OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


domingo, 12 de novembro de 2017

QUE É DEUS?

"Perguntei às ondas do mar: Que é Deus?

E elas me disseram: Deus é o mar, e nós somos filhas dele.

Perguntei às sete cores do arco-íris: Que é Deus?

E as cores me responderam: Deus é a luz incolor, e nós somos reflexos dela.

Perguntei a todos os ruídos do Universo: Que é Deus?

E eles clamaram: Deus é o grande Silêncio, que nos gerou.

Perguntei a todos os seres vivos da terra, às plantas, aos insetos, às aves, aos peixes, aos animais: Que é Deus?

E eles bradaram: Deus é a Vida, e nós somos os vivos que dela emanaram. Indaguei a todas as plenitudes do Cosmos: Que é Deus?

E as plenitudes do Cosmos cantaram: Deus é a eterna Essência que nos deu Existência.

Perguntei a todos os seres conscientes do mundo: Que é Deus?

E todos concordaram: Deus é o Oniconsciente que nos deu consciência.

* * *

E depois que todas as creaturas responderam às minhas perguntas, exclamei estupefato: Como é que o Uno produz o Verso?

E elas, em coro uníssono, replicaram: O UNO é a alma, e o VERSO é o corpo do Universo – nós somos a Família Univérsica.

Ante essa mensagem do Universo, fiz calar todos os ruídos analíticos da mente e mergulhei no grande silêncio da intuição espiritual.

E a Voz do Silêncio me falou –

E eu compreendi a Voz do Silêncio..."

(Huberto Rohden - A Voz do Silêncio, Poemas de Autorrealização para Iniciandos e Iniciados - p. 9)


sábado, 11 de novembro de 2017

MEIOS CORRETOS

"Se para conseguir uma coisa a gente tem de mentir, de trair, de enganar, de praticar crueldade, de esmagar alguém... esta coisa é tão podre quanto os meios e modos de a conseguir. E sabe de uma? Ninguém é feliz e vitorioso, ninguém está seguro e forte, na posse de uma coisa podre.

Se os meios são sujos, os fins atingidos por tais meios também o são. Esta é uma verdade total, absoluta, à prova de quaisquer sofismas e racionalizações.

Jamais os fins belos, verdadeiros e nobres podem vir a ser conquistados por meios perversos e negros.

Ninguém chega à luz se usa as trevas.

Senhor.
Só não quero ser pobre de Teu Espírito."

(Hermógenes - Deus investe em você - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1995 - p. 178/179)


sexta-feira, 10 de novembro de 2017

O CAMINHO SAGRADO DO AMOR E DA VERDADE

"O Karma, como foi ensinado no Gita e no Yoga Vasishta, significa atos e volições que procedem de Vanasa, ou desejo. É deixado bem claro naqueles códigos de ética que nada que é feito com um puro senso de dever, nada que é empreendido com um sentimento de 'obrigação', como se diria, pode macular a natureza moral daquele que o faz, mesmo que ele esteja equivocado em sua concepção de dever e adequação. O erro, é claro, deve ser expiado com sofrimento, que deve se proporcional às consequências do erro; mas certamente não pode degradar o caráter ou macular o Jivatma (o Eu Individualizado).

É bom usarmos todos os eventos da vida como lições a serem transformadas em vantagens, e a dor causada pela separação de amigos que amamos pode ser usada assim. O que são espaço e tempo no plano do Espírito? Ilusões do cérebro, meros nadas, que adquirem aspecto de realidade pela impotência da mente, o invólucro que aprisiona o Jivatma. O sofrimento meramente nos dá um impulso novo e mais potente de vivermos completamente no Espírito. No fim, da dor virá boa vontade para todos nós, de modo que não devemos resmungar. Antes, sabendo que para os discípulos não pode acontecer nada que não seja da vontade de seus Senhores, devemos olhar para cada incidente doloroso como um passo em direção ao progresso espiritual, como um meio para aquele desenvolvimento interno que nos capacita a servi-Los, e com isso à Humanidade, de um modo melhor. 

Se apenas pudermos servi-Los, se através de todas as tormentas e conflagrações nossas Almas se voltarem para os seus Pés de Lótus, o que importam a dor e os sofrimentos que elas impõem à nossa casca temporária? Entendamos um pouco o significado interno destes sofrimentos, destas vicissitudes das circunstâncias externas - entendamos como tamanha dor suportada significa muito mau Karma esgotado, muito poder de serviço adquirido, quão boa lição aprendida - não serão estes pensamentos suficientes para nos sustentar através de qualquer quantidade destas misérias ilusórias? Quão doce é sofrer quando se sabe e se tem fé! Quão diferente da miséria do ignorante, do cético, e do descrente. Quase poderíamos desejar que todo o sofrimento e miséria do mundo fossem nossos a fim de que o restante de nossa raça pudesse ser livre e feliz. A crucificação de Jesus simboliza esta fase na mente do discípulo. Você não pensa o mesmo? Somente esteja sempre firme na fé e na devoção, e não se desvie do caminho sagrado do Amor e da Verdade. Esta é a sua parte - o resto será feito por você pelos Senhores Misericordiosos a quem você serve. Você já sabe de tudo isso, e se eu falo sobre isso é apenas para fortalecê-lo em seu conhecimento; pois amiúde esquecemos de nossas melhores lições, e em tempos de aflição o dever de um amigo é mais o de lembrar a você suas próprias palavras, antes do que introduzir novas verdades. Foi assim que Draupadi frequentemente consolou seu sábio esposo Yudhisthira, quando terrível infortúnio por um momento abalava sua usual serenidade, e assim também o próprio Vasishtha teve de ser acalmado e confortado quando assolado pela dor da morte de seus filhos. Não é verdadeiramente inexplicável o lado Maya deste mundo? (...)"

(Annie Besant - A Doutrina do Coração - Ed. Teosófica, Brasília - p. 7)
www.editorateosofica.com.br


quinta-feira, 9 de novembro de 2017

MELHORE SUA CONCENTRAÇÃO DURANTE A MEDITAÇÃO

"Para que você melhore em concentração durante a meditação, reduza suas pretensões e desejos. Olhe cada coisa como se você fosse uma simples testemunha desinteressada; não se precipite; não se deixe envolver. Quando as algemas caírem, você se sentirá feliz e leve.

Meditação é a função do homem interno. Envolve quietude subjetiva, esvaziamento da mente e o sentir-se uno com a luz que emerge da Divina Centelha interior. Tal disciplina nenhum livro-texto pode ensinar. Nenhuma aula pode comunicar dhyana. Purifique suas emoções. Clareie seus impulsos. Cultive Amor. Tal domínio é o propósito do processo da meditação ou dhyana.

A mãe pode sentar-se junto do filho e pronunciar palavras que o encorajem a falar, mas o filho tem de usar sua própria língua e fazer seus próprios esforços. Assim, também, uma pessoa pode lhe ensinar como sentar-se e manter o torso vertical, as pernas dobradas, as mãos corretas, os dedos cruzados, a respiração firme e lenta, mas quanto poderá lhe ensinar a controlar a agitação mental?

Quando a meditação So-Ham⁹⁴ atingiu a estabilidade, você pode começar a estabilizar na mente a Forma (rupa) de seu Ishatadevata, isto é, aquela forma do Senhor que você escolheu para sobre Ela meditar. Faça (mentalizando) uma pintura da Forma, da cabeça aos pés, durante cerca de quinze ou vinte minutos. Isso ajudará a fixar no altar do seu coração a Divina Forma. 

Depois você começará a ver somente aquela Sagrada Forma em toda parte. Em todos os seres descobrirá somente Ela. Você virá a realizar o Uno manifestado como muitos. Sivoham - seu sou Shiva. Soham, eu sou Ele. Unicamente ele É.

