OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


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segunda-feira, 31 de julho de 2017

AMOR, CORAGEM E CONFIANÇA (PARTE FINAL)

"(...) Se vemos um animal ser maltratado e sentimos raiva, essa raiva é uma expressão de separatividade tão ruim quanto a crueldade do malfeitor. Isso não quer dizer que não devemos interferir, mas que devemos interferir sem violência. Uma vez perguntaram a Krishnamurti o que ele faria se um amigo fosse atacado na sua frente. Ele disse que sempre viveu sem violência e que agiria como sempre vivera.

Como sair do centro? Será possível abrir mão dessa posição? Isso é possível numa crise súbita, quando a separatividade, o medo e as comparações simplesmente se afastam. Em vez de estar no centro, passamos a estar simplesmente em nenhum lugar ou em toda parte, onipresentes no todo. Em vez de separatividade, existe unidade com todos; em vez de medo há coragem e confiança; em vez de crítica, amor e compreensão; em vez de comparação, apreciação. Isso também pode ocorrer sem aviso, sem causa aparente; podemos simplesmente nos sentir unos com tudo. Ou pode haver uma causa como amor, devoção, criatividade, altruísmo ou estudo profundo. 

Vistas de uma perspectiva favorável, nossas pequeninas preocupações parecem sem importância. Alguém pode até nos insultar, mas se estivermos absortos em criação, amor, devoção, ou ajuda a outra pessoa, nos ocupamos com algo maior e o insulto desaparece. Podemos até mesmo ver a sua causa no nosso próprio interior, e compreender a pessoa que se comportou de maneira desagradável.

Nesse caso nós morremos para o nosso eu interior, a pessoa autocentrada. Quando temos diferenças de opinião e nos irritamos, podemos simplesmente pôr fim à irritação. Podemos olhar a pessoa como se fosse pela primeira vez, sem preconceitos. Podemos sair do nosso centro e ver o seu centro, o seu ponto de vista. Esse é um passo rumo à unidade.

Com a percepção da unidade a personalidade pode ser um instrumento para o superior, não simplesmente para si própria. Devemos viver e agir como somos - mas isso não quer dizer que não precisamos tentar melhorar. A questão é se aprofundar na concepção da unidade sem se imaginar melhor do que se é - sem pensar no eu. Talvez então tenhamos um insight sobre o que significa a iluminação. Ficará claro que o fim está no início e o início no fim; que, a partir desse ponto de vista, o tempo não existe; e que o centro que pensávamos ser nunca existiu."

(Mary Anderson - Como superar o egocentrismo - Revista Sophia, Ano 10, nº 39 - p. 40/41


quarta-feira, 26 de julho de 2017

O CORAÇÃO NA MEDITAÇÃO (PARTE FINAL)

"(...) Bom no Começo nasce da consciência de que nós e todos os seres sencientes temos como nossa essência mais profunda a natureza búdica, e do entendimento de que realizá-la é ficar livre da ignorância e acabar com o sofrimento. (...)

Bom no Meio é a atitude da mente com que entramos no coração da prática, inspirada na realização da natureza da mente, de onde surge uma disposição para o desapego livre de toda e qualquer referência conceitual, e surge também a consciência de que todas as coisas são inerentemente 'vazias', ilusórias e semelhantes ao sonho. 

Bom no Fim é o modo com que trazemos nossa meditação até o final, dedicando todo o mérito dela obtido e orando com real fervor: 'Possa qualquer mérito vindo desta prática conduzir à iluminação de todos os seres: possa tornar-se uma gota no oceano da atividade de todos os budas em seu incansável trabalho pela liberação de todos os seres'. Mérito é o poder positivo e benéfico, a paz e a felicidade que irradiam da sua prática. Você dedica esse mérito ao benefício supremo e a longo prazo de todos os seres, à sua iluminação. Num nível mais imediato, você o dedica a que haja paz no mundo, a que todos possam ser inteiramente livres do desejo e da doença, e possam experimentar total bem-estar e felicidade duradoura. Então, compreendendo a natureza de sonho e ilusão da realidade, você reflete sobre o fato de que, no sentido mais profundo, você que está dedicando a prática, aqueles a quem você a dedica, e mesmo o próprio ato de dedicação são todos inerentemente 'vazios' e ilusórios. Diz-se nos ensinamentos que isso fecha a meditação e assegura que nenhum dos seus poderes puros perca-se ou escape, e que nenhum dos méritos da prática jamais se desperdice. 

Esses três princípios sagrados - a motivação hábil, a atitude de despendimento que protege a prática e a dedicação que a fecha - são os que torna sua meditação verdadeiramente iluminadora e poderosa. Eles foram descritos com beleza pelo grande mestre tibetano, Longchenpa, como 'o coração, o olho e a força vital da verdadeira prática'. Ou como Nyoshul Khenpo diz: 'Para obter a completa iluminação, mais do que isso não é necessário; porém menos que isso é insuficiente'."

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 89/91)

sábado, 22 de julho de 2017

TRAZENDO A MENTE PARA CASA (PARTE FINAL)

"(...) O que Buda viu foi que a ignorância sobre a nossa verdadeira natureza é a raiz de todos os tormentos do samsara, e a raiz da ignorância em si é a tendência habitual da nossa mente para a distração. Para terminar com a distração da mente era preciso acabar com o próprio samsara; a chave para isso, ele percebeu, era trazer a mente de volta à sua verdadeira natureza pela prática da meditação.

O Buda se sentou no chão em serena e humilde dignidade, com o céu sobre ele e à sua volta, como para mostrar-nos que na meditação você se senta com uma atitude mental aberta como o céu, embora permaneça presente na terra e com os pés no chão. O céu é a nossa natureza absoluta, sem barreiras e infinita, e o chão é a nossa realidade, nossa condição relativa e ordinária. A postura que assumimos quando meditamos significa que estamos ligando absoluto e relativo, céu e terra, espaço e chão, como duas asas de um pássaro, integrando a imortal natureza da mente, semelhante ao céu, e o solo da nossa natureza mortal e transitória. 

