OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


sexta-feira, 4 de novembro de 2016

SATSANG

"Dize-me com quem andas...

Você anda em companhia de pessoas bondosas, puras, amorosas, sinceras, caridosas, corretas, abnegadas?...

Não precisa dizer mais nada...

Já sei muito sobre você.

O semelhante atrai o semelhante.

Se notar em você alguma tendência para buscar as rodas de 'fumo', as rodas de maledicência, de vício, de mentira, corrupção... Já sei também bastante sobre você.

Se você aspira a felicidade e a paz, a alegria e o equilíbrio, procure então viver com pessoas sábias e puras.

Senhor. Obrigado por Tua perene presença em mim!"

(Hermógenes - Deus investe em você - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1995 - p. 171/172)


quinta-feira, 3 de novembro de 2016

O FUTURO É AGORA

" (...) Somos autores de nossos próprios sofrimentos, por isso só nós podemos desfazê-los. Surgiram de nossos pensamentos, de nossas suposições e, se descobrimos suas consequências, essas ilusões cessam e há a possibilidade de uma verdadeira mudança. Essa mudança não vai acontecer no tempo, não acontecerá gradualmente. Ou percebemos a verdade ou não a percebemos. Não podemos descobrir vinte por cento da verdade, depois cinquenta por cento e pouco a pouco chegarmos a cem por cento, como ir subindo numa montanha. Ora, a verdade entra na mente como uma revelação instantânea, uma profunda percepção que produz a mutação da consciência e quando acontece, estamos livres. O problema termina e não precisamos controlá-lo. Precisamos controlar o problema somente quando ele está surgindo, porque a causa ainda não foi eliminada.

Por isso existem guerras no mundo, porque suas causas não foram eliminadas. Vejam a situação do Oriente Médio, entre árabes e judeus. Os árabes dizem a seus filhos que os judeus são seus inimigos, e os judeus dizem aos seus filho que os inimigos são os árabes. Quando morrem os mais velhos, as crianças ficam com a inimizade ensinada desde o berço. E como poderá findar a divisão de ódio entre essas duas comunidades? Não findou nos últimos sessenta e cinco anos, e a situação continua exatamente a mesma. Cada vez que surge um conflito, as Nações Unidas vão lá para estabelecer algum diálogo, para algum acerto, mas todas as vezes, a pacificação não tem êxito. Certamente há uma causa mais profunda por trás disso, e enquanto não eliminarem a causa, o efeito continará a aparecer. O fato é que não há grande diferença entre árabes e judeus. Pensam que existe por terem diferentes religiões, crenças, apegos, hábitos, alimentos etc, mas são coisas muito superficiais; bem no fundo têm muito em comum: os mesmos instintos, os mesmos problemas de desejo, ciúme, ambição, medo e tristeza porque são seres humanos. Sentem-se diferentes apenas porque dão tremenda importância às diferenças superficiais, que são uma ilusão.

Budha ensinou a verdade de que o outro sou eu. Se não parece ser assim é porque a mente está cheia de ilusões que nos separam, enquanto persistirem não haverá mudança no estado psicológico, não haverá evolução psicológica; por isso o futuro é agora. Haverá mudança real só quando percebermos o que é verdade e o que é falso. Por isso a busca da verdade é a mais elevada religião, e a mente ávida é a real mente religiosa.

A sabedoria é terminar o momento, descobrir o fim da jornada a cada passo do caminho e viver grandes momentos de boas horas. Ralph Waldo Emerson"

(P. Krishna - O futuro é agora - Revista TheoSophia Julho/Agosto/Setembro de 2013 - Pub. Sociedade Teosófica no Brasil - p. 18/19)
www.sociedadeteosofica.org.br


quarta-feira, 2 de novembro de 2016

VIVA NO MAIS ELEVADO

"Muito frequentemente as pessoas pensam que uma mudança de circunstâncias irá ajudá-las a atingir o seu ideal. Ou julgam que a prática sincera de sua fé religiosa ou o trabalho que fazem para transformar o mundo em uma utopia devem ser a sua preocupação principal. Todavia, a única mudança que vale a pena deve ocorrer na consciência do próprio indivíduo. Cada um de nós deve parar de projetar seus próprios problemas para o mundo e depois culpar o mundo pelos problemas que são nossos. A maioria de nós faz isso o tempo todo. Construímos grandes edifícios e instituições intelectuais para justificar e reforçar as barreiras contra o autoexame. Por exemplo, minha própria profissão, a psicologia, como disciplina intelectual, é um produto do esforço e da consciência humana e, portanto, tende a sofrer de síndrome de superdeterminismo. O debate 'hereditariedade versus ambiente' começou cedo na história da psicologia. Primeiramente, o desajuste foi atribuído a causas paternais e sociais. Hoje em dia não é popular e se considera ingenuidade atribuir mais do que poderes determinantes menores às características herdadas. Um caso em questão é a malevolência com que muitos psicólogos atacam as teorias do professor Eysenck sobre as diferenças herdadas de raça e de classe na inteligência. Tais reações são compreensíveis, já que as pessoas se sentem mais confortáveis se puderem provar que as causas têm origem fora delas mesmas e que estão sofrendo como resultado dos pecados de seus pais.

Não se pode superestimar o valor da profecia que se autorrealiza. Atualmente, é comum acreditar que as pessoas são ruins, que o mundo está em um estado lastimável, e que de algum modo devemos combater o sistema para conseguir nossa fatia do bolo, ou que devemos desistir e afundar. O futuro parece sombrio. As pessoas estão inundadas em pensamentos desagradáveis e depressivos. Definimos a nós mesmos por meio da negação - pelo que somos e pelo que as outras pessoas não são. E, pelo que se lê nos jornais, a nossa consolação geralmente vem do pensamento de que pelo menos as coisas não estão tão ruins para nós como parecem estar para os outros. É de admirar que as pessoas tenham a tendência a serem desagradáveis? Contudo, pense naquelas pessoas que você conhece e que tendem a considerar o que é possível e melhor à sua volta. Elas não apenas são proeminentes, assim como sua atitude em relação à vida faz curvar toda situação que enfrentam em direção ao preenchimento de suas expectativas. Em outras palavras, sendo aquilo que há de mais elevado nelas mesmas, respondendo ao que há de melhor em si mesmas e nos outros, continuamente corrigindo seus hábitos negativos e tentando viver de maneira positiva, essas pessoas estão começando a realizar um mundo de beleza e de bondade. Parece ser verdadeiro o antigo ensinamento chinês de que a melhor maneira de se combater o mal é fazer progresso vigoroso em direção ao bem. Uma tal atitude de necessidade envolve abandonar a ansiedade referente aos resultados das próprias ações."