Pode-se fazer adoração ou dhyana, conforme a própria convicção, na privacidade do lar."

⁹⁴ Um dos métodos de meditação (dhyana) que Swami aprova é aquela que consiste em pronunciar mentalmente o mantro SO na inspiração e o mantra HAM na expiração. A respiração não é comandada, mas tão somente testemunhada pela consciência enquanto acompanhada pelos dois mantras.

(Sathya Sai Baba - Sadhana, O Caminho Interior - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1993 - p. 131/132)


quarta-feira, 8 de novembro de 2017

O CORPO MENTAL - O LOCAL ESSENCIAL (PARTE FINAL)

"(...) A perfeição é a meta de nosso caminho evolutivo não pelo propósito egoísta de sermos perfeitos, mas porque, através de nós, pode ser um pouco aliviada a carga do mundo.Em vez de nos imaginarmos - como o fazemos inconsciente e involutariamente - sendo e fazendo o que em verdade não queremos ser ou fazer, devemos nos imaginar como o homem perfeito que almejamos ser e que seremos um dia. Pensemos com toda a nossa energia mental em nós mesmos como sendo divinos em amor, divinos em vontade, divinos em pensamento, palavra e ação; e ocupemos todo o nosso corpo mental com essa imagem, vigorizando-a com emoções de júbilo e amor, de consagração e aspiração. Essa imagem também se realizará por si mesma. A mesma lei é válida para ela como para as importunas imagens mentais que tanto nos atribulam.

Quando houvermos dominado conscientemente o poder da imaginação, não seremos mais seus escravos, não mais seremos usados por ele; mas nós é que nos valeremos dele. O mesmo poder que era nosso inimigo tornou-se agora nosso aliado.

Não há limites para os diferentes modos em que o poder criativo da imaginação pode ser usado construtivamente, em substituição às formas destrutivas. Quando tornamos nosso corpo mental um instrumento obediente e dócil, podemos usar esse ilimitado poder não só em nossa conduta e ações diárias, mas na obra que estamos realizando e na maneira como recriamos a nós mesmos.

Agora, retiremos também do corpo mental o centro da consciência e o mantenhamos responsivo ao Ser interno, tal qual mantemos os corpos emocional e físico. Assim possuiremos em servidão os três corpos nos três mundos de ilusão. São os três cavalos que puxam nossa carruagem nos mundos inferiores; e o Eu Superior é o divino cocheiro, que não mais permite aos cavalos irem por onde lhes aprazer, senão por onde Ele os dirigir. O Ego desprendeu sua consciência do emaranhamento com os três corpos e a restituiu ao mundo a que verdadeiramente pertence, de onde pode valer-se deles como dóceis servos."

(J.J. Van Der Leeuw - Deuses no Exílio - Ed. Teosófica, Brasília, 2013 - p. 32/33

terça-feira, 7 de novembro de 2017

O CORPO MENTAL - O LOCAL ESSENCIAL (1ª PARTE)

"Assim, é no corpo mental que temos que nos empenhar; devemos nos recusar a permitir que quaisquer imagens sejam formadas em nosso corpo mental sem nosso consentimento, sem que nós mesmos - o Ser interno - o determinemos. Tem de varrer e limpar o corpo mental de toda espécie de formas de pensamentos, de imagens e de sequelas de pensamentos fúteis. Depois, façamos o mesmo que fizemos com os outros corpos, isto é, invertamos a polaridade, de modo que todas as partículas do corpo mental respondam e obedeçam à consciência interna e não se subordinem ao mundo circundante.

Também aqui a mudança é imediatamente percebida pela visão clarividente, e o corpo mental aparece então iluminado com a luz do Ser interno, como um objeto radiante, concordemente harmonizado com nossa genuína consciência manifestada.

Mas ainda isso não é o bastante, pois assim poderemos apenas impedir que o corpo mental nos prejudique e seja um obstáculo em nosso caminho, e nada mais. Devemos, além disso, converter o poder criador do pensamento numa definida força para o Bem, não somente de modo a que não nos cause danos, mas que nos beneficie. Isso significa que devemos criar e fortalecer com nossas emoções aquelas imagens mentais que desejarmos ver realizadas em nossa vida diária. (...)"

(J.J. Van Der Leeuw - Deuses no Exílio - Ed. Teosófica, Brasília, 2013 - p. 32)
www.editorateosofica.com.br


segunda-feira, 6 de novembro de 2017

O EMPREGO DA VONTADE

"Quando M. Coué, tratando do poder da imaginação ou do poder criador do pensamento, diz que na luta entre a imaginação e a vontade vence sempre a imaginação, está com a razão, contanto que por 'vontade' tomemos essa resistência frenética e ansiosa, que para a maioria das pessoas é o substituto da verdadeira vontade. Assim, quando aprendemos a andar de bicicleta e ao vermos uma árvore no meio do caminho nos precipitamos diretamente contra esse obstáculo, com risco de acidente, o erro provém da indisciplinada imaginação, pois formamos a temerosa imagem de que vamos nos chocar contra a árvore, representamos a nós mesmos no ato do choque, e vigorizamos a imagem pela emoção de temor. Então começamos a resistir à imagem. Mas essa relutância inquieta não merece o nome de 'vontade'. Ao contrário, essa resistência fortalece seguramente a imaginação, e mesmo ajuda a provocar o acidente que procuramos evitar. Mas se empregássemos a genuína Vontade, não consentiríamos absolutamente que a imaginação reagisse à árvore. Com efeito, ao ver a árvore e ao registrar calmamente sua existência, não temos de consentir que influa em nossa consciência, e sim, ao contrário, temos que manter nossa imaginação ocupada com o caminho claro e aberto que desejamos seguir. Então será como se a árvore não existisse para nós, e só veremos o caminho sem barreiras.

Antigo é o conto dos três arqueiros que apostaram qual deles poderia flechar um pássaro pousado numa árvore longínquea. O primeiro acertou na árvore e não no pássaro; o segundo apontou para o pássaro abstraindo-se da árvore e só feriu a avezinha; o terceiro, objetivando o pássaro (por certo devia ser um pássaro muito acomodado), não se preocupou nem com a árvore e nem com o pássaro, mas tão somente com sua intenção, e foi bem sucedido. (...)

É pelo poder da verdadeira Vontade que podemos manter concentrada a imaginação no objetivo que nos tenhamos determinado alcançar. A função especial da Vontade não é fazer algo nem lutar contra alguma coisa, mas manter um propósito na consciência, com exclusão de tudo o mais."

(J.J. Van Der Leeuw - Deuses no Exílio - Ed. Teosófica, Brasília, 2013 - p. 31/32)


domingo, 5 de novembro de 2017

OS TRÊS INSTRUMENTOS DO CONHECIMENTO

"Em todos os seres encontramos três tipos de instrumentos de conhecimento. O primeiro é o instinto, altamente desenvolvido nos animais; é o mais inferior de todos. Qual é o segundo? O raciocínio,  o mais altamente desenvolvido no homem. Todavia, o instinto é um instrumento inadequado; a esfera de ação dos animais é muito limitada e, dentro desses limites, age o instinto. No caso do homem, o instinto evoluiu e transformou-se na razão; a esfera de ação humana ampliou-se. Contudo, até a razão é insuficiente: adianta-se até um ponto do caminho e, então, tem de parar; não pode avançar mais e, se você insistir, o resultado será uma inevitável confusão. A própria razão torna-se insensata. A lógica transforma-se em argumentação, num círculo vicioso. Tomemos, por exemplo, a base de nossa percepção: matéria e força. Que é matéria? Aquilo sobre o qual a força atua. E força? Aquilo que atua sobre a matéria. Você percebe a complicação, que os lógicos chamam de gangorra; uma ideia dependente de outra e vice-versa. Você se depara com uma poderosa barreira, a partir da qual a razão é impotente. No entanto, sempre há o anseio de atingirmos a região do Infinito transcendente. Digamos que neste mundo, este universo que os sentidos experimentam e a mente analisa, é só um átomo do Infinito, projetado no plano da consciência. Dentro do estreito limite circunscrito pela rede da consciência nossa razão opera, e não além dele. Deve existir, portanto, algum outro instrumento que nos leve mais longe, e este chama-se inspiração.