A dádiva de aprender a meditar é o maior presente que você pode se dar nesta vida. Porque é apenas através da meditação que você pode empreender a jornada para descobrir sua verdadeira natureza e assim encontrar a estabilidade e a confiança de que necessitará para viver e morrer bem. A meditação é o caminho para a iluminação."

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 86


segunda-feira, 19 de junho de 2017

O CARMA (1ª PARTE)

"Na segunda vigília da noite em que o Buda atingiu a iluminação, ele ganhou outro tipo de conhecimento que completou o que havia aprendido sobre o renascimento: o conhecimento sobre o carma, a lei natural de causa e efeito.

'Com o olho divino, purificado e situado além do alcance da visão humana, vi como os seres desaparecem e voltam a ser outra vez. Vi alto e baixo, brilhante e insignificante, e como cada um deles obtém, de acordo com seu carma, um renascimento favorável ou doloroso.'¹⁵

A verdade e a força propulsora que estão por trás do renascimento são o que se chama de carma. Frequentemente o carma é compreendido de modo totalmente errôneo no Ocidente, confundido com destino e predestinação; melhor seria entendê-lo como a infalível lei de causa e efeito que governa o universo. A palavra carma significa literalmente 'ação', e carma é tanto o poder latente que existe dentro das ações quanto os resultados que nossas ações trazem.

Há muitas espécies de carma: carma internacional, carma nacional, o carma de uma cidade, o carma individual. Todos estão intrincadamente relacionados e só podem ser entendidos na sua total complexidade por um ser iluminado.

Em palavras simples, o que significa carma? Significa que o que quer que façamos com nosso corpo, nossa fala ou nossa mente terá sempre um resultado correspondente. Cada ação, mesmo a menor delas, está prenhe de suas consequências. Os mestres costumam dizer que mesmo um pequeno veneno pode matar, e até uma sementinha pode transformar-se em uma grande árvore. Como disse o Buda: 'Não faça vista grossa às ações negativas só porque elas são pequeninas; por menor que seja a faísca, pode queimar um monte de feno do tamanho de uma montanha'. O Buda disse também: 'Não despreze as pequenas boas ações pensando que elas não ajudam em nada; mesmo pequenas gotas de água, no final, enchem o jarro'. O carma não se desgasta, como as coisas externas, e jamais se torna inoperante. Não pode ser destruído 'pela água, pelo fogo, pelo tempo'. Seu poder nunca cessa, até que amadureça. (...)"

¹⁵ H.W. Schumann, The Historical Buddha, 55.

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 128/129www.palasathena.org


quinta-feira, 15 de junho de 2017

VOTO DO SILÊNCIO

"Algumas pessoas avançadas adotam mounam, isto é, o voto do silêncio. Para que serve? O que é exatamente mounam?

A iluminação da alma é mounam. Como pode então haver mounam sem o Atma (Espírito Divino) estar iluminado? Sem isto, meramente manter a boca fechada não é silêncio. Alguns adotam o voto de silêncio, mas se comunicam por escrever em papel ou lousa ou por apontar para as letras do alfabeto sobre um cartão. Tudo isso é pseudo-mounam. É somente uma outra forma de falar sem interrupção! Não é preciso atingir o silêncio. Ele está sempre com você. O que você tem de fazer é somente remover tudo que o perturba.

Não é correto dizer que pessoas, que não abrem a boca para falar, cumprem uma disciplina inútil.

Se você não usa a língua, se permanece silente, visando a isolar-se dos obstáculos externos à disciplina (sadhana), certamente pode desenvolver seus pensamentos, pode desistir de criticar e perturbar os outros, pode obter concentração e evitar a seu cérebro desnecessárias cargas e, assim, melhorar muito. Tendo o cérebro em tais condições, pode praticar, da melhor maneira, a evocação e repetição do Nome do Senhor (namasmarana). Estas vantagens todas você lucrará praticando disciplina (sadhana)."

(Sathya Sai Baba - Sadhana, O Caminho Interior - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1993 - p. 174)


quinta-feira, 8 de junho de 2017

A COMUNHÃO DOS SANTOS (PARTE FINAL)

"(...) Temos de aprender a nos doar em serviço, em todos os lugares e de todas as maneiras possíveis. À medida que assim fizermos, encontraremos o Senhor em cada forma, a cada momento, e sua presença estará refletida em nós em cada ângulo.

Além de honrar todos os santos - 'Não fazemos distinção entre profetas', disse o Profeta Maomé - é bom reconhecermos e compreendermos o valor do santo viver, isto é, uma vida de pureza e de serviço altruísta, especialmente nestes dias quanto a pressão do mundo é tão insistente e se lança sobre nós de tantas direções, que a beleza do outro mundo desaparece na obscuridade.

Não precisamos orar tanto para os santos no sentido de lhes suplicar favores, quanto a pensar em suas maravilhosas qualidades, para pôr seu exemplo perante nós e buscar sua inspiração. Na medida em que pensarmos neles, sua bênção certamente estará conosco.

O homem, segundo o conceito oriental, é, em seu ser interior, uma pequenina estrela que nasce e se põe muitas vezes na vida terrena, mas eventualmente - sua claridade aumentada a um poder mais elevado, e livre do apego a uma personalidade humana restrita - assume o lugar a ele alocado nos céus. Essas estrelas constituem a glória de nosso céu espiritual. Segundo a ordem de sua claridade, elas iluminam os degraus que levam ao altar de Deus."

(N. Sri Ram - o Interesse Humano - Ed. Teosófica, Brasília, 2015 - p. 61/62)

sexta-feira, 2 de junho de 2017

A ALMA É LIVRE

"As almas foram 'feitas' à imagem e semelhança de Deus. Nem o pecador mais empedernido pode ser condenado para sempre. Causas finitas não geram efeitos infinitos. Por uso inadequado de seu livre-arbítrio, o homem talvez se julgue mau; mas, no íntimo, é uma criatura de Deus. O filho de um rei pode, sob a influência do álcool ou de um pesadelo, julgar-se mendigo; todavia, quando se recupera do estado de intoxicação ou acorda, constata que se iludiu. A alma perfeita, sempre livre de pecado, acaba por despertar em Deus quando recorda sua natureza real, eternamente virtuosa.