(Nicky Hamid - Rumo a um estado de consciência mais elevado - Revista TheoSophia Abril/Maio/Junho de 2010 - Pub. Sociedade Teosófica no Brasil - p. 42/43)


terça-feira, 1 de novembro de 2016

O DRAMA DA ALMA

"Podemos considerar as repetidas encarnações da Alma divina nos mundos de manifestação externa como uma atividade especial do Ego, com o determinado propósito de adquirir o conhecimento que só desse modo lhe é possível. A tragédia se dá com a descida da consciência divina aos três corpos - físico, emocional e mental -, a verdadeira queda do homem na matéria, que é a causa de todo o subsequente sofrimento na peregrinação da Alma. Assim é que o Ego, ao infundir uma porção de si mesmo em cada um dos três corpos, identifica-se com o corpo em que se infunde; e, por essa identificação, percebe a si próprio como sendo o corpo destinado a servir-lhe de instrumento. 

Ao identificar-se com os seus veículos, a consciência encarnada já não compartilha da oniabarcante consciência do divino Ser a que pertence, mas participa da separatividade dos corpos e se converte numa entidade dissociada dos demais seres e oposta a eles, isto é, numa personalidade. É a velha lenda de Narciso, que ao contemplar sua imagem refletida na água do lago anseia por abraçá-la; e ao fazer tal tentativa, morre submerso na água. Assim a consciência encarnada está submersa no mar da matéria; e, ao identificar-se com os distintos corpos, separa-se do Ser a que pertence e já não se reconhece como o que verdadeiramente é: filho de Deus.

Então começa a longa tragédia da Alma exilada, que se esquece de sua divina herança e se degrada na inconsciente submissão aos corpos que deveriam ser instrumentos de sua Vontade. É o antigo mito gnóstico de Sophia: a Alma divina exilada vive entre ladrões e salteadores que a humilham e maltratam, até que Cristo a redime e a restitui à sua divina morada.

Pode haver maior tragédia e mais profunda degradação que aquela onde a Alma divina, membro da suprema Nobreza, a própria Divindade, esteja sujeita às humilhações e indignidades de uma existência na qual, esquecida de sua alta categoria, consente em escravizar-se à matéria? 

Às vezes, quando vemos a humanidade em seu pior aspecto, horrenda em sua odiosidade, discordante em seu desvio da Natureza, grosseira e brutal ou estúpida e frívola, nos apercebemos dessa intensa tragédia da Alma exilada e temos pungente consciência da degradação sofrida pelo imortal ser interno."

(J.J. Van Der Leeuw - Deuses no Exílio - Ed. Teosófica, Brasília, 2013 - p. 18/19)


segunda-feira, 31 de outubro de 2016

LEIS IDEAIS DA VIDA CONJUGAL

"As pessoas que planejam casar-se devem averiguar honestamente se suas naturezas se harmonizam ou não e se seu amor conseguirá sobreviver a quaisquer condições em quaisquer circunstâncias sociais. Devem descobrir se seu amor se baseia numa cooperação real em torno de um ideal comum. Procure um parceiro que esteja em sintonia com seus princípios éticos, hábitos hereditários e atuais, objetivos financeiros, gostos, tendências e aspirações místicas. 

Antes do casamento, ponha o futuro cônjuge a par de seus negócios e de sua vida social, informalmente, e descubra se ele é capaz de adaptar-se a seus hábitos e ideais. Do mesmo modo, determine se você mesmo poderá aceitar as ambições, temperamento e ideais do parceiro.

O grande segredo para preservar o matrimônio reside na arte do autocontrole. Aprenda a amar seu cônjuge mais no plano espiritual e trate-o como um amigo íntimo, sem insistir exageradamente no plano físico. Se puder fazer isso, vencerá a maior das batalhas; manter seu cônjuge fiel, respeitoso e afetuoso. De quando em quando, una-se fisicamente a ele e considere esse acontecimento um privilégio; sinta como se o estivesse encontrando após muito tempo de separação. Que os dois se unam por inteiro, atentos e corteses. Quando a dedicação começa a arrefecer, é tempo de parar."

(Paramhansa Yogananda - A Sabedoria de Yogananda, A Espiritualidade nos Relacionamentos - Ed. Pensamento, São Paulo, 2011 - p. 54/55)


domingo, 30 de outubro de 2016

O QUE DEVEMOS PRATICAR (PARTE FINAL)

"(...) Os três treinos superiores são o método verdadeiro para obter libertação permanente dos sofrimentos desta vida e das incontáveis vidas futuras. Isso pode ser compreendido com a seguinte analogia. Quando cortamos uma árvore usando uma serra, a serra sozinha não pode cortar a árvore sem que usemos nossas mãos, que, por sua vez, dependem do nosso corpo. Treinar em disciplina moral superior é como o nosso corpo, treinar em concentração superior é como nossas mãos, e treinar em sabedoria superior é como a serra. Usando os três juntos, podemos cortar a árvore venenosa da nossa ignorância do agarramento ao em-si e, automaticamente, todas as demais delusões (seus galhos) e todos os nossos sofrimentos e problemas (seus frutos) cessarão por completo. Então, teremos obtido a cessação permanente dos sofrimentos desta vida e das vidas futuras – a suprema paz mental permanente conhecida como 'nirvana', ou libertação. Teremos solucionado todos os nossos problemas humanos e realizado o verdadeiro sentido da nossa vida. 

Contemplando a explicação acima, devemos pensar:
Já que os três treinos superiores são o método verdadeiro para obter a libertação permanente dos sofrimentos desta vida e das incontáveis vidas futuras, eu preciso aplicar grande esforço em praticá-los.
Devemos meditar nessa determinação continuamente, e colocar essa nossa determinação em prática."

(Geshe Kelsang Gyatso - Budismo Moderno, O Caminho de Compaixão e Sabedoria - Tharpa Brasil, São Paulo, 2016 - p. 62/63)
Fonte: https://cienciaespiritualidadeblog.wordpress.com


sábado, 29 de outubro de 2016

O QUE DEVEMOS PRATICAR (1ª PARTE)

"No Sutra das Quatro Nobres Verdades, Buda diz: 'Deves praticar o caminho'. Neste contexto, 'caminho' não significa um caminho exterior que conduz de um lugar a outro, mas um caminho interior, uma realização espiritual que nos conduz à felicidade pura da libertação e da iluminação. A prática das etapas do caminho à libertação pode ser condensada nos três treinos de disciplina moral superior, concentração superior e sabedoria superior. Esses treinos são chamados de 'superiores' porque são motivados por renúncia. Eles são, portanto, o verdadeiro caminho à libertação que precisamos praticar. 