Assim os três instrumentos do conhecimento são instinto, razão e inspiração. O instinto pertence aos animais, a razão ao homem, e a inspiração aos homens-deuses. Em todos os seres humanos, porém, são encontradas as sementes mais ou menos desenvolvidas desses três instrumentos do saber. As sementes precisam estar presentes para que os três se desenvolvam. É preciso também lembrar que um instrumento é o desenvolvimento do outro e, portanto, não o contradiz. A razão envolve para a inspiração, logo a inspiração não contradiz a razão, mas a complementa. O que a razão não pode alcançar, a inspiração traz à luz, sem contradizer a razão. O homem idoso não contradiz a criança, é a criança no seu apogeu.

Por isso vocês devem sempre ter em mente que o grande perigo consiste em confundir a forma inferior com a superior. Muitas vezes o instinto apresentou-se aos olhos do mundo como inspiração, disso decorrendo pretensões espúrias ao dom da profecia. Um louco ou desequilibrado pensa que a confusão reinante em seu cérebro é inspiração e quer que os homens o sigam. Os desatinos mais contraditórios e irracionais já pregados ao mundo são, simplesmente, o jargão instintivo de cérebros confusos e dementes, que se pretende fazer passar por linguagem inspirada. (...)"

(Swami Vivekananda - O que é Religião - Lótus do Saber Editora, Rio de Janeiro, 2004 - p. 35/36)

sábado, 4 de novembro de 2017

PRECES ATENDIDAS

"Vindos a este mundo sem sabermos de onde, naturalmente refletimos sobre a origem e a finalidade da vida. Ouvimos falar de um Criador, lemos a Seu respeito, mas não conhecemos nenhum meio de entrar em contato com Ele. Só sabemos que o universo inteiro é o retrato de Sua inteligência. Assim como o intrincado mecanismo de um pequeno relógio desperta a nossa admiração pelo relojoeiro, assim como as máquinas enormes e complexas de uma fábrica nos fazem admirar o seu inventor, também a visão dos prodígios da natureza provoca em nós o respeito reverente pela inteligência neles oculta. Perguntamos: quem fez da flor uma forma viva, que se ergue em direção ao sol? De onde vem seu aroma e beleza? Como foram suas pétalas modeladas com tanta perfeição e tingidas com cores tão encantadoras?

À noite, as estrelas e a lua, derramando luz prateada a nosso redor, fazem-nos refletir sobre a inteligência que guia esses corpos celestes pelo firmamento. A suave luz da lua é insuficiente para as atividades do dia; assim, uma inteligência benigna sugere-nos o repouso à noite. A seguir, o sol aparece e sua luz intensa nos permite ver, clara e concretamente, o mundo à nossa volta e enfrentar a nossa responsabilidade de satisfazer as necessidades mais prementes.

Há dois modos pelos quais nossas necessidades podem ser atendidas. Um é o modo material. Por exemplo, quando estamos doentes podemos ir a um médico em busca de tratamento. Chega, porém, uma hora em que nenhum auxílio humano surte efeito. Aí, então, buscamos a alternativa: o Poder Espiritual, Aquele que fez nosso corpo, mente e alma. O poder material é limitado e, quando falha, recorremos ao ilimitado Poder Divino. Analogamente, no que se refere às nossas necessidades financeiras, quando já fizemos o melhor possível e ainda assim não foi suficiente, voltamo-nos para esse outro Poder.

Todos pensam que seus problemas são os piores. Algumas pessoas se sentem mais oprimidas que outras, porque sua resistência é mais fraca. Por causa das diferenças de poder mental, as pessoas empregam quantidades diferentes de energia. Se alguém de mente fraca defronta-se com uma enorme dificuldade, não conseguirá superar o problema. Um homem de mente poderosa quebraria as barreiras da mesma dificuldade. Ainda assim, até os homens mais fortes às vezes fracassam. Quando problemas materiais, mentais ou espirituais insuportáveis nos acossam, percebemos como são limitados os poderes da vida no mundo físico.

Nosso empenho deve ser não apenas adquirir segurança financeira e boa saúde, mas procurar o significado da vida. A vida: de que se trata? Quando as dificuldades nos atingem, reagimos primeiro a nosso ambiente, efetuando os ajustes materiais que imaginamos possam surtir efeito. Quando, porém, chegamos ao ponto de dizer: 'Tudo o que tentei não deu certo; que fazer, agora?', começamos a pensar seriamente em uma solução. Quando pensamos com suficiente profundidade, encontramos uma resposta em nosso interior. Esta é uma forma de prece atendida."

(Paramahansa Yogananda - A Eterna Busca do Homem - Self-Realization Fellowship - p. 33/34)


sexta-feira, 3 de novembro de 2017

O CARÁTER DE UM HOMEM

P 137: Considerando o primeiro fio da corda do destino, como é que o pensamento cria o caráter?  

R: O caráter de um homem é a totalidade de suas qualidades morais e mentais. 'Homem' significa 'O Pensador; e a relação entre pensamento e caráter acha-se reconhecida nas Escrituras de todas as nações. Uma escritura hindu diz: 'O homem é criado pelo pensamento; como um homem pensa, assim chega a ser'; e na Bíblia se lê: 'Tal como pensa um homem, assim é'; e também: 'Quem olhar cobiçosamente uma mulher, cometeu já adultério com ela em seu coração'; e 'Aquele que odeia seu irmão, é um assassino'.  

A razão desses fatos é que, quando a mente se ocupa de um pensamento particular, estabelece-se na matéria um tipo definido de vibração, e, quanto maior for a frequência com que se origina esta vibração, adquirirá maior tendência a repetir-se automaticamente na matéria do corpo mental, até que chega a constituir um hábito (...).  

Para criar um hábito de pensamento, deverá o homem escolher uma qualidade desejável (uma virtude, uma emoção), e pensar então persistentemente na qualidade escolhida. Deverá meditar deliberadamente nela todas as manhãs por alguns minutos, e persistir naquela criação mental até que se forme um hábito e se tenha criado a virtude dentro de seu próprio caráter, o que se efetua especialmente quando põe em prática o pensamento em sua vida diária. Como tudo se acha sob lei, não poderá obter habilidades mentais ou virtudes morais sentando-se a esperá-las; somente poderá edificar seu caráter mental e moral pensando esforçadamente e atuando de conformidade. Suas aspirações chegarão a ser capacidades; seus repetidos pensamentos se converterão em tendências e hábitos. No passado criou seu caráter com o qual nasceu nesta vida, e agora está criando o caráter com que morrerá, e com o qual renascerá; e o caráter é a parte mais importante do carma (...).  

Se um homem é hábil para certas coisas, é porque numa vida anterior dedicou muito de seus esforços naquela direção. O gênio e a precocidade se explicam, assim, satisfatoriamente. As aspirações elevadas de uma vida florescem como capacidades na seguinte; e uma vontade decidida de serviço não Egoísta tem como resultado a espiritualidade." 