O homem, feito à imagem de Deus, só se ilude por pouco tempo. Esse engano passageiro o induz a julgar-se mortal. E, na medida em que se identifica com a mortalidade, ele sofre.

O equívoco da mortalidade, cultivado pela alma, às vezes se estende a várias encarnações. Contudo, graças ao esforço pessoal - sempre influenciado pela lei divina -, o Filho Pródigo aguça o tirocínio, recorda sua morada em Deus e obtém a sabedoria. Pela iluminação, a alma desgarrada evoca sua imagem eternamente divina e se reúne à consciência cósmica. Então o Pai lhe serve o 'gordo bezerro' da imorredoura bênção e sabedoria, libertando-a para sempre."

(Paramhansa Yogananda - A Sabedoria de Yogananda,  Karma e Reencarnação - Ed. Pensamento, São Paulo, 2012 - p. 14/15)
www.editorapensamento.com.br

sexta-feira, 12 de maio de 2017

A MIRAGEM DO GRAAL

"A procura do Santo Graal é uma das mais famosas histórias do Ocidente. Conhecida como 'a jornada da busca', essa peregrinação é um importante símbolo místico, que representa o esforço da mente humana em sua busca por Deus. Mas um símbolo é apenas um indicador, um sinal que pode levar ao sagrado ou santificado; como tal, ainda está aberto a interpretações individuais.

A lenda do Graal foi, muito provavelmente, inspirada pelas mitologias celta e clássica. O Graal ou cálice é apenas um entre muitos exemplos de recipientes, como chifres e caldeirões mágicos, capazes de restaurar a vida. No mito celta, a taça ou caldeirão devolvia a vida, provia saúde, sustento e coragem. Essas qualidades estavam ligadas à natureza e ao ciclo das estações do ano, com suas características de regeneração e fertilidade; faziam parte de um modo simples de vida.

Durante o século XIII, quando a religião cristã substituiu grande parte dos ensinamentos pagãos, um significado espiritual novo e mais austero foi dado ao tema do Graal. Ele passou a representar a cura, a totalidade e acima de tudo a pureza através do sacrifício. Se a busca pelo Graal simboliza nossa própria busca por iluminação, isso faz sentido. Certamente a iluminação trará a cura e o completo senso de unidade com a fonte da vida, onde não há mais separação.

A interpretação cristã da busca fez também surgir um novo herói, o cavaleiro Parcifal. Ele personaliza o fato de que somente um homem de coração puro e inocente poderia encontrar o Graal. Por causa do sacrifício de Cristo por toda a humanidade, o cálice que continha o Seu sangue tornou-se o mais poderoso símbolo de pureza e de transformação para os cristãos. Jesus estabeleceu o exemplo do homem perfeito; desse modo, o Graal passou a representar o objetivo último daqueles que estão na senda espiritual.

O significado do Graal, portanto, mudou da fertilidade e da fartura dos pagãos para a renúncia e o serviço que a vida de Cristo representou. Para os cristãos, ele passou a representar o desenvolvimento espiritual por meio de longas e árduas provações, sacrifícios e sofrimento."

(Christine Lowe - A miragem do Graal - Revista Sophia, Ano 2, nº 6 - p. 11/12)


sábado, 29 de abril de 2017

PASSOS NO CAMINHO (1ª PARTE)

"O curso normal da evolução humana leva o homem para o alto, estágio por estágio. Entretanto, uma distância imensa separa até os gênios e os santos do homem que 'está no limiar da divindade' – e ainda mais daquele que cumpriu a ordem de Cristo: 'Sede perfeitos, como Vosso Pai do Céu é perfeito.' Há alguns passos que levam à subida para a Passagem, da qual está escrito: 'Estreita é a porta e árduo o caminho que leva à vida, e poucos são os que o encontram.' Quem são 'os perfeitos', dos quais fala Paulo, o Apóstolo?

Na verdade, há passos que levam a esse Portal, e poucos são os que palmilham o seu caminho árduo. A Porta é a da Iniciação, o segundo nascimento, o batismo do Espírito Santo e do Fogo, o Caminho que leva ao conhecimento de Deus, que é a Vida do Eterno.

No mundo ocidental, os estágios, ou passos, foram chamados de Purgação, Iluminação, União; por esses estágios, o Místico – o que é levado à visão Beatífica pela devoção – designa o Caminho. No mundo oriental, o Ocultista – o Conhecedor ou Gnóstico – vê os passos de uma forma um tanto diferente, e divide o caminho em dois grandes estágios: o Probatório e o Caminho propriamente dito; o Probatório representa a Purgação do Místico, enquanto o Caminho propriamente dito é a Iluminação do Místico. Ele procura, ainda, desenvolver em si próprio, quando no Caminho Probatório, certas 'qualificações' definidas, preparando-se para passar através do Portal que marca o fim do Caminho, enquanto no Caminho propriamente dito ele deve descartar por inteiro dez 'grilhões' que o impedem de atingir a Libertação ou Salvação Final. E terá de passar através de quatro Portais ou Iniciações.

Cada uma das qualificações deve ser desenvolvida até certo ponto, embora não completamente, antes que o primeiro Portal possa ser cruzado. São os seguintes, esses Portais:

• Discernimento: o poder de distinguir entre o real e o irreal, entre o eterno e o transitório – a visão aguda que vê o que é Verdadeiro e reconhece o que é Falso sob todos os disfarces.

• Imparcialidade ou Ausência de Desejo: estar acima do desejo de possuir objetos que dão prazer ou afastar objetos que causam dor, pelo domínio absoluto da natureza inferior e pela transcendência da personalidade.

• Os Seis Dons ou Boa Conduta: controle da mente, controle do corpo – em palavras e em ações –, tolerância, resignação ou boa disposição, equilíbrio ou determinação, confiança. (...)"