A natureza da disciplina moral é a determinação virtuosa de abandonar ações inadequadas. Quando praticamos disciplina moral, nós abandonamos as ações inadequadas, mantemos um comportamento puro e fazemos toda ação corretamente, com uma motivação pura. A disciplina moral é muito importante para todos, porque ela evita problemas futuros para nós e para os outros. Ela nos torna puros porque torna nossas ações puras. Precisamos ser limpos e puros; ter um corpo limpo, apenas, não é suficiente, pois o nosso corpo não é o nosso self. Disciplina moral é como um vasto solo que sustenta e nutre o plantio das realizações espirituais. Sem praticar disciplina moral, é muito difícil fazer progressos no treino espiritual. Treinar disciplina moral superior é aprender a tornar-se profundamente familiarizado com a prática de disciplina moral motivada por renúncia. 

O segundo treino superior é treinar em concentração superior. A natureza da concentração é ser uma mente virtuosa estritamente focada. Enquanto mantivermos essa mente, experienciaremos paz mental e, consequentemente, seremos felizes. Quando praticamos concentração, impedimos distrações e nos concentramos em objetos virtuosos. É muito importante treinar concentração, pois, com distrações, não conseguimos realizar nada. Treinar em concentração superior é, com a motivação de renúncia, aprender a nos tornarmos profundamente familiarizados com a habilidade de parar as distrações e de nos concentrarmos em objetos virtuosos. Com relação a qualquer prática de Dharma, se a nossa concentração for clara e forte será muito fácil fazer progressos. Normalmente, distração é o principal obstáculo à nossa prática de Dharma. A prática de disciplina moral impede as distrações densas, e a concentração impede as distrações sutis; juntas, elas produzem resultados rápidos em nossa prática de Dharma. 

O terceiro treino superior é treinar em sabedoria superior. A natureza da sabedoria é ser uma mente inteligente virtuosa que atua compreendendo objetos significativos, como a existência de vidas passadas e futuras, o carma e a vacuidade. Compreender esses objetos traz grande significado para esta vida e para as incontáveis vidas futuras. Muitas pessoas são muito inteligentes em destruir seus inimigos, cuidar de suas famílias, encontrar aquilo de que necessitam e assim por diante, mas isso não é sabedoria. Até os animais têm uma inteligência assim. A inteligência mundana é enganosa, ao passo que a sabedoria nunca irá nos enganar ou desapontar. A sabedoria é o nosso Guia Espiritual interior que nos conduz aos caminhos corretos, e é o olho divino através do qual podemos ver as vidas passadas e futuras e a conexão especial entre as nossas ações em vidas passadas e as nossas experiências nesta vida, conhecida como 'carma'. O carma é um assunto muito extenso e sutil e somente podemos compreendê-lo através de sabedoria. Treinar em sabedoria superior é aprender a desenvolver e aumentar nossa sabedoria que realiza a vacuidade por meio de contemplar e meditar sobre a vacuidade, com uma motivação de renúncia. Essa sabedoria é extremamente profunda. O seu objeto, a vacuidade, não é um nada, mas a verdadeira natureza de todos os fenômenos. (...)"

(Geshe Kelsang Gyatso - Budismo Moderno, O Caminho de Compaixão e Sabedoria - Tharpa Brasil, São Paulo, 2016 - p. 61/62)
Fonte: https://cienciaespiritualidadeblog.wordpress.com


sexta-feira, 28 de outubro de 2016

O ENVELHECIMENTO (PARTE FINAL)

"(...) Quando somos jovens, podemos viajar ao redor do mundo inteiro, mas, quando estamos velhos, dificilmente conseguimos ir até a porta de entrada da nossa própria casa. Tornamo-nos demasiadamente fracos para nos envolvermos em muitas atividades mundanas, e as nossas atividades espirituais são frequentemente abreviadas. Por exemplo, temos pouco vigor físico para fazer ações virtuosas e pouca energia mental para memorizar, contemplar e meditar. Não podemos assistir a ensinamentos que são dados em lugares de difícil acesso ou desconfortáveis de se estar. Não podemos ajudar os outros através de meios que requeiram força física e boa saúde. Privações como essas frequentemente deixam as pessoas idosas muito tristes.

Quando envelhecemos, ficamos como alguém que é cego e surdo. Não podemos ver com clareza e precisamos de óculos cada vez mais fortes, até chegar o momento em que não conseguiremos mais ler. Não podemos escutar claramente, e isso nos deixa com dificuldades cada vez maiores para ouvir música ou para escutar o que a televisão ou as outras pessoas estão dizendo. Nossa memória se enfraquece. Todas as atividades, mundanas e espirituais, tornam-se mais difíceis. Se praticamos meditação, torna-se mais difícil obtermos realizações, porque nossa memória e concentração estão muito fracas. Não conseguimos nos dedicar ao estudo. Desse modo, se não tivermos aprendido e treinado as práticas espirituais quando éramos jovens, a única coisa a fazer quando envelhecermos é desenvolver arrependimento e esperar pela chegada do Senhor da Morte.

Quando somos idosos, não conseguimos obter o mesmo prazer das coisas que costumávamos desfrutar, como alimentos, bebida e sexo. Estamos fracos demais para disputar um jogo, e também estamos frequentemente exaustos até para nos distrairmos. À medida que o nosso tempo de vida se esgota, não conseguimos nos incluir nas atividades das pessoas jovens. Quando eles viajam, temos que ficar para trás. Ninguém quer nos levar com eles quando somos velhos e ninguém deseja nos visitar. Mesmo os nossos netos não querem ficar conosco por muito tempo. Pessoas idosas frequentemente pensam consigo mesmas: 'Que maravilhoso seria se os jovens estivessem comigo. Poderíamos sair para caminhadas e eu poderia mostrar-lhes algo', mas os jovens não querem ser incluídos em nossos planos. À medida que suas vidas vão chegando ao fim, as pessoas idosas experienciam o sofrimento do abandono e da solidão. Eles têm muitos sofrimentos específicos."

(Geshe Kelsang Gyatso - Budismo Moderno, O Caminho de Compaixão e Sabedoria - Tharpa Brasil, São Paulo, 2016 - p. 51/52)

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

O ENVELHECIMENTO (2ª PARTE)