(Pestanji Temulji Pavri - Teosofia explicada em perguntas e respostas - fl. 122)


quinta-feira, 2 de novembro de 2017

NA ALEGRIA ESTÁ A VERDADEIRA VIDA ESPIRITUAL

"Tente, e perceba a beleza do sofrimento, quando o que o sofrimento faz é só tornar a pessoa mais apta para o trabalho. Certamente jamais devemos anelar a paz se na luta o mundo puder ser ajudado. Tente, e sinta que embora a treva pareça estar em toda sua volta, ainda assim ela não é real. Se algumas vezes Eles se ocultam em uma Maya (ilusão - NT) de indiferença aparente, é apenas para conceder Suas bênçãos com maior abundância quando a estação for propícia. As palavras não ajudam muito quando a escuridão é opressiva, ainda que o discípulo deva tentar manter inabalada sua fé na proximidade dos Grandes Seres, e sentir que embora a luz seja temporariamente retirada da consciência mental, mesmo assim ela cresce dia a dia no interior sob a Sua sábia e misericordiosa dispensação. Quando a mente se torna novamente sensível, ela reconhece com surpresa e alegria como o trabalho espiritual foi feito sem que se tivesse consciência alguma dos detalhes. Nós conhecemos a Lei. No mundo espiritual noites de maior ou menor horror seguem o dia, e aquele que é sábio, reconhecendo que a treva é o fruto de uma lei natural, deixa de se incomodar com isso. Podemos descansar certos de que a escuridão, por sua vez, se dissipará. Lembre sempre que detrás da mais espessa fumaça sempre existe a luz dos Pés de Lótus dos Grandes Senhores da Terra. Fique firme e jamais perca a fé n'Eles, e então não haverá nada a temer. Podem e devem haver provações, mas você deve estar certo de que conseguirá suportá-las. Quando a sombra que caiu como uma mortalha sobre a Alma se retira, então somos capazes de ver quão realmente evanescente e ilusória ela era. Mesmo assim esta sombra, enquanto perdura, é real o bastante para levar a ruína para muitas almas nobres que ainda não adquiriram força suficiente para suportá-la. 

A vida e o amor espirituais não se esgotam quando são dispendidos. A doação apenas acrescenta ao reservatório e o torna mais rico e intenso. Tente, e seja tão feliz e contente quanto puder, porque na alegria está a verdadeira vida espiritual, e a tristeza é apenas o resultado de nossa ignorância e falta de visão clara. Assim, você deve resistir, até onde puder, ao sentimento de tristeza: ele anuvia a atmosfera espiritual. E embora você não possa evitar inteiramente sua chegada, mesmo assim você não deve ceder completamente a ele. Pois lembre-se de que no verdadeiro coração do universo existe a Beatitude. (...)"

(Annie Besant - A Doutrina do Coração - Ed. Teosófica, Brasília - p. 5)
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quarta-feira, 1 de novembro de 2017

O VERDADEIRO OCULTISTA

"O verdadeiro Ocultista, ao mesmo que tempo que para si mesmo é o mais severo dos juizes, o mais rígido dos feitores, é para todos ao seu redor o mais compreensivo dos amigos, o mais gentil dos auxiliares. Conseguir esta gentileza e poder de simpatia deveria, assim, ser o desejo de cada um de nós, e isso só pode ser obtido pela incansável prática desta gentileza e simpatia para com tudo, sem exceção, que nos rodeia. Cada futuro Ocultista deveria ser a pessoa, em sua própria casa e círculo, para quem todos mais prontamente acorrem quando na tristeza, na ansiedade, no pecado - certos que estão da sua simpatia, e de sua ajuda. A pessoa mais desinteressante, a mais bruta, a mais estúpida, a mais repelente, deveriam ver nele pelo menos um amigo. Todo anseio em busca de uma vida melhor, cada desejo nascente em direção ao serviço altruísta, toda vontade recém-formada de viver mais nobremente, deveria encontrar nele alguém pronto a encorajar e fortalecer, de modo que todo germe de bem possa começar a crescer sob a calorosa e estimulante presença de sua natureza amorosa. 

Atingir tal poder de serviço é uma questão de autotreinamento na vida diária. Primeiro precisamos reconhecer que o EU em todos é um só, de modo que em cada pessoa com quem entramos em contato devemos ignorar tudo o que é desagradável na casca exterior, e reconhecer o EU entronizado no coração. A próxima coisa a notar - em sentimento, não só em teoria - é que o EU está tentando se expressar através dos invólucros que o obstruem, e que a natureza interna é toda adorável, e é distorcida para nós pelos envoltórios que a contêm. Então deveríamos nos identificar com aquele EU, que na verdade é nós mesmos em sua essência, e cooperar com ele em sua luta contra os elementos inferiores que sufocam sua expressão. E uma vez que temos de agir para com nosso irmão através de nossa própria natureza inferior, o único caminho de ajudar eficazmente é ver as coisas como aquele irmão as vê, com suas limitações, seus preconceitos, sua visão distorcida; e vendo-as assim, e sendo afetados por elas em nossa natureza inferior, ajudá-lo do seu modo e não do nosso, pois só assim se pode prestar um auxílio real. Aqui entra o treinamento Oculto. Nós aprendemos a nos retirar de nossa natureza inferior, a sentir seus sentimentos sem sermos afetados por eles, e deste modo, ao mesmo tempo que experimentamos emocionalmente, julgamos com o intelecto. 

Devemos usar este método quando ajudarmos nosso irmão, e ao mesmo tempo que sentimos como ele sente, como uma corda afinada ecoa a nota de sua vizinha, devemos usar nosso 'eu' desapegado para julgar, para aconselhar, para estimular, mas sempre usando-o de modo que nosso irmão esteja consciente de que é a sua própria natureza superior que está expressando a si mesma através de nossos lábios. Devemos desejar compartilhar o nosso melhor; a vida do Espírito não é guardar, mas dar. Frequentemente o nosso 'melhor' seria indesejável para aquele a quem tentamos ajudar, assim como a poesia refinada não é atraente para a criança pequena; então devemos dar o melhor que ele possa assimilar, guardando o restante, não porque somos ciumentos, mas porque ele ainda não o requer. (...)" 

(Annie Besant - A Doutrina do Coração - Ed. Teosófica, Brasília - p. 2/3


terça-feira, 31 de outubro de 2017

O MEDO É A NÃO ACEITAÇÃO DO QUE EXISTE

"O medo encontra várias fugas. O que mais varia é a identificação, não é? A identificação com o país, com a sociedade, com uma ideia. Você já percebeu como reage quando vê um desfile militar ou uma procissão religiosa, ou quando o país está correndo o risco de ser invadido? Você se identifica com o país, com um ser, com uma ideologia. Há outras ocasiões em que você se identifica com seu filho, com seu cônjuge, com uma forma particular de ação ou inação. A identificação é um processo de autoesquecimento. Enquanto estou consciente do 'eu', sei que há sofrimento, luta, medo constante. Mas se consigo me identificar com algo maior, com algo que valha a pena, com a beleza, com a vida, com a verdade, com a crença, com o conhecimento, ainda que temporariamente, há uma fuga do 'eu', não há? Se falo sobre o 'meu país', esqueço de mim temporariamente, não é? Se consigo dizer algo sobre Deus, esqueço de mim. Se consigo me identificar com minha família, um grupo, determinado partido, determinada ideologia, então há uma fuga temporária. 

Agora sabemos o que é o medo? Ele não é a aceitação do que existe? Precisamos entender a palavra aceitação. Ela não significa o esforço realizado para aceitar. A aceitação não ocorre quando percebo o que existe. Quando não enxergo claramente o que existe, então estabeleço o processo da aceitação. Por isso, o medo é a não aceitação do que existe."

(Krishnamjurti - O Livro da Vida - Ed. Planeta do Brasil Ltda., São Paulo, 2016 - p. 107


segunda-feira, 30 de outubro de 2017

RELIGIÃO

"Dizer 'minha religião é a única que presta, e todas as outras são de Satanás' é uma das formas mais condenáveis de agressão, e uma prova de lamentável ignorância, ou, muitas vezes, é apenas um sinal de que se está fazendo o jogo maroto de um falso líder de uma seita qualquer, que vive a aumentar sua conta de banco à custa das oferendas em dinheiro, que seus ingênuos e subservientes sectários são conduzidos a fazer.