(Annie Besant - O Enigma da Vida - Ed. Pensamento)


segunda-feira, 24 de abril de 2017

COMO SEGUIR O CAMINHO (PARTE FINAL)

"(...) Como disse o Buda no seu primeiro ensinamento, a raiz de todo nosso sofrimento no samsara é a ignorância. Até que nos livremos das suas malhas, ela pode parecer infinita e pode enevoar nossa busca, mesmo quando já estamos trilhando o caminho da espiritualidade. No entanto, se você se lembrar disso e ficar com os ensinamentos no seu coração, desenvolverá gradualmente o discernimento para reconhecer as inúmeras confusões da ignorância tais como são, sem nunca pôr em risco o seu empenho ou perder a sua perspectiva.

A vida, como nos ensinou o Buda, é breve como um relâmpago; no entanto, como disse Wordsworth: 'O mundo está demasiadamente conosco: obtendo e gastando nós devastamos nossos poderes'. Essa ruína dos nossos poderes, essa traição da nossa essência, esse abandono da miraculosa oportunidade que esta vida - o bardo natural - nos dá de conhecer e corporificar a nossa natureza iluminada, é talvez a coisa mais dolorosa a respeito da vida humana. O que os mestres estão nos dizendo de fundamental é para pararmos de enganar a nós mesmos: o que teremos aprendido se no momento da morte não soubermos quem de fato somos? Como diz o Livro Tibetano dos Mortos:

Com a mente muito longe, sem pensar na vinda da morte,
Cumprindo estas atividades sem sentido,
Voltar de mãos vazias, agora, seria completa confusão;
Necessário é o reconhecimento, o ensinamento espiritual,
Então por que não praticar o caminho da sabedoria neste exato momento?
Da boca dos santos vêm estas palavras:
Se você não mantiver o ensinamento do mestre em seu coração
Não estará enganando a si mesmo?"

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 177/178

sábado, 22 de abril de 2017

COMO SEGUIR O CAMINHO (1ª PARTE)

"Todos nós temos carma para encontrar algum caminho espiritual, e eu gostaria de encorajar você, do fundo do meu coração, a seguir com total sinceridade o caminho que mais o inspirar.

Leia os grandes livros sobre espiritualidade de todas as tradições, chegue a algum entendimento sobre o que os mestres querem dizer com liberação e iluminação e descubra qual é a abordagem da realidade absoluta que mais o atrai, que é mais adequada a você. Desenvolva sua busca com todo o discernimento de que for capaz; o caminho espiritual exige mais inteligência, mais sóbrio entendimento, mais poder sutil de discriminação do que qualquer outra disciplina, porque a mais alta verdade está em jogo. Use seu bom senso a todo instante. Venha para o caminho o mais espirituosamente consciente possível da bagagem que traz com você: suas carências, fantasias, fracassos e projeções. Combine, com elevada consciência do que sua verdadeira natureza pode ser, humildade realista e sensata com a clara avaliação de onde você está na sua jornada espiritual e o que ainda resta a ser entendido e realizado.

O mais importante é não se deixar cair na armadilha que tenho visto em toda parte no Ocidente, uma 'mentalidade de consumo', comprando por aí de mestre em mestre, de ensinamento em ensinamento, sem qualquer continuidade ou dedicação real e consistente a qualquer disciplina. Quase todos os grandes mestres espirituais de todas as tradições concordam que o essencial é dominar um caminho, uma trilha para a verdade, seguindo uma tradição com todo o coração e a mente até o final da jornada espiritual, mantendo-se ao mesmo tempo aberto e reverente em relação aos insights de todas as demais. No Tibete costumamos dizer: 'Conhecendo um, você realiza todos'. A ideia novidadeira dos nossos dias, de que podemos sempre conservar todas nossas opções em aberto e assim nunca precisar comprometer-nos com nada, é uma das maiores e mais perigosas ilusões da nossa cultura, e um dos modos mais efetivos do ego sabotar a nossa busca esprititual. (...)"

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 176

sexta-feira, 21 de abril de 2017

O CAMINHO ESPIRITUAL

"Na obra do mestre sufi Rumi, Conversa à Mesa, há esta passagem veemente e mordaz:

O mestre disse que há uma coisa neste mundo que nunca deve ser esquecida. Se vocês esquecerem todo o resto, mas não esquecerem dela, não haverá motivo para preocupação; por outro lado, se forem atentos, dedicados e competentes em relação a tudo mais e esquecerem essa coisa, não terão feito de fato absolutamente nada. É como se um rei houvesse enviado vocês a um país para cumprirem uma tarefa especial. Vocês vão para o tal país e executam cem outras tarefas, mas se não realizaram aquela para a qual foram mandados é como se não tivessem feito nada mesmo. Desse modo, o homem veio ao mundo para uma tarefa particular, que é o seu objetivo. Se ele não a leva a cabo, nada terá realizado.

Todos os mestres espirituais da humanidade nos disseram a mesma coisa, que a finalidade da vida na terra é obter a união com a nossa natureza fundamental e iluminada. A 'tarefa' que o 'rei' nos designou, enviando-nos a esse país estranho e obscuro, consiste em realizar e encarnar o nosso verdadeiro ser. Só há um modo de fazer isso: é empreender a jornada espiritual, com todo ardor, inteligência, coragem e decisão para a transformação que pudermos reunir. Como disse a Morte para Nachiketas no Katha Upanixade:

Há o caminho da sabedoria e o caminho da ignorância. Eles são muito distantes um do outro e levam a diferentes direções... Vivendo em meio à ignorância, pensando que são sábios e instruídos, os tolos vão a esmo, daqui para lá, como cegos guiados por cegos. O que existe além da vida não brilha para os que são infantis, descuidados ou iludidos pela riqueza."

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 171/172


sábado, 8 de abril de 2017

ENTRANDO NO AGORA (PARTE FINAL)

"(...) Uma presença intensa se faz necessária quando certas situações provocam uma reação de grande carga emocional, como, por exemplo, no momento em que acontece uma ameaça à nossa autoimagem, um desafio na vida que nos causa medo, quando as coisas 'vão mal' ou quando um complexo emocional do passado vem à tona. Nessas situações, tendemos a nos tornar 'inconscientes'. A reação ou a emoção nos domina, 'passamos a ser' ela. Passamos a agir como ela. Arranjamos uma justificativa, erramos, agredimos, defendemos... Só que não somos nós e sim uma reação padronizada, a mente em seu modo habitual de sobrevivência.