"(...) Podemos contemplar o seguinte poema sobre os sofrimentos do envelhecimento, escrito pelo erudito Gungtang:
Quando somos idosos, nosso cabelo se torna branco, Não porque o tenhamos lavado muito bem; Isso é um sinal de que, em breve, encontraremos o Senhor da Morte.
Temos rugas em nossa fronte, Não porque tenhamos carne demais; É um aviso do Senhor da Morte: 'Estás prestes a morrer'.
Nossos dentes caem, Não para abrir espaço para novos; É um sinal de que, em breve, perderemos a capacidade de ingerir alimentos que as pessoas normalmente desfrutam.
Nosso rosto é feio e desagradável, Não porque estejamos usando máscaras; Isso é um sinal de que perdemos a máscara da juventude.
Nossa cabeça balança de um lado para outro, Não porque estejamos discordando; É o Senhor da Morte batendo em nossa cabeça com o bastão que ele traz em sua mão direita.
Andamos curvados, fitando o chão, Não porque estejamos à procura de agulhas perdidas; Isso é um sinal de que estamos em busca da beleza e das memórias que deixamos de ter.
Levantamo-nos do chão usando os quatro membros, Não porque estejamos a imitar os animais; Isso é um sinal de que as nossas pernas estão fracas demais para suportar o nosso corpo.
Sentamo-nos como se tivéssemos sofrido uma queda repentina, Não porque estejamos zangados; Isso é um sinal de que o nosso corpo perdeu seu vigor.
Nosso corpo balança quando andamos, Não porque pensemos que somos importantes; Isso é um sinal de que as nossas pernas não podem sustentar o nosso corpo.
Nossas mãos tremem, Não porque estejam com ânsia de roubar; Isso é um sinal de que os dedos gananciosos do Senhor da Morte estão roubando as nossas posses.
Comemos pouco, Não porque somos avaros; Isso é um sinal de que não podemos digerir nossa comida.
Sibilamos com frequência, Não porque estejamos sussurrando mantras aos doentes; Isso é um sinal de que nossa respiração em breve desaparecerá. (...)"
(Geshe Kelsang Gyatso - Budismo Moderno, O Caminho de Compaixão e Sabedoria - Tharpa Brasil, São Paulo, 2016 - p. 49/51)
Fonte:
https://cienciaespiritualidadeblog.wordpress.com


quarta-feira, 26 de outubro de 2016

ENVELHECIMENTO (1ª PARTE)

"O nosso nascimento também dá origem aos sofrimentos do envelhecimento. O envelhecimento rouba a nossa beleza, a nossa saúde, a nossa boa aparência, o corado do nosso rosto, a nossa vitalidade e o nosso conforto. O envelhecimento nos transforma em objetos de desdém. Ele traz muitos sofrimentos indesejáveis e leva-nos rapidamente para a nossa morte. 

À medida que envelhecemos, perdemos toda a beleza da nossa juventude, e o nosso corpo sadio e forte torna-se fraco e oprimido por doenças. Nosso porte, outrora vigoroso e bem proporcionado, torna-se curvado e desfigurado; nossos músculos e carne encolhem tanto que os nossos membros tornam-se finos como gravetos, e nossos ossos tornam-se salientes e protuberantes. O nosso cabelo perde a cor e o brilho, e nossa pele perde a radiância. A nossa face torna-se enrugada e a nossa fisionomia fica gradualmente distorcida. Milarepa disse:
Como os velhos se levantam? Eles se levantam como se estivessem arrancando uma estaca do chão. Como os velhos andam? Uma vez que estejam em pé, eles têm que andar cuidadosamente, como fazem os caçadores de pássaros. Como os velhos se sentam? Eles se estatelam como malas pesadas cujas alças se romperam. (...)"

(Geshe Kelsang Gyatso - Budismo Moderno, O Caminho de Compaixão e Sabedoria - Tharpa Brasil, São Paulo, 2016 - p. 49)
Fonte: https://cienciaespiritualidadeblog.wordpress.com


terça-feira, 25 de outubro de 2016

SACRIFÍCIO

"(...) Há um modo de colocar a vida diária à sombra da vida do Cristo: é fazer de toda ação, de todo ato um sacrifício, executando-o não pelo que possa nos aproveitar, mas para vantagem e progresso dos outros; e nesta vida terra a terra, vida de humildes deveres, de ações mesquinhas, de interesses vulgares, procuremos mudar o motivo da nossa vida diária e, assim, transformá-la. Não é preciso variar coisa alguma da nossa vida externa. Qualquer que seja o gênero de vida, o sacrifício é possível; qualquer que seja o meio, Deus pode ser servido. O despertar da espiritualidade não é assinalado pela ação, mas pela maneira como é feita esta ação. 

Não são das circunstâncias, mas da nossa atitude diante delas que depende o nosso desenvolvimento. 'Na verdade, este símbolo da cruz pode nos servir de pedra de toque, aqui embaixo para distinguir o bem do mal, em muitos momentos difíceis. Somente aquelas ações em que a luz da cruz penetra, são dignas da vida do discípulo. Devemos entender, por isto, que o aspirante deve ter por móvel o fervor de uma bondade pronta a todos os sacrifícios. O mesmo pensamento aparece neste versículo: Quando o homem entra no caminho, põe seu coração na cruz; e quando o coração e a cruz se enlaçam estreitamente, o fim foi alcançado. Isto nos permite determinar o nosso grau de progresso, examinando se é o egoísmo ou a renúncia de nós mesmos que domina nossa vida'¹

Toda a vida, que assim começa a se formar, prepara a caverna em que o Cristo-Criança deverá nascer; ela não será senão uma redenção contínua, divinizando cada vez mais os elementos humanos. Tal vida crescerá até alcançar as proporções de um ' Filho bem-amado' e um dia irradiará a glória do Cristo.

Todo o homem pode caminhar para este fim, fazendo o sacrifício de todos os seus atos e todas as suas faculdades, até o momento em que o ouro seja separado de qualquer impureza, substituindo apenas o metal puro."

¹ Leadbeater, O Credo Cristão, p. 82.

(Annie Besant - O Cristianismo Esotérico - Ed. Pensamento, São Paulo/SP - p. 129/130)


segunda-feira, 24 de outubro de 2016

A ESTRADA PARA DEUS

"Qual é o serviço que o oceano presta, com toda sua salgada massa líquida? Ele não pode mitigar a sede de um único ser humano. Para que serve a vida de cem anos a um sovina? Eis minha mensagem a vocês - não demonstrem rancor, aflição ou dor. Estejam felizes. Espalhem felicidade em torno de vocês. A única oferenda de que Deus gosta é a doçura.

Silencie, e induzirá o silêncio aos outros. Não se dê ao hábito de gritar, falar demais e vociferar. Reduza os contatos ao mínimo. Carregue com você uma atmosfera de quieta contemplação onde quer que esteja. Há alguns que vivem em permanente tagarelice, num furacão de ruídos. Estando eles numa exposição, numa feira, num hotel ou templo mesmo em Prasanthinilayam¹, agitarão suas línguas, e não pararão. Tais pessoas não avançarão na estrada para Deus."

¹ Prasanthinilayam ou 'Morada da Paz Transcendente' - nome do principal ashram (morada) de Sai Baba.

(Sathya Sai Baba - Sadhana, O Caminho Interior - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1993 - p. 160)


domingo, 23 de outubro de 2016

O BOM E O MAU KARMA, E OS LUGARES ONDE SÃO EFICIENTES

"O Bom e o Mau Karma operam em um ou em todos os Três Mundos da Existência.