Religião, a única que realmente vale, é aquela em que, cada um, dentro de si mesmo, no altar do coração, no sublime silêncio da mente, em devotamento extremo, cultua a Luz Radiosa que lá se encontra. Chame-o de Pai, o Ser, Deus, Brahman..., é no coração da gente que Ele se encontra, e é ali que Ele nos espera. 

Religião é essencialmente a religação de cada um com o Deus Uno, resplandecendo dentro de cada um.

É somente entre você e o Pai que o fenômeno religioso acontece.

Sou uno com meu Pai, 
sou portanto perfeito."

(Hermógenes - Deus investe em você - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1995 - p. 102)


domingo, 29 de outubro de 2017

OS ARTISTAS DO DESTINO (PARTE FINAL)

"(...) O termo 'autorresponsabilidade' implica a necessidade de entender o significado de responsabilidade, eu e ego. Responsabilidade significa dever, compromisso, capacidade de conduta racional. Na literatura teosófica, a personalidade é frequentemente chamada de 'eu', e a individualidade, de 'ego'. Podemos diver que a refinada arte de autorresponsabilidade envolve vários aspectos:
  • possuir uma visão ou intuição daquilo que podemos nos tornar;
  • ser sensível a essa visão;
  • perceber as ferramentas do 'eu' com as quais temos que trabalhar; 
  • examinar nossas várias tendências;
  • suavizar essas tendências, de modo que as cores sutis de nossa verdadeira natureza posssam assumir forma.
 Esse processo deve pavimentar o caminho para as nossas ações, que vão se tornando cada vez mais equilibradas e cuidadosas, refletindo nosso dever ou missão de vida individual, de modo que nos tornemos conscientes e plenamente responsáveis por nossas ações.

Se tivéssemos total responsabilidade por nossas ações, não deveríamos nos encolerizar com o karma, nem nos irritar com as circunstâncias com que nos defrontamos. Existe um fenômeno que pode ser descrito como 'fenda', um hiato entre entender intelectualmente ensinamentos como o karma e de fato fundi-los em nosso ser. No livro A Voz do Silêncio (Ed. Teosófica), de Helena Petrona Blavatsky, os termos contrastantes 'aprendizagem intelectual' e 'sabedoria da alma' também se referem a esse hiato, que às vez pode parecer um abismo.

Como artistas do nosso próprio desabrochar, nossa primeira tarefa é ver o que realmente está aqui, identificar as ferramentas com que temos que trabalhar. Isso requer um exame da nossa personalidade que pode ser desconfortável. Nesse processo, os aspectos do eu pessoal que não são úteis se tornam aparentes, assim como os aspectos que não precisam ser mantidos por longo tempo." 

(Linda Oliveira - Os artistas do destino - Revista Sophia, Ano 13, nº 58 - p. 13)

sábado, 28 de outubro de 2017

OS ARTISTAS DO DESTINO (1ª PARTE)

"Frequentemente descrevemos nossa vida em termos de habilidades, realizações, carreira, família, lazer, preocupações, compromissos, etc. Nós nos tornamos especialistas em dividir o tempo em compartimentos, mas é triste ver que a atenção dispensada ao lado espiritual frequentemente está em último lugar entre as tantas áreas que compõem a jornada passageira que conhecemos como vida.

É possível abordar a vida de uma maneira mais holística, integrando nossas várias experiências e incluindo as espirituais, de modo que haja uma consistência de respostas que não seja determinada pelo 'chapéu' que por acaso estejamos usando numa determinada situação. Em outras palavras, podemos agir a partir de quem verdadeiramente somos, e não de acordo com os ditames das circunstâncias. Podemos usar a metáfora da pessoa como um artista, que pode revelar seu eu interior mais íntimo, e no entanto mais universal.

Muitas pessoas acham que não têm habilidades artísticas. Porém, cada um de nós é um artista, mesmo sem saber - um artista do nosso próprio desenvolvimento e destino. Para ser um pintor é preciso treinar e desenvolver habilidades básicas com pincéis e tintas; são necessários telas, palhetas de tinta, cavaletes para sustentar as telas. Porém, há muito mais coisas envolvidas, pois o artista tem algum tipo de visão daquilo a que dará vida na tela, cujo esboço pode ser feito de antemão. É provável que essa visão seja refinada no processo resultante. As mais sutis sensibilidades do artista precisam ser despertadas para dar à luz a criação incipiente. (...)"

(Linda Oliveira - Os artistas do destino - Revista Sophia, Ano 13, nº 58 - p. 13)

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

A MENTE MADURA

"Há um mundo de diferença entre uma mente madura e uma mente imatura. O fragmento intitulado 'Os Sete Portais', no livro A Voz do Silêncio, diz: 'Tua alma tem que se tornar como a manga madura: tão macia e suave quanto sua polpa dourada; para desgosto dos outros, tão dura quanto seu caroço.'

O amadurecimento ocorre lentamente, com a experiência de muitas encarnações, ou rapidamente, quando, em certo estágio, descobre-se em que consiste a maturidade. Do pondo de vista espiritual, a maturidade não é uma habilidade de tipo mundano. Assim como a manga totalmente madura não tem nenhuma parte verde, a mente madura está livre de todo elemento de imaturidade. A palavra imaturo, ou verde, significa, entre outras coisas, 'não treinado'. Um recruta 'verde' é, por exemplo, uma pessoa ainda não treinada. A palavra também significa não curado, doente, inflamado, como uma área ferida, uma área que ainda não sarou. Essas palavras ajudam a compreender o estado de imaturidade.

Geralmente, os pensamentos e as emoções jorram na mente, sendo, em sua maioria, reações desordenadas a certas pessoas e certas circunstâncias. Essas reações são sintomas de uma condição subconsciente. A insegurança do ego é posta à mostra de muitas maneiras: emoções que facilmente se inflamam, excessiva sensibilidade à opinião dos outros, pensamentos que se vangloriam, e assim por diante. Pessoas que parecem ser fortes podem na verdade estar apenas se endurecendo, porque são inseguras e sentem a necessidade de se proteger. Querer se tornar durão, forte ou esperto é um sintoma de fraqueza oculta.

Entre as sete virtudes descritas como as chaves para 'Os Sete Portais', em A Voz do Silêncio, está kshanti: a paciente doçura que nada pode abalar. Na ausência do egoísmo, não há mais motivos por que se ofender ou se perturbar. A mente é como uma luz que queima firmemente, e não é afetada por condições externas. 

A firmeza, um real sentido de paz e de liberdade de desejos e temores são todos características da maturidade. Esse estado é a 'verdadeira felicidade' descrita por Plotino: 'o sinal de que esse estado foi alcançado e que o homem não procura mais nada. Uma vez tendo o homem se tornado conhecedor, os meios da felicidade e o caminho para o bem estão dentro dele, pois nada que esteja fora dele é bom. Qualquer coisa que ele deseje além disso, ela procura como uma necessidade, e não para si mesmo, mas para um subordinado, pois o corpo a que fez jus, uma vez tendo vida, precisa se suprir das necessidades da vida, as quais, porém, não são necessidades para o homem verdadeiro.'

Aquele que cresce em maturidade não se apressa em dar opiniões e a chegar a conclusões. Sua mente é perceptiva e inteligente, mas a própria inteligência faz com que ele pare e espere. Ele não pressupõe que suas opiniões sejam valiosas, e, portanto, com ele não há obstinação, autoafirmação ou orgulho. O primeiro sinal da maturidade é reconhecer suas próprias limitações e ser humilde e simples."