Identificar-se com a mente dá a ela mais energia, enquanto observar a mente retira a sua energia. Identificar-se com a mente gera mais tempo, enquanto observar a mente revela a dimensão do infinito. A energia retirada da mente se transforma em presença. No momento em que conseguimos sentir o que significa estar presente, fica muito mais fácil escolher simplesmente escapar da dimensão do tempo, sempre que o tempo não se fizer necessário para fins práticos, e entrar mais profundamente no Agora.

Isso não prejudica nossa capacidade de usar o tempo - passado ou futuro - quando precisamos nos referir a ele em termos práticos. Nem prejudica nossa capacidade de usar a mente. Na verdade, estar presente aumenta nossa capacidade. Quando você usar a mente de verdade, ela estará mais alerta, mais focalizada.

O principal foco de atenção das pessoas iluminadas é sempre o Agora, embora elas tenham uma noção relativa do tempo. Em outras palavras, continuam a usar o tempo do relógio, mas estão livres do tempo psicológico."

(Eckhart Tolle - Praticando o Poder do Agora - GMT Editores Ltda., Rio de Janeiro, 2016 - p. 32/33)


quarta-feira, 29 de março de 2017

A PRECIOSIDADE DA NOSSA VIDA HUMANA (PARTE FINAL)

"(...) Com a nossa vida humana podemos, ao colocar o Dharma em prática, obter a suprema paz mental permanente, conhecida como 'nirvana', e a iluminação. Uma vez que essas aquisições são não enganosas e são estados últimos de felicidade, elas são o verdadeiro sentido da vida humana. No entanto, porque o nosso desejo por prazer mundano é tão forte, temos pouco ou nenhum interesse pela prática de Dharma. Do ponto de vista espiritual, essa ausência de interesse pela prática de Dharma é um tipo de preguiça denominado 'preguiça do apego'. A porta da libertação permanecerá fechada para nós enquanto tivermos essa preguiça e, consequentemente, continuaremos a vivenciar infortúnio e sofrimento nesta vida e em incontáveis vidas futuras. A maneira de superar essa preguiça, o principal obstáculo para a nossa prática de Dharma, é meditar sobre a morte. 

Precisamos contemplar a nossa morte e meditar sobre ela repetidamente, até obtermos uma profunda realização sobre a morte. Embora, num nível intelectual, todos nós saibamos que definitivamente iremos morrer, nossa percepção sobre a morte permanece superficial. Na medida em que a nossa compreensão intelectual da morte não toca o nosso coração, continuamos a pensar todos os dias 'eu não vou morrer hoje, eu não vou morrer hoje'. Mesmo no dia da nossa morte, ainda estaremos pensando sobre o que faremos no dia ou na semana seguintes. Essa mente que pensa todo dia 'eu não vou morrer hoje' é enganosa – ela nos conduz na direção errada e faz com que a nossa vida humana se torne vazia. Por outro lado, meditando sobre a morte, substituiremos gradativamente o pensamento enganoso 'eu não vou morrer hoje' pelo pensamento não enganoso 'pode ser que eu morra hoje'. A mente que espontaneamente pensa todos os dias 'pode ser que eu morra hoje' é a realização sobre a morte. É essa realização que elimina diretamente a nossa preguiça do apego e abre a porta para o caminho espiritual. 

Em geral, podemos ou não morrer hoje – não sabemos. No entanto, se pensarmos todos os dias 'talvez eu não morra hoje', esse pensamento irá nos enganar porque vem da nossa ignorância; porém, se em vez disso pensarmos todos os dias 'pode ser que eu morra hoje', esse pensamento não irá nos enganar porque vem da nossa sabedoria. Esse pensamento benéfico impedirá a nossa preguiça do apego e irá nos encorajar a preparar o bem-estar das nossas incontáveis vidas futuras ou a aplicar grande esforço para ingressarmos no caminho da libertação e da iluminação. Desse modo, tornaremos significativa nossa vida humana atual. Até agora desperdiçamos, sem sentido algum, nossas incontáveis vidas anteriores: não trouxemos nada conosco das nossas vidas passadas, exceto delusões e sofrimento."

(Geshe Kelsang Gyatso - Budismo Moderno, O Caminho de Compaixão e Sabedoria - Tharpa Brasil, São Paulo, 2016 - p. 30/31)

terça-feira, 28 de março de 2017

A PRECIOSIDADE DA NOSSA VIDA HUMANA (2ª PARTE)

"(...) O que significa 'encontrar o Budadharma'? Significa ingressar no Budismo buscando sinceramente refúgio em Buda, Dharma e Sangha e, assim, ter a oportunidade de ingressar e fazer progressos no caminho à iluminação. Se não encontrarmos o Budadharma, não teremos oportunidade para fazer isso e, assim, não teremos oportunidade de obter a felicidade pura e duradoura da iluminação, o verdadeiro sentido da vida humana. Concluindo, devemos pensar: 
Agora eu alcancei, por um breve momento, o mundo humano, e tenho a oportunidade de obter a libertação permanente do sofrimento e a felicidade suprema da iluminação por meio de colocar o Dharma em prática. Se eu desperdiçar esta preciosa oportunidade em atividades sem significado, não haverá maior perda nem maior insensatez .
Com esse pensamento, tomamos a firme determinação de praticar agora o Dharma dos ensinamentos de Buda sobre renúncia, compaixão universal e visão profunda da vacuidade, enquanto temos esta oportunidade. Então, meditamos repetidamente nessa determinação. Devemos praticar essa contemplação e meditação todos os dias em muitas sessões e, desse modo, nos encorajarmos a extrair o verdadeiro sentido da nossa vida humana. 