1. O Mau Karma (Akusala-karma, literalmente karma inábil) só é colhido em Kamaloka. Kamaloka é o Mun­do dos Sentidos, e consiste na vida sobre a Terra e na vida no Hades. Geralmente, na Literatura Teosófica, essa pala­vra se limita ao 'Hades', ou Estado entre a Terra e o Devachan; mas, metafisicamente falando, refere-se a todos os Mundos ou Estados resultantes dos Desejos (Kama) e nos quais o Desejo é expresso. Refere-se, também, aos Infernos (Narakas), ou regiões de purificação (Pêtalas), que são os mais baixos subplanos do Mundo Astral. Na vasta maioria dos casos, o mau Karma é esgotado em am­bas essas partes do Kamaloka. Nas vidas terrenas poste­riores, ajustamos os males feitos ao nosso próximo e apren­demos as lições nas quais falhamos, enquanto nos Nara­kas e Pâtalas esgotamos nossas tendências passionais.

2. O Bom Karma (Kusala-karma, literalmente, 'karma hábil') é trabalhado em todos os Três Mundos — o dos Sentidos (Kamaloka), os Céus da Forma (Rupa-Loka) e os Céus Sem-Forma (Arupa-Loka). Nesse caso, até onde se refere ao Kamaloka, isso acontecerá nos níveis supe­riores, ou em seus subplanos, onde qualquer bem pode ser colhido, e essas regiões correspondem ao Paraíso da terminologia cristã, aos Campos Elísios da filosofia grega e ao Amenti da religião egípcia. Trata-se de um estado de prazer destituído de espiritualidade, e pode reter a Alma por mais tempo, adiando sua entrada no Devachan, ou Céu, mais ainda do que o fazem Narakas e Pâtalas, por causa de certas satisfações que dá à personalidade. Trata-se de uma espécie de pequeno céu, para aqueles que são simples e fazem o bem visando apenas o próprio bem-estar.

Todas as nossas punições e todas as nossas alegrias são feitas por nós mesmos e, segundo o grau de nossas aspirações, assim iremos ascender. O Senhor Krishna disse que 'aqueles que veneram os Deuses irão ter com os Deu­ses', mas 'os que me veneram, virão ter Comigo'. 'Ao fim da vida, a Alma se vai sozinha para onde apenas as nossas boas ações nos ajudam' (Fo-Sho-Hing-Tsan-King, v. 1560); e no Mulamuli podemos ler: 'Quando uma pes­soa faz o mal, acende fogo no inferno e queima-se em seu próprio fogo.' E no Chhândogya Upanishad, iii, xiv, l, há estas palavras definitivas: 'O Homem é uma criatu­ra, de Vontade. Conforme seja sua Vontade neste mundo, assim será quando tiver partido desta vida.' Tudo isso mostra nosso grande poder — potencial ou real — porque todos esses Estados de Céus e Infernos que existem, es­tão, também, dentro de nós, e é construindo dentro de nós e na nossa natureza elementos pertencentes a esses estados que nos tornamos semelhantes a eles. Ou antes, é o fato de nos desembaraçarmos de todos aqueles Véus de Ignorância e Pecado, que ocultam a Glória Interior. 'Eu próprio sou Céu e Inferno', canta Omar Khayyam."

(Irmão Atisha - A Doutrina do Karma - Editora Pensamento, São Paulo - p. 25)


sábado, 22 de outubro de 2016

GUIA-ME, LUZ BENIGNA!

"Guia-me, luz benigna, no meio das trevas que me cercam!...

Ilumina as veredas que meus pés palmilham...

Não te peço que me rasgues vastos horizontes, soberbos panoramas, dilatadas perspectivas...

Suplico-te apenas, ó luz benigna, que ilumines o modesto espaço que cada passo tem mister...

Basta-me um passo, um passo apenas, porque tu sabes onde ponho o pé...

Guia-me, seguro, por escarpas e alcantis...

Guia-me por ínvios desertos e estepes sem trilho...

Guia-me quando alegrias me exaltam e sofrimento me deprimem...

Guia-me quando amigos me louvam e inimigos me vituperam, para que eu não me julgue melhor nem pior do que sou a teus olhos...

Guia-me, luz benigna, para que nenhuma injustiça me faça injusto...

Que nenhuma ingratidão me faça ingrato...

Que nenhuma amargura me faça amargo...

Que nenhuma maldade me faça mau...

Que eu queira antes sofrer todas as injustiças do que cometer uma só...

Guia-me, luz benigna, e mostra-me que todas as coisas, mesmo as mais pequeninas, são grandes, quando feitas com grandeza de alma...

Guia-me rumo à humildade grandeza de servir, longe da soberba mesquinhez de querer ser servido...

Guia-me cada vez mais longe de mim, cada vez mais perto de ti...

Bem perto de ti...

Ó luz benigna!..."

(Huberto Rohden - Imperativos da vida - Alvorada Editora e Livraria Ltda., São Paulo, 1983 - p. 17/18)


sexta-feira, 21 de outubro de 2016

TENHAM CONFIANÇA EM SI MESMOS

"O gosto pela vida espiritual não pode ser adquirido de uma vez só. Não! É preciso lutar duramente por ele. Todas as nossas energias devem ser concentradas unicamente nessa meta sem serem desperdiçadas em outras direções. Sigam sempre adiante, sempre adiante. Nunca fiquem satisfeitos com seu atual estado de desenvolvimento. Tentem alimentar dentro de si uma ardente insatisfação. Digam a si mesmos: 'Que progresso estou fazendo? Nenhum.' - e apliquem-se de maneira ainda mais incansável à tarefa. No fim do dia, Sri Ramakrishna costumava exclamar: 'Ó Mãe, mais um dia se passou e eu não consegui vê-La!'

Toda noite, antes de dormir, pensem por um momento no tempo em que passaram realizando boas ações e no tempo que desperdiçaram; no que dedicaram à meditação e no que se entregaram à preguiça. Fortaleçam suas mentes por meio (...) da prática da meditação.

Deus não é algo que se pode comprar. A visão de Deus só é concedida por Sua graça. Isso significa que vocês não precisam praticar disciplinas espirituais? É claro que devem praticá-las, de outra forma as paixões irão destruí-los.

O homem rico contrata um porteiro cujo dever é impedir que ladrões, vacas, ovelhas ou qualquer outro intruso invada sua propriedade. A mente do homem é seu porteiro, e quanto mais forte ela se tornar, melhor. A mente também tem sido comparada a um cavalo selvagem. Um cavalo assim pode conduzir seu cavaleiro pelo caminho errado; apenas quem é capaz de segurar as rédeas e controlar o animal pode se manter no caminho certo."