(Radha Burnier - A mente madura - Revista Sophia, Ano 13, nº 58 - p. 5/7)


quinta-feira, 26 de outubro de 2017

A CONQUISTA DA LIBERDADE (PARTE FINAL)

"(...) A vida é regida por certas leis. Quando sabemos o que fazer em uma circunstância, estamos livres da influência dela sobre nós. O poder da mente é maior que o poder dos desejos, das emoções e até mesmo das ideias. Entretanto, nós deixamos esse poder de lado, porque é difícil usá-lo; assim, nos tornamos cativos dos desejos, das emoções e ideias.

Ao entender que o poder da mente é maior que o de seu veículo, sairemos da batalha vitoriosos. As ideias são limitações da mente, tão limitadoras da liberdade quanto as emoções e os desejos. Por isso, devemos sempre lembrar que tudo o que tem forma é uma limitação que deve ser vencida, se quisermos ser livres. 

Podemos observar isso na natureza o tempo todo. Uma forma de vida perece para que outra possa viver. O sacrifício da flor pelo bem de sua semente é uma ato belo. A rosa teve o seu apogeu; suas pétalas ainda exalam perfume - uma retribuição à toda a natureza, em uma alegre oferenda de sua essência. No interior da semente reside a réplica de sua 'mãe', ou seja, o potencial da planta futura.

O mesmo se dá com a destruição do desejo. Cada desejo destruído deveria deixar como 'filho' um desejo maior e mais bonito, até que por fim compreendamos que o desejo de união com toda a natureza é o único que, longe de limitar os nossos poderes, torna-os universais. Em outras palavras, apenas no entendimento universal e no amor universal pode haver liberdade, porque a vida e o seu propósito são, por fim, compreendidos. Somente então a vida do mundo vibra através de nós, e nós nos unimos com a essência de todas as coisas.

O que podemos fazer para atingir esse estágio? Em primeiro lugar, parar de tentar atingir qualquer coisa. Tentar atingir implica um desejo de obter. A vida espiritual é doação, não obtenção. No tempo devido, temos que abrir mão até mesmo da nossa vontade individual para nos tornarmos unos com o desejo coletivo da natureza - no sentido em que ajudamos a natureza e trabalhos com suas leis."

(A Conquista da Liberdade - Revista Sophia, Ano 2, nº 6 - p. 24)


quarta-feira, 25 de outubro de 2017

A CONQUISTA DA LIBERDADE (1ª PARTE)

"Por que os homens querem ser livres? Como podem se tornar livres? O que os impede? O impulso do espírito no interior desse esquife de carne e osso que habitamos é se livrar do tamas (inércia) do corpo, do rajas (movimento do desejo) das emoções e até mesmo do sattva (ritmo) da mente; esses são os elos que o espírito interior gostaria de quebrar em pedaços. Eles são como nuvens que o espírito se esforça para penetrar e dissipar, porque escondem surya, o sol.

O mesmo espírito deve ser encontrado não apenas em todos os homens e mulheres, mas também no chão, no relâmpago e na tempestade, na erupção vulcânica e na paz da primavera. Por isso a vida interior está sempre forçando caminho através das formas para se unir à vida liberta de formas, pois não há mais que uma única vida. Isso é evolução.

Assim como a água desce morro abaixo para se juntar ao oceano, o espírito interior  de nosso corpo, em cada átomo e em toda a natureza está constantemente lutando para se libertar das formas que o limitam, seja da matéria, de emoções, desejos ou ideias. Isso é crescimento. 

O vegetal força seu caminho para fora da semente e da escuridão da terra, em direção à luz; continua forçando até os limites de sua natureza, para cumprir sua função cíclica de crescimento. A semente se sacrifica para se tornar um vegetal, o botão se sacrifica para se tornar uma flor e a flor se sacrifica para que a semente que carrega possa recomeçar um novo ciclo. Se seguirmos esse ciclo em nossa vida, seremos capazes de ver o que nos prende e o que é a liberdade. Entretanto, embora o impulso para ser livre esteja presente, muitos não sabem o que significa liberdade.

Estamos insatisfeitos com a vida, com nossas capacidades e nosso ambiente externo e interno. Centenas de 'cordas' de desejos nos prendem. Sentimos falta de algo distante e vivemos tentando superar obstáculos. Temos que compreender, lidando com a ideia e não só com as palavras, que o problema está na nossa mente. Podemos começar pensando sobre o que significa a liberdade e como ela pode ser obtida. (...)"

(A Conquista da Liberdade - Revista Sophia, Ano 2, nº 6 - p. 23/24)
www.revistasophia.com.br


terça-feira, 24 de outubro de 2017

UMA TOTAL RECEPTIVIDADE

"'O Tao jamais faz qualquer coisa. Todavia, através dele todas as coisas são feitas." Esse é o significado de Sidartha tornar-se uno com o rio e Santiago com o vento do deserto. Não ação não é inércia, mas uma total receptividade àquilo que jorra da fonte através do indivíduo. É um modo de vida, não procurando coisas ou viajando para onde quer que seja, mas tornando-se uno com o todo e permitindo que a vida se expresse através de nós. 

Ramana Maharshi disse que 'não há mistério maior do que este: ficamos buscando a realidade, mas somos nós a realidade'. É por isso que a procura pelo Graal nos manterá presos a uma miragem. O conselho de Eckhart Tolle para sair dessa armadilha é o seguinte: 'Não busque tornar-se livre do desejo, nem busque a iluminação. Torne-se presente. Esteja aqui e agora, seja um observador de sua mente. Não faça citações do Budha, seja o Budha.'

Em outras palavras, nós já somos aquilo que procuramos. Temos apenas que perceber isso." 

(Christine Lowe - A miragem do Graal - Revista Sophia, Ano 2, nº 6 - p. 14)


segunda-feira, 23 de outubro de 2017

CORAGEM: UMA QUALIDADE INATA DA ALMA

"Aquele que busca com sinceridade, na prática, ao contrário daquele que 'busca' na poltrona e desperdiça a vida ruminando teorias intelectuais, entusiasma-se ao pensar na dura tarefa que tem pela frente. O guerreiro autêntico, mesmo que sinta medo, atira-se corajosamente à batalha quando a força do braço se torna necessária. O alpinista de verdade, embora apreensivo diante da encosta íngreme que deverá escalar, prepara-se resolutamente para conquistá-la. E o homem sincero na busca da verdade diz a si mesmo: 'Sei que alcançar a perfeição é uma tarefa árdua, mas farei de tudo para alcançá-la. (...)' Meditando incansavelmente dia após dia, ele finalmente toma consciência do corpo e recupera a percepção da divina bênção interior, que há muito perdera.

Ânimo, devoto! Não importa quão árido, duro e ressequido tenha se tornado o solo de seu coração durante os anos de fome da indulgência sensual, do fracasso e do desapontamento, ele pode ser regado e fertilizado novamente pelas águas vivificantes da comunhão interior. Seu entusiasmo espiritual, há muito arrefecido, pode ganhar vida nova. Basta que você beba de novo o vinho antigo da comunhão com Deus. No campo do empreendimento espiritual fervoroso, lance novamente à terra macia das percepções renovadas da alma as sementes do sucesso espiritual e veja-as transformar-se numa seara de alegrias divinas. 

Em vez de se sentir vencido e desencorajado diante daquilo que supõe ser uma tribulação, agradeça a Deus a oportunidade de descobrir o que precisa aprender, e de juntar forças e sabedoria para enfrentar o desafio."