Devemos nos perguntar o que consideramos mais importante – o que desejamos, pelo que nos dedicamos ou com o que sonhamos? Para algumas pessoas são as posses materiais, como uma casa grande com os últimos requintes de conforto, um carro veloz ou um emprego bem remunerado. Para outros é reputação, boa aparência, poder, excitação ou aventura. Muitos tentam encontrar o sentido de suas vidas em relacionamentos familiares e círculo de amigos. Todas essas coisas podem nos fazer superficialmente felizes por pouco tempo, mas elas também causam muita preocupação e sofrimento. Elas nunca irão nos dar a verdadeira felicidade que todos nós, em nossos corações, buscamos. Já que não podemos levá-las conosco quando morrermos, com certeza irão nos decepcionar se tivermos feito delas o principal sentido da nossa vida. As aquisições mundanas, tomadas como um fim em si mesmas, são ocas: elas não são o verdadeiro sentido da vida humana. (...)"

(Geshe Kelsang Gyatso - Budismo Moderno, O Caminho de Compaixão e Sabedoria - Tharpa Brasil, São Paulo, 2016 - p. 29/30)
Fonte:  https://cienciaespiritualidadeblog.wordpress.com


segunda-feira, 27 de março de 2017

A PRECIOSIDADE DA NOSSA VIDA HUMANA (1ª PARTE)

"O propósito de compreender a preciosidade da nossa vida humana é encorajarmo-nos a extrair o sentido da nossa vida humana e não desperdiçá-la em atividades sem significado. Nossa vida humana é muito preciosa e significativa, mas somente se a usarmos para obter libertação permanente e a felicidade suprema da iluminação. Devemos nos encorajar a realizar o verdadeiro significado da nossa vida humana por meio de compreender e contemplar a seguinte explicação. 

Muitas pessoas acreditam que o desenvolvimento material é o verdadeiro sentido da vida humana, mas podemos ver que não importa quanto desenvolvimento material exista no mundo, ele nunca reduz os sofrimentos e os problemas humanos. Em vez disso, ele frequentemente faz com que os sofrimentos e os problemas aumentem; portanto, ele não é o verdadeiro sentido da vida humana. Devemos saber que, vindos das nossas vidas anteriores, alcançamos agora o mundo humano por apenas um breve instante e que temos a oportunidade de obter a felicidade suprema da iluminação praticando o Dharma. Essa é a nossa extraordinária boa fortuna. Quando alcançarmos a iluminação, teremos satisfeito todos os nossos desejos e poderemos satisfazer os desejos de todos os demais seres vivos; teremos libertado a nós próprios permanentemente dos sofrimentos desta vida e de incontáveis vidas futuras, e poderemos beneficiar diretamente todos e cada um dos seres vivos, todos os dias. A conquista da iluminação é, portanto, o verdadeiro sentido da vida humana. 

A iluminação é a luz interior de sabedoria que é permanentemente livre de toda aparência equivocada e que atua concedendo paz mental para todos e cada um dos seres vivos, todos os dias – essa é a função da iluminação. Agora mesmo obtivemos um renascimento humano e temos a oportunidade de alcançar a iluminação pela prática do Dharma; assim sendo, se desperdiçarmos esta preciosa oportunidade em atividades sem significado, não haverá maior perda nem maior insensatez do que essa. O motivo é que tal oportunidade preciosa será extremamente difícil de ser encontrada no futuro. Em um Sutra, Buda torna isso claro por meio da seguinte analogia. Ele pergunta aos seus discípulos: 'Imaginem que exista um vasto e profundo oceano do tamanho deste mundo; que, em sua superfície, haja uma canga dourada flutuando; e que, no fundo do oceano, viva uma tartaruga cega que vem à superfície apenas uma vez a cada cem mil anos. Quantas vezes a tartaruga colocaria sua cabeça no meio da canga?'. Ananda, seu discípulo, respondeu que, certamente, isso seria extremamente raro. 

Nesse contexto, o vasto e profundo oceano refere-se ao samsara – o ciclo de vida impura que temos experienciado desde tempos sem início, continuamente, vida após vida, sem fim; a canga dourada refere-se ao Budadharma, e a tartaruga cega refere-se a nós. Embora não sejamos fisicamente como uma tartaruga, mentalmente não somos muito diferentes; e embora os nossos olhos físicos possam não ser cegos, os nossos olhos de sabedoria o são. Na maioria das nossas incontáveis vidas anteriores, permanecemos no fundo do oceano do samsara, nos três reinos inferiores – no reino animal, no reino dos fantasmas famintos e no reino do inferno – emergindo como ser humano apenas a cada cem mil anos, mais ou menos. Mesmo quando alcançamos brevemente o reino superior do oceano do samsara como um ser humano, é extremamente raro encontrar a canga dourada do Budadharma: o oceano do samsara é extremamente vasto, a canga dourada do Budadharma não permanece num único lugar, mas move-se de um lugar a outro, e os nossos olhos de sabedoria estão sempre cegos. Por essas razões, Buda diz que, no futuro, mesmo se obtivermos um renascimento humano, será extremamente raro encontrar o Budadharma novamente; encontrar o Dharma Kadam é ainda mais raro que isso. Podemos ver que a grande maioria dos seres humanos no mundo, embora tenham brevemente alcançado o reino superior do samsara como seres humanos, não encontraram o Budadharma. O motivo é que os seus olhos de sabedoria não se abriram. (...)"

(Geshe Kelsang Gyatso - Budismo Moderno, O Caminho de Compaixão e Sabedoria - Tharpa Brasil, São Paulo, 2016 - p. 27/29)
Fonte:  https://cienciaespiritualidadeblog.wordpress.com



terça-feira, 20 de dezembro de 2016

O QUE DEVEMOS ALCANÇAR

"No Sutra das Quatro Nobres Verdades, Buda diz: 'Deves alcançar as cessações'. Neste contexto, 'cessação' significa a cessação permanente do sofrimento e de sua raiz, a ignorância do agarramento ao em-si. Ao dizer isso, Buda nos aconselha a não ficarmos satisfeitos com uma libertação temporária de sofrimentos particulares, mas que tenhamos a intenção de realizar a meta última da vida humana: a suprema paz mental permanente (nirvana) e a felicidade pura e eterna da iluminação. 