(Swami Prabhavananda e Swami Vijoyananda - O Eterno Companheiro - Ed. Vedanta, São Paulo - p. 232)

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

O PROPÓSITO DA ADORAÇÃO RITUALÍSTICA

"Os homens têm temperamentos diferentes na forma de adorar Deus. Para satisfazer as necessidades de todos, as escrituras prescrevem quatro métodos diferentes de adoração.

Um deles é o método ritualístico de adorar Deus, personificado numa imagem ou símbolo. Um método ainda mais do que esse é adorá-Lo por meio da oração e do japa. O aspirante espiritual ora, repete o nome de Deus e medita na forma luminosa de seu Ideal Escolhido dentro do próprio coração.

Mais elevado ainda é a meditação. Quando alguém pratica essa forma de adoração, mantém o fluxo do pensamento continuamente em Deus e permanece absorto na presença viva de seu Ideal Escolhido. Esse método transcende a oração e o japa, mas o sentido de dualidade ainda permanece.

O método de adoração superior a todos é aquele em que se medita na unidade entre o Atman e Brahman. Esse método condiz direta e imediatamente a Deus. O aspirante espiritual realiza Brahman e está convencido de que Deus existe. É a verdadeira constatação da Realidade onipresente.  

Esses são os diferentes estágios pelos quais o aspirante espiritual evolui. Para o ser humano, é de vital importância iniciar sua jornada espiritual a partir do estágio onde se encontra. Se o homem comum receber orientação para meditar em sua união com Brahman absoluto, ele não compreenderá a ideia. Não conseguirá captar a verdade desse fato nem será capaz de seguir as instruções. Ele poderá tentar durante algum tempo, mas, cedo ou tarde, irá se cansar e desistir.

Se esse mesmo homem, porém, for orientado a adorar a Divindade oferecendo-lhes flores, incenso e outros acessórios próprios à adoração ritualística, sua mente gradualmente se concentrará em Deus e ele encontrará alegria no ato de adorar. Por meio desse tipo de adoração, aumenta a devoção à prática do japa. Quanto mais sutil a mente se torna, maior sua capacidade de entregar-se a forma mais elevada de adoração. O japa inspira a mente à prática da meditação. Com isso, de forma natural, o aspirante dirige-se gradualmente para seu Ideal.

Tomem o exemplo de um homem no quintal de sua casa. Ele quer chegar até o telhado, mas em vez de subir os degraus da escada um a um para alcançá-lo, tenta pular de uma só vez. O que acontece com ele? Ele se machuca seriamente. Coisa semelhante acontece na vida espiritual. Deve-se prosseguir no caminho gradualmente, pois assim como existem leis que regem o mundo físico, existem também as que governam o mundo espiritual."

(Swami Prabhavananda e Swami Vijoyananda - O Eterno Companheiro - Ed. Vedanta, São Paulo - p. 222/223)


quarta-feira, 19 de outubro de 2016

O PENSADOR E O PENSAMENTO (PARTE FINAL)

"(...) Será possível experimentar aquele estado em que só existe uma única entidade e não dois processos separados — o experimentador e a experiência? Se o experimentarmos, talvez possamos descobrir o que é ser criador e conhecer um estado em que nunca há deterioração, em quaisquer relações em que se encontre o homem. 

Sou ambicioso. Eu e a ambição não somos dois estados diferentes; só há uma única coisa, que é a ambição. Se estou cônscio de que sou ambicioso, que acontece? Faço um esforço para não ser ambicioso, atendendo a razões sociais ou religiosas; este esforço estará sempre dentro de um círculo limitado. Posso dilatar o círculo, mas ele será sempre limitado. Por conseguinte, nele está presente o fator da deterioração. Mas, se investigo um pouco mais profunda e atentamente, vejo que a entidade que faz esforço é a causa da ambição, ela própria é ambição. E percebo também que não há 'eu' e ambição, separados, e sim apenas ambição. Se reconheço que sou ambicioso, que não há o observador que é ambicioso, mas que eu mesmo sou a ambição, o problema se torna então muito diferente; nossa reação a ele é de todo diferente e nosso esforço não é mais destrutivo. 

Que fareis, ao reconhecer que todo o vosso ser é ambição e que toda ação que executais é ambição? Infelizmente, não estamos acostumados a pensar nessa direção. Há o 'eu', a entidade superior, o soldado que controla e domina. Para mim, esse processo é destrutivo. É uma ilusão e sabemos por que assim procedemos. Divido-me em 'superior' e 'inferior', com o fim de subsistir. Se eu sou a ambição, completamente, se não há um 'eu' atuando sobre a ambição; se eu sou todo ambição, que acontece, então? Por certo, há então um processo inteiramente diverso, nasce um problema diferente. Este problema, sim, é criador, porque nele não há sentimento do 'eu' que domina e que 'vem a ser', positiva ou negativamente. Devemos alcançar esse estado, se queremos ser criadores. Nesse estado, não há entidade que faz esforço. Esta questão não exige 'verbalização', ou que se procure descobrir o que é aquele estado; se vos aplicardes a ela dessa maneira, saireis perdendo e nada achareis. O importante é perceber que a entidade que faz esforço e o objeto para o qual o esforço é dirigido, são a mesma coisa. São necessárias uma compreensão e uma vigilância extraordinárias, para ver como a mente se divide em 'superior' e 'inferior' — sendo que a parte 'superior' é a segurança, a entidade permanente, que continua, todavia, a ser um processo de pensamento e por conseguinte uma coisa do tempo. Se pudermos compreender isso, como experiência direta, veremos então surgir um fator inteiramente diferente."

(Krishnamurti - A Primeira e Última Liberdade - Ed. Cultrix, São Paulo - p. 93/94)


terça-feira, 18 de outubro de 2016

O PENSADOR E O PENSAMENTO (1ª PARTE)

"Em todas as nossas experiências há sempre o experimentador, o observador que acumula contínuamente, ou que renuncia a si mesmo. Não será errôneo esse processo, e não estamos aí empenhados numa atividade que não faz vir o estado criador? Se é errôneo o processo, será possível eliminá-lo de todo, abandoná-lo? Só é possível quando experimento, não como 'pensador', mas estando bem cônscio do processo falso e percebendo que só existe um estado único, no qual o pensador é o pensamento. 

Enquanto estou experimentando, enquanto estou no estado de 'vir a ser', tem de haver essa ação dualista, tem de haver pensante e pensamento, dois processos distintos. Não há integração e, sim, sempre, um centro que opera através da vontade de agir no sentido de ser ou de não ser — coletivamente, individualmente, nacionalmente, etc. Esse o processo universalmente observado. Enquanto o esforço estiver dividido entre o experimentador e a experiência, tem de haver deterioração. Só é possível a integração, quando o pensador já não é observador. Isto é, sabemos que há o pensador e o pensamento, observador e objeto observado, experimentador e experiência; dois estados diferentes. Nosso esforço se faz para unir esses dois estados. 