(Paramhansa Yogananda - A Sabedoria de Yogananda, Como Ter Coragem, Serenidade e Confiança - Ed. Pensamento, São Paulo, 2012 - p. 17/18


domingo, 22 de outubro de 2017

DUAS BOAS DEFINIÇÕES (KARMA)

"E. D. Walker, em sua obra Reencarnação,  nos oferece a seguinte explicação: 

"A doutrina de Karma explica que nós mesmos nos fizemos o que somos por atos anteriores e que formamos nossa eternidade futura com as ações presentes. Não existe outro destino além daquele que nós mesmos determinamos.  Não há salvação nem condenação alguma, exceto aquela originada por nós mesmos... Como Karma não oferece nenhum amparo aos gestos culpáveis e requer muito valor, não encontra entre as naturezas débeis tão boa acolhida como as fáceis doutrinas de remissão dos pecados, a intercessão, o perdão e as extremas-unções... No domínio da eterna justiça, a ofensa e o castigo estão unidos inseparavelmente como um único fato porque não existe real diferença entre a ação e sua consequência... Karma ou nossos antigos atos são os responsáveis pela nossa volta à vida terrestre. A residência do espírito muda segundo seu Karma que não permite uma larga permanência na mesma condição, uma vez que sempre está se modificando. Enquanto a ação for governada por motivos materiais e egoístas manifestará seus efeitos com renascimentos físicos; somente o homem perfeitamente desinteressado pode livrar-se do peso da vida material; poucos o conseguiram, mas esta é a meta à qual tende a Humanidade...". 

Outro ilustre escritor teosófico diz (Objeto da Teosofia, por A. P. Sinnett): 

"Cada indivíduo, com cada ato e pensamento diário, está criando bom ou mau Karma e está ao mesmo tempo esgotando nesta vida o Karma produzido pelos atos e desejos da anterior. Quando vemos pessoas atormentadas por sofrimentos naturais pode-se dizer que esse sofrimento são resultados inevitáveis de causas originadas pelas mesmas num nascimento anterior. Poderá alguém argumentar que pelo fato dessas aflições serem hereditárias nada têm a haver com uma encarnação passada, mas é preciso lembrar que o Ego, o homem real, a individualidade, não tem sua origem espiritual na parentela que o reencarna, mas que é atraído pelas afinidades que seu gênero de vida agrupou na corrente que o leva, quando chega a hora do renascimento, para a morada mais adequada para o desenvolvimento dessas tendências... A doutrina de Karma bem compreendida guia e ajuda àqueles que compreendem sua verdade, elevando e melhorando sua vida; porque não se deve esquecer que não apenas nossos atos, mas também nossos pensamentos atraem com certeza um acúmulo de circunstâncias determinantes no nosso futuro e o que é mais importante, ainda no futuro de nossos semelhantes. Se os pecados por omissão ou cometimento somente interessassem ao Karma do pecado, o fato teria menores consequências; porém, como cada pensamento e ato na vida acarreta uma influência correspondente, boa ou má, nos outros membros da família humana, o sentido estrito da justiça, moralidade e generosidade é necessário à felicidade ou progresso futuros. Nenhum arrependimento, por maior que seja, pode apagar os resultados de um crime já cometido ou os efeitos de um mal pensamento. O arrependimento se é sincero deterá o homem, impedindo-o de cometer novamente as mesmas faltas, porém não pode livrá-lo e aos demais dos efeitos já produzidos por aquelas que infalivelmente recairão sobre ele nesta vida ou no próximo renascer"."

(H. P. Blavatsky - A Doutrina Teosófica - Ed. Hemus, São Paulo - p. 78/80)


sábado, 21 de outubro de 2017

SOBRE O MEDO (PARTE FINAL)

"(...) Ora, de que temos medo? Temos medo de um fato ou de uma ideia relativa ao fato? Temos medo da coisa, tal qual, ou temos medo daquilo que pensamos que ela é? Consideremos, por exemplo, a morte. Temos medo do fato da morte ou da ideia da morte? O fato é uma coisa e a ideia outra. Tenho medo da palavra 'morte', ou do fato em si? Porque tenho medo da palavra, da ideia, nunca chego a compreender o fato, nunca considero o fato, nunca estou em relação direta com o fato. Só quando estou em completa comunhão com o fato, não há temor. Se não estou em comunhão com o fato, há temor. E não estou em comunhão com o fato enquanto tenho uma ideia, uma opinião, uma teoria, relativamente ao fato. É necessário, portanto, que eu me esclareça bem se estou com medo da palavra, da ideia, ou do fato. Se me vejo frente a frente com o fato, nada há que compreender, nele; estou em presença do fato, e sei como proceder. Se tenho medo da palavra, devo então compreender a palavra, examinar todo o processo do qual decorre a significação da palavra, do termo. 

Por exemplo: uma pessoa teme a solidão, a dor, o sofrimento da solidão. Ora, esse medo existe porque a pessoa, em verdade, nunca encarou a solidão, nunca esteve em comunhão direta com ela. No momento em que alguém está completamente aberto para o fato da solidão, compreende o que ela é; mas se só se tem uma ideia, uma opinião a respeito do fato, baseado em conhecimento prévio, essa ideia, essa opinião, esse conhecimento prévio relativo ao fato, cria o temor. O temor, evidentemente, é produto do dar nome, do designar, do projetar um símbolo para representar o fato; isto é, o temor não é independente da palavra, do termo. 

Tenho uma reação, digamos, ligada à solidão, isto é, digo que tenho medo de ser nada. Temo o fato em si, ou esse temor é despertado por um conhecimento prévio do fato, sendo esse conhecimento a palavra, o símbolo, a imagem? Como pode haver temor em relação a um fato? Quando estou frente a frente a um fato, em comunhão direta com ele, posso olhá-lo, observá-lo, por conseguinte, não há medo deste fato. O que causa medo é minha apreensão relativamente ao fato, o que o fato possa ser ou fazer. 

Minha opinião, minha ideia, minha experiência, meu conhecimento relativo ao fato é que cria o temor. Enquanto houver verbalização do fato, que significa dar um nome ao fato e por conseguinte identificar-se com ele ou condená-lo; enquanto o pensamento estiver julgando o fato, na qualidade de observador, haverá temor. O pensamento é produto do passado, só pode existir por efeito da verbalização, dos símbolos, das imagens. Enquanto o pensamento estiver considerando ou traduzindo o fato, tem de haver temor. 

Assim, é a mente que cria o temor, sendo a mente o processo do pensar. Pensar é verbalização. Não se pode pensar sem palavras, sem símbolos, imagens. Estas imagens, que são nossos preconceitos, que é o conhecimento antecipado, as apreensões da mente, projetam-se sobre o fato, gerando o temor. Só há um estado livre de temor, quando a mente é capaz de observar o fato sem o traduzir, sem lhe dar nome, sem lhe pôr um rótulo. Isto é deveras difícil, porque os sentimentos, as reações, as ansiedades que temos, são logo identificados pela mente e ligados a uma palavra. O sentimento de ciúme é identificado por esta palavra. É possível não identificar um sentimento, olhar um sentimento sem lhe dar nome algum? E a atribuição de um nome ao sentimento, que lhe dá continuidade, que lhe dá força. No momento em que dais um nome à coisa que chamais temor, dais-lhe força. Mas se puderdes encarar o sentimento sem lhe aplicar um termo, vê-lo-eis dissipar-se. Por conseguinte, se desejamos ficar completamente livres do medo, é essencial compreendermos integralmente este processo de projetar símbolos, imagens e dar nomes aos fatos. Só pode haver libertação do temor, quando há autoconhecimento. O autoconhecimento é o começo da sabedoria, a qual é o fim do temor."

(J. Krishnamurti - A Primeira e Última Liberdade - Ed. Cultrix, São Paulo - p. 157/159
http://www.pensamento-cultrix.com.br/


sexta-feira, 20 de outubro de 2017

SOBRE O MEDO (1ª PARTE)

"PERGUNTA: Como posso livrar-me do medo, que influencia todas as minhas atividades? 