Todo ser vivo, sem exceção, tem que experienciar o ciclo de sofrimentos da doença, envelhecimento, morte e renascimento, vida após vida, sem fim. Seguindo o exemplo de Buda, devemos desenvolver forte renúncia por esse ciclo sem fim. Quando vivia no palácio com sua família, Buda observou como o seu povo estava experienciando constantemente esses sofrimentos e tomou a forte determinação de obter a iluminação, a grande libertação, e conduzir cada ser vivo a esse estado. 

Buda não nos estimula a abandonar as atividades diárias que proporcionam as condições necessárias para viver ou aquelas que evitam a pobreza, problemas ambientais, doenças específicas e assim por diante. No entanto, não importa o quanto sejamos bem sucedidos nessas atividades, nunca alcançaremos a cessação permanente de problemas desse tipo. Teremos ainda que experienciá-los em nossas incontáveis vidas futuras e, mesmo nesta vida, embora trabalhemos arduamente para evitar esses problemas, os sofrimentos da pobreza, poluição ambiental e doença estão aumentando em todo o mundo. Além disso, por causa do poder da tecnologia moderna, muitos perigos graves estão a se desenvolver agora no mundo, perigos que nunca haviam sido experienciados anteriormente. Portanto, não devemos ficar satisfeitos com uma mera libertação temporária de problemas específicos, mas aplicar grande esforço em obter liberdade permanente enquanto temos essa oportunidade. 

Devemos nos lembrar da preciosidade da nossa vida humana. Por exemplo, os seres que agora estão sob uma forma animal tiveram esse tipo de renascimento animal devido as suas visões deludidas passadas, que negavam o valor da prática espiritual. Visto que a prática espiritual constitui-se no único fundamento para uma vida significativa, eles não têm agora chance alguma, sob uma forma animal, de se envolverem em uma prática espiritual. Visto que para eles é impossível ouvir, entender, contemplar e meditar nas instruções espirituais, seu renascimento presente como animal é, por si só, um obstáculo. Como foi mencionado anteriormente, somente os seres humanos estão livres de tais obstáculos e têm todas as condições necessárias para se empenharem nos caminhos espirituais – os únicos caminhos que conduzem à paz e felicidade duradouras. Essa combinação de liberdade e de posse de condições necessárias é a característica especial que faz com que a nossa vida humana seja tão preciosa. (...)"

(Geshe Kelsang Gyatso - Budismo Moderno, O Caminho de Compaixão e Sabedoria - Tharpa Brasil, São Paulo, 2016 - p. 63/65)
Fonte: https://cienciaespiritualidadeblog.wordpress.com



sexta-feira, 18 de novembro de 2016

CONCEITO DE OPOSTOS (PARTE FINAL)

"(...) O filósofo grego Heráclito, contemporâneo de Buda, insinuou que a verdadeira sabedoria consiste em conhecer a ideia que, por si mesma, irá provar tudo em todas as ocasiões. Ele almejava encontrar o Um por detrás dos muitos, a ordem, e a unidade que dá fixidez à mente, em meio ao fluxo caótico e à multiplicidade do mundo. Ele sentia que subjacente a tudo existe uma Realidade que, embora absoluta, não é estática, mas uma transformação contínua de uma em outra. 'Nada é; tudo vem a ser'. O âmago de tudo é a interação harmoniosa dos dois opostos, que perpetuamente fluem um para o outro. Heráclito acreditava que a harmonia não é simplesmente o fim dos conflitos, e sim uma tensão dos opostos na qual nenhum dos dois elementos ganha ascendência, embora ambos sejam indispensáveis à sua realização.

O Taoísmo enfatiza a naturalidade e a espontaneidade como o primeiro princípio da ação iluminada. A melhor maneira de agir é compreender que o processo de iluminação consiste simplesmente em nos tornarmos aquilo que já somos desde o início. No Taoísmo, a interação contínua entre os dois extremos não é a consequência de alguma força externa, mas uma tendência inata, natural, em todas as coisas e em todos os seres. Uma vez que a conduta humana é baseada nesse princípio, ela deve ser essencialmente espontânea e estar em harmonia com a natureza. Deve estar baseada na sabedoria inata da pessoa, que é uma manifestação da realidade onipenetrante.

Já que os opostos incluem todas as qualidades morais, o sábio não faz esforço para atingir o que é bom, mas tenta seguir o Caminho do Meio, mantendo um equilíbrio dinâmico entre 'bom' e 'mau', elevando-se acima deles. Mas uma palavra de cautela deve ser aqui interposta: o Caminho do Meio não é algo equivalente a um meio aritmético entre dois termos, nem é o princípio indiscriminadamente aplicável a todo evento ou ação. Pelo contrário, deve ser exercitado de maneira razoável e harmoniosa no nosso modo total de vida, não apenas em um ato individual. Pois a meta básica da religião e da filosofia é fornecer-nos uma visão coerente da vida, abrangendo todos os fenômenos da natureza e assim nos tornando capazes de ter consistência e clareza em nossos pensamentos e ações."

(Ajaya Upadyay - A senda do equilíbrio - TheoSophia - Outubro/Novembro/Dezembro de 2009 - Pub. da Sociedade Teosófica no Brasil - p. 24)

terça-feira, 15 de novembro de 2016

LIBERTAÇÃO ATRAVÉS DA AÇÃO (PARTE FINAL)

"(...) As pessoas voltam-se para o ócio sob a alegação de que nada existe para fazerem, porque todo o curso de eventos cósmicos está estabelecido e não pode ser influenciado por suas ações.

Mas a incompreensão jaz no fato de que, uma vez que as sutilezas dos princípios cósmicos não se aplicam às atividades comuns da vida humana, o homem é incapaz de seguir esse princípio de não ação até que seja elevado ao estado de realização cósmica. Tal paradoxo aparente é semelhante à situação na esfera da física. As Leis do Movimento de Newton muito contribuíram para o conforto material, mas não conseguiram explicar os mistérios fundamentais da natureza. Com um insight mais profundo e com a ajuda da Teoria da Relatividade de Einstein, as imperfeições da Leis de Newton foram reveladas. Mas, de qualquer maneira, as descobertas técnicas, baseadas nas leis, retèm sua utilidade. Isso acontece porque, enquanto a Teoria da relatividade é essencial para o estudo da ultraestrutura da matéria, para os propósitos mais grosseiros como as explicações técnicas, as inexatidões das Leis de Newton podem ser ignoradas. 