A vontade de agir é sempre dualista. Será possível transcender a vontade separativa e descobrir um estado em que não exista ação dualista? Só é possível, se experimentarmos diretamente o estado em que o pensador é o pensamento. Pensamos agora que o pensador está separado do pensamento; mas é exato isso? Agrada-nos pensar que sim, porque o pensador pode então explicar as coisas através do seu pensamento. O esforço do pensador é feito no sentido de se tornar mais ou de se tornar menos; e, por conseguinte, nessa luta, nessa ação da vontade, no 'vir a ser', existe sempre o fator da deterioração. Estamos empenhados num processo falso e não num processo verdadeiro. 

Há separação entre o pensador e o pensamento? Enquanto eles estiverem separados, divididos, será vão o nosso esforço, estaremos empenhados num processo falso e destrutivo, causador de deterioração. Pensamos que o pensador é separado do seu pensamento. Reconhecendo que sou ambicioso, ganancioso, brutal, julgo que não deveria ser assim. Procura então o pensador alterar seus pensamentos e, por conseguinte, faz um esforço com o fim de 'vir a ser'. Nesse processo de esforço, nutre-se a falsa ilusão de que existem dois estados diferentes, quando de fato só existe um único processo. Penso que aí se encontra o fator fundamental da deterioração. (...)" 

(Krishnamurti - A Primeira e Última Liberdade - Ed. Cultrix, São Paulo - p. 92/93)


segunda-feira, 17 de outubro de 2016

O RENASCIMENTO DA ESPIRITUALIDADE

"Atualmente existe um crescente interesse na espiritualidade. No entanto, é preciso se observar a diferença entre espiritualidade e fundamentalismo, porque as questões do espírito podem causar polêmicas e produzir conflitos. Após os eventos de 11 de setembro de 2001, temos de ser muito cuidadosos quando falamos a respeito da espiritualidade, e diferenciar claramente entre as formas criativas e destrutivas de interesse espiritual.

Espiritualidade e fundamentalismo situam-se nos lados opostos do espectro cultural. A espiritualidade busca um relacionamento com o sagrado que seja sensível, contemplativo, transformador, e é capaz de sustentar níveis de incerteza nessa busca, porque o respeito pelo mistério é sempre soberano (Tacey, 2000). O fundamentalismo busca a certeza, respostas fixas e o absolutismo como resposta temerosa à complexidade do mundo e à nossa vulnerabilidadee como criaturas num universo misterioso. Em qualquer credo, a espiritualidade surge do amor e da intimidade com o sagrado; o fundamentalismo surge do medo e da possessão pelo sagrado. A escolha entre espiritualidade e fundamentalismo é uma escolha entre intimidade consciente e possessão inconsciente.

A espirituialidade é capaz de permanecer com as questões últimas, mas o fundamentalismo quer respostas: duras, rápidas e furiosas. O fundamentalismo pode surgir em qualquer tradição, seja cristã, islâmica, hindu ou até mesmo em modernas ideologias, como a psicologia freudiana ou junguiana (Tacey, 2001). A espiritualidade produz um estado mental que o poeta John Keats definiu como a capacidade de um homem 'estar cheio de incertezas, mistérios, dúvidas, sem qualquer traço de irritabilidade ao tentar alcançar fato e razão'.

Certamente essa é uma condição a se aspirar em nosso mundo dilacerado e partido, especialmente porque o 'sagrado' está sendo invocado por partidos em guerra e forças hostis que têm certeza absoluta de que Deus está do seu lado. Se tivéssemos menos certeza de nossas crenças e fôssemos mais receptivos ao mistério e ao assombro, paradoxalmente estaríamos mais próximos de Deus, seríamos mais íntimos do espírito e mais tolerantes com os seres humanos nossos irmãos, com suas diferentes concepções do sagrado."

(David Tacey - O renascimento da espiritualidade - Revista Sophia - Ano 12, nº 47 - p. 24)


domingo, 16 de outubro de 2016

PORQUE E COMO JESUS SOFREU (PARTE FINAL)

"(...) Se um homem é capaz de servir-se do negro carbono da dor para fazer ouro e pedra preciosa de realização espiritual, deve ele ter ultrapassado toda a alquimia ocultista de toda a magia mental, e deve ter entrado no santuário da mística divina.

Quando um desses místicos escrevia 'eu transbordo de júbilo no meio de todas as minhas tribulações', devia ele ter experiência desse segredo.

E quando o Mestre disse que ele devia entrar em sua glória pelo sofrimento e pela morte voluntária, devia ter removido um espesso véu que, para o comum dos mortais, encobre o mistério do sofrimento como fator de autorrealização.

Apesar de ter Jesus sofrido voluntariamente tudo o que sofreu para entrar na sua glória, contudo o modo como ele soube sofrer é um modelo para todos os sofredores. Não sofre com covardia, como os fracos, nem com jactância, como certos heróis, ou pseudo-heróis da humanidade, que desafiam os martírios e a morte. No Getsêmane, o seu Jesus humano pede ao Cristo divino que, se possível, faça passar aquele cálice amargo - mas logo se entrega totalmente, à vontade superior do seu Cristo divino. No Gólgota, por um momento, o seu ego humano clama em altas vozes: 'Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?' - mas logo o seu Eu crítico se resigna e murmura serenamente: 'Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito'.

Ele sofre como o mais humano dos homens, porque era integralmente humano no seu Jesus, e integralmente divino no seu Cristo.

Cada homem é potencialmente o que ele pode vir a ser atualmente. Horror ao sofrimento e à morte, a repugnância contra injustiças e ingratidões são compatíveis com a soberania, calma e serenidade do espírito. Uma completa integração do nosso ego inferior em nosso Eu superior perfaz a harmonia total da natureza humana.

Ser tentado a revoltar-se contra o sofrimento é humano - deixar-se derrotar pelo sofrimento é deplorável.

Toda a serenidade no sofrimento depende, em última análise, da visão da nossa existância total, cuja falta dificulta e mesmo impossibilita a compreensão da tarefa evolutiva do sofrimento."

(Huberto Rohden - Porque Sofremos - Ed. Martin Claret, São Paulo, 2004 - p. 47


sábado, 15 de outubro de 2016

PORQUE E COMO JESUS SOFREU (2ª PARTE)

"(...) O sofrimento de Jesus é essencialmente um sofrimento voluntário, um sofrimento-crédito.

Todos os grandes avatares aceitam voluntariamente o sofrimento, não tanto para ajudar os outros, mas para se realizarem a si mesmos. Também aqui na terra há homens que sabem disso.

