela mesma, seja alcançada.  

Obter esse conhecimento é a maior das realizações, diz H.P.B., maior, muito maior e mais nobre do que as assim chamadas, 'artes ocultas.' 'Poucos há que a encontram,' disse o Senhor Cristo.

Assim o primeiro passo para encontrar o verdadeiro Eu é encarar nosso corpo como não sendo nós próprios, como a casa em que vivemos temporariamente, ou as roupas que vestimos, ou, como diz o Mestre K.H. em Aos Pés do Mestre, 'o cavalo em que montamos.' Este último é a melhor expressão de todas, pois nosso corpo é uma coisa viva com uma obscura vida elemental própria separada da nossa. Suponha que só pudéssemos ir a qualquer lugar cavalgando; então cuidaríamos desse cavalo, o trataríamos e o exercitaríamos devidamente. Assim também devemos tratar nossos corpos, que são valiosos, mas não identificar nossa consciência com eles. Um efeito indesejável dessa identificação comum, tremendamente próxima, é seu efeito sobre a radiação psíquica interpenetrante que, infalivelmente, segue o pensamento e o sentimento. Pensar que somos este corpo atrai a radiação da 'aura' e concentra demasiada matéria psíquica ou astral sob a periferia da pele, causando congestão psíquica e ligeira tensão nervosa. Muita gente tem radiação suficiente. 

O 'Caminho' é sempre o mesmo, a descoberta do verdadeiro homem interior. Tudo o mais deriva daí. Viveka é, assim, discernimento inteligente e percepção espiritual, e seu corolário, Vairagya, é a consequente firmeza diante dos 'pares dos opostos.' O objetivo de Viveka é aquilo que está na prece do Rei Salomão: 'Dai, portanto, ao vosso servo um coração compreensivo.' Quando começamos a compreender a nós mesmos e aos outros, sem elogio ou reprimenda, talvez comecemos a ouvir a doce voz que tanto desejamos ouvir. Através do pensamento, da aspiração, da meditação, da determinação, lentamente o mundo divino e suas qualidades começarão a tornar-se visíveis. Mas não há metáforas que possam descrever essa visão interior. Está além da imaginação humana, pois nunca a mente humana conheceu alguma coisa semelhante, sua beleza gloriosa, certeza e verdade.

'Não sou este corpo que pertence ao mundo das trevas; não sou os desejos que o afetam; não sou os pensamentos que enchem a minha mente; não sou a própria mente. Sou a Chama Divina em meu coração, eterna, imortal, invisível. Mais radiante que o sol, mais puro que a neve, mais sutil que o éter é o Ser, o espírito dentro do meu coração.'"

(Clara Codd - As Escolas de Mistérios - Ed. Teosófica, Brasília, 1998 - p. 183/185)


quinta-feira, 1 de julho de 2021

DESCOBRE A DEUS DENTRO DE TI!

"Será esta a mais gloriosa aventura da tua vida: descobrir a Deus dentro de ti.

Vives na ilusão tradicional de que Deus habita no céu, palavra com que entendes infantilmente alguma região longínqua do universo, e que esse Deus deva ser procurado em longas e incertas odisséias centrífugas.

Disseram-te que em alguns lugares da nossa terra está Deus mais presente do que em outras - e por isto empreendeste árduas peregrinações e romarias a zonas distantes do globo terráqueo, a fim de te aproximares um pouco mais do Deus ausente.

Tão grande é a distância entre ti e Deus, disseram-te, que ninguém sabe se tem forças suficientes para chegar ao termo da jornada.

Mais ainda, essa jornada nem parece ser tarefa da vida presente, mas algum acontecimento post-mortem; Deus parece estar oculto por detrás do espesso véu de carne corpórea, como a efígie de Ísis por detrás do pesado véu do templo de Saís - uma vez destruído esse véu de carne e osso, Deus aparecerá visível, pensas tu...

Grande será a tua ilusão, meu pobre viajor! Maior que a do jovem do santuário da Saís, que levantou o misterioso véu para ver a divindade - e contemplou o vácuo...

Deus, é verdade, está em toda parte, mas tu só podes ter com ele um ponto de contato consciente no ponto de confluência entre a tua consciência individual e a Consciência Universal, lá onde o pequeno arroio da tua pernosalidade deságua no oceano imenso da Divindade, donde surgiu, fechando o vasto ciclo.

Pois, do Oceano divino vieste, qual tênue vapor, condensado, depois, em branca nuvem, que os ventos levaram por todas as latitudes e longitudes do mundo - até descer em forma de chuva benéfica - ou talvez de granizo destruidor? - sobre a vida terrestre, demandando o leito de um regato, de um rio, de uma torrente - e acabaste novamente no seio profundo do Pélago donde surgiras...

Depois que descobrires a Deus dentro de ti, é fácil descobri-lo por toda a parte - não projetando-o ficticiamente para dentro das coisas, mas descobrindo-o verazmente em todos os seres, onde ele está de fato; pois, do contrário, esses seres não teriam o ser, não seriam algos, mas nadas, uma vez que fora de 
Deus não há realidade autônoma, original, senão apenas pseudorrealidade heterônoma, derivada...

Descobre a Deus em ti - e te verás em Deus...

E em Deus verás teus semelhantes e o mundo inteiro..."

(Huberto Rohden - Imperativos da Vida - Alvorada Editora e Livraria Ltda., São Paulo, 1983 - p. 79/80