De modo semelhante, para as atividades comuns à vida diária, a lei de ação produzindo frutos é bastante útil; muitos vivem por meio dessa máxima, ganhando dinheiro, alcançando a fama, e exercendo o poder. A imperfeição da lei mal é notada quando aplicada às atividades mundanas, mas é bastante óbvia quando se tenta segui-la na busca de objetivos mais elevados e mais nobres. Aqui, o princípio da não ação deve entrar em cena; mas, para aplicar esse princípio, a pessoa deve levantar o véu da ignorância. Com a combinação de razão e experiência espiritual, a pessoa pode começar a apreciar esse propósito cósmico altruístico. 'Seja feita a Vossa vontade, Ó Senhor', torna-se a aspiração constante da pessoa. E assim Krishna ensina a Arjuna, 'Dedicando todas as ações a mim, com teus pensamentos no Eu Supremo, livre das ambições e do egoísmo, e curado da febre mental, empenha-te na luta'.

Em todo nosso esforço para conseguir fama, poder, riqueza, ou eminência intelectual, estamos buscando a bem-aventurança. Mas essa bem-aventurança é um fim em si mesma. Somente a bem-aventurança que surge da iluminação é que deve tornar-se a meta de nossa vida. Convencidos de que essa bem-aventurança pode ser atingida através da ação, a questão é: 'Qual é a melhor ação? - a do sábio, a do guerreiro, a do artista, ou a do erudito?'."

(Ajaya Upadyay - A senda do equilíbrio - TheoSophia - Outubro/Novembro/Dezembro de 2009 - Pub. da Sociedade Teosófica no Brasil - p. 21/22)


sábado, 29 de outubro de 2016

O QUE DEVEMOS PRATICAR (1ª PARTE)

"No Sutra das Quatro Nobres Verdades, Buda diz: 'Deves praticar o caminho'. Neste contexto, 'caminho' não significa um caminho exterior que conduz de um lugar a outro, mas um caminho interior, uma realização espiritual que nos conduz à felicidade pura da libertação e da iluminação. A prática das etapas do caminho à libertação pode ser condensada nos três treinos de disciplina moral superior, concentração superior e sabedoria superior. Esses treinos são chamados de 'superiores' porque são motivados por renúncia. Eles são, portanto, o verdadeiro caminho à libertação que precisamos praticar. 

A natureza da disciplina moral é a determinação virtuosa de abandonar ações inadequadas. Quando praticamos disciplina moral, nós abandonamos as ações inadequadas, mantemos um comportamento puro e fazemos toda ação corretamente, com uma motivação pura. A disciplina moral é muito importante para todos, porque ela evita problemas futuros para nós e para os outros. Ela nos torna puros porque torna nossas ações puras. Precisamos ser limpos e puros; ter um corpo limpo, apenas, não é suficiente, pois o nosso corpo não é o nosso self. Disciplina moral é como um vasto solo que sustenta e nutre o plantio das realizações espirituais. Sem praticar disciplina moral, é muito difícil fazer progressos no treino espiritual. Treinar disciplina moral superior é aprender a tornar-se profundamente familiarizado com a prática de disciplina moral motivada por renúncia. 

O segundo treino superior é treinar em concentração superior. A natureza da concentração é ser uma mente virtuosa estritamente focada. Enquanto mantivermos essa mente, experienciaremos paz mental e, consequentemente, seremos felizes. Quando praticamos concentração, impedimos distrações e nos concentramos em objetos virtuosos. É muito importante treinar concentração, pois, com distrações, não conseguimos realizar nada. Treinar em concentração superior é, com a motivação de renúncia, aprender a nos tornarmos profundamente familiarizados com a habilidade de parar as distrações e de nos concentrarmos em objetos virtuosos. Com relação a qualquer prática de Dharma, se a nossa concentração for clara e forte será muito fácil fazer progressos. Normalmente, distração é o principal obstáculo à nossa prática de Dharma. A prática de disciplina moral impede as distrações densas, e a concentração impede as distrações sutis; juntas, elas produzem resultados rápidos em nossa prática de Dharma. 

O terceiro treino superior é treinar em sabedoria superior. A natureza da sabedoria é ser uma mente inteligente virtuosa que atua compreendendo objetos significativos, como a existência de vidas passadas e futuras, o carma e a vacuidade. Compreender esses objetos traz grande significado para esta vida e para as incontáveis vidas futuras. Muitas pessoas são muito inteligentes em destruir seus inimigos, cuidar de suas famílias, encontrar aquilo de que necessitam e assim por diante, mas isso não é sabedoria. Até os animais têm uma inteligência assim. A inteligência mundana é enganosa, ao passo que a sabedoria nunca irá nos enganar ou desapontar. A sabedoria é o nosso Guia Espiritual interior que nos conduz aos caminhos corretos, e é o olho divino através do qual podemos ver as vidas passadas e futuras e a conexão especial entre as nossas ações em vidas passadas e as nossas experiências nesta vida, conhecida como 'carma'. O carma é um assunto muito extenso e sutil e somente podemos compreendê-lo através de sabedoria. Treinar em sabedoria superior é aprender a desenvolver e aumentar nossa sabedoria que realiza a vacuidade por meio de contemplar e meditar sobre a vacuidade, com uma motivação de renúncia. Essa sabedoria é extremamente profunda. O seu objeto, a vacuidade, não é um nada, mas a verdadeira natureza de todos os fenômenos. (...)"

(Geshe Kelsang Gyatso - Budismo Moderno, O Caminho de Compaixão e Sabedoria - Tharpa Brasil, São Paulo, 2016 - p. 61/62)
Fonte: https://cienciaespiritualidadeblog.wordpress.com