KRISHNAMURTI: Que se entende por medo? Medo de quê? Há várias qualidades do medo, e não precisamos analisar cada uma delas. Pode-se ver que o medo nasce quando é incompleta nossa compreensão da vida de relação. Não existem relações só entre pessoas, mas também entre nós e a natureza, entre nós e a propriedade, entre nós e as ideias; enquanto não forem perfeitamente compreendidas estas relações, tem de haver medo. A vida é relações. Ser é estar em relação; sem relações não há vida. Nada pode existir no isolamento; enquanto a mente estiver em busca de isolamento, tem de haver temor. O medo não é uma abstração; ele só existe em relação com alguma coisa. 

A pergunta é a seguinte: como nos libertarmos do temor? Em primeiro lugar, qualquer coisa que é dominada, tem de ser dominada de novo, repetidas vezes. Nenhum problema pode ser dominado e vencido em definitivo; pode ser compreendido, mas não dominado. São dois processos completamente diferentes e o processo de dominar conduz a maior confusão, a um medo maior. Resistir, dominar, batalhar com um problema ou erguer defesas contra ele, significa apenas criar mais conflito; ao passo que se pudermos compreender o temor, examiná-lo profundamente, passo a passo, explorar-lhe todo o conteúdo, então o medo nunca mais voltará, sob forma alguma. 

Como disse, o medo não é uma abstração; só existe em relação. Que se entende por medo? Fundamentalmente, temos medo, não é verdade? — medo de não ser, medo de não vir a ser. Ora, quando há o medo de não ser, de não progredir, ou o medo do desconhecido, da morte, pode ele ser dominado pela determinação, por uma conclusão ou escolha? Não pode, decerto. O mero recalcamento, a sublimação, ou a substituição, gera mais resistência, não é exato? Por conseguinte, o medo nunca pode ser vencido por qualquer forma de disciplina, qualquer forma de resistência. Cumpre reconhecer este fato claramente, senti-lo, experimentá-lo: o medo não pode ser dominado por forma alguma de defesa ou de resistência, nem pode haver um estado livre de temor, como resultado da busca de uma solução ou de meras explicações intelectuais ou verbais. (...)"

(J. Krishnamurti - A Primeira e Última Liberdade - Ed. Cultrix, São Paulo - p. 156/157
http://www.pensamento-cultrix.com.br/



quinta-feira, 19 de outubro de 2017

DEUS, A NATUREZA E O HOMEM

"Há três entidades com as quais o homem tem de lidar. Elas são: Paramatmam, Prakritti e Jivatman, respectivamente, Deus, a natureza e o homem.

Deus tem de ser adorado e conhecido pelo homem, através da natureza. Natureza é o nome que tudo quanto imprime sobre o homem a Glória e o esplendor de Deus. É também chamada maya. Maya é a veste de Deus, que vela tanto quanto des-vela a beleza e a majestade d'Ele. 

O homem deve aprender a usar a natureza, não para seu conforto e nela se emaranhar e consequentemente vir a esquecer-se de Deus, que paira além da alegria que ele consegue fruir. A natureza propicia ao homem melhor compreensão da Inteligência que rege o Universo.

Como pode a árvore crescer ou a flor abrir? Como pode o homem aprender sobre as estrelas e o espaço? Como, senão pela inspiração da Felicidade e da Inteligência, às quais, Aquele que mora no íntimo, ao homem atribui?

Aborde a natureza em atitude de humildade e oração. Só assim estará garantindo seu futuro. Ravana cobiçou Sita¹⁶, a qual representa prakritti (a natureza), e, às escondidas, a raptou. Tal egoísmo e ambição arrastou-o à mais profunda queda. Se ele tivesse cobiçado somente o Deus por trás da natureza, isto é, Rama, teria alcançado o júbilo eterno. 

Todos os sofrimentos do homem hoje podem ser creditados a este falso sentido de valores. As coisas promordiais devem vir antes. Primeiro, ser; depois, ajudar. Agora, as pessoas começam por ajudar os outros na senda espiritual sem a terem palmilhado antes. Assim, tanto o guia como os guiados caem no fosso.¹⁷ Sirva primeiro a você mesmo, quer dizer, compreenda aquilo que você é, para onde vai, de onde vem, por que viaja e para quê. Após ter as respostas a tais perguntas, aprendidas nas escrituras, dos sábios e das experiências pessoais inquestionáveis, só então pode um homem liderar outros. As pessoas também não estão treinadas para discernir entre o falso e o verdadeiro, entre o temporal e o atemporal, entre o reto e o incorreto, entre o que é socialmente valioso e o que é socialmente danoso. Rejeitam todos os antigos costumes e maneiras, textos e ritos ancestrais, considerando-os inúteis simplesmente porque são antigos. Adotam novos costumes e modismos só por serem modernos. O tempo é um bom testador - coisas que tenham resistido à critica dos séculos e suportado os sopros de muitas culturas estranhas e as seduções de exóticas fantasias têm o âmago essencial da verdade e da validez." 

¹⁶ Ravana - um demônio, que era a personificação da luxúria e da violência, que sequestrou Sita, a personificação da mulher perfeita, esposa de Rama, um Avatar de Vishnu, tido como a personificação do homem, de Deus, portanto. A violência, a serviço da luxúria, provocou a guerra, pela qual Rama resgatou sua esposa e destruiu Ravana, e que o sabio Valmiki eternizou no grande épico Ramayana. 
¹⁷ 'Pode porventura um cego guiar outro cego? Não cairão ambos no fosso?' - questionou Jesus (Lucas 6:36)

(Sathya Sai Baba - Sadhana, O Caminho Interior - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1993 - p. 187/188)


quarta-feira, 18 de outubro de 2017

O PENSADOR PRECISA ENTENDER A SI MESMO (PARTE FINAL)

"(...) Com o mundo nesse clima insano de matança e destruição, lançando o homem contra o homem, chegou o tempo daqueles que têm realmente bons propósitos atacarem o problema radical e profundamente e não lidar com meras acomodações e reformas sociais. Por isso, é importante saber por si mesmo onde colocar a ênfase e não depender dos outros para decidir o que fazer. Se você dá importância à psicologia do pensador apenas porque eu dou importância, você é um imitador: pode ser persuadido a imitar outra pessoa, quando isso não lhe servir mais. Portanto, você deve considerar esse problema seriamente, profundamente, e não esperar que alguém lhe diga a que deve dar ênfase.

As religiões organizadas, o poder e os partidos políticos, o socialismo, o comunismo, o capitalismo, todos falharam, porque não lidaram com a natureza fundamental do homem. Queriam apenas acomodar influências e fatores externos. Que valor isso pode ter quando o homem está doente por dentro, machucado e confuso? Um bom médico não se interessa apenas pelos sintomas. Os sintomas não passam de indicações; é preciso erradicar a causa. 

Um homem zeloso, portanto, tem que ir até a causa, e não jogar superficialmente com palavras. A causa fundamental dessa miséria que há no mundo é a falta de compreensão dos nossos processos internos. Não queremos colocar ordem dentro de nós mesmos, somente ordem exterior. Haverá ordem exterior quando houver ordem no interior, porque o interior sempre sobrepuja o exterior.

A ênfase dos nossos esforços deve estar nos processos psicológicos, com todas suas implicações. Só pode haver felicidade e paz quando uma pessoa compreende a si mesma, e um homem feliz não entra em conflitos com seu vizinho. O homem infeliz e ignorante, ao contrário, está sempre em conflito; aonde quer que vá, cria mais discórida e miséria. O homem que compreende a si mesmo está em paz, e suas ações são pacíficas."

(J. Krishnamurti - O pensador precisa entender a si mesmo - Revista Sophia, Ano 2, nº 7 - p. 25)