Nos Estados Unidos assisti às conferências do grande evangelizador do Japão, Hirohito Kágawa. Anos mais tarde, li numa revista que Hirohito estava de cama, longos meses, desenganado pelos médicos. Um amigo dele, que estava à cabeceira do doente lamentava a inatividade forçada do sempre dinâmico evangelizador, quando tantas tarefas inacabadas estavam à espera dele. Hirohito ouviu em silêncio os lamentos do amigo e, finalmente, disse:

'Tu lamentas que eu não possa fazer mais nada, por causa desta longa enfermidade. Mas eu estou realizando agora mais do que nunca o trabalho mais importante da vida - a realização de mim mesmo pelo sofrimento'.

Assim pensam e vivem os avatares que a nossa humanidade conhece: sofriam voluntariamente para se realizarem ulteriormente, para entrarem cada vez mais em sua glória.

A tarefa mais difícil do homem é descobrir no sofrimento um fator positivo, quando o sofrimento parece ser totalmente negativo.

O sofrimento em si não é positivo nem negativo, mas simplesmente neutro. Aliás, nenhum objeto de nenhum fato é bom nem mau, nem positivo nem negativo em si mesmo, porque são coisas neutras incolores, inconscientes. O homem é que pode servir-se desses objetos neutros para o seu ser-bom, ou para o seu ser-mau. Mas é dificílimo fazer de um fato como o sofrimento - que parece flagrantemente negativo - um valor positivo. Para realizar tal façanha, deve o homem ter descoberto em sua alma uma mina profunda e riquíssima de realidade transcendental.

O rei Midas, da fábula tinha recebido dos deuses o poder de transformar em ouro tudo quanto tocasse. O misterioso conde de Sainte Germain, que parece viver ainda no Himalaia e prometeu voltar ao ocidente nos tempos mais trágicos na nossa humanidade tinha o poder de fazer ouro e pedras preciosas de um simples pedaço de carvão. Isso é incompreensível magia mental. (...)"

(Huberto Rohden - Porque Sofremos - Ed. Martin Claret, São Paulo, 2004 - p. 46/47


sexta-feira, 14 de outubro de 2016

PORQUE E COMO JESUS SOFREU (1ª PARTE)

"Muitas pessoas piedosas tentam camuflar os seus sentimentos com a sugestão: Jesus sofreu mais...

E, assim julgando, aliviam os seus males tornando-os toleráveis.

Se grande é a boa vontade dessas pessoas, pequena é a sua sabedoria.

Acima de tudo, esta afirmação insinua uma inverdade. Em segundo lugar, é falso o motivo dos sofrimentos de Jesus.

Dizer que Jesus foi o rei dos mártires, o maior sofredor da humanidade, não corresponde à verdade. Nem adianta apelar para as palavras do profeta Isaías, que descreve os sofrimentos do 'servo de Deus' (ebed Yahveh), porque Isaías se refere diretamente aos sofrimentos dos israelistas no exílio da Babilônia causados pelos pecados de Israel.

Durante os 33 anos da sua vivência terrestre, sofreu Jesus fisicamente durante umas 15 horas, desde as 20 horas da quinta-feira até às 15 horas da sexta-feira. Haverá na terra um homem que, durante a vida, tenha sofrido apenas 15 horas?

Mas e os sofrimentos morais e psíquicos de Jesus? Os ludíbrios, as incompreensões, as ingratidões, etc...?

Quando um avatar desce das alturas às profundezas, sabe ele de antemão que essa jornada vai ser um tormento para ele, e não espera outra coisa.

A maior das inverdades, porém, é a constante afirmação dos teólogos de que Jesus sofreu por ordem de Deus, a fim de pagar-lhe a enorme dívida dos pecados humanos. Se isto fosse verdade, escreve o historiador britânico Arnold Toynbee, seria Deus o maior monstro do Universo.

Jesus nunca afirmou ter vindo ao mundo para pagar pelos pecados humanos, sofrendo e morrendo na cruz.

A verdade está nas palavras que Jesus disse aos dois discípulos sofredores, a caminho de Emaús: O Cristo devia sofrer tudo isto para assim entrar em sua glória. (...)"

(Huberto Rohden - Porque Sofremos - Ed. Martin Claret, São Paulo, 2004 - p. 45/46


quinta-feira, 13 de outubro de 2016

CONSAGRAÇÃO

"Quando um tormento o alcançar, não se desespere nem se revolte.

Uma criança a quem o pai nega um sorvete, por querer evitar uma piora em sua bronquite, sente a negação como uma injustiça, uma frustração, e até falta de amor por parte do pai.

Em seu curto entendimento, é assim que pensa.

Nós também, em nossas dores, nos tornamos cegos para entender os planos de Deus.

Num quadro de sofrimento, convém lembrar o que disse São Paulo: '... todas as coisas contribuem conjuntamente para o bem daqueles que amam a Deus'.

Consagre-se a Deus!

Faça-se, Senhor, Tua Santa Vontade. Não a minha."

(Hermógenes - Deus investe em você - Ed. Nova Era - Rio de Janeiro, 1995 - p. 86)


quarta-feira, 12 de outubro de 2016

CORAGEM E VONTADE (2ª PARTE)

"(...) É costume falar-se de 'mau carma' quando ocorre um resultado desagradável ou penoso. Às vezes, perguntamos o que fizemos para merecer tal coisa, mas na verdade não há nem bom nem mau carma, no que diz respeito a este assunto, existe somente a lei inflexível que dirige os acontecimentos divinos. Uma das primeiras coisas que o aspirante aprende é a identificar-se com a lei universal, tanto no que concerne ao seu próprio destino quanto ao dos outros, adaptando assim sua vontade à Vontade Daquele que o criou. Isso não quer dizer fatalismo ou resignação cega, mas esforço incessante para compreender e cooperar com as forças evolutivas da Natureza. 'Ajude a Natureza e trabalhe com ela.' (V.S.) Nada pode acontecer fora da Grande Lei. Mas isso não quer dizer que abandonemos tudo para sofrer, como é, às vezes, a atitude no Oriente. O simples fato de aí estarmos e podermos ajudar indica que queremos ajudar. É parte do 'carma' de outrem. Mas também significa suportar nosso destino com coragem e sem queixas.

Entrar no caminho oculto, mesmo em seus limites externos, é provocar grandes resultados cármicos. Isto é devido a que todas as energias do homem são dirigidas para um canal, e o resultado é potente e imediato. Para usar um símile rudimentar - é como um campo coberto com drenos. Se for aberto um canal e para ele drenados os canalículos, o fluxo resultante poderá mover um moinho. A vida do discípulo, encurtando por seu esforço seu tempo de crescimento, é geralmente cheia de problemas, acontecimentos inesperados que ele tem de encarar e dominar, aparentemente sozinho. Isso requer enorme coragem. Consequentemente, todos os aspirantes devem reunir suas reservas mais profundas de coragem."

(Clara Codd - As Escolas de Mistérios - Ed. Teosófica, Brasília, 1999 - p